Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações ao pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações ao pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti.
Aparteantes
José Agripino.
Publicação
Publicação no DSF de 28/06/2005 - Página 21047
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, PRONUNCIAMENTO, AUTORIA, IDELI SALVATTI, SENADOR, OPINIÃO, ORADOR, CONTRADIÇÃO, CONGRESSISTA, DEFESA, PESSOAS, CULPA, CORRUPÇÃO, TENTATIVA, INEFICACIA, REDUÇÃO, RESPONSABILIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), TRANSAÇÃO ILICITA, AUSENCIA, CONHECIMENTO, AUTONOMIA, POLICIA FEDERAL, INCOMPETENCIA, INTERPRETAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, CARTA CAPITAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • CRITICA, AUTORITARISMO, CONDUTA, GOVERNO FEDERAL, RECUSA, ACEITAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, TRANSAÇÃO ILICITA, PARTICIPAÇÃO, SERVIDOR, CASA CIVIL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na sexta-feira, eu disse aqui nesta tribuna que a chaleira estava apenas se destampando e que muita sujeira acompanhada de verdades, é claro, surgiriam aos poucos.

Quero elogiar a postura da Senadora Ideli Salvatti, a sua coragem de vir aqui defender um amigo, defender um correligionário. Pela primeira vez, Senadora Ideli Salvatti, V. Exª está de parabéns: defende o Sr. Marcos Valério. V. Exª está de parabéns pela coragem. Não se deve deixar amigos no meio da rua. Já que foi seu parceiro, já que foi companheiro durante tanto tempo, merece a defesa sincera. V. Exª já demonstra que não é daquelas que, quando o navio começa a naufragar, abandona-o sem nenhum pudor.

Sr. Presidente, a única coisa estranha nisso tudo é que a Senadora Ideli, de posse da mídia publicada pela Radiobrás e que no domingo se dedica às revistas semanais, traz matéria de primeira página da de menor circulação, nem por isso mais acreditada e menos valorosa. Se olhar a capa das revistas Veja, ISTOÉ e Época, ela vai ver como é que os fatos são tratados pelo Governo.

Pensei que ela viesse aqui dizer que os documentos que o Coaf mandou, mostrando a movimentação de cheques do seu defendido, fossem mentira; pensei que ela viesse aqui apresentar fatos que esclarecessem a Nação, que mostrassem a indignação com tudo o que está acontecendo, como tenho visto, com vários dos seus companheiros. Mas não. Faz a defesa de um companheiro. Ela disse que é verdade. Essa é uma guerra que envolve o poder econômico. E tenta, mais uma vez, naquela sua psicopatia de combater o Senador Jorge Bornhausen, criticar um artigo que ele escreveu como cidadão e que tem todo o direito de fazê-lo. A Senadora Ideli Salvatti não tomou como lição aquela sua tentativa frustrada de criar a CPMI do Banestado para acusar o Presidente Nacional do PFL. Deveria, isto sim, explicar por que a CPMI do Banestado não foi concluída, por que não foram apurados os culpados e dizer quem foi que travou a CPMI do Banestado. Prestaria mais serviços à Nação do que vir aqui sofismar um fato que não tem nada com a verdadeira vontade que a Nação tem de investigar.

Ora, Srªs e Srs. Senadores, quem prometeu banir a corrupção no Brasil foi o PT. Quem prometeu dar um fim aos atos que condenava, dizendo que eram praticados pelos governos passados, foi o PT!

Acusar o Governo passado com relação ao caso específico da Skymaster é, no mínimo, falta de memória. O Ministro Miro Teixeira, ao assumir o Ministério, reduziu os custos do contrato dessa empresa. Tiraram o Ministro Miro Teixeira de maneira misteriosa. Criaram uma crise, e o Ministro se afastou. Talvez agora se saiba dos fatos reais. Dois meses depois, elevaram o preço do contrato da Skymaster a um valor acima do previsto inicialmente. Foi tudo do Governo anterior. Quem criou a Vice-Presidência de Tecnologia dos Correios foi o Governo anterior, para acomodar mais um do esquema. Quem fez uma diretoria colegiada, distribuindo, entre os Partidos políticos, o quinhão que cada um merecia foi o Governo anterior. Acabem com essa história de ficar olhando pelo espelho retrovisor os erros do passado! Afinal de contas, foi o Partido da Senadora Ideli Salvatti que prometeu acabar com tudo isso. Não fomos nós!

O Brasil, quando acreditou e votou no Presidente Lula, não sabia que ele colocaria no Banco Central um banqueiro comprometido com o capitalismo internacional - que eles tanto combateram -, o Sr. Henrique Meirelles. Se eles têm tanto ódio do PSDB, por que foram buscar um tucano recém-eleito Deputado Federal para ser Presidente do Banco Central? O que a Nação não aceita são essas contradições.

