Discurso durante a 101ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 150 anos de instalação e funcionamento da primeira igreja evangélica, em reconhecimento ao trabalho pioneiro do médico escocês Robert Kalley e de sua esposa Sara Poulton Kalley.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 150 anos de instalação e funcionamento da primeira igreja evangélica, em reconhecimento ao trabalho pioneiro do médico escocês Robert Kalley e de sua esposa Sara Poulton Kalley.
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2005 - Página 21601
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, IGREJA EVANGELICA, OPORTUNIDADE, RECONHECIMENTO, TRABALHO, PIONEIRO, IGREJA, BRASIL.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Sem apanhamento taquigráfico.) -

(Moção de Reconhecimento à primeira Igreja Evangélica do Brasil)

Sr.Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por mais que nos pareçam evidentes, os conceitos de liberdade e de igualdade entre todas as pessoas só foram aceitos há relativamente pouco tempo.

Durante a maior parte de sua história, a humanidade se pautou por uma mentalidade tribal, que negava ao outro qualquer reconhecimento.

Para essa mentalidade, uma pessoa que não pertencesse ao meu grupo, minha classe, minha tribo ou minha fé não possuiria direitos de qualquer espécie. Aos estranhos estariam reservados unicamente a opressão, a conquista e o extermínio.

Apenas a partir do final do Século XVIII, a Era Moderna possibilitou a evolução de um pensamento que se caracteriza pela busca do caráter universal daquilo que significa pertencer à espécie humana.

Superados os particularismos excludentes, resta o reconhecimento de uma dignidade que pertence, indistintamente, a todos os homens e mulheres, sem exceção.

Entretanto, o final do Século XX, bem como o início do Século XXI, tem se destacado, infelizmente, pelo retorno da intolerância e da xenofobia que julgávamos, senão mortas, definitivamente marginalizadas.

É neste tempo sombrio, Srªs e Srs. Senadores, que gostaria de ressaltar a grata lembrança da comemoração dos 150 anos de instalação e funcionamento da primeira igreja evangélica que se instalou em nosso País, pelo trabalho abnegado do médico escocês Robert Kalley e de sua esposa Sara Poulton Kalley.

Com efeito, já em 1810 fora autorizada a realização de cultos protestantes no Brasil, desde que realizados em caráter privado, sendo restrito qualquer tipo de proselitismo.

Já a Constituição do Império, não obstante estabelecer uma religião de Estado, reconhecia o livre exercício da fé, desde que observada a proibição de templos que exibissem publicamente essa forma.

Em decorrência, a atividade das denominações protestantes se restringia ao auxílio espiritual às colônias de imigrantes e a seus descendentes, como, por exemplo, a Igreja Episcopal Britânica e a Igreja Evangélica Alemã, que, desde a década de 1820, se dedicavam a realizar seus cultos nas línguas respectivas.

Em 1855, tendo sido forçados a abandonar a Ilha da Madeira, em razão de perseguições religiosas, o Dr. Kalley e sua esposa aceitaram o desafio de exercerem, no Brasil, o trabalho missionário que haviam desempenhado em Portugal e entre os membros da colônia portuguesa nos Estados Unidos.

Inicialmente exercendo seu mister no Rio de Janeiro e em Petrópolis, o casal Kalley logrou granjear o respeito da população local, a despeito de alguns mal-entendidos.

Por sua dedicação no combate à epidemia de cólera que atacava a cidade serrana, o Dr. Kalley chegou a ser reconhecido por Dom Pedro II, que lhe fez prolongada visita durante uma enfermidade.

Estabelecida sua Igreja na Capital Imperial e em razão de sua retidão e seu zelo evangelizador, os Kalleys foram convidados a também exercerem sua atividade no Município de Niterói, dando prosseguimento ao seu pioneiro trabalho missionário em língua portuguesa.

E são esses dois templos, o da ladeira do Barroso, no Rio, e o da rua da Conceição, em Niterói, os marcos fundamentais da atividade evangélica congregacional no Brasil.

Essa atividade, no entanto, não se desenvolveu de forma sempre tranqüila. Com a complacência das autoridades imperiais, por inúmeras vezes os Kalley sofreram ataques jornalísticos e mesmo físicos, os quais suportaram de maneira exemplar.

Retornando definitivamente para a Escócia em 1876, Robert Kalley e sua esposa são lembrados, ainda hoje, como os primeiros difusores da fé evangélica no Brasil, tendo, também, legado o primeiro hinário religioso em língua portuguesa do qual se tem notícia.

As dificuldades por eles enfrentadas para o exercício de sua religião, bem como sua firmeza, sua dedicação e sua abnegação são exemplos que, nestes tempos de intolerância crescente, devemos manter em mente, para que tenhamos a força moral de garantir a todos os homens e mulheres a dignidade humana que a todos é devida.

E, Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, é em razão de seu exemplo e pela passagem do sesquicentenário de sua ação missionária, que gostaria de propor, neste momento, uma Moção de Reconhecimento ao trabalho pioneiro que Robert Reid Kalley e Sara Poulton Kalley e seus sucessores da Igreja Evangélica Congregacional desenvolveram e têm desenvolvido no Brasil, trazendo conforto e esperança que alimentam as almas e tornam homens e mulheres melhores.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/07/2005 - Página 21601