Discurso durante a 102ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a crise enfrentada pelos agricultores brasileiros. (como Líder)

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLATIVO. POLITICA AGRICOLA.:
  • Considerações sobre a crise enfrentada pelos agricultores brasileiros. (como Líder)
Aparteantes
Alberto Silva, Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 02/07/2005 - Página 21865
Assunto
Outros > LEGISLATIVO. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • REGISTRO, SUPERIORIDADE, NUMERO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CONGRESSO NACIONAL, COMENTARIO, NECESSIDADE, REUNIÃO, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, DISCUSSÃO, PRIORIDADE.
  • SOLIDARIEDADE, PROTESTO, AGRICULTOR, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), REGISTRO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, PERDA, SAFRA, SUPERIORIDADE, DIVIDA, SETOR.
  • DEFESA, BUSCA, SOLUÇÃO, DIVIDA, PRODUTOR RURAL, INSUFICIENCIA, RECURSOS, GARANTIA, AQUISIÇÃO, PRODUTO AGRICOLA, PREÇO MINIMO.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB. Como Líder. Sem revisão do orador. ) - Obrigado, Sr. Presidente.

Fico pasmo, Sr. Presidente, com a riqueza do nosso PMDB. Sai um Pedro Simon e entra um Alberto Silva, e sempre ouvimos bons conselhos, boas orientações. É isso o meu Partido. Deixa-me orgulhoso liderar essa Bancada, que tem figuras tão eméritas, capazes de vislumbrar soluções, sejam políticas, sejam administrativas. É um Partido que me deixa muito grato.

Sr. Presidente, por que estou ocupando a tribuna? Estou ocupando a tribuna porque estes têm sido dias muito difíceis para nós todos, mas V. Exªs não imaginam o que tem sido o trabalho da Liderança nesses dias. É incêndio em todo canto! Mais CPI, CPI aqui, CPI ali.

Daqui a pouco, teremos uma reunião com os Líderes. Ontem, foi protocolada mais uma CPI, do IRB. Teremos, na terça-feira, que votar a CPMI do Mensalão no Congresso, se até lá não tiver saído a da Câmara. Já estamos aqui com mais duas a serem implantadas, que é a do Waldomiro e a da Privatização.

O Senador Alberto Silva olhou para mim, ontem, e fez uma piada. Eu estava me lamentando e pensando: “Meu Deus, como é que a gente vai fazer isso?” Ele olhou para mim e disse: “Senador, tem que falar com o Parreira para a gente aumentar o banco de reservas, porque ele está ficando pequeno. Veja, a Bancada nossa é a maior e está ficando pequena para tantas CPIs”. É claro que deveríamos reunir as Lideranças, e vamos tentar fazê-lo, exatamente para ver se conseguimos deixar algumas comissões para depois, se nos concentramos, ou se encontramos outra solução. Não quero avançar em soluções.

Qual o outro assunto que me trouxe, hoje, à tribuna? Ouvi, durante esta semana, o grito da agricultura, numa demonstração de força que eu jamais tinha visto nesses anos todos de Senado. Ficamos, aqui, praticamente ilhados. Tratores - e, vejam, eram só os de Goiás e das imediações, do Distrito Federal, de Minas, etc - estavam aqui aos milhares. Tratores em quantidade gigantesca, milhares de tratores. E o protesto era justo, o protesto de quem tem que plantar sem saber se vai colher, porque ser agricultor é isto: plantar sem saber se vai colher. Ele é sempre o jogador que, dependendo do tempo, da chuva, etc, colhe ou não, mas tem que investir, principalmente no mundo globalizado, onde os custos são caros. Estavam lá, todos aqueles tratores tinham a placa “financiado”. Trata-se de uma máquina linda, mas falta pagar a conta. E os insumos da agricultura? Os tóxicos para as pragas, as sementes, a mão-de-obra, o tempo de espera? Realmente, é uma loteria em que nem sempre ganha aquele que trabalhou, ou seja, o agricultor.

O protesto era justo. Por que estou, ainda, fazendo ponderações, se o protesto era justo, se todo mundo registrou isso? É que vi a pujança das máquinas e olhava para o meu Nordeste, para o meu Estado. Lá, faltam enxada e o alimento mínimo para sustentar o trabalhador, e há o mesmo problema de o banco cobrar juros. No final da conta, o agricultor tem que vender a fazenda, as vacas ou tudo que tem, porque o lucro não acompanha o gasto, pelo contrário, caiu o preço do seu produto.

