Discurso durante a 103ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre os acontecimentos políticos envolvendo o Partido dos Trabalhadores.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Considerações sobre os acontecimentos políticos envolvendo o Partido dos Trabalhadores.
Aparteantes
Jorge Bornhausen.
Publicação
Publicação no DSF de 05/07/2005 - Página 22057
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • CRITICA, OMISSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FALTA, ETICA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PERDA, REPUTAÇÃO, EXECUTIVO, LEGISLATIVO, SUGESTÃO, REALIZAÇÃO, REFORMA ADMINISTRATIVA.
  • CRITICA, CONTRADIÇÃO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REFERENCIA, IRREGULARIDADE, EMPRESTIMO.
  • QUESTIONAMENTO, NOME, INDICAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), COMPOSIÇÃO, MINISTERIO.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os crimes praticados pelo Governo não são novos. Em várias oportunidades, foram denunciados da tribuna deste Senado, mas sempre - quero ver até quando - os Senadores do PT desmentiam as nossas afirmações e se diziam os salvadores da Pátria e as figuras mais honestas da República.

Isso aconteceu não faz muito tempo, mas, pelo menos há seis ou oito meses, temos chamado a atenção deste Plenário e do Presidente da República, em particular, para que Sua Excelência mudasse o seu caminho, para que não percorresse o caminho da lama, para que salvasse o País da situação em que se encontra, para que não desmoralizasse o seu próprio Partido e mais ainda a sua imagem de Presidente mais votado deste País.

Tudo lhe era favorável, mas ele não quis, de jeito algum, fazer o que devia. Ao contrário, para tristeza nossa, também jogou a lama do seu Governo no Congresso, a ponto de já haver outdoor, na Bahia - mandei fotografá-lo para trazer aqui; isso foi publicado nos jornais de hoje da terra -, com estes dizeres: “lugar de safadeza não é no Congresso; R$33,00 Motel Fantasy”. É incrível, mas é verdade! É o Presidente da República quem provoca essa situação de desgaste do Congresso Nacional.

O que nos cabe? Reagir. O que nos cabe? Dizer à Nação o que temos dito todos os dias: que este Governo precisa ter o mínimo de seriedade para apresentar-se ao povo brasileiro.

Na semana passada, se não me engano, na sexta-feira, o gangster Delúbio Soares atacou a mim e ao Senador Bornhausen, dizendo que estávamos pregando o golpe e que éramos os causadores da miséria do Brasil. Causador da miséria do Brasil é o ladrão que é tesoureiro do PT e que vai ser expulso de lá, porque o PT já não agüenta a força da opinião pública, que pede providências contra a sua direção. Delúbio é o seu nome; Dilúvio é como o chamam. Na realidade, ele é um gangster, um gangster que nem ao menos refinado é, porque deixa marcas em todo o lugar que passa, mostrando ao País que o PT é realmente um celeiro de pessoas que vivem achacando os cofres públicos!

De minha parte, respondi. Acredito até que o Senador Bornhausen não tenha dado maior importância ao seu acusador; talvez isso tenha sido até mais certo. Mas fiz questão de dizer que ele era um gangster e que esse gangster ia cair na CPI, e eu ia olhar nos seus olhos e ver os cifrões que ele roubou nos Correios, no BMG e em toda parte.

O Sr. José Genoíno, que faz empréstimo no BMG para o PT, com Delúbio e Marcos Valério, que é Presidente do seu Partido, Senador Tião Viana - V. Exª, que é um homem digno e decente, deve ficar horrorizado -, teve a coragem de dizer que não era verdade e que a Secretaria de Finanças já informara que não havia esse empréstimo. Menos de 24 horas depois, com a mesma coragem, ele disse: “Eu assinei, mas não sabia o que estava assinando”.

Por isso ele foi derrotado em São Paulo e o será em qualquer eleição majoritária em que entrar, porque, quando falta ao homem a palavra até mesmo para confessar os seus erros, esse homem não pode ter a credibilidade dos políticos.

O Sr. Jorge Bornhausen (PFL - SC) - V. Exª me concede um aparte, Senador?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Com muita honra, Senador Bornhausen. V. Exª foi exaltado. Quem é atacado por Delúbio é exaltado.

O Sr. Jorge Bornhausen (PFL - SC) - Senador Antonio Carlos, eu concordo inteiramente com as suas declarações em relação às figuras que nos atacaram, mas, evidentemente, ali não está o mal maior. V. Exª respondeu com o vigor com que sempre age na vida pública. Eu, da mesma forma, mostrei que, primeiro, ele preste contas à Polícia Federal, à CPMI, a Comissão de Ética. Também vou-lhe responder, mas chamo a atenção de V. Exª, no bom sentido, que, depois dessas palavras do Sr. Delúbio Soares, o Presidente da República apareceu numa reunião de partidos políticos, vestido com um uniforme que acredito seja da Polícia Federal, e fez a declaração de que seria implacável com os seus adversários e aliados, mas esqueceu seus companheiros. Esqueceu o Sr. Waldomiro Diniz, o Sr. Delúbio Soares, e, o que é mais importante, que tem muitos e valorosos companheiros que não estão metidos em nada disso, que nada têm a ver com a corrupção e que devem ser separados - como o Presidente em exercício na Casa, neste momento. Concordo com a sua vigorosa reação. Coloquei o assunto para responder posteriormente porque ele ainda vai ter que responder muito mais do que aquilo de que hoje é acusado. Não aceito as palavras anteriores do Presidente da República, declarando-se dono da ética e da moral, numa atitude arrogante, que não condiz com a figura do Primeiro Mandatário da Nação, e, muito menos, que ele se esqueça dos companheiros corruptos e não os separe dos companheiros honrados.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Eu agradeço o aparte de V. Exª e digo que é por isso mesmo que não aceito que homens do Governo ou da Oposição venham defender a figura do Presidente da República, dizendo que ele não sabia de coisa alguma. Sabia de tudo. Talvez ele não soubesse da extensão, mas saber dos fatos, ele sabia, porque foi avisado por Governador, por Ministro e por Deputado de tudo o que estava acontecendo e não tomou nenhuma providência. Só tomou quando o Sr. Roberto Jefferson foi a ele dizer que ia escandalizar. Então, ele tomou as providências.

