Discurso durante a 98ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Preocupação com o anúncio da redução do déficit nominal a zero. (como Líder)

Autor
Marcelo Crivella (PL - Partido Liberal/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Preocupação com o anúncio da redução do déficit nominal a zero. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2005 - Página 21484
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • APREENSÃO, PROPOSTA, DELFIM NETTO, DEPUTADO FEDERAL, AJUSTE, CONTAS, SETOR PUBLICO, REDUÇÃO, DEFICIT, AUMENTO, SUPERAVIT, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, PAIS, CRESCIMENTO, MISERIA, POBREZA, INCENTIVO, ILEGALIDADE, IMIGRAÇÃO, PRECARIEDADE, RODOVIA, HOSPITAL, INSUFICIENCIA, ATENDIMENTO, NECESSIDADE, POPULAÇÃO.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mais uma vez venho ao plenário do Senado Federal para denunciar uma conspiração.

Aqui estão vários Fiscais da Receita e Oficiais do Corpo de Bombeiros, que quero saudar, valorosos guerreiros de meu País - estamos assistindo, em meio a uma crise política, uma saída que parece a solução e não é. O Deputado Delfim Netto, um homem com um passado brilhante, que já prestou grande serviço à Nação, independente, mas que chega a uma certa idade independente até de bom senso, está propondo nos jornais, conversando com Parlamentares e capitalistas para se reduzir o déficit nominal a zero.

Venho aqui como Senador e brasileiro. O déficit nominal, na verdade, não existe, porque o Governo está gastando menos do que arrecada. Aí está o superávit de quase R$100 bilhões que fizemos no ano passado. Enquanto isso, as nossas estradas, os nossos hospitais...

Na semana passada estive nos Estados Unidos, onde mais de 20 mil brasileiros estão presos porque não têm emprego no Brasil. Não temos déficit nominal real. O déficit nominal é a diferença do que nós nos comprometemos a pagar aos capitalistas deste País, aos banqueiros e à elite brasileira, que tem hoje R$1 bilhão nas mãos do Governo como déficit, como dívida pública; e o superávit que praticamos.

Ora, os juros são de R$120 bilhões, o superávit de R$80 bilhões, fica um déficit de R$40 bilhões. A proposta do Deputado Delfim Netto não é reduzir o déficit nominal baixando os juros, mas subindo o superávit. E esse superávit vai sair do salário dos senhores; esse superávit não pode ir para pagar os reajustes que vocês deveriam ter já há onze anos. Este é o problema que nós vivemos hoje, uma conspiração, um déficit público de R$1 trilhão, sendo que 80%, R$800 bilhões, pertencem a sete ou oito mil brasileiros que, no ano passado, receberam mais de R$100 milhões de juros por essa dívida.

É impressionante como este País continua o mesmo desde a época da Colônia. É impressionante como os instrumentos das elites são os mesmos. Agora mesmo, assistimos, em horário nobre, a uma novela que aponta como esperança a emigração. Não quero acusar a autora nem os artistas, mas essa novela serve como instrumento das elites para exportar pobres, tirar do País aqueles que deveriam usufruir da riqueza nacional. E o nosso País é muito rico, mas porque temos uma elite retrógrada, egoísta e que exige de nós os maiores juros praticados neste País, não podemos dar saída à fila de pessoas que se formam na frente dos hospitais. E, na minha cidade do Rio de Janeiro, já são quase uma dezena de pessoas que, no último ano, morreram porque não foram assistidas. Ficavam na porta dos hospitais com falta de ar, com dor de estômago, com todo tipo de problema, porque não havia nem médico, nem remédio.

A Folha de S.Paulo de hoje traz na capa uma notícia preocupante: Furnas, a nossa maior hidrelétrica em Minas Gerais, estaria sendo usada para arrecadar R$3 milhões por mês para pagamento de propinas. Notícia grave, na capa de um dos jornais mais importantes do nosso País! Ali se fala em pagamento de Deputados, de diretores da companhia e de Partidos políticos. Um horror!

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Essa notícia sai ao mesmo tempo em que a classe política e o próprio Governo, extremamente fragilizados, recebem como saída estratégica para a crise um acordo de zerar o déficit nominal, como expus aqui aos senhores presentes, impondo, mais uma vez, sacrifício ao povo brasileiro. Onde é que isso vai parar?

Isso clama aos céus, isso clama aos homens de boa vontade. Diz a Bíblia que a única saída para a crise é a verdade. Eu não era político, eu era missionário na África, quando assisti, via televisão, a uma grande confusão com Senadores eminentes. Assisti pari passu até o momento em que vi o depoimento do Senador Arruda, e achei aquilo um alívio, porque o Senador...

(Interrupção do som.)

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Sr. Presidente, já vou concluir.

Em um momento extremo de lucidez, o Senador Arruda, aqui deste plenário, cumpriu o que Cristo disse: “Só há uma coisa que liberta das algemas, é a verdade. E ele disse assim: “Olha, tentei por todos os caminhos me furtar, fugir, encontrar uma saída, mas, hoje, venho aqui e declaro a verdade: fiz o que não devia ter feito e peço perdão a minha família, aos amigos e aos eleitores, mas estou dizendo a verdade.”

Tornou-se, na Legislatura seguinte, o Deputado Federal mais votado do País proporcionalmente.

Não há outra saída, senhores, a saída é a verdade.

E é esta verdade que eu clamo. A verdade de se conhecer o verdadeiro País em que vivemos. De se dizer a verdade doa a quem doer; punindo-se quem tenha que ser punido.

Sr. Presidente, o povo brasileiro já não agüenta mais. Essa é a mensagem que trago das prisões americanas. Lá se encontram 20 mil brasileiros que querem trabalhar: do Rio, de Minas, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, de Rondônia, do Mato Grosso etc. Eles não encontraram trabalho aqui e foram buscar lá. País tão rico como o nosso não pode continuar sendo tão mal dividido.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/07/2005 - Página 21484