Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Retrospectiva das ações efetivadas pela CPI dos Correios na semana passada.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Retrospectiva das ações efetivadas pela CPI dos Correios na semana passada.
Publicação
Publicação no DSF de 28/06/2005 - Página 21045
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • ANALISE, DADOS, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), IMPORTANCIA, EXPANSÃO, DETALHAMENTO, INVESTIGAÇÃO, OBJETIVO, OBTENÇÃO, INDICIO, PROVA, CULPA, PESSOAS, DOMINIO ECONOMICO.
  • COMENTARIO, LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, CARTA CAPITAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, CONEXÃO, DIVERSIDADE, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, DESMONTAGEM, QUADRILHA, CORRUPÇÃO, CORRELAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Agradeço, Sr. Presidente.

Cumprimento as Srªs e os Srs. Senadores que se fazem presentes nesta sessão e a todos os que ocupam as galerias.

Antes de tratar do assunto que me trouxe à tribuna, comentei brincando com a Senadora Heloísa Helena que racionamento não é apagão. Houve apagão sim. E houve racionamento. Tanto houve apagão, que depois houve o “seguro apagão”. E até hoje estamos apagando e pagando.

O que me traz à tribuna é que, na semana passada, tive a oportunidade de acompanhar apenas uma parte dos depoimentos da CPMI dos Correios, mas, da parte que tive a oportunidade e a condição, inclusive emocional, de participar, começa a se desenhar algo extremamente interessante e importante para todos aqueles que querem levar a investigação até as últimas conseqüências, o que significa chegar não apenas aos corruptos, mas também aos corruptores. Infelizmente, no País, existe a tendência de pegar apenas uma parte da corrupção. E os corruptores, principalmente os envolvidos com os grandes interesses, especialmente os econômicos, acabam ficando de fora.

Nos depoimentos da semana passada, houve alguns dados importantes que faço questão de trazer aqui. O primeiro diz respeito à gravação que surgiu e que, algumas vezes, foi repetida e utilizada, a do Sr. Maurício Marinho enfiando no bolso a propina de R$3 mil. Para começar, aquele equipamento não é qualquer um, não está à venda em qualquer barraquinha de camelódromo. Trata-se de um equipamento extremamente sofisticado. No depoimento, além de isso ter ficado claro, ficou também transparente que o esquema para achacar, montado pelos empresários que prestaram o depoimento - e também dá a impressão, no depoimento, de que eles não são a ponta, que existem fatos, e não poucos, por trás de quem montou aquele sofisticado esquema de gravação e achaque -, é algo antigo. Não é algo feito, como tem sido dito pela imprensa, única e exclusivamente para derrubar o Sr. Maurício Marinho, que estava criando dificuldades, mas um esquema muito mais antigo e mais complexo.

Houve até um Deputado do PSDB que colocou que aquilo parecia briga de gangue de quarteirão. Não é briga de gangue de quarteirão. Devemos nos dar conta de que, pelo andar da carruagem, as investigações poderão nos levar a questões bastante graves e sérias, de disputas volumosas e de interesses econômicos não tão pequenos.

E, nesse andar da carruagem, se nós nos concentrarmos no foco e levarmos a fundo a investigação, sem buscar pipocar de forma tão rápida e sem que as coisas sejam profundamente investigadas, penso que surgirão revelações e comprovações importantes e interessantes.

Aliás, temos sido acusados. Não é a primeira nem a segunda vez que Parlamentares da Oposição acusam o Presidente Lula de dizer: “No meu governo...”. Até já disseram, algumas, vezes, que parece que nós, em determinadas situações, estamos reinventando a roda. Inclusive, tive a oportunidade de ler o artigo do Presidente do PFL no jornal Folha de S.Paulo. Parece que nós é que inventamos a corrupção! Parece que nunca houve corrupção no País, que corrupção é algo novo, chegou agora, está colocado aí. Quando todos nós sabemos que a corrupção é endêmica neste País, está incrustada, encruada na máquina pública, funciona onde há poder, onde há dinheiro.Está instalada, e é uma briga muito grande para desinstalar a corrupção. Portanto, o artigo do Presidente do PFL é bastante estranho, porque segue a lógica de que parece que surgiu agora, como se nunca houvesse existido um enfrentamento ou problemas com a corrupção ao longo de toda a sua vida e de sua administração, em todos os espaços de poder.

