Discurso durante a 102ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a crise política.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a crise política.
Publicação
Publicação no DSF de 02/07/2005 - Página 21859
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, HISTORIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMENTARIO, SITUAÇÃO, GOVERNO, AUSENCIA, ATENDIMENTO, EXPECTATIVA, POPULAÇÃO.
  • COMPARAÇÃO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, AUMENTO, NUMERO, MINISTRO DE ESTADO, NOMEAÇÃO, POLITICO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PERDA, ELEIÇÃO.
  • COMENTARIO, ERRO, GOVERNO FEDERAL, OBSTACULO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, BUSCA, APOIO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB), PARTIDO PROGRESSISTA (PP), PARTIDO LIBERAL (PL), REGISTRO, NECESSIDADE, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, ROBERTO JEFFERSON, DEPUTADO FEDERAL.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, BUSCA, APOIO, PARTE, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • DEFESA, AFASTAMENTO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA PREVIDENCIA SOCIAL (MPS), PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), MOTIVO, INVESTIGAÇÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), NECESSIDADE, CONVITE, EX-CHEFE, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, JORNALISTA, SACERDOTE, IRMÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APOIO, GOVERNO.
  • EXPECTATIVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATENDIMENTO, REIVINDICAÇÃO, POPULAÇÃO, PAIS.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, estamos sendo convocados para, na terça-feira, votarmos o Orçamento, a Lei de Diretrizes. Não sei se, a esta altura em que vivemos dias realmente complicados e difíceis, estamos saindo de recesso ou não. Aliás, nunca vi, nos últimos dias de uma legislatura, funcionarem quatro ou cinco comissões parlamentares de inquérito e tantas notícias desabonadoras, infelizmente confirmadas, se repetirem.

Acredito que os brasileiros, como eu, não são daqueles que acham que quanto pior melhor. Faço política há muito tempo - lá se vão mais de cinqüenta anos -, e o meu estilo sempre foi o de ajudar, colaborar, lutar para que as coisas dessem certo.

Deus me deu a felicidade de ter como mestre uma figura desconhecida, mas das mais extraordinárias da política brasileira, que é o Senador Alberto Pasqualini*, um homem, um santo, que publicou suas obras preocupado com a realidade do mundo. Já àquela época, quando ele começou, em 1947, colocava-se contra o capitalismo e contra o comunismo e falava no solidarismo, num movimento social comunitário no qual a base seria o povo - povo esse que poderia até ser detentor dos meios de produção, mas toda propriedade teria uma hipoteca social: em primeiro lugar, estaria o homem, com direito ao trabalho e, como fruto desse trabalho, o direito a viver com dignidade, ele, sua mulher, sua família.

Como estudante, lá na Junta Governativa da União Nacional dos Estudantes, como Vereador, como Deputado, como Governador, como Ministro e como Senador, aprendi a lutar por um Brasil melhor: para mim, o importante sempre foi cada um fazer a sua parte com o objetivo de buscar uma sociedade melhor.

Digo aqui mais uma vez: nunca o Brasil entregou com tanta esperança o seu destino nas mãos de um homem como entregou nas mãos de Lula. A vitória de Lula foi esmagadora nas urnas, embora ele tivesse a seu lado na disputa um grande companheiro, que é o Serra. Terminada a eleição, duvido que houvesse algum eleitor do Serra que não torcesse para que o Lula desse certo. Ele representava os anseios da Nação, uma Nação que já tinha tido um ditador civil durante quinze anos, que foi Getúlio Vargas; que tinha tido vinte anos de ditadura militar com cinco generais; que já tinha apostado num homem que parecia ser um gênio, que era Jânio Quadros, mas que era um louco que renunciou sete meses depois de assumir o poder; que depois da ditadura tinha torcido e apostado num jovem que aparecia como o grande salvador da pátria, Fernando Collor de Mello, que foi cassado pouco tempo depois; que jogou todo o seu destino na figura de Tancredo Neves, que, na véspera de assumir, infelizmente, morreu; que jogou a sua expectativa naquele intelectual considerado o homem mais culto e mais capaz culturalmente no Brasil, Fernando Henrique Cardoso, que também não deu a resposta que nós esperávamos.

