Discurso durante a 104ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cobranças de posicionamento do Presidente Lula para superar a crise política.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Cobranças de posicionamento do Presidente Lula para superar a crise política.
Aparteantes
Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 06/07/2005 - Página 22176
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, CONFIANÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COBRANÇA, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • COBRANÇA, CAMARA DOS DEPUTADOS, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, RECEBIMENTO, PROPINA, DEPUTADO FEDERAL, BANCADA, APOIO, GOVERNO FEDERAL.
  • ELOGIO, CONVITE, ANTONIO ERMIRIO DE MORAES, EMPRESARIO, EXERCICIO, FUNÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS).
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, NECESSIDADE, SOLUÇÃO, IRREGULARIDADE, GOVERNO FEDERAL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, saí nesta madrugada, às 5h30m, do Rio Grande do Sul, tendo conversado, no sábado e no domingo, com um sem-número de pessoas.

Fazia tempo que eu não ia ao Rio Grande, mais de vinte dias, e senti as reações do povo. É impressionante o sentimento de tristeza, de mágoa, eu diria de dor até que as pessoas estão sentindo.

Interessante que, em outras oportunidades, por exemplo, quando houve o impeachment do Collor, havia uma euforia na rua, os jovens vibravam e pediam a cabeça do Collor. Hoje, mesmo as pessoas que nunca foram do PT estão machucadas, estão sofridas, estão doloridas. Acho isso muito interessante e tenho dito isso.

Eu primeiro lugar, não vejo aqui no Senado; em segundo lugar, não vejo na imprensa e não vejo na sociedade ninguém que não esteja rezando para que o Lula saia dessa.

O PT, nesses vinte e cinco anos em que atirou pedras em todos, deve ter feito algumas injustiças; deve ter atingido alguém injustamente. Mas nem essas pessoas estão agora torcendo para que as coisas caiam e desapareçam. Eu sinto muito mais o movimento positivo do que o movimento destrutivo.

Agora, o que as pessoas se perguntam e o que as pessoas estão esperando, estão aguardando é uma ação do Governo no meio disso tudo que aconteceu. Que aconteceu, aconteceu!

Creio, embora muitos riam de mim, que o Lula não sabia! Aí, então, respondem: “Mas, se o Lula não sabia, então é mais grave; é porque ele não enxerga”! Não. Penso que, num Governo cercado de amigos e de companheiros da mais absoluta confiança, as coisas estão andando, e ele não sabia. Mas o problema é que agora ele sabe! E a questão é que ele tem de dar um rumo ao Governo dele! Tem de dar um rumo! As coisas que aconteceram aconteceram; o tempo perdido é o tempo perdido! Pedimos a CPI do Waldomiro há um ano e oito meses; se tivesse saído naquela época, não estaríamos vivendo isso hoje. Se tivesse sido constituída a CPI e se tivesse sido apurado, não haveria o que há hoje, porque o povo se quedaria com medo. A equipe, essa gente que andou por aí pararia para pensar: “Olha, a coisa é séria”! Mas, como não aconteceu nada, como a CPI foi arquivada...

Mas, a esta altura, acredito que a Câmara não vá cometer o absurdo de não criar a CPI do Mensalão, porque, caso contrário, vai nos deixar numa posição incômoda - e tem razão o Renan -, pois ele terá de criar a CPI mista. E nós, do Senado, que não queremos nos intrometer, porque achamos que é uma questão da Câmara, se a Câmara não convocar, teremos de criar a mista!

Mas, nesta altura, com tanta comissão, o Presidente tem que tomar uma posição! O Presidente tem que falar à Nação e tomar realmente a posição de uma nova realidade: hoje, o Lula mudou - mudou, não digo; ele voltou a ser o que era. Quando vejo no jornal que ele convidou Antônio Ermírio de Moraes para Ministro da Saúde, dou nota 10. Quando fui Líder do Governo Itamar Franco, também convidamos o Antônio Ermírio. Só que o convidamos para a Pasta de Minas e Energia. Ele foi ao Palácio - eu estava lá com o Itamar -, sentiu-se emocionado com o convite, mas disse: “Não posso aceitar, porque minha empresa trabalha muito com minérios, e quem orienta, quem dirige o setor de minérios é a Pasta de Minas e Energia. Vão dizer que estou lá para favorecer a Votorantim”. Fez um gesto de grandeza e não aceitou. Mas o Sr. Antônio Ermírio, vinte anos depois, é um santo na Beneficência Portuguesa: chega lá às 6 horas da manhã de sábado e sai às 11 horas da noite de domingo. Ele conhece e tem condição de ser o ministro. E é um exemplo positivo do que pode ser o novo Governo do Senhor Lula. Acho que é por aí. Um Governo constituído, preocupado com a Nação.

