Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Posicionamento favorável à apuração das denúncias de corrupção. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Posicionamento favorável à apuração das denúncias de corrupção. (como Líder)
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior, José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 28/06/2005 - Página 21055
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, INERCIA, CONDUTA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AUSENCIA, EMPENHO, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • DEFESA, CONTINUAÇÃO, APURAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se alguém tem ainda alguma dúvida do tamanho significativo e assustador dessa crise, esse alguém deve imediatamente procurar um psicólogo, ajuda psicanalítica, ajuda psiquiátrica, porque o seu deslocamento da realidade está acima do que pode ser tolerado pelos padrões da normalidade.

Já ouvi aqui no Senado, hoje, expressões do tipo: destampou tudo. Já ouvi coisas - e concordo - do tipo: tudo que o Deputado Roberto Jefferson (que, por sua vez, é acusado de coisas gravíssimas) denunciou está sendo confirmado. O Senador Alvaro Dias me dizia ainda há pouco: “R$20 milhões para comprar gado, haja terra e haja boi”. E haja churrasco e haja pasto.

O Deputado Paulo Delgado, do PT de Minas Gerais, que é uma figura admirável pela sua cordialidade, pela sua seriedade, concedeu a um grande jornal brasileiro, neste fim de semana, uma entrevista marcante. Diz ele que só uma coisa pode salvar o PT e, por extensão, o Governo Lula: a verdade. Há as desculpas, os álibis: não foi bem assim, foi para comprar gado, poderia ter sido assado, quem sabe, ela está mentindo, afinal de contas, o Sr. Roberto Jefferson não conhecia a Srª Karina - não a conhecia que eu saiba -, e a Srª Karina diz coisas que batem com o que diz o Sr. Roberto Jefferson.

A CPI está no seu começo e já se torna um fato de enorme alcance, de enorme repercussão. Repito: no seu começo, no começo do seu começo.

Há apatia do Governo. Há incapacidade do Governo de gerar fatos efetivamente positivos, e não esses: “Vamos fazer uma agenda positiva.” Então, fingimos que não há nada de mais. Vamos brincar de agenda positiva durante dois ou três meses, fazendo de conta que não há nada de podre no reino da Dinamarca. Isso não é aceitável. A incompetência alia-se a toda essa leniência com a corrupção. E se quiserem um retrato da incompetência, direi que o retrato é precisamente aquele da visita do alto comando do PMDB ao Presidente Lula, que dá como fato consumado um acordo que não tinha sido combinado com o PMDB. Sabemos, hoje, que os Governadores não querem o acordo. Sabemos, hoje, que uma parte do PMDB não quer o acordo. Sabemos, hoje, que o PMDB não está uno no projeto de apoiar o Governo Lula. Além disso, o método foi errado. O método foi chegar oferecendo mais cargos. O Presidente deveria saber que o problema todo se deu por causa da distribuição atabalhoada e sem critérios de cargos no seu Governo.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concederei o aparte em um segundo, Senador José Jorge, com muito prazer.

Quando vejo, pouco depois da efeméride, braços levantados, sorrisos, vejo que não houve acordo algum e penso: Meu Deus! Falta ao Presidente Lula a sabedoria do velho PSD, que combinava as coisas para que, na reunião, tudo se desse conforme o combinado. Falta ao Presidente Lula maturidade para tocar o País. Isso está mais do que visível. Estamos, hoje, todos na dependência de um fato gravíssimo: todos torcemos para que o Presidente Lula - e esta é a melhor das hipóteses - seja um néscio, seja um tolo; não sabendo de nada, não tinha responsabilidade qualquer, até porque néscio, até porque tolo, até porque desavisado, até porque despreparado, até porque alienado.

Não dá para desconfiarmos mais do tamanho dessa crise.

