Discurso durante a 98ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Importância do movimento dos produtores agrícolas chamado "Tratoraço". (como Líder)

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Importância do movimento dos produtores agrícolas chamado "Tratoraço". (como Líder)
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2005 - Página 21476
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, AGRICULTURA, ESTABILIDADE, BALANÇA COMERCIAL, EXPORTAÇÃO, BRASIL, CRIAÇÃO, EMPREGO, CAMPO.
  • DEFESA, MANIFESTAÇÃO, PRODUTOR RURAL, AUSENCIA, RISCOS, ORDEM PUBLICA, JUSTIÇA, REIVINDICAÇÃO, POLITICA, INCENTIVO, AGRICULTURA, MELHORIA, SITUAÇÃO, AGRICULTOR, PAIS.
  • DEFESA, PRIORIDADE, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EFICACIA, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PAIS.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pela Liderança do Bloco/PT. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de tratar um pouco sobre o movimento que está acampado aqui, em Brasília, o movimento dos produtores rurais, setor da economia nacional de considerável importância para o equilíbrio da balança comercial, das exportações nacionais. É setor responsável por larga margem de geração de empregos no campo, conseqüentemente evitando que as cidades inchem ainda mais provocando desordens sociais de todas as matizes. É sabido que o custo de um emprego gerado na cidade é avaliado em até cinco vezes mais que o custo do emprego gerado no campo.

Ontem, não tive a oportunidade de participar da comissão que a Presidência criou para receber as lideranças do movimento e também não pude estar aqui no momento em que essa comissão prestava esclarecimento a esta Casa sobre o resultado das negociações. Mas fiquei pensando, de ontem para hoje, em alguns cenários, em como o Movimento Social Nacional tem sido tratado pelo Congresso Nacional e por sucessivos governos, nas mudanças de comportamento de um para outro momento.

Sr. Presidente, pela Rádio Senado, ouvi os pronunciamentos de vários colegas Senadores, fiquei um pouco apreensivo e resolvi vir à tribuna de hoje apresentar um pensamento que tenho: prefiro que estejam três mil, quatro mil, cinco mil tratores nos arredores do Congresso Nacional a que aqui estivessem aqui tanques, como ocorreu na votação da emenda Dante de Oliveira, que pedia a eleição direita para Presidente da República. Preferimos que, no Congresso Nacional, haja todos os tipos de manifestações civis, de qualquer natureza, a que houvesse manifestação militar.

O que me chamou a atenção não é aquilo que o movimento está reivindicando, que considero absolutamente justo. E por que as reivindicações são justas? Porque o setor agrícola tem uma liquidez de curtíssimo prazo, de no máximo um ano, ou seja, todos os investimentos de um ano têm de ser resolvidos no ano seguinte. E esse segmento da sociedade brasileira, esse setor da economia, convive com adversidades as mais diferentes, seja a visão administrativa do Governo do momento, seja a própria mãe natureza, ora chovendo demais ora chovendo de menos, seja ainda a intervenção direta da economia mundial.

É claro que, nos anos de 2002, 2003 e 2004, esse setor teve muitos ventos favoráveis, mas agora estamos convivendo com uma situação complicada. Em algumas regiões do País, está chovendo demais; em outras regiões, está chovendo de menos. As pessoas fizeram contratos bancários para financiar a safra. As pessoas assinaram contratos com o Governo mediante um tipo de perfil da economia e, agora, estão justamente, no meu entendimento, fazendo essa reivindicação. Como o setor não tem capital próprio para sobreviver a uma turbulência dessa natureza, é claro que tem de pedir socorro ao Erário Público Federal.

O que me chamou a atenção ontem, Sr. Presidente, foi a veemência de alguns colegas ao falarem do perigo que representava o movimento, do nervosismo que as lideranças desse movimento transportavam, como se fosse a primeira vez no Brasil que houvesse movimento social, como se fosse a primeira vez no Brasil que o Congresso Nacional recebesse a visita de manifestantes dos diversos lugares brasileiros.

Concordo que há dois tipos de interesse: de um lado, resolver um problema real, claro e objetivo; de outro lado, tirar casquinhas da oposição política.

Quanto a isso, lembro bem a esta Casa o que foi a greve dos petroleiros, que também reivindicavam, naquele momento, condições de vida melhores. Mas o Governo decidiu que iria enfrentar aquela greve; foi uma decisão política. A Justiça votou que, por cada dia de greve, o Sindicato e a Federação Única dos Petroleiros deveriam pagar R$100 mil/dia de multa. Cada vez que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem a esta cidade...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Sibá Machado?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - ...esse Movimento é tratado com sarcasmo, com desprezo, sem respeito algum.

