Pronunciamento de Heloísa Helena em 27/06/2005
Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Preocupação com a investigação das denúncias de corrupção no atual governo.
- Autor
- Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
- Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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LEGISLATIVO.
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Preocupação com a investigação das denúncias de corrupção no atual governo.
- Publicação
- Publicação no DSF de 28/06/2005 - Página 21035
- Assunto
- Outros > LEGISLATIVO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
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- APOIO, REVOLTA, OPINIÃO PUBLICA, CONDUTA, AUSENCIA, ETICA, CONGRESSISTA.
- IMPORTANCIA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, DENUNCIA, GOVERNO FEDERAL, PAGAMENTO, MESADA, PROPINA, DEPUTADO FEDERAL, OBJETIVO, OBTENÇÃO, APOIO, NATUREZA POLITICA, SUSPEIÇÃO, EXTENSÃO, PARTICIPAÇÃO, LEGISLATIVO, DIVERSIDADE, OCORRENCIA, IRREGULARIDADE, CONLUIO, EXECUTIVO.
- CRITICA, ACORDO, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
- COMENTARIO, OCORRENCIA, FRAUDE, LICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PREJUIZO, FUNDOS PUBLICOS, NECESSIDADE, JUSTIÇA, PUNIÇÃO, AUTOR, CORRUPÇÃO.
A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Senhores Senadores, a exemplo de vários parlamentares, militantes, movimentos sociais, reconheço que toda generalização é perversa e cruel. A partir do momento em que se apresentam todos os políticos como bandidos, membros de quadrilhas e outras coisas mais, mesmo sabendo que toda generalização é perversa, digo sinceramente, Senador Tião Viana, que eu não me incomodo, porque não ponho a carapuça. Sei que a generalização perversa é ruim para o aprimoramento da já combalida democracia representativa, mas a população brasileira tem muita razão de se mostrar indignada, nauseada, em estado de vômito permanente, porque não sai do noticiário a lama da corrupção.
Então, quando o atual Governo e parte importante da sua base de bajulação reproduz a mesma metodologia do Governo passado, de entregar o aparelho de Estado brasileiro a conhecidos, delinqüentes de luxo, saqueadores dos cofres públicos, realmente fica muito difícil que a população brasileira não reaja com profunda indignação.
Certamente que, se Jesus por aqui estivesse, com certeza, Ele entraria em algumas instituições, em alguns órgãos públicos do Brasil, ou do Executivo ou do Legislativo, com o chicote na mão a denunciar que alguém fez disso aqui um covil de ladrões.
É evidente que as denúncias são muito graves em relação à Câmara, mas tenho a obrigação de dizer que não boto a mão no fogo pelo Senado porque não quero torrar a minha pobre mãozinha, fazer dela um churrasco. As denúncias do “mensalão” estão na Câmara, mas é evidente que sabemos todos nós que há outras formas sofisticadas de montar o balcão de negócios sujos, de se distribuírem cargos, prestígio, liberação de emenda e poder para que outros também sejam partes de formas mais sofisticadas do “mensalão”. Então, quero deixar muito claro que minha mãozinha delicada não ponho no fogo para proteger as patas de quem quer que seja: ou Deputado, ou Senador. Por isso é importante a CPI; por isso é essencial uma Comissão Parlamentar de Inquérito para que, através de um procedimento investigatório que traz para si poder de investigação próprio das autoridades judiciais, possamos dar conta das investigações pela quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico dos que são parte do bando de partidos, ou empresários, ou outros mais que estão ajudando nos saques aos cofres públicos. Isso é muito importante!
Quem viu todas as revistas e jornais, por um lado, aquela foto, uma foto bem chique e que mostrava claramente que há pessoas que não estão nem um pouco preocupadas. Essa foto é aquela da aliança PT/PMDB. Isso não é novidade, porque todos sabem que o PMDB é assim: “És governo, estou dentro”. O povo brasileiro está absolutamente indignado, está entre a tristeza profunda e a indignação. Na foto estava o Presidente do PMDB, Michel Temer, o Presidente do Senado, Renan Calheiros, o Presidente Lula e o Líder do Governo, Aloizio Mercadante. Eles podiam, ao menos, diante da crise gravíssima em que o Brasil se encontra, se comportarem de maneira mais sisuda. Mas não: estavam lá gargalhando. Pareciam-se com alguém que está em cima de uma fossa estourada, fingindo que sente o perfume das rosas, quando o mais simples cidadão, que perto dali está, sente a podridão avassalando suas narinas e seu coração.
