O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador Pedro Simon é um Senador que todos admiramos pela sua inteligência, mas quando fala com a razão e o coração fica melhor ainda. Agora ele falou - tenho certeza - com grande dose do enorme coração que tem. Isso coincide com aquilo que tenho dito, aqui da tribuna, desde quando começou a crise. Aprendi muito com o Senador Pedro Simon que precisamos ter serenidade, equilíbrio e sobretudo não se pode, nestes momentos, querer tirar proveito político. Isso porque quem paga a conta daqueles que querem tirar proveito político, daqueles que querem fazer palanque, é a sociedade brasileira. A crise que está aí não é brincadeira! Esta crise política... Eu li o que disse o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, que os fundamentos da economia são tão fortes que a economia está apartada, separada da crise política. Pode ser, mas os reflexos da crise política já começam a acontecer, principalmente para a classe trabalhadora.

Hoje o Paulinho, da Força Sindical, esteve numa reunião do Conselho Político do PDT e nos disse que as empresas já começam a anunciar férias coletivas e demissões. Não há, no mercado consumidor, confiança suficiente no Governo nem nas instituições - e o Congresso Nacional é uma das instituições mais desacreditas.

Neste momento, é preciso ter muito equilíbrio e pensar no País. Quando o Senador Pedro Simon fala que acredita no Presidente Lula, é um ato de bondade e, ao mesmo tempo, de coragem. Disse isso aqui outro dia e me chamaram a atenção. Essa é a opinião de um opositor que leva em conta a razão e o coração. Não podemos, de repente, rasgar toda a história de um homem, jogá-la no lixo e dizer: esse homem enganou o Brasil durante todo o tempo. Não é possível. Quero continuar acreditando no Presidente Lula, como disse o Senador Pedro Simon.

Hoje o PDT reuniu o seu Conselho Político. Havia aqueles que queriam que o Partido saísse com a decisão de propor o impeachment do Presidente Lula. Confesso que fui contra, assim como o foram também o Senador Jefferson Péres e o Senador Juvêncio da Fonseca. Fomos contra, porque, neste momento, temos de pensar no País, na sociedade brasileira. Aí, alguém mais radical pode dizer: mas essa é uma atitude cômoda. Não, é uma atitude responsável. O que estou aqui, agora, anunciando são três medidas que o Conselho Político do PDT adotou, que considero, aí sim, responsáveis. É claro que houve um debate de horas hoje de manhã - terminou agora há pouco a reunião - e o Conselho Político do PDT, aliás, algumas pessoas do Conselho Político queriam que o PDT saísse com uma única decisão: propor o impeachment do Presidente Lula. Mas nós fizemos um posicionamento que vai na linha daquilo que falou aqui agora o Senador Pedro Simon. Os ensinamentos do Pedro Simon parece que estiveram presentes lá na reunião do PDT.

Quais foram as nossas decisões? Primeiro, o aprofundamento das investigações, com a participação do PDT no Conselho de Ética da Câmara, nas CPIs instaladas, tanto na Câmara quanto no Senado, na CPI Mista. Nós vamos participar efetivamente. Eu, como Líder, fiz as indicações, e o PDT vai participar e exigir o aprofundamento das investigações. Outra decisão adotada: no dia 28 deste mês, haverá um ato público no Rio de Janeiro, com a participação de vários partidos que desejam a investigação de fato, ou a investigação dos fatos, e não que esse momento se transforme em momento de aproveitamento ou oportunismo político. Queremos falar sério sobre esse assunto, porque a sociedade está pelo pescoço, aliás, a água está batendo no queixo. Ninguém agüenta mais. O noticiário da televisão virou só notícia sobre corrupção, sobre novas denúncias, sobre novos acontecimentos que estão atormentando a sociedade brasileira e tirando a credibilidade do País.

Então, a decisão é agilizar os procedimentos das CPIs, investigar logo, limpar essa questão, clarear, dar os nomes dos envolvidos e exigir a punição deles, e reafirmar que, na classe política, existem pessoas sérias, com moral, com ética, que merecem o respeito também da mídia e da sociedade. É preciso separar o joio do trigo e não misturá-los, como se todos fossem iguais àqueles que fizeram a prática do mensalão.

A terceira decisão, Sr. Presidente, para a qual peço a atenção da Casa, é importante, não é oportunista, não é casuística. Já disse aqui e vou repetir: a reeleição foi uma das decisões mais infelizes do Congresso dos últimos anos. A reeleição, no nosso entendimento, é a causa principal dos desmandos políticos que ocorrem em Estados e que ocorreram com o atual Governo Federal.

A reeleição leva o Presidente da República e o Governador a se eleger, governar um ano e já começar a campanha para a reeleição. E, nesse caso, começa a se gastar demasiadamente com propaganda, publicidade, como acontece nos Estados onde os Governadores são candidatos à reeleição. Aqui essa prática não ocorreria se não houvesse o instituto da reeleição.

Sr. Presidente, nunca pedi, mas hoje vou pedir um minuto a mais para concluir.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - V. Exª terá dois minutos.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Vou concluir porque é um posicionamento importante que um Partido assume perante a crise, e que acho tem que ser colocado. Então, a reeleição, Senador Romeu Tuma, no nosso entendimento, foi uma iniciativa equivocada. Primeiro, eu nunca vi ninguém concluir o seu segundo mandato melhor do que o primeiro. Sempre há o desgaste natural, a desmotivação, e aqueles que se reelegem acabam fazendo um segundo mandato pior do que o primeiro. Mas, sobretudo, trata-se do custo disso para a sociedade. São os Estados, que gastam de forma exagerada na propaganda porque o Governador está como candidato à reeleição; é o País, que, como está acontecendo agora, convive com esse nível de corrupção, de compra de apoio político.

Eu duvido que o Governo Lula precisasse desse tipo de prática. Eu ainda digo que espero que o Presidente Lula esteja fora disso. Mas digo a V. Exª, Presidente Tião Viana, que não se precisaria disso, caso fossem colocados para votar aqui projetos de interesse da Nação - os partidos votariam. E os partidos votariam porque, sendo de interesse do País, eles seriam cobrados pela sociedade se não o fizessem.

            Então, nós vamos encampar. O PDT está propondo a todos os Partidos, inclusive ao PT, que tem hoje, como Presidente da República, o Presidente Lula, para harmonizar para que possamos dar ao Presidente Lula a oportunidade de ele concluir o mandato honrando a sua história, consertando o que está errado, fazendo um Ministério com pessoas que entendam do assunto, e não com pessoas indicadas para compor um quadro político, uma aliança que não é uma aliança política, mas sim uma aliança negociada, uma aliança com outros interesses, como foi feito até agora. Que o Presidente Lula comece agora a fazer o Governo que prometeu durante a campanha eleitoral, porque até agora não o fez. Vamos dar essa oportunidade, mas pedir a Sua Excelência que esclareça todas essas denúncias, mostre que realmente está de fora delas.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Que faça um Ministério técnico, baseado na eficiência, na competência - pode ser político, mas tem que conhecer o assunto - e não um Ministério formado por indicações de partidos, para depois isso virar uma barganha política e negociata como a que foi denunciada.

Queremos, Sr. Presidente, ao encerrar, dizer que o PDT vai tratar esse assunto com a seriedade que ele merece, sem marola, sem estripulia, sem discursos demagógicos, mas com respeito à sociedade para que tudo seja investigado, esclarecido. E que, se Deus quiser, o Presidente Lula possa concluir seu mandato mantendo a história que construiu, mas sem a reeleição, que é o que o PDT está propondo e para o qual está pedindo o apoio dos outros partidos aqui.