Discurso durante a 101ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Transcrição, nos Anais do Senado, de editorial do jornal O Estado de S.Paulo e de matéria da Folha de S.Paulo, intitulada: "O Pinóquio da estrela Vermelha".

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Transcrição, nos Anais do Senado, de editorial do jornal O Estado de S.Paulo e de matéria da Folha de S.Paulo, intitulada: "O Pinóquio da estrela Vermelha".
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2005 - Página 21598
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, AUTORITARISMO, GOVERNO, AGILIZAÇÃO, EDIÇÃO, REVOGAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), PARALISAÇÃO, PAUTA, CAMARA DOS DEPUTADOS, REMESSA, PUBLICAÇÃO, Diário Oficial da União (DOU).
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, COMPORTAMENTO, DESPREPARO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, TENTATIVA, OBSTACULO, APURAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs; Senadores, o Presidente Lula perdeu a oportunidade de evitar que se inscrevesse na sua biografia mais uma e agora mais grave marca de autoritarismo. Lula foi longe, editou uma MP revogando outra que travava a pauta da Câmara e mandou editar uma edição extra de uma página do Diário Oficial da União. Tudo a toque de caixa e tudo à-toa.

Ontem à tarde, li aqui aquela desfigurada edição do Diário Oficial, já inscrita nos Anais do Senado da República, para que o historiador do amanhã possa avaliar a postura do Presidente Lula, que diz uma coisa e faz outra.

O Presidente diz que o Governo quer apurar tudo à exaustão. E à sorrelfa age em contrário, sem perceber que cada vez mais mergulha ou escorrega na pista de lama em que se transformou seu Governo.

O resultado dessas posições agride a Nação. Leio hoje no editorial de O Estado de S. Paulo essas três linhas:

“A sociedade já tem motivos para perder a paciência não só com os chavões do presidente, mas sobretudo com a distância abissal entre as suas exibições de desassombro verbal e as ações concretas dos parlamentares do seu partido para esconder os pratos sujos.”

Na Folha de S.Paulo, o jornalista Clóvis Rossi usa a figura de Pinóquio para ilustrar o triste comportamento do Presidente e dos petistas: O Pinóquio da estrela vermelha.

Essas duas matérias estão anexadas a este pronunciamento para que, assim, passem a constar dos Anais do Senado da República.

Era o que eu tinha a dizer.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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            Matérias referidas:

            
A única agenda positiva

No encontro com o presidente Lula, a que o levou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na segunda-feira à noite, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, ouviu de seu anfitrião, entre uma queixa e outra sobre as suas dificuldades: “Quero tudo em pratos limpos.” Lula já deve ter perdido a conta de quantas vezes disse isso ou coisa parecida desde que irromperam as denúncias de corrupção no governo e no relacionamento do PT com os outros partidos da base aliada.

E a sociedade já tem motivos para perder a paciência não só com os chavões do presidente, mas sobretudo com a distância abissal entre as suas exibições de desassombro verbal e as ações concretas dos parlamentares do seu partido para esconder os pratos sujos.

Tanto na CPI mista do Congresso como no Conselho de Ética da Câmara, a conduta dos representantes governistas se orienta claramente pela intenção de atrapalhar as apurações. Na Comissão, passando por um episódio que por pouco não termina em baixaria, envolvendo o deputado petista Maurício Rands e a senadora ex-petista Heloísa Helena, o PT conseguiu impedir a antecipação, da semana que vem para ontem, do depoimento do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, o mais do que provável “homem da mala” do esquema de suborno de políticos denunciado pelo deputado Roberto Jefferson. E, no Conselho, as intervenções dos deputados do PT ao longo do depoimento da ex-secretária de Marcos Valério Fernanda Karina Somaggio tinham o evidente propósito de desqualificá-la.

Eles sabem o que fazem - e não é crível que o presidente da República não saiba que o que fazem é tudo, menos limpar pratos. De fato, a CPI que nasceu (porque o governo não conseguiu abortá-la) como uma investigação sobre cobrança de propinas nos Correios e eventualmente em outras estatais logo se transformou, pela força das coisas, em CPI de Jefferson - e agora em CPI de Valério. Há poucas dúvidas de que ele, mais do que ninguém, é a figura cujas atividades e teias de lucrativas relações no PT e no governo, quando expostas à luz do dia, permitirão ligar os pontos no intrincado mapa da corrupção federal.