Como todo ladrão deixa sempre sua marca, a impressão digital - o nosso Senador Marco Maciel tem a inteligência de dizer que há alguns que não deixam nem marca digital, mas, na realidade, todos a deixam -, o Senador José Agripino acaba de provar desta tribuna os saques feitos, nas ocasiões próprias, para a compra de mercenários.

Sr. Presidente, V. Exª é um homem de bem - eu sempre proclamo isso não só por amizade, mas por dever de homem que faz política e gosta de ver gente nova, capaz, ascendendo aos postos. Quero lamentar apenas a presença de eminentes membros do PMDB, porque os nomes falados, data venia, não vão melhorar coisa nenhuma. O Governo vai continuar do mesmo jeito. Estão trocando seis por meia dúzia e levando o País à situação de descalabro.

Tenho pena daqueles que estão indicando Ministro, porque vão-se arrepender. Eles sabem que se fosse para indicar Ministro competente para a Saúde, não se iria buscá-lo no PMDB, mas na pessoa de V. Exª, que conhece realmente não só a política, mas a política de saúde do País. Tenho colegas, na Bahia, que enaltecem a figura de V. Exª, mas o seu nome sequer é falado. Dizem: “Não, vamos dividir com Pedro e Paulo”, e eu não sei como Pedro e Paulo têm coragem de aceitar essa divisão.

O Senador Ney Suassuna procede bem em se esconder e não aparecer nessa divisão. Ele sabe de tudo, mas não deixa aparecer. Ele não quer aparecer. Os outros, que são tão meus amigos, grandes amigos, que participam desse leilão, desse loteamento, amanhã vão-se arrepender de terem participado.

O País vive um momento tal que se o Presidente da República tivesse o mínimo de juízo iria procurar figuras eminentes, partidárias ou não, para se salvar moralmente da situação em que se encontra. Não ia viver essa situação terrível. Mas falta-lhe senso e, quando falta senso, falta tudo.

Sr. Presidente, tenho certeza de que V. Exª não estava lá, mas sábado ainda teve forró na Granja do Torto, com a presença de Ministros fantasiados! E com que fantasias? Nenhum teve a coragem de sair, realmente, de rato. Tinha que aparecer pelo menos um rato para dar o sentido da roubalheira existente no Governo, mas não, era fantasia de gaúcho, com chimarrão, chapéu de palha.

Ora, Sr. Presidente, a insensatez chegou ao Governo e não quer sair do Palácio do Planalto.

Não temos nada de pessoal contra o Presidente da República. Ao contrário, admirávamos o homem que veio como operário e teve a maior votação do País, mas ele não soube honrar os votos que recebeu do povo brasileiro.

Não posso ver Palocci entrando ali fantasiado, nem Márcio Thomaz Bastos. Não posso ver. Tenho quase certeza de que eles não foram, mas, se foram, será uma decepção tremenda para mim, porque são homens sérios, dignos. Por que iriam, então, fantasiar-se, se não apareceu sequer o rato Delúbio, o rato Marcos Valério e outros tantos. Tinham que aparecer. Essa é a fantasia real do atual Governo, na opinião pública.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Nesse minuto termino, Sr. Presidente.

Acabei de viver, na minha terra, com o Senador César Borges e o com o Governador Paulo Souto, o dois de julho. Caminhamos sete quilômetros, e o povo nos aplaudia de ponta a ponta e vaiava o PT de ponta a ponta.

Isso foi agora, no dia 2 de julho, quando, na noite ainda, Jacques Wagner, que havia sido vaiado de manhã, corria para participar do forró na Granja do Torto. Que coragem! Por isso, outras vaias, outros apupos os esperam.

Não temos nada de golpe, nem queremos golpe. O golpe é nas urnas. Vamos derrotá-los nas urnas, porque eles não têm moral para se apresentar ao povo brasileiro como candidatos.

Se o Presidente da República tentar a reeleição, vai ser derrotado. Já recebeu conselhos para não disputar. Mas, às vezes, ele é teimoso ou, então, ouve mais os seus colegas do que a sua própria consciência - se é que consciência ainda tem, e não lhe roubaram, tendo em vista a companhia com que anda.

Conseqüentemente, Sr, Presidente, quero, neste instante, fazer um último apelo ao Presidente da República. Há mais de um ano, clamamos por uma mudança de seriedade na Administração Pública. Que ele faça isso imediatamente. Não queremos atrapalhar o Governo, mas ninguém vai procurá-lo para aderir nem fazer qualquer acordo. Nossa posição é de inflexível veemência contra tudo que aí está. Melhorem, porém, o Governo, e não terão de nós oposição, mas terão a cooperação, porque o Brasil precisa ser salvo da desgraça que vive hoje.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/07/2005 - Página 22057