Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamentos sobre a hipótese de envolvimento do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas recentes denúncias de corrupção.

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. SENADO.:
  • Questionamentos sobre a hipótese de envolvimento do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas recentes denúncias de corrupção.
Publicação
Publicação no DSF de 29/06/2005 - Página 21205
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. SENADO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, INOCENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, POSSIBILIDADE, CONHECIMENTO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, OCORRENCIA, PREVARICAÇÃO, DESCONHECIMENTO, SITUAÇÃO, CONFIRMAÇÃO, INCOMPETENCIA.
  • REGISTRO, ENTREVISTA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PUBLICITARIO, AUTOR, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, CONFIRMAÇÃO, ACESSO, CASA CIVIL, REUNIÃO, JOSE DIRCEU, EX MINISTRO DE ESTADO, DEMONSTRAÇÃO, CONHECIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SITUAÇÃO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, HISTORIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), EXPULSÃO, MEMBROS, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, ADMINISTRAÇÃO, REPRESENTAÇÃO POLITICA, MUNICIPIO, SÃO JOSE DOS CAMPOS (SP).
  • DEFESA, FUNCIONAMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), RECESSO, SENADO.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, preocupa-me, como a todo o País, a velocidade, extensão e profundidade da presente crise. Todos nos empenhamos em crer e fazer crer que o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, estaria fora do alcance das acusações.

Todavia, à medida que se coletam novas informações e o quebra-cabeças do escândalo vem sendo montado, torna-se cada vez mais problemático sustentar a inocência ou o alheamento presidencial.

O que se tem hoje é um dilema constrangedor, que só a CPI será capaz de esclarecer: ou o Presidente sabia - e é réu de crime de prevaricação; ou não sabia - e é inepto. Nenhuma das duas hipóteses o favorece - nem a ele, nem ao País.

Grande parte dos fatos, segundo depoimento de seus protagonistas, passou-se na ante-sala do Presidente da República. Tal como o escândalo Waldomiro Diniz, tudo se deu na intimidade presidencial.

Senão vejamos.

O publicitário Márcio Valério, em entrevista à revista Veja desta semana, declarou que esteve várias vezes no Palácio do Planalto - mais especificamente na Casa Civil -, onde teria visitado a assessora-chefe Sandra Cabral, para, segundo ele, tratar de uma possível candidatura a Deputado Federal, pelo Estado de Goiás, do Sr. Delúbio.

Admitiu ainda que conversou algumas vezes - segundo ele, poucas vezes - com o então Ministro José Dirceu, em “encontros casuais”.

Ou seja, estava ali, na Casa Civil, conversando abobrinhas com a assessora-chefe, e, a certa altura, deparou-se com o próprio Ministro, com quem falou, segundo seu depoimento, de política, mas, ainda conforme ele, “sem liberdade”.

“O Zé” - disse ele - “é professor de Deus”. Não sei bem o que ele quis dizer com isso. Talvez registrar a natureza arrogante do ex-Ministro.

Por telefone, segundo ele próprio, Valério, contou a Veja, ele e José Dirceu conversaram “umas duas vezes”.

Marcos Valério, sabemos agora, era o homem que operava o mensalão. O “homem da mala”, segundo o Deputado Roberto Jefferson. As revistas semanais expuseram a seqüência de saques milionários que fez no Banco Rural, com destino ainda não comprovado.

A revista IstoÉ contabilizou mais de R$21 milhões. O “Jornal Nacional” registrou mais de R$27 milhões. Em qualquer das duas hipóteses, são somas altíssimas, que exigem explicação.

Os valores que manipulou coincidem com os valores citados pelo Deputado Roberto Jefferson, cujas denúncias, até aqui, não foram ainda desmentidas substantivamente. Ao contrário, vêm sendo gradualmente comprovadas.

O Deputado Roberto Jefferson disse que José Dirceu deveria sair logo da Casa Civil, sob pena de contaminar o Presidente da República - e José Dirceu obedeceu prontamente. Mencionou a existência desse personagem Marcos Valério - e as investigações iniciais mostram que ele de fato não apenas compulsou quantias milionárias, como desfrutava de surpreendente trânsito na Casa Civil. Disse que Delúbio Soares, o tesoureiro do PT, e Sílvio Pereira, o secretário-geral do PT, despachavam no Planalto - e de fato já há testemunhas dessa rotina operacional de ambos.

Até aqui, portanto, o roteiro de Roberto Jefferson, como já disse, vem se mostrando consistente. Tristemente consistente. O melhor é que tudo não passasse de um delírio. Lamentavelmente, é real. Mas voltemos ao “homem da mala”, o operador do “mensalão”.