No fim da semana passada, a imprensa comprovou, com base em dados do Conselho de Controle das Atividades Financeiras, o que Fernanda Karina vinha dizendo, de forma genérica, sobre seu ex-patrão.

Entre julho de 2003 e maio de 2005, ele sacou, em dinheiro, um total de R$ 20,9 milhões. Quase 3/5 dessa dinheirama entre setembro e março de 2004, no auge do troca-troca de partidos promovido na Câmara pelo então ministro José Dirceu e dos acertos para a definição de candidaturas às eleições municipais. E ontem se comprovou, com base na agenda de Fernanda entregue à Polícia Federal, que datas dos saques coincidiam com as das reservas em um hotel de Brasília para o chefe e, ao menos em um caso, para a sua gerente-financeira Simone Vasconcelos. Ao Conselho de Ética, Fernanda disse que ela relatou que ficava em um quarto de hotel, o dia todo: “Era um entra-e-sai de homem (...). Só contava dinheiro e passava para essas pessoas.”

As fontes primárias da bolada ainda são desconhecidas. Mas é significativo que no ano passado a Receita tenha multado uma das agências de Valério, a DNA, em R$ 63,2 milhões por receber, em sua conta no Banco do Brasil, depósitos de origem não comprovada e por movimentar recursos muito superiores ao faturamento declarado. Em suma, tudo que servir para não manter o foco da apuração no publicitário “amigo do peito” do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e do secretário-geral Sílvio Pereira, é abafa ou diversionismo, o que vem a dar no mesmo. É o caso da transparente jogada petista para criar na Câmara uma CPI do “mensalão”, que investigaria também - a esta altura - compras de votos em 1997, quando o Congresso aprovou a emenda da reeleição.

Diante disso, o presidente Lula deve entender que esgotou a sua cota de juras de não deixar “pedra sobre pedra” em busca da verdade, enquanto o PT trata de fazer o contrário. Ou ele manda já o partido mudar de atitude - publicamente -, ou será tido como cúmplice, quando não mentor, do ocultamento das evidências de podridão. Ao governador Aécio, Lula defendeu uma “agenda positiva”. Ele que não se iluda: a única agenda positiva, hoje, é a do esclarecimento cabal das falcatruas denunciadas, com a identificação e punição dos seus responsáveis últimos.

 
 
 

CLÓVIS ROSSI

O Pinóquio da estrela vermelha

SÃO PAULO - Leitor encontrará a seguir a razão pela qual tudo o que o PT e seu governo dizem é pouco ou nada confiável. São trechos da resolução política que foi aprovada pelo 12º Encontro Nacional do partido, realizado em dezembro de 2001, na bica da campanha eleitoral.

"A centralidade do social exigirá a democratização da propriedade, com um profunda reforma urbana que garanta habitação e acesso aos serviços públicos e uma ampla reforma agrária e apoio à agricultura familiar. No campo, o fim da violência e da impunidade do latifúndio é compromisso do novo governo". Alguém viu algo parecido no governo Lula?

Mais: "Em segmentos como petróleo, energia, transporte, saneamento, bancos, onde a presença de empresas públicas ainda é relevante, ela deverá ser preservada, consolidada e AMPLIADA, em novas áreas, como na pesquisa em biotecnologia e em engenharia genética". Cadê tudo isso?

Mais: "O programa de privatizações deve ser suspenso e reavaliado, auditadas as operações já realizadas, especialmente onde existem indícios de má utilização dos recursos públicos ou negligência na preservação dos interesses nacionais".Alguém ouviu falar?

Mais: "Com relação à dívida externa, (...) será necessário denunciar o acordo com o FMI para liberar a política econômica das restrições impostas ao crescimento e à defesa comercial do país, estabelecer mecanismos transparentes de controle sobre a entrada e a saída de capital, estimular a reinversão do investimento direto estrangeiro através da taxação das remessas de lucros e dividendos". Precisa comentar?

Detalhes nada ociosos: encontro nacional é a instituição suprema do partido e as decisões do 12º Encontro jamais foram revogadas. Autor do texto parcialmente reproduzido: Celso Daniel, assassinado no ano seguinte, crime jamais devidamente esclarecido, aliás.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/07/2005 - Página 21598