Finda a eleição, ali estava o retirante do Nordeste, que foi salvo pelas mãos de Deus de morrer antes de completar um ano de idade; a criança que o pai abandonara com a mãe e mais sete filhos; criança que, num pau-de-arara, foi com a mãe e os sete irmãos para uma floresta imensa de edifícios, que é São Paulo. Lá, na luta pela vida, passou por várias profissões - de engraxate a não sei mais o quê -, conseguiu um curso de mecânico no SESI e trabalhou na fábrica. E trabalhando na fábrica, mecânico de dia-a-dia, perdendo um dedo inclusive, transformou-se em líder sindical; de líder sindical, se transformou no maior líder sindical, que confrontou o regime militar com os trabalhadores.

Ele e muitos formaram um partido constituído de trabalhadores. Pela primeira vez no mundo, um partido de trabalhadores. Tem o Partido Trabalhista inglês, partidos socialistas em vários lugares, mas, de trabalhadores, foi o PT, no Brasil.

E, durante 25 anos, esse Partido se transformou, cresceu e avançou, porque os seus representantes se transformavam praticamente em apóstolos de uma causa. Lembro-me do PT começando no Rio Grande do Sul, com os filiados dando uma grande parte do seu salário para o seu Partido. E em tudo que era lugar, em tudo que era canto, em tudo que era greve, enfim, em tudo que era movimento lá estavam eles, com sua voz dura, combatendo as coisas erradas. Às vezes, mesmo na dúvida, eram homens radicais contra o erro e contra os equívocos.

No meu Governo, sofri com os quatro primeiros Deputados que o PT tinha na Assembléia do Rio Grande do Sul. Eles estavam junto com os professores, em uma greve que durou não sei quanto tempo, na frente do Palácio; também invadiram cerca de 80 mil moradias que estavam anos e anos paradas, sem que fossem completadas. E eu, como Governador, tinha conseguido que terminaria a construção daquelas moradias em seis meses. Mas eles fizeram uma verdadeira revolução: colocaram 80 mil pessoas naquelas propriedades. Levei um tempo enorme só para legitimar, porque, na verdade, não podia mais tirá-los de lá.

Enfim, eles eram duros e chegaram no Governo. Não há dúvida de que o Brasil todo aguardava a “Hora do Brasil” - chegou, a nossa vez! O Brasil, agora, com os problemas sociais sendo enfrentados de frente, o Governo enfrentando a dívida externa, exigindo a diminuição dos juros, com o dinheiro voltado para o social, para a educação, haveremos de ter o grande Brasil que todos sonhávamos.

Havia algumas dúvidas e alguns medos. Havia aqueles que tinham medo de que a reforma agrária seria muito radical e exagerada, que poderia haver um conflito entre os trabalhadores sem terra e os proprietários. Havia aqueles que tinham medo de que o Governo ia enfrentar os empresários, de tal modo que os empresários poderiam sair do País. Havia aqueles que tinham medo de que, conforme diziam na campanha, os banqueiros enfrentassem um regime muito duro e muito árduo, porque os juros cairiam a sua proporção natural.

Mas nada disso aconteceu. O Governo continuou a política neoliberal do Sr. Fernando Henrique Cardoso. Para Presidente do Banco Central, nós, que criticávamos muito a figura de Armínio Fraga, Presidente do Banco Central de Fernando Henrique Cardoso, porque ele era o homem que era empregado do maior aplicador de dinheiro do mundo, vinha para Presidente do Banco Central o único Presidente do Banco de Boston, o Presidente mundial do Banco de Boston estrangeiro. E as coisas foram andando. Mas o que não imaginávamos nunca é que este Governo seria atingido no ético. Não imaginávamos nunca que este Governo seria atingido na compostura de sua organização política. E é o que está acontecendo. E é o que está acontecendo dia após dia.