Qualquer movimento que vier a Brasília com suas justas reivindicações tem de ser tratado com a respeitabilidade que merece.

Fico preocupado, porque é como se nunca tivéssemos visto o movimento social brasileiro dizer “vamos invadir o Congresso” ou “vamos fazer não sei o quê”. Dizem: “Cuidado! O pessoal está muito nervoso! O pessoal disse ‘Fora PT!’” É claro que qualquer pessoa que esteja realizando um processo de reivindicação dessa natureza...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - ...irá, com certeza, atacar quem achar que está na sua frente.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Ouço, com atenção, V. Exª.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Sibá Machado, o Piauí, neste momento, enche-se de orgulho por ver V. Exª na tribuna, representando o Acre. Não é à toa que a imprensa começa a ver V. Exª como a nova estrela que surge no Senado, representando o PT. Hoje, V. Exª é unanimidade entre os companheiros como o homem de discurso mais denso e mais cheio de conteúdo. V. Exª tem uma característica virtuosa: não faz como a maioria do PT, que fala com retrovisor, olhando para o passado. V. Exª sabe muito bem que bala velha bate catolé e que bala que dói é nova. O PT quer responder com bala velha às balas que recebe no peito toda hora pelas contradições cometidas. Para não ficar mal interpretada a minha palavra à Senadora Ana Júlia Carepa, digo que não fiz nenhuma ilação com relação ao Ministro Patrus Ananias. Conheço S. Exª muito pouco - de seu trabalho, conheço quase nada -, mas sei que é homem de bem e respeitado. Mas o PT, agora, é assim. Antigamente, Senador Pedro Simon, todo mundo no Partido era honesto, à prova de qualquer suspeita. Hoje, não. Estão contando a dedo os honestos para servir como exemplo. Por que colocar o Ministro Patrus Ananias como referência? No momento, o Brasil está atrás dos corruptos e não dos honestos. Os honestos são honestos por obrigação. Era isto que a sociedade brasileira esperava do PT: que trouxesse, no seu elenco de escolhidos, de ungidos como Ministros do novo messias que surgiu, homens comprometidos com a ética na política e com a honestidade. Essa história de estar pinçando o Patrus Ananias e o Presidente Lula como se fossem um troféu é diversionismo. Parabenizo V. Exª pelo discurso que faz, com conteúdo, lembrando muito bem os episódios das eleições diretas e da emenda Dante de Oliveira. Penso que, dos que estão neste plenário, apenas os Senadores Edison Lobão, Pedro Simon e José Jorge e eu estávamos presentes naquele momento. Sabemos o que foi aquilo e não queremos que volte. Senador Sibá Machado, V. Exª está de parabéns, e o Piauí está orgulhoso por haver, por excesso de produção humana, mandado V. Exª para o Acre para servir o Brasil.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Sr. Presidente, conceda-me trinta segundos para concluir.

Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Heráclito Fortes.

Concluo dizendo que o Governo já avançou bastante nas negociações com o setor, mas existem duas pendências do lado do Governo que podem vir a gerar inflação. Uma delas é aumentar o preço do arroz por tabela, por decreto. O preço do arroz no mercado, segundo informação, está na ordem de até R$20,00 - o exemplo do preço nacional é o arroz do Rio Grande do Sul. Mas é claro que nada impede que o Governo receba os manifestantes. Com certeza, o Ministro Antonio Palocci, o Ministro Roberto Rodrigues, todas as autoridades do campo financeiro do Governo vão encontrar a saída adequada. Isso é natural de uma negociação. Eu não vejo aqui motivo de polvorosa, de que o mundo vá se acabar. Não é a primeira vez que o Brasil convive com um movimento social. Este é mais um movimento que, com uma justa luta, uma justa causa, uma justa reivindicação, será tratado com todo o respeito pelo Presidente Lula. Com certeza, encontraremos o caminho mais salutar. Não se pode é querer que o Presidente faça aqui pirotecnia, venda uma imagem que não existe, diga que está tudo bem, que vai assinar tudo que se quer, porque estaria sendo irresponsável no comando da Nação.

Para encerrar, peço que as nossas CPIs coloquem o foco no câncer brasileiro, que se chama corrupção. É a isso que a CPI deve se reportar. E se tem que pegar a data atual ou a data do passado daqueles que promovem a corrupção no Brasil, é isso que o Brasil espera, é isso que o Presidente Lula espera, é isso que esperam todas as autoridades, o Congresso Nacional e, principalmente, a sociedade. E, no caso, o Partido dos Trabalhadores, o meu Partido, a nossa Bancada, muito bem liderada por V. Exª no ano de 2003, contribuirá para o sucesso dessas investigações.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/07/2005 - Página 21476