Algumas das questões demonstram, de forma muito clara, que, se vamos investigar as denúncias que estão aparecendo agora, elas têm que se reportar a episódios anteriores. Não é possível não se reportar. Por exemplo, na lista dos contratos que o Sr. Maurício Marinho leu na CPI, a maior parte é de contratos não realizados por este Governo, mas pelo Governo anterior. No que diz respeito a transporte aéreo, temos que avaliar, analisar questões de modificações, aditivos ao contrato. Mas não dá para não voltar à briga ocorrida na tramitação da Lei Postal, geradora de modificações em vários contratos feitos àquela época. E é importante lembrar que a briga da Lei Postal derrubou o Presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, em confronto com o Ministro da época.

Então, a respeito de tudo que investigaremos, terá que se levantar toda a retrospectiva, porque é impossível, em casos como esse de transporte aéreo, que envolve alguns bilhões de interesses, que esse assunto não venha a público.

Outras questões: teremos depoimentos de outros diretores dos Correios sobre a questão da informática. É voz corrente; todos comentam que, por traz de muitas questões de informática, há a famosa briga da Microsoft com o software livre e a posição do Governo Lula, de bancar determinadas situações, como, por exemplo, em relação ao posicionamento da China. Isso vai estreitando a potencialidade da Microsoft no mercado internacional. Essa não é uma briga de cachorro pequeno, mas de cachorro grande. Ela está por traz e permeia uma série de situações, de confrontos, de conflitos e de interesses econômicos graudíssimos.

De acordo com a lógica de que as investigações têm de caminhar para os corruptores, para, obrigatoriamente, se detectarem os graúdos interesses econômicos envolvidos em disputas de parcela, de atuação e de estruturação da máquina do Estado, leio trechos da reportagem da revista CartaCapital desta semana, sob o seguinte título: “O Orelhudo tá nessa”.

Essa revista apresenta alguns dados e correlações bastante interessantes que vêm subsidiar o que citei anteriormente, para que possamos ter a magnitude, a dimensão de onde nos levará as investigações da CPI dos Correios ao estabelecermos todas essas correlações. E mais: o quanto estão correlacionadas determinadas ações da Polícia Federal, que não está apartada do Governo, mas que age sob a orientação do Ministro da Justiça, que, por sua vez, atua sob a orientação do Presidente da República. Portanto, eu não quero mais ouvir essa história de que a Polícia Federal é a mesma sempre. Não. A Polícia Federal age sob ordens e orientação.

Indiscutivelmente, a Polícia Federal, no atual Governo, tem, comparativamente com ações da mesma Polícia Federal sob a ordem de outros Governos, um comportamento absolutamente diferenciado nas operações, desmonte de quadrilhas e de prisões. E a própria manchete da CartaCapital “O orelhudo tá nessa” mostra que há conexões com outras operações de desmonte da Polícia Federal, tais como Operação Chacal e Operação Cevada, que acabam imbricando determinados interesses econômicos e empresariais prejudicados por esse desmonte das quadrilhas, sob as ordens do Ministro Márcio Thomaz Bastos, do Governo Lula.

Mas eu queria ler aqui alguns trechos que eu acho que são bastante interessantes:

      CartaCapital colheu novos detalhes da versão que Marcos Valério contou a amigos e colaboradores, em parte publicada na edição da revista Veja de 22 de junho. O publicitário disse a amigos ter provas de que o depoimento de Fernanda Somaggio foi forjado no sítio do executivo Carlos Rodenburg, no interior do Rio de Janeiro, por volta de agosto do ano passado. Rodenburg é ex-cunhado e sócio de Dantas. Segundo Valério, o Opportunity teria tentado cooptar outros funcionários da agência SMP&B, até encontrar a secretária, demitida alguns meses antes.

      Em 2004, Valério foi procurado por Dantas. O banqueiro tentava uma aproximação com o governo federal e uma forma de neutralizar a resistência do secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, aliado dos fundos de pensão na briga pelo controle de empresas de telefonia avaliadas em cerca de R$ 15 bilhões. Em troca, o dono do Opportunity entregou à DNA, uma das agências do publicitário, as contas da Telemig Celular e da Amazônia Celular.

            Passo a ler outros trechos:

      Valério confidenciou a amigos que brigou com Dantas ainda em 2004, mas não deu detalhes dos motivos. “É muita sujeira”, teria dito. Para o publicitário, está nessa briga a origem dos depoimentos de Fernanda Somaggio.