O primeiro equívoco do Presidente Lula - e falei para Sua Excelência, pessoalmente, antes de assumir, como amigo e como irmão: Lula, você é a pessoa mais extraordinária da História do Brasil. Não houve, na História do Brasil, um momento como este em que o Brasil todo olha para ti, torce para ti. Escolha um Ministério de gabarito; escolha os melhores, Lula! Tu não estás restrito a teu Partido. Tu és muito maior do que teu Partido. Faça um Governo de união e entendimento nacional para que possamos avançar.

Minha primeira mágoa foi o Ministério, aumentou de 20 para 30 e tanto; e 19 eram companheiros que tinham perdido eleição para Governador, para Vice-Governador, para Senador. Essa não era a melhor forma de escolher o Ministério, ainda que as pessoas fossem as melhores. A melhor composição para o Ministério era aquela que eu propunha: escolher os maiores, os mais capazes e, como eu dizia, até porque hoje a Igreja é praticamente PT, a universidade, os intelectuais são praticamente PT, empresários tem PT por tudo que lado, é só escolher os mais capazes.

Apareceram as primeiras interrogações; apareceu o Sr. Waldomiro.

Fizemos aqui um pedido para constituir uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Lá já se vão quase dois anos, ainda era início do Governo, aqui o Presidente José Sarney foi atrás dos Líderes da maioria, do PT, do PMDB, do PTB, não sei lá mais quem. Decidiram não constituir a CPI. Não vamos indicar nome e ela não sairá. Só sai CPI quando nós quisermos. E o Presidente Sarney, que tinha a obrigação de nomear quando os Líderes não nomeassem, arquivou. E há um ano e meio, o assunto foi ao Supremo para que o Supremo decidisse. Anteontem, ela foi constituída.

Só que o tempo que passou para ser constituída foi responsável por esta série de irregularidades: apareceu o Sr. Jefferson, apareceu uma série de problemas, uma série de interrogações. Assim, ao invés de ter uma CPI que seria modelo, porque, se existisse, se fosse criada, teria servido de exemplo para que as pessoas se cuidassem e tomassem cuidado. No entanto, houve um abrir portas, e, hoje, estão aí os problemas.

Ontem, na CPI, quando vi os membros da Liderança do Governo, dos Partidos que apóiam o Governo querendo botar o Deputado Jefferson contra a parede, querendo buscar nele coisas erradas, equívocos, o que era, o que não era, como era a sua vida ou coisa passada, disse: olha, meus amigos, estamos errados. Aqui, nesta CPI, a figura do Deputado Jefferson não é o réu. Quem tem que buscar, cobrar, ver a vida do Sr. Jefferson é a Comissão de Ética da Câmara, que já está fazendo. Aqui, o Sr. Jefferson é um colaborador, é uma testemunha, que deve ser olhada com muito respeito. E o que devíamos fazer é estimular o Sr. Jefferson para que ele conte tudo o que sabe, para que ele diga tudo o que sabe.

            Lembrou-se na CPI, inclusive, que a legislação americana e a européia, nos grandes e mais graves casos, quando quer descobrir uma quadrilha determinada ou a máfia, na Itália, buscam dentro da própria quadrilha alguém que lhes dê auxílio, colaboração e informações e se faz uma negociação com essa pessoa para que possa fornecer auxílio e informações e, em compensação, ter diminuída a sua pena. A verdade é que o Sr. Jefferson, na Folha de S.Paulo de ontem, disse que havia irregularidades muito sérias em Furnas. E, ontem à tarde, o Presidente afasta os três diretores de Furnas. A verdade é que o Deputado Jefferson, ontem, às 7 horas, na Comissão, dizia que, além do dinheiro que o homem da empresa de publicidade de Minas Gerais retirava do Banco Rural em Minas Gerais, também a sede do Banco Rural aqui em Brasília, no 9º andar de um shopping, era muito visitada e também saía dinheiro.

O Jornal Nacional de ontem confirmava que isso realmente estava acontecendo e que, realmente, no 9º andar, as pessoas iam buscar parte do seu “mensalão”.

