Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise dos fatos que culminaram com a instalação da CPI dos Correios e sua provável relação com a denúncia de pagamento de "mensalão". (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Análise dos fatos que culminaram com a instalação da CPI dos Correios e sua provável relação com a denúncia de pagamento de "mensalão". (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 28/06/2005 - Página 21052
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, DADOS, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), CORRELAÇÃO, DENUNCIA, PAGAMENTO, MESADA, PROPINA, DEPUTADO FEDERAL, DEMONSTRAÇÃO, RESPONSABILIDADE, GOVERNO FEDERAL, DIVERSIDADE, TRANSAÇÃO ILICITA.
  • ESCLARECIMENTOS, DECISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), EXIGENCIA, URGENCIA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, MOTIVO, CONEXÃO, DIVERSIDADE, COMISSÃO, APURAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

O SR JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr Presidente, Srªs e Srs Senadores, eu gostaria inicialmente de dizer que concordo com a Senadora Ideli Salvatti quando S. Exª diz que o importante é encontrar o agente corruptor.

Não tenho nenhuma dúvida. É importantíssimo! E, nesse processo que se está verificando, todos os indícios remetem ao agente corruptor encastelado no Poder Executivo. E eu vou circunstanciar essa minha suposição.

Sr. Presidente, já está em curso a CPMI dos Correios, vai se instalar na quarta-feira a CPMI do Mensalão e a CPI do Waldomiro, a dos Bingos, está para ser instalada.

Eu gostaria, Senador Geraldo Mesquita, de fazer aqui umas elucubrações de um sentimento pessoal para conhecimento de V. Exªs e, quem sabe, Senador Heráclito, para a contestação ou não de meu pensamento. Posso até estar errado.

Tudo começou, Sr Presidente, com uma fita gravada do Sr. Maurício Marinho, nos Correios. Aquela que já repetida à exaustão do cidadão de óculos pegando com a ponta do dedinho aquele maço de dinheiro e colocando-o sorrateiramente no bolso. E contando coisas. Ele dizia na fita que estava lá a serviço de um Partido Político e citava Roberto Jefferson.

Citado Roberto Jefferson, ele veio a público para dizer algumas coisas, que não foram comprovadas até agora - mas não foram desmentidas. E ele declarou, Senador Alberto Silva, que recebeu R$4 milhões numa mala, em dinheiro vivo, com a cintazinha do Banco Rural. Quem declarou foi ele. Ele é a própria testemunha do dinheiro que recebeu. E ele disse que existia o mensalão. Sobre o mensalão ele fez ilação com o Chefe da Casa Civil, Deputado José Dirceu; com o Sr. Delúbio Soares, Tesoureiro do PT; com o Sr. Sílvio Pereira, Secretário do Partido dos Trabalhadores. Fez ilações que até agora não foram comprovadas, mas foram feitas ilações.

Ato contínuo, o Sr. Maurício Marinho veio à Comissão Mista Parlamentar de Inquérito. Prestou um longo depoimento contraditório. Até um certo ponto ele disse coisas, parou, reconheceu que tudo o que havia dito era mentira e daí para frente iria contar a verdade. Eu suponho que um homem que faz o que ele fez, reconhece que estava mentindo e daí para frente iria falar a verdade, o tenha feito de fato: falado a verdade.

Ele disse o seguinte: que os contratos de publicidade dos Correios eram “triados” pela Secretaria de Comunicação Social, dentro do Palácio do Planalto, e que os diretores dos Correios tinham padrinhos. Os principais diretores dos Correios, seja da Diretoria de Operações ou da Diretoria de Tecnologia, tinham como padrinho o Sr. Sílvio Pereira, Secretário do PT.

Depoimentos do Sr. Roberto Jefferson. Depoimento do Sr. Maurício Marinho. De repente, não mais do que de repente, aparece uma figura chamada Karina, uma moça, secretária, ex-secretária do Sr. Marcos Valério, dono da DNA e da SMP&B, duas agências de publicidade.

Curiosamente, o Sr. Marcos Valério foi o homem que, segundo o Deputado Roberto Jefferson, lhe havia dado os quatro milhões em uma mala, com a cintazinha do Banco Rural.

A ex-secretária Karina disse algumas coisas interessantes. Disse muita coisa, mas umas coisas interessantes. Falou que tinha visto malas de dinheiro, malas de dinheiro, circulando pela empresa. Disse que testemunhou vários telefonemas do Sr. Marcos Valério com o Delúbio Soares, que usava até um avião do Banco Real, com o Sílvio Pereira e com o então Ministro José Dirceu. Conversas telefônicas informadas por Karina, a ex-secretária. E disse mais: que tinha visto uma festa de comemoração de uma vitória que se celebrava por antecipação de uma concorrência ganha. Nunca vi isso! De véspera, só quem morre é o peru. A ex-secretária disse que, de véspera, com champanhe Moët & Chandon, havia visto a comemoração da vitória de uma concorrência nos Correios por parte da DNA.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Peço tolerância, Sr. Presidente, porque é importante este assunto. Solicito mais um minuto.