      A revista IstoÉ Dinheiro afirma ter entrevistado a secretária em dois momentos. A primeira vez, em 2 de setembro de 2004. As declarações de Fernanda Somaggio não teriam sido publicadas à época, diz a revista, pois “era necessário avançar nas investigações”. Uma nova conversa teria ocorrido depois que o Deputado Roberto Jefferson apontou Marcos Valério como um dos operadores do mensalão.

            Mais à frente:

      Adriana Fantini, funcionária da SMP&B, afirmou que Fernanda Somaggio teria dito que um jornalista lhe havia oferecido dinheiro em troca de informações sobre o publicitário e suas empresas.

            Posteriormente, a reportagem cita a Operação Cevada que pegou os donos da Schincariol e fez também correlações com os episódios envolvendo o Dantas, a Fernanda Somaggio.

Em outro trecho da revista:

      Em outubro de 2004, a PF desencadeou a Operação Chacal e apreendeu documentos no Banco Opportunity, na sede da BrT e nas residências de Dantas e Cico. De lá para cá, a vida do banqueiro se complicou. Até então tratado como um empresário astuto e polêmico, Dantas passou a carregar a imagem de criminoso. Em maio deste ano, a Justiça Federal o indiciou por formação de quadrilha. Sabe-se que os delegados federais responsáveis pela apuração sofreram pressão, mas tiveram carta-branca do diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, para continuar o inquérito.

            Mais adiante:

      CartaCapital apurou que Valério foi informado da entrevista por Domingo Alzugaray. O publicitário e o editor encontraram-se na sede da Três, em São Paulo. Presente o jornalista Gilberto Mansur, amigo do publicitário. O sócio da SMP&B, que ainda não havia emergido dos bastidores do mundo político, quis saber o motivo do interesse da revista no relato da secretária. “Você é um homem poderoso”, teria afirmado Alzugaray.

      A versão do publicitário vai mais longe. A entrevista não foi publicada, mas o conteúdo chegou ao ouvido do ex-governador Anthony Garotinho e, por extensão, ao conhecimento do Deputado Roberto Jefferson. Pela tese de Valério, Roberto Jefferson sabia da tese da existência de Fernanda Somaggio e lançou a história para desviar o foco das investigações dos Correios. O interesse de Garotinho seria enfraquecer Lula. À Veja, o ex-governador respondeu: “Esse Marcos Valério está delirando”.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Já vou concluir, Sr. Presidente.

Em outro trecho, diz-se o seguinte:

      Uma série de conexões parece dar algum sentido à versão de Valério, sem que, repita-se, isso o inocente ou torne as declarações de Fernanda Somaggio sem validade.

      (...)

      Fernanda Somaggio decidiu procurar a revista IstoÉ Dinheiro e, especificamente, o jornalista Leonardo Attuch, para revelar o esquema de desvio de dinheiro. Attuch está no centro de uma discussão a envolver a Polícia Federal, Daniel Dantas, a Kroll, e a revista Veja.

            Entra, de novo, aquela história da Krol, do grampo de personalidades do Governo e tal.

Mais adiante:

      No relatório final da Operação Chacal, a PF dedica cerca de cinco páginas à Dinheiro e a Attuch. Para os federais, a publicação e o repórter foram utilizados “para lançar matérias convergentes com o interesse do grupo criminoso (leia-se Daniel Dantas...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (César Borges. PFL - BA) - Concedo mais um minuto a V. Exª para encerrar, por favor, Senadora Ideli Salvatti.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) -

      ...Carla Cico e funcionários da Kroll)”. Os delegados que cuidam do caso chegaram a pedir a quebra do sigilo telefônico do jornalista. O pedido foi negado pela Justiça (...)

            Então, fiz questão de trazer esses trechos, porque, como eu já disse, nós estamos iniciando a CPI dos Correios. Em outras CPIs, chegou a se cassar Parlamentares, a prender pessoas e uma série de elementos bastante claros da corrupção dentro da máquina pública, seja do Executivo, do Legislativo e, em alguns casos, até do Judiciário. Mas, infelizmente, nós não conseguimos chegar aos grupos econômicos que se beneficiam da corrupção. Espero que, desta vez, nós tenhamos essa capacidade política. Esse é o nosso papel primordial em todas as investigações que estamos fazendo, neste momento, no nosso País. É chegar aos corruptores, aos grandes interesses da corrupção que, como, neste caso, a reportagem traz insinuações, ilações, e como já tivemos oportunidade, inclusive, de detectar nas oitivas feitas na semana passada, que caminham para a lógica de buscarmos os corruptores, que são os grandes interessados em que a corrupção persista no nosso País.

Muito obrigada.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/06/2005 - Página 21045