Uma hora ele deve se reunir, chamar o Líder do PMDB, o do PDT, os de todos os Partidos e dizer: “Agora, até o meu Partido que me perdoe, mas eu vou governar para a Nação, eu vou governar para a sociedade brasileira. Eu vou governar como tem que ser”.

E há nomes bons. Está aí o Ministro da Fazenda, um homem que todo mundo respeita. Os Ministros da Exportação e do Planejamento, todo mundo respeita. O Ministro da Agricultura todo mundo respeita. O Ministro das Relações Exteriores todo mundo respeita. E há do PT: o Ministro Tarso Genro todo mundo respeita pelo trabalho que vem desenvolvendo. O Tarso Genro está fazendo um grande trabalho no Ministério da Educação. Mas vamos trazer gente que soma.

Vamos desaparecer, mas desaparecer, neste ano e meio do Governo Lula, com a palavra corrupção; não vai existir. Não digo que se faça como no Oriente: cortar as mãos do que rouba. Mas quem rouba vai ficar com uma manchete tão ridícula e tão brutal que ninguém vai ter coragem de fazer. Mas ele tem que fazer. O Lula tem que iniciar. A impressão que se tem é que ele é tímido para dizer não; ele é tímido para decidir. Renunciou o tesoureiro do PT porque quis. Renunciou o secretário-geral do PT porque quis. Quanto aos diretores de Furnas, é o primeiro gesto que ele fez. Ele os afastou, é verdade. Mas Lula precisa traçar uma diretriz de guerra. Nós estamos numa guerra, a guerra está mal, o inimigo está nos rodeando, estamos cercados, temos que encontrar uma saída! Convocamos todos para sair. E a saída é por aqui. É isto que ele tem que fazer: vamos reunir, vamos fazer os planos prioritários, como é que podemos levar adiante para valer o Programa Fome Zero, como é que podemos levar para valer os planos para a educação. Traçar um plano e caminhar para frente. E tenho certeza de que, se ele vier e pedir uma reunião no Congresso e falar aqui, o PSDB, o PFL, como nós do PMDB, como todo mundo estará solidário a um Governo de entendimento nacional, numa hora como esta. Temos de sair dessas manchetes dolorosas, que ficam mal para ele, ficam mal para o Congresso, ficam mal para todo mundo. Cá entre nós, fica mal para o Congresso. Lá no Rio Grande do Sul, ninguém quer saber quem está do lado de lá ou do lado de cá. É político? Logo, não é grande coisa. Há uma mágoa generalizada da classe política. Enganam-se aqueles que torcem para que o Lula caia, para que volte o PSDB ou entre o PMDB. Não! Podemos ganhar, seja quem for, na normalidade. O Governo já teve o desgaste; agora, o baque é ruim para todos. Quando houve o baque no passado, nós, do PMDB, parecíamos uma maravilha. No entanto, nosso candidato, Ulysses Guimarães, teve 3% dos votos. Na eleição anterior, tínhamos feito todos os governadores menos um - o de Sergipe - e ainda fizemos dois terços da Câmara e dois terços do Senado. Aí nos preparamos para a eleição, e nosso candidato fez 3%. Por quê? O mesmo PMDB - veja o PT -, que vinha de uma euforia da eleição do Tancredo, das Diretas Já, de uma vitória espetacular, que era aplaudido por todo o povo, dois anos e meio depois, viu o seu maior líder, o grande, talvez um dos maiores políticos da história do Brasil, Dr. Ulysses Guimarães, ter 3% dos votos. Porque o povo é frio, o povo não olha para a história. O povo olha para a frente. E se isso acontecer hoje, se aprovar - dizem que a Câmara dos Deputados aprovou, não acredito - lista fechada nas eleições... Só que a lista é fechada com os nomes dos atuais deputados, mas vai ter 70% de votos em branco. É o que todo mundo diz. Em primeiro lugar, não consigo mais candidato a deputado. - “Não, você tem candidato a deputado. Eu vou entrar para quê? Para fazer papel de palhaço?”