Marcos Valério busca justificar aquela seqüência milionária de saques do Banco Rural alegando que comprava gado, muito embora não possua fazenda, nem seja conhecido entre os grande negociantes do setor. Diz que pagava em espécie, pois o mercado de gado não aceitaria em cheque.

O argumento foi amplamente desmentidos pelos profissionais do setor, segundo a Folha de S.Paulo, que ouviu dirigentes da Confederação Nacional da Agricultura e da União Democrática Ruralista. Todos foram enfáticos em desmentir o publicitário.

João Bosco Leal, presidente do Movimento Nacional de Produtores, disse, por exemplo, que nunca soube de negociação de gado em dinheiro vivo. Diz ele: “Tenho 52 anos de mercado e nunca ouvi falar de alguém que tenha pago em dinheiro vivo. São quatro gerações da minha família, e nunca vimos isso”. Talvez o dinheiro fosse pouco - eram “somente” R$20 milhões.

O que importa frisar é que esse personagem obscuro, Marcos Valério, que se movimentava nas sombras, desfrutava de intrigante intimidade com o alto escalão petista. Disse que era “muito, mas muito amigo de Delúbio”. Isso abriu-lhe as portas do Ministério Lula.

            Além de José Dirceu, o ex-Ministro, ele privou com o Ministro da Saúde, Humberto Costa, e com o então Ministro dos Transportes, Anderson Adauto, cuja campanha política à Prefeitura de Uberaba auxiliou.

Disse ainda à revista Veja que ia a esses lugares tratar de campanha eleitoral, em cujo planejamento se especializara.

Não sei se o ambiente ministerial - muito menos o palaciano - é o mais adequado para tratar de campanhas eleitorais, que inevitavelmente envolvem custos - e custos elevados. O certo é que o homem do “mensalão”, segundo denúncias do Deputado Roberto Jefferson, desfrutava da intimidade do Governo e do Palácio do Planalto.

Lá na Casa Civil, segundo o Deputado Roberto Jefferson, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o secretário-geral do Partido, Sílvio Pereira, dispunham de uma sala privativa, secretária, e recebiam interlocutores, como o Sr. Marcos Valério, além de empresários.

O Presidente da República desconhecia completamente essa situação? Isso é crível? A Senadora Heloísa Helena tem dito, repetidas vezes desta tribuna, que o Presidente sabe de tudo o que se passa no PT e em seu Governo.

O próprio José Dirceu disse, mais de uma vez, que nada fez sem consultar o Presidente.

Há dias, um ex-petista, fundador do Partido, Sr. Paulo de Tarso, expulso em 1997 - sete anos antes, portanto, que a Senadora Heloísa Helena -, relembrou ao Estado de S. Paulo um episódio interessante, que convém registrar, a propósito da presente crise.

Naquela ocasião, procurou o então Presidente do Partido, Lula, para revelar irregularidades na administração petista de São José dos Campos. Forneceu detalhes, na certeza de que providências seriam tomadas. Não o foram.

Além de não apurar as denúncias que recebia, Lula pediu - e obteve - a expulsão do denunciante. O comportamento lembra muito o do PT depois que conquistou a Presidência da República. E lembra muito o comportamento do próprio Presidente Lula, quando procurado pelo então Presidente do BNDES, Dr. Carlos Lessa, que lhe encaminhava também uma denúncia.

Segundo confessou publicamente o Presidente da República, sua reação foi a de pedir a Lessa que ficasse quieto, que não dissesse nada a ninguém sobre o assunto. Trata-se de um crime de prevaricação confessado em público.

(Interrupção do som.)

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Fico por aqui, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

Não posso esconder a minha preocupação, que é a de todo o País, nem disfarçar o incômodo dessa situação. Prezo pessoalmente o Presidente da República, a quem, como Presidente da Câmara dos Deputados, tive a honra de dar posse. Mas a pergunta que não quer calar é esta: o Presidente desconhecia o que se passava na sua ante-sala? Como já disse, só há duas respostas, ambas altamente comprometedoras.

Esperamos uma decisão da Mesa da Casa, do nosso Presidente e das Lideranças em relação ao...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) -... funcionamento das CPIs, porque esse entendimento é necessário. Não se pode parar, não se pode colocar na geladeira o que estamos vendo no País. É preciso continuar com as CPIs funcionando. Penso que esse entendimento não é só das Lideranças, é da sociedade brasileira, é do povo brasileiro, que não quer ver nada esfriar nesta Casa. Precisamos esquentar os debates, principalmente quanto às averiguações que devem ser feitas sobre os Correios, sobre o “mensalão”, sobre os bingos, sobre Delúbio Soares, enfim, sobre todos os que estão citados. Preciso encerrar, senão o meu tempo acaba.

Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/06/2005 - Página 21205