A semelhança do atual Governo, Senador José Agripino, com o Governo Collor cada dia assusta mais. Um dos fatos que mais desgastou o Governo Collor foi o esquema de fundo de pensão ser entregue ao Diretor da Abin na época, Sr. Pedro Paulo. Agora, fundo de pensão é entregue ao Sr. Luiz Gushiken - e ela está aqui como seu porta-voz, tentando envolver empresários numa questão que não é essa.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Ouço V. Exª com o maior prazer.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Heráclito Fortes, V. Exª toca numa questão muito interessante, e atrevo-me a apartear-lhe apenas para lembrar que há um traço de união muito forte entre o affair Collor e o affair Mensalão, José Dirceu, Sílvio Pereira, Delúbio Soares, Marcelo Sereno e Governo Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos os escândalos foram gerados por tesoureiros - sempre dinheiro. Num caso, foi PC Farias; no outro, Delúbio Soares, que - supõe-se - está mergulhado nesse assunto até os gorgomilos. É necessário haver total esclarecimento. Não adianta tergiversar, nem mudar o foco, nem olhar para trás, por uma razão muito simples, Senador Heráclito Fortes: aqueles que fazem o Governo não perceberam ainda o sentimento da opinião pública, que não vai perdoar nem a eles nem a nós se não passarmos a limpo essa história de corrupção brava, gravada em fita de vídeo e denunciada por não apenas uma pessoa, mas muitas pessoas - daqui a pouco vou falar sobre isso -, por uma corrente de pessoas. E, se não comprovam nada, ninguém até hoje desmentiu nada do que eles falaram. Repito: ninguém desmentiu nada do que eles falaram. De modo que quero cumprimentar V. Exª, dando esta informação adicional: a conexão entre o caso Collor e esse grupo do PT tem um traço de união na sua origem, no âmago, no centro nevrálgico; é que os operadores dos escândalos, de um caso e de outro, foram iguaizinhos: os tesoureiros, que são os homens que cuidam de dinheiro, Delúbio Soares e PC Farias.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador José Agripino, o que me causa estarrecimento maior nisso é o Governo agora querer fazer da ação da Polícia Federal e do Ministério Público obra de seu Governo. É um desrespeito e um atentado à liberdade e à independência da Polícia Federal, porque quem diz que manda apurar tem também o direito de mandar parar a apuração.

Será que a Polícia e o Ministério Público estão a serviço do Governo? Se estão, estão recebendo ordem de quem? Do Presidente da República? Era até ontem do Sr. José Dirceu? Quem é que está dando essa ordem? Cadê a polícia republicana, cantada em prosa e verso pelo Ministro da Justiça? Será que foi o Presidente da República quem mandou prender esse senhor do Ibama de Mato Grosso, que ficou preso injustamente durante cinco dias? Ele assume a responsabilidade dessa falha, ou o erro é da Polícia? Governo que não faz, que não tem obra, que não tem realização quer se justificar com uma ação da polícia, que, a meu ver, age de acordo com o Ministério Público, atendendo a determinações da Justiça. A polícia é do Estado e está a serviço do Estado e do cidadão, não a serviço de governo. Isso está muito mal explicado. Acho que a Senadora Ideli Salvatti, ao pinçar essa matéria, deveria ter entendido melhor o seu conteúdo!

Senadora Ideli, vou mandar às mãos de V. Exª a cópia do último depoimento da Srª Karina à Polícia Federal, que tenta de todas as maneiras arrancar confissões dela a respeito de fatos... Estão aqui para que V. Exª veja. Sei como é a sofreguidão do militante do PT, quando recebe ordem de cima. Tem de cumprir, custe o que custar! Mas, depois, paga o preço.

V. Exª devia ter aprendido muito com a CPI do Banestado. Jogou um cesto de pedras para cima, e caíram todas na cabeça do PT. É preciso que se respeite a opinião pública, que não é burra; é atenta, lê e não vai acreditar nessas histórias mal contadas com que tentam desviar, de fato, o que realmente está acontecendo e o que o País estarrecido percebe.

A corrupção foi vista, até agora, em uma parte dos Correios, em uma diretoria. A CPMI vai ter oportunidade de ver o resto. O Sr. Roberto Jefferson pode ter todos os pecados do mundo, mas, Sr. Presidente, prestou um grande serviço ao Brasil. Foi a oportunidade de destampar essa chaleira que estava aí na garganta de todos, de que todos sabiam, porque viram, pela mudança de comportamento, pela mudança de vestimenta, de modos, de hábitos dos petistas, e que ninguém sabia de onde estava vindo.

Enfrentamos uma campanha municipal em 2004, Senador Mão Santa. Enquanto nós, que éramos tidos como burgueses, oriundos de partidos ricos, contratávamos cantores e pequenos conjuntos locais, o Partido dos Trabalhadores ostentava as bandas e os conjuntos mais caros do Brasil. De onde vinha tudo isso?