À medida que eu via as revistas de toda a semana, ficava impressionada. Isso porque o luxuoso hotel de Brasília que foi utilizado para promover a nossa expulsão é o mesmo onde empresários, dirigentes partidários e Parlamentares alugavam salas e suítes para viabilizar o esquema da podridão, da corrupção que entristece e indigna a maioria da população brasileira.
Quero só deixar aqui claro, mais uma vez, que não sou movida por moralismo pequeno-burguês. Mas é evidente que a condenação da hipocrisia dos escribas, dos fariseus e dos sicofantas tem que efetivamente ser mostrada e apresentada ao povo brasileiro.
Mais uma vez, sai publicado no jornal tudo o que já estávamos vendo nesse período: dirigentes partidários entregam o aparelho do Estado para delinqüentes de luxo; esses senhores fraudam a necessidade e a demanda, fraudam o processo de instrução de uma licitação para que determinado empresário ganhe essa licitação fraudulenta; e o empresário que ganha a licitação fraudulenta recompensa os dirigentes partidários e os seus serviçais da política com o “mensalão” e outras estruturas igualmente apodrecidas, certamente mais sofisticadas para viabilizar os negócios sujos.
Então é duro, realmente é muito difícil. Começa com a fraude no processo de instrução, com as estratégias jurídicas que são montadas para o empresário ganhar a licitação. Depois, quando ele ganha a licitação com um processo fraudulento, porque a diretoria tal cria uma necessidade de compra de um produto de que não há necessidade, combinam com o empresário que lá coloque uma especificação técnica no seu produto para que ele ganhe. Articulam-se de forma bandida, tal e qual o banditismo de covil de ladrões, colocando o preço lá embaixo para que depois se promova uma estratégia jurídica e, por meio de aditivos, o preço seja recompensado. E, depois que o preço é recompensado, o empresário que ganha a operação fraudulenta recompensa os dirigentes partidários e os seus malandros parlamentares com o dinheiro sujo da corrupção.
Então, realmente fica muito difícil que alguém consiga ter paciência e serenidade quando se estão saqueando os cofres públicos. Alguém até pode responder com serenidade, porque o dinheiro que está sendo utilizado, ninguém está vendendo suas mansões do Lago, ninguém está vendendo seus iates, seus aviões particulares, ninguém está tirando dinheiro das suas contas do paraíso fiscal, ninguém está fazendo isso. Está-se tirando dinheiro do povo, dinheiro público. Cada vez que se saqueiam os cofres públicos, é uma menininha pobre que vai para a rua vender o corpo por um prato de comida e um jovem pobre que vai para a marginalidade como último refúgio.
Portanto, nós nos sentimos na obrigação de, mais uma vez simplesmente protestar, o que realmente adianta pouco. Mas, pelo menos, deixamos aqui registrado o nosso protesto em relação ao banditismo dos delinqüentes de luxo. Estejam eles onde estiverem, trazendo na lapela do terno o broche que for, que eles possam, realmente, cumprir o destino que a ordem jurídica vigente do País, que a legislação em vigor do País possibilita, que é cadeia para os corruptos, para os que patrocinam crimes contra a Administração Pública!
Nós não podemos aceitar que o destino do pobre, quando rouba um pão para alimentar o seu filho faminto, seja apanhar no presídio, enquanto o destino dos delinqüentes de luxo que saqueiam os cofres públicos seja transitar nos tapetes azuis do Senado ou verdes da Câmara, ou ser recebidos nos salões da high society, como se homens honrados fossem, quando, na verdade, delinqüentes de luxo, parasitas sem pátria, saqueadores dos cofres públicos efetivamente são!
Era o que tinha dizer, Sr. Presidente.
(Bravo! Manifestação nas galerias.)