            Então, o que está acontecendo é que as coisas que ele fala estão sendo confirmadas. Então, o que está acontecendo é que o Governo deve imediatamente entrar em ação, e não aquilo que está fazendo. O Governo errou no início. Errou quando fez uma aliança com o PTB, com o PP, com o Partido Liberal, e as bancadas desses Partidos duplicaram, porque o PT foi buscar nas outras bancadas, e não botou no PT para deixar o Partido a salvo, mas botou nos partidos asseclas. E agora sabemos como foi que aconteceu, como ele conseguiu aquela maioria e no que deu.

            Agora quer fazer uma aproximação com o PMDB, que, no seu todo, diz o seguinte: “Nós vamos apoiar o Governo. Nós queremos dar apoio ao Governo. Nós garantimos a governabilidade do Governo. Nós vamos votar com o Governo. Só achamos que não devemos participar do Governo.” É uma das raras ocasiões em que o PMDB, às vezes um Partido doido por cargos, entende a posição. E, em vez de o Governo entender que o PMDB não quer cargos, mas dá o apoio - e o apoio é total -, e buscar um acordo com a sociedade, trazendo, como trouxe, um Ministro da Agricultura nota 10, um Ministro da Exportação nota 10, um Ministro das Relações Exteriores nota 10, a Drª Dilma, nomeada Chefe da Casa Civil, que é nota 10, o Governo rompe com o Partido e dá um chá de banco no Presidente do PMDB. Lula procurou Renan Calheiros e José Sarney que não me parecem ser os mais indicados para representar o PMDB.

Não é por aí! Não se despreza um Partido no seu todo, que quer o entendimento, quer está com ele, quer apoiá-lo, para buscar uma minoria eventual que, para cada votação, terá de novo de fazer as emendas tais, o favor tal e a coisa tal. Não é assim! Errou quando foi dobrar os partidos e ter uma maioria composta de eventuais. Erra agora ao querer fazer uma composição com um pedaço do PMDB.

Fernando Henrique errou realmente quando fez essas coisas, e o Lula não pode fazer o mesmo. Ele tem diante de si um tempo, mas esse tempo está chegando ao seu limite.

Hoje, a sociedade diz: “Mas o Lula é um homem de bem!” A sociedade nos pergunta com ansiedade: “Senador, e o Presidente Lula? Ele é um homem bom, não é?” Eu digo: “Ele é um homem bom.” Eles perguntam: “Ele não sabe dessas coisas, não é Senador Simon?” Eu digo: “Ele não sabe”. Mas, daqui a pouco, não dará mais para repetir isso.

Quando os Senadores foram anteontem à frente do Senado acalmar a multidão que queria avançar, e um Líder eminente e ilustre do PT foi falar, o povo respondeu: “Fora, Lula!”. É um exemplo daquilo que nós não queremos.

O Lula tem diante de si a responsabilidade de terminar o seu Governo, que poderá terminar na reeleição, mas poderá terminar no vazio. E esse Governo tem que ser um governo com choque ético, mas um choque para valer.

O que ele está esperando para demitir o Ministro da Previdência? Tem uma Comissão de Ética no Governo que, por três vezes, disse que ele não pode ficar, não aceita as justificativas dadas por ele. Está no Supremo Tribunal Federal um processo contra ele e outro processo contra o Presidente do Banco Central. O Presidente do Banco Central está com sua vida toda se esvaindo na frente do Tribunal; estão investigando suas contas, sua correspondência, sua vida. E esse homem está na Presidência do Banco Central.

O Presidente Lula tem que fazer um limpa nisso. Ele tem que fazer o que fez na Chefia da Casa Civil, onde colocou uma mulher séria, uma tocadora de obra, porque alguém precisa tocar o Governo. Ela faz isso. Colocou ao seu lado - porque ela não é de política - alguém que tem capacidade de fazer a costura política. Não se pode mexer na costura política com o Governo andando. E ele fala bem. O Governo acertou, embora - lamento - não tenha deixado o Procurador que lá estava, o melhor homem neste País, mas colocou o segundo, um homem da mesma qualidade. Estavam pressionando para que fosse indicado um acomodador, que nem o Sr. Brindeiro, mas o Presidente Lula não aceitou. Ele apresentou o nome daquele que foi indicado pelo Procurador, um homem responsável.