Os fatos estão aparecendo. O Eclesiastes é muito sábio quando diz que, mais cedo ou mais tarde, a virtude triunfará. Acho que o PT, em vez de ficar jogando lama e agredindo as pessoas, para desviar os fatos, devia, humildemente, antecipar-se e evitar que o escândalo chegue - como chegou esse dos Correios - à opinião pública, tomando providências sérias e graves, cortando, como disse o Presidente Lula, na própria carne.

O Delúbio é osso, não é carne; o Sílvio Pereira é osso, não é carne. Para cortar osso é preciso serrote, é preciso coragem. Cada um desses é uma bomba atômica ambulante, porque sabe exatamente o que se passou.

Elogio a Senadora Ideli Salvatti pela coragem de vir aqui defender seus colegas, seus companheiros.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Mas lamento que S. Exª não traga nenhum argumento novo, nenhum fato que justifique para a opinião pública e a Nação brasileira este mar de lama em que o PT se embrenhou.

Peço a Deus que o Presidente Lula ainda esteja preservado nisso, pela sua história, pela sua biografia. Prefiro acreditar que ele é o amigo enganado e traído pelas más companhias a pensar que é conivente com tudo isso. Sou um homem otimista e, acima de tudo, de boa-fé. O PT, num momento como este, em vez de procurar redirecionar seus caminhos, está anunciando novas alianças, novas distribuições de cargos, novo fisiologismo.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - V. Exª me permite um novo aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pois não, com o maior prazer.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Só para acrescentar alguma coisa ao que já foi dito por V. Exª.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - V. Exª fala na história do Presidente Lula, história que o País inteiro aplaude: um operário que chegou à Presidência. Só que o Presidente precisa entender que uma história só tem fim quando a pessoa falece - ele está vivo, e quero que vá muito longe - e o que legitima um mandato não é o desempenho eleitoral, não é a vitória nas urnas, é o desempenho administrativo e político do mandato que o povo lhe conferiu. A biografia do Presidente Lula está sendo construída, e neste momento está sendo desdito um passado de muitos anos pelos atos que estão sendo denunciados e não estão sendo, por parte do Governo, esclarecidos com a boa vontade que a população esperaria do operário que chegou à Presidência e que diz: “Não vai ficar pedra sobre pedra. Irei às últimas conseqüências.”

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - “Não pouparei ninguém, nem que tenha que cortar na própria carne”. Que corte e que escancare as portas do Governo para que, em vez de impedir as comissões parlamentares de inquérito, facilite as investigações.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador José Agripino, o velho Ulysses Guimarães, meu querido amigo, para mim foi um verdadeiro mestre nos meus anos de Casa. Aqui, quando cheguei, tive ele e o Paulo Affonso Martins de Oliveira como “anda já”. Eles me ensinaram os primeiros passos. E foram muito úteis. Aprendi muito. Ele dizia que o mal do Brasil era o homem público confundir crédito de confiança com popularidade. Ao ser consagrado nas urnas, achava que era popular e dono de tudo e não tinha a humildade de compreender que aquilo era um crédito de confiança que a Nação lhe dava.

O SR. PRESIDENTE (César Borges. PFL - BA) - Nobre Senador Heráclito Fortes, mais um minuto para V. Exª concluir o seu pronunciamento.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Agradeço. E citava o exemplo do Juscelino, dizendo que Juscelino foi salvo por Aragarças. Nos primeiros meses do seu governo, viveu aquele episódio de Aragarças e teve que sair do pedestal, descer, conversar com a farda, com os militares, com a Nação. E equacionou o seu problema. Talvez o Aragarças do Presidente Lula - e ele não teve a noção de ver isso - tenha sido o episódio Waldomiro. Em vez de se apurar a fundo o que aconteceu, tentou-se colocar tudo debaixo do tapete - e colocou. Onde está o processo de apuração da apreensão daquele dinheiro no aeroporto de Brasília, filmado e fotografado, transportado por Waldomiro Diniz? Onde estão as denúncias? Quem apurou? Ninguém apurou nada; botou debaixo do tapete - repito. A impunidade faz com que se imite o exemplo, e o PT montou uma verdadeira escola de “waldomirinhos”, que estão por aí usando...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - ... exatamente daquela mesma estratégia, porque sabiam que aquilo não ia dar em nada. Sabiam. Previam. Felizmente, aparece sempre um Fiat Elba, uma secretária ou alguém para denunciar.

Senadora Ideli Salvatti, eu me despeço. Sei que V. Exª vai invocar o art. 14, e eu irei responder-lhe com muita alegria. A maior imagem que guardo de V. Exª foi a da véspera da cassação da Senadora Heloísa Helena, no Hotel Blue Tree, tomando uísque selo azul, ao lado do Delúbio, do Sílvio Pereira e de outros mais. Senadora Ideli, o que dá para rir dá para chorar.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/06/2005 - Página 21047