Disse a ex-secretária Karina que a festa de comemoração de um contrato gordo tinha ocorrido e, para mim - aí entram as minhas elucubrações e as minhas considerações -, demonstra claramente que, quando o Maurício Marinho disse que havia uma triagem das concorrências pela Secom, do Ministro Gushiken, isso seria um indício de verdade muito grande, porque as ligações telefônicas de Marcos Valério, ditas pela ex-secretária Karina, com o Palácio do Planalto, eram muito fortes. Então, é de se supor que ele sabia que ia ganhar porque tinha sido operado um esquema para que ele ganhasse aquela concorrência, para que, ganhando a concorrência - que eu suponho superfaturada - pudesse gerar malas de dinheiro!

            (O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - O que é que estou deduzindo, Sr. Presidente? E queria a sua paciência, porque o assunto que estou falando é seriíssimo e interessa ao povo brasileiro. O que eu posso concluir? Que há uma ilação fortíssima entre o mensalão e os Correios. Em quê? O contrato ganho foi nos Correios. A CPMI dos Correios está ligada ao Sr. Marcos Valério. Tem uma correlação direta. Foi ele quem entregou a mala de dinheiro ao Roberto Jefferson. Então, ele está no centro das atrações da CPMI dos Correios.

Há um fato novo, que é consagrador. A descoberta do extrato bancário da DNA, que mostra saques em dinheiro de R$20,9 milhões. Roberto Jefferson recebeu R$4 milhões. Vinte ponto nove menos quatro, sobram dezesseis ponto nove milhões. É muita mala de dinheiro. Aí é onde eu acho que está o móvel do mensalão. É onde estão as conversas de Delúbio, de Sílvio, do Deputado José Dirceu com o Marcos Valério. Estão interligadas a CPMI dos Correios com o mensalão dentro da DNA da SMP&B.

Para mim, não há nenhuma dúvida.

Sr. Presidente, há um outro fato. A CPI dos Bingos, pela posição do PFL, será instalada, na minha opinião, até o dia 1º de agosto. Mas vou reunir a Bancada amanhã e tenho a impressão, pelo que já ouvi, de que a minha Bancada, diante dos fatos novos, vai querer que ela se instale logo em julho, por uma razão muito simples: a interligação entre a CPI dos Bingos, que tem como figura central o Sr. Waldomiro, a CPMI do Mensalão e a CPMI dos Correios é claríssima. Quem são os operadores da CPMI dos Correios e do Mensalão? Sílvio Pereira, Delúbio Soares, Marcelo Sereno. Funcionários de onde? Da Casa Civil. Ocupavam o quê? Uma salinha na Casa Civil. O Sr. Waldomiro é funcionário de quem? Da Casa Civil. Ocupava o quê? Uma salinha na Casa Civil. Qual é o pecado dos dois? Propina. Dos dois! Propina dos dois! Não há nenhuma mudança. E um traço de união forte: ambos da Casa Civil da Presidência da República, vizinho ao Presidente Lula, que, se não sabia, não sabe o que está ocorrendo no seu Governo. Tenha paciência, mas Presidente assim não dá! Ou, se sabia, prevaricou. Se sabia, prevaricou. Em qualquer das circunstâncias, condenável. Biografia manchada.

O que é que eu desejo com essas ilações que faço? Exigir a instalação da CPI dos Bingos. Urge, pois ela está conectada. Para mim, Senador Arthur Virgílio, estou convencido, o Sr. Waldomiro é o precursor do escândalo do mensalão. V. Exª já deve ter ouvido que ele era chamado de “ministro”, andando pela Câmara dos Deputados. Quando ele atuava, o Governo não perdia; ganhava todas. Ele era um operador que foi denunciado por acaso, em uma fita também gravada, pedindo propina a um bicheiro. É a mesma coisa, é a mesma conexão. É imperativo que aquilo que o PFL, o PSDB, o PDT pugnaram junto ao Supremo Tribunal Federal e a tese com a qual concorda o Presidente Renan Calheiros aconteça logo.

Vamos exigir que a CPI dos Bingos se instale com a maior brevidade possível, para que tenhamos informações conectadas, para que a sociedade tenha a sua curiosidade atendida e para que os corruptos possam ir para a cadeia, como disse a Senadora Ideli, os corruptores - que, na minha opinião, estão encastelados no Poder Executivo - e aqueles que foram os operadores onde o dinheiro foi apanhado, quem apanhou e quem recebeu o dinheiro. Quem recebeu o dinheiro, se for parlamentar, deve ser cassado e depois punido pela justiça comum para ir para a cadeia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/06/2005 - Página 21052