Eu, se fosse ele, convidava o ex-Procurador para o Palácio, porque é o tipo de homem sério, santo, digno e correto, que poderia estar ali a sua direita, onde estava Frei Beto, para orientá-lo, ajudá-lo e colaborar com ele.

Faça isto, Presidente Lula, dê um choque ético, um choque de moralidade, um choque de seriedade. Faça transformações profundas, modifique. Não precisa dizer que errou, mas pode dizer “vou mudar”, e faça aquilo que a Nação está esperando.

Tenho certeza de que ele terá o apoio da maioria deste Congresso, porque o Congresso terá contra si o povo, que cobrará de nós as atitudes necessárias para que o Governo possa avançar. É isso que se espera do Presidente Lula. É essa a sua biografia, é essa a sua história. Fazendo isso, por mais que fale, o Deputado Roberto Jefferson será passado, porque o futuro está em suas mãos, Presidente Lula, o seu futuro e o futuro do Brasil.

Digo isto com profunda com convicção. Rezo, permanentemente, para que Deus abençoe o Lula, para que Deus lhe dê a visão do Brasil, para que Deus o faça retornar aos caminhos da sua caminhada: desde quando veio em um pau-de-arara de Pernambuco para São Paulo, desde suas lutas fantásticas e históricas, desde a sua vitória memorável. Que ele entenda que as viagens no seu avião especial que faz pelo mundo, que os tapetes vermelhos que o recebem, que a multidão que o aplaude, que ser um nome internacional, tudo isso, é passagem. Há um momento em que isso passa. O que fica é o que ele faz de concreto, de objetivo, de real.

Se, neste momento, fôssemos dizer o que foi o Governo Lula, seríamos obrigados a dizer que, na realidade, sob os aspectos econômico e social, foi uma continuidade do Governo Fernando Henrique. Não houve um fato distensor, não houve um movimento real nem no campo ético nem no campo social nem no campo moral e nem no tempo do patriotismo.

            Que o Lula tenha a coragem de se unir, de chamar companheiros seus ou não, que traga o Frei Beto de volta.

Estávamos numa missa do nosso grupo, e o Frei Beto estava presente. Depois do sermão, ele disse algumas palavras e comunicou-nos que tinha deixado o Palácio, que continuava muito amigo do Lula, tinha muito carinho pelo Lula, mas razões especiais o fizeram afastar-se. E eu, numa atitude fora do normal para um missa, disse: “O senhor fez muito mal, o senhor não poderia ter saído. O que está acontecendo é que as pessoas que queremos que fiquem saem, e as pessoas que queremos que saiam ficam”. Na verdade, era o que eu pensava: ou volta o Frei Beto ou coloca-se alguém que lhe diga as coisas que estão equivocadas, equívocos feitos e que devem terminar.

Que o Presidente Lula volte a ser o Lula! Que o Presidente Lula volte a ser o velho companheiro do Brasil! Que o companheiro Lula volte a somar à expectativa e a esperança do Brasil! Que o companheiro Lula possa fazer um Governo à altura do que esperávamos!

Sabemos que o milagre não é possível. Sabemos que o Fome Zero não será realizado do dia para a noite, mas o Brasil tem todas as condições.

O Lula, que internacionalmente é nota 10, fez bem quando se aproximou da China, da Índia, da África do Sul, porque, realmente, esses serão parceiros para o mundo que está aí. Serão o Brasil, a Índia e a China que haverão de ocupar os seus espaços na grande sociedade internacional. O Brasil, pelo seu tamanho, pelo seu povo, pelas suas riquezas, as maiores reservas de terras agricultáveis do mundo, as maiores reservas de água doce do mundo, as maiores reservas minerais do mundo, as maiores reservas florestais do mundo, e um povo de paz, um povo tranqüilo, um povo que deseja e torce para que o Presidente assuma o comando.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/07/2005 - Página 21859