Concedo um aparte ao Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Pedro Simon, agradeço o aparte que V. Exª me concede. Hoje tivemos uma daquelas excelentes aulas quando V. Exª vai à tribuna da Casa. Os temas são vastos. Muitos requerem, com certeza, alguns comentários, mas quero me centrar em dois. Primeiro, quero falar sobre a posição do Presidente Lula com respeito à rapidez das tomadas de decisão. Para quem o conheceu pessoalmente, como é o meu caso, pois o conheço desde 1986, sabe que ele é muito seguro das coisas que quer, mas sempre aposta muito nas pessoas que trabalham com ele. Sempre quer insistir em que todo o mundo é sério até que se prove o contrário, diversamente do que se diz costumeiramente no Brasil, que todo o mundo é errado até que se prove a seriedade de alguém. Com certeza, o Presidente está agora tentando formar uma equipe com a presença de pessoas apartidárias. Ele insiste também que é preciso ter a presença e a configuração dos partidos, para que cumpram a missão histórica de ajudar na condução da Nação. Então, nesse chamamento, quero dizer a V. Exª que fico feliz, embora também concorde com o comentário sobre o atraso deste - poderia ter antecipado os fatos. Estou aguardando a decisão interna do meu Partido quanto a isso. Também quero concordar aqui, conforme já foi dito pelo Senador Tião Viana, pelo Senador Delcídio Amaral e outros, que nenhum de nós está incriminando as pessoas do PT que foram citadas, mas acho que elas deveriam ter pedido, de próprio punho, para sair, deixando o Partido livre para a condução do debate político, fazendo a sua defesa no momento adequado. Quanto a isso, concordo com V. Exª que o pedido de afastamento veio atrasada e forçadamente, mas antes tarde do que nunca. Vamos aguardar o resultado dos fatos. Parabéns a V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Falando em afastamento, dou solidariedade ao companheiro Suassuna. Eu também acho que nosso líder na Câmara tem que se licenciar, tem que se afastar. Ele não pode esperar que amanhã a secretária venha amanhã à CPI e diga um milhão de coisas para depois ele se afastar. Ele tinha que se afastar agora. Isso não significa que ele seja culpado. Vamos supor que uma secretária diga um milhão de coisas em relação a mim; se eu não sou líder, agüento no peito; mas, se sou líder, não posso pôr minha Bancada na jogada. Eu me afasto para me defender sozinho. O afastamento dele hoje não significa que seja culpado. Quero dizer que não interpreto assim; interpreto isso como a atitude de um homem de respeito, que se afastou para se defender e não atingir a sua Bancada. Agora, se amanhã vier a secretária e dizer um milhão de coisas - não sei se vai dizer, mas dizem que vai dizer - com relação a ele, aí ele vai ser afastado; não é ele que vai se afastar, ele vai ser afastado. Essas coisas são importantes.

Sr. Presidente, não sei se meu santo é forte, mas continuo rezando todos os dias pelo Governo Lula e para ele pessoalmente. Dá para vermos na televisão o sofrimento do Presidente. Realmente, só pintando de branco que ele podia ficar com o cabelo tão branco com uma rapidez tão grande. Dá para ver a amargura, o sofrimento que o Presidente está vivendo. Mas eu o vejo com toda a sinceridade. Não há com relação ao Presidente Lula um sentimento que não seja de angústia e de torcida para que ele saia dessa. Agora, ele tem que sair, Sr. Presidente. Ele tem condições. Digo aqui com a maior tranqüilidade: ele tem condições. Que ele bata na mesa e escolha uma equipe de gabarito, escolha os melhores. Isso porque não será um Governo PT/PMDB que vai resolver o problema que está aí. Isso é capaz de terminar pior do que está agora. Ele deve chamar o que tem de melhor na sociedade - pode ser dos partidos também -, e aí a situação muda de figura.

Essa é a grande saída e o grande apelo que eu faço ao meu Presidente e ao amigo, Lula da Silva.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/07/2005 - Página 22176