Concedo um aparte ao Senador José Jorge, nobre Líder da Minoria nesta Casa.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Arthur Virgílio, eu gostaria de concordar com V. Exª e de dizer que, infelizmente, fica muito difícil acreditar que o Presidente Lula não soubesse de toda essa corrupção que estava existindo à sua volta. É muito difícil acreditarmos que uma pessoa que foi candidato a Presidente por três vezes e se elegeu Presidente seja um inepto. Na realidade, penso que o Presidente Lula sabia de tudo e não tomou as providências que deveria ter tomado. Agora mesmo, nesse fim de semana, vimos que esse Sr. Valério retirou R$20,6 milhões em dinheiro, e agora está dizendo que comprou gado, sendo que não tem fazenda. Se comprou gado, eram 40 mil cabeças de gado. É muito boi! Ele deixou de ser uma espécie de rei da publicidade oficial para ser, agora, o “rei do gado”. Esse Sr. Valério, com essa quantidade de gado que comprou em um prazo tão curto, é o novo “rei do gado” do Brasil. Muito obrigado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ele pode também, Senador José Jorge, ter comprado, por esse dinheiro todo, aquele touro Bandido, da novela “América”. Pode ser que só um animal valha tudo. Assim, está justificado contabilmente.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (P-SOL - AC) - Senador Arthur, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com muita honra, Senador Geraldo Mesquita.

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (P-SOL - AC) - Eu perguntaria ao Senador José Jorge se seria “rei do gado”, “rei do gato” ou “rei do rato”?

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Penso que seria mais “rei do rato”. (Risos.)

O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (P-SOL - AC) - Queria aproveitar o ensejo. V. Exª afirmou e traduziu aqui o sentimento de todos nós. Todos torcemos realmente para que a situação volte ao normal e para que o Presidente Lula acerte. Hoje, aqui neste plenário, li um texto escrito por um dos fundadores do PT lá na minha terra, uma pessoa por quem todo o Acre tem o maior respeito, o jornalista Antonio Alves. Ele escreveu há poucos dias, em seu blog, sobre o seu sentimento em face de tudo isso que está acontecendo. Hoje ele volta à carga, já sem qualquer esperança, e diz: “Para mim, já deu. Não vou mais ficar triste com o destino do Lula ou do PT. Torço para que se recuperem, sigam adiante e façam boas coisas, mas não dá para se identificar com eles, sua linguagem, seus valores.” Neste ponto, Senador Arthur Virgílio, entra aquela parte que V. Exª estava traduzindo por todos nós: “O Governo do Lula é como a seleção do Parreira. A gente torce a favor porque, afinal de contas, está jogando contra argentinos metidos ou ingleses arrogantes, mas não dá para ficar triste se levar uma goleada da Nigéria ou de Camarões.” É o espírito que V. Exª acabou de traduzir e que creio estar no coração de todo brasileiro.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Geraldo Mesquita Júnior. Concluo, Sr. Presidente, dizendo algo bem simples...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Primeiro, não está na vez e não está na hora de desculpas do tipo: não se provou, não está suficientemente provado, não há documento, não há gravação, essas conversas. Não resolveram até agora e o destampatório foi muito forte para que, daqui para frente, possam ainda tergiversar pelo caminho delas. Segundo - e isso me impressiona muito negativamente -, não há uma só declaração indignada de ninguém deste Governo contra tantas acusações.

Certa vez, acompanhei o Líder Freitas Nobre, figura inesquecível, para ouvir um personagem da política brasileira que se defendia. Defendeu-se corretamente: acusação nº 1, defesa nº 1; acusação nº 37, defesa nº 37; acusação nº 64, defesa nº 64. Na volta, pergunto ao Freitas: “Líder, que lhe pareceu? Foi bem? Foi mal?” Ele disse: “Tecnicamente ele foi bem” - e nem é o caso de um Governo que vai muito mal tecnicamente ao responder, até porque não responde às acusações que sofre. E acrescentou: “O que falta ao personagem em tela” - cujo nome não preciso citar agora - “é a indignação de inocentes.” Eles ouvem tudo, cobras e lagartos, e não há uma só declaração indignada de ninguém deste Governo, o que corresponde quase a uma confissão de culpa.

Estamos passando para a fase do alerta vermelho. O Governo deve providenciar aquilo que lhe é exigido pelo Deputado Paulo Delgado, do PT de Minas, na entrevista que concedeu a um jornal deste País, nesse fim de semana - entrevista lúcida, correta, própria de S. Exª -, dizendo: “Só a verdade salva o PT.” Portanto, acrescento: só a verdade poderá salvar este Governo.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - De meia verdade em meia verdade, de mentira em mentira, de tergiversação em tergiversação, este Governo poderá estar cavando para si e para o País momentos obscuros, de trevas, de muita inquietação, de muita infelicidade.

Por enquanto, Sr. Presidente, era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/06/2005 - Página 21055