No caso específico do meu Estado, ainda é pior, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. As chuvas foram irregulares. Quem plantou a primeira safra perdeu-a completamente. A segunda safra foi um pouquinho do normal.

Estamos passando por dias difíceis, mas no banco o tempo está correndo, o relógio está dizendo: “mais juros, mais juros, mais juros”. É preciso, realmente, pensar na dívida dos nossos agricultores.

Senador Alberto Silva com a palavra, por gentileza.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Senador Suassuna, sempre aprendi que Deus coloca as coisas como e na hora que deseja. Creio que tudo isso que está acontecendo deveria servir para alertar todos nós de que devemos fazer alguma coisa. V. Exª é Líder. V. Exª é o empresário, é um homem atuante, sou testemunha disso. V. Exª, na liderança, reúne-nos e pede soluções, age. V. Exª age. Então, meu nobre Líder, no momento em que traz o problema da agricultura a nossa consideração, faço uma sugestão. O Senador Mão Santa disse, aqui, que estamos pagando, por minuto, R$500 mil de juros.

O Sr. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - São quase R$600 mil.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Quase R$600 mil. Ora, um povo que é obrigado a pagar esse valor de juros por minuto não vai a nenhum lugar. Então, temos que reunir esta Nação inteira, o Brasil inteiro, sem cor partidária. Se a nossa grande riqueza é a terra - e V. Exª disse muito bem, pois foi um dos negociadores e sei que saiu tudo bem porque estava lá e ficou até o fim para encontrar uma solução paliativa -, vamos encontrar uma solução definitiva, meu caro Senador. Vamos juntar o PMDB, o PFL, o PSDB, todos os Partidos das duas Casas do Congresso. Vamos ao Presidente para dizer: “Estamos aqui!” Vamos chamar o pessoal do FMI e dizer: “Chega! Não estamos brigando, mas queremos uma parcela desses R$600 mil por minuto. Queremos dois anos para arrumar a agricultura brasileira, os portos, as estradas e o financiamento da agricultura com juros lá embaixo, para podermos ajudar os nossos irmãos a gerar riqueza e emprego”. V. Exª chegou na hora, como Líder, falando na tribuna. Parabéns.

O Sr. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Muito obrigado, nobre Senador.

Senador Dias, por gentileza. Eu peço ao Presidente um pouquinho de compreensão.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Ney Suassuna, serei bastante rápido. Cumprimento V. Exª pelo interesse em uma matéria que une o Norte, Nordeste, Sul, Centro-Oeste, enfim, o Brasil inteiro. O Governo é devedor do produtor rural, porque ele não tem uma política que ofereça segurança para o investimento produtivo no campo, ao contrário do que ocorre com outras nações que V. Exª conhece bem: subsídios, barreiras alfandegárias, não-alfandegárias, etc. Um dos pontos fundamentais para se oferecer segurança ao produtor é o preço mínimo do produto. O Governo estabelece o preço mínimo, mas, no momento de vender, o produtor não tem quem pague pelo preço mínimo. Então, é uma utopia, é uma ficção o preço mínimo fixado, não é? Por isso, a sugestão que V. Exª, como Líder do maior Partido desta Casa, pode levar ao Presidente da República é de que seja impositivo: preço mínimo fixado é preço mínimo pago. O Governo garante o pagamento. O Governo compra o produto e armazena-o para vender no momento mais adequado, mas garante ao produtor o preço mínimo.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Obrigado, nobre Senador. Nós já brigamos muito neste ano, porque no Orçamento não constavam recursos suficientes para garantir a compra da produção pelo preço mínimo. Conseguimos melhorar o Orçamento, mas não o suficiente. No entanto, vamos ponderar, com toda certeza, essa colocação de V. Exª.

Sr. Presidente, encerrando, eu queria dizer a V. Exª que a agricultura, em todo o Brasil, está carente e precisando de ajuda, principalmente para que não seja obrigada a pagar dívidas que cresceram e que não conseguiu pagar a tempo. Ninguém quer dar calote, mas quer prazo, quer oportunidade.

A necessidade imediata da dívida passada era de cerca de 1,6 bilhão. Agora, com essa nova crise surgida no Sul e Sudeste, isso ultrapassou os 3 bilhões, mas devemos ajudar, porque essa é a hora de darmos uma reciprocidade a quem sempre se expôs para fazer deste País uma Nação rica.

Se estamos exportando 100 bilhões, 35% são da agricultura. É a hora...

(Interrupção do som.)

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - ... de darmos reciprocidade a essa categoria de quem somos devedores.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/07/2005 - Página 21865