Discurso durante a 104ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas a falta de políticas agrícolas de desenvolvimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sob a condução do Ministro Roberto Rodrigues. Relato sobre os prejuízos sofridos por produtor de mamão no Estado do Espírito Santo causados pela Delegacia Federal da Agricultura.

Autor
João Batista Motta (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: João Baptista da Motta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. POLITICA AGRICOLA.:
  • Críticas a falta de políticas agrícolas de desenvolvimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sob a condução do Ministro Roberto Rodrigues. Relato sobre os prejuízos sofridos por produtor de mamão no Estado do Espírito Santo causados pela Delegacia Federal da Agricultura.
Publicação
Publicação no DSF de 06/07/2005 - Página 22180
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • CRITICA, AUSENCIA, COINCIDENCIA, DATA, REALIZAÇÃO, ELEIÇÃO FEDERAL, ELEIÇÃO ESTADUAL, ELEIÇÃO MUNICIPAL.
  • ANALISE, CRIAÇÃO, HISTORIA, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), CRITICA, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, AUSENCIA, ATENDIMENTO, NECESSIDADE, PRODUTOR RURAL.
  • COMENTARIO, HISTORIA, PREJUIZO, PRODUTOR RURAL, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), EFEITO, INEFICACIA, ATUAÇÃO, MINISTERIO DA AGRICULTURA (MAGR), SOLICITAÇÃO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, completando o que falava o Senador Osmar Dias, eu queria dizer mais o seguinte: o povo acaba de eleger o seu governante, prefeito, governador ou presidente, pensa que ele vai sentar na cadeira como presidente, ou como governador ou como prefeito, mas ele senta já como candidato à reeleição. Maior vergonha ainda, Sr. Presidente, é a descoincidência de mandatos. De dois em dois anos, eleições; de dois em dois anos, o Brasil pára; de dois em dois anos, há novas despesas, novos conflitos. Um governador governar com dois prefeitos e um prefeito com dois governadores é outra vergonha!

Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a campanha para a eleição presidencial de 2002 veio acender a chama da esperança para uma parcela significativa da população brasileira, que esperava do Governo Lula uma grande transformação dos métodos do trato da coisa pública.

A nomeação do Ministro Roberto Rodrigues para a pasta da Agricultura, Pecuária e Abastecimento criou novas expectativas de manutenção de programas que estavam dando certo, pois a agricultura e a pecuária têm sido o sustentáculo da economia nacional, gerando emprego, renda e os superávits necessários para o equilíbrio da economia nacional.

Por que a nomeação do Ministro Roberto Rodrigues gerou tanta expectativa?

Como ele próprio define, com justo orgulho, formado em Agronomia pela Unesp, filho de engenheiro agrônomo, casado com agrônoma, filhos e noras agrônomos. Quer dizer, nasceu e cresceu no laborioso trato da terra. Teve uma vivência muito rica no associativismo e cooperativismo, foi presidente de importantes instituições nacionais e internacionais: Sociedade Rural Brasileira, Organização das Cooperativas Brasileiras e da Aliança Cooperativista Internacional.

No Ministério da Agricultura, implantou uma estrutura técnica e agronômica, o Secretário Executivo Agrônomo (1º e 2º), chefe de gabinete, assessores especiais, diretor de execução orçamentária, secretários técnicos, secretário de defesa agropecuária (1º e 2º), diretor de programa e Diretor de Defesa Vegetal (óbvio), todos engenheiros agrônomos.

Com efeito, um Ministério talhado para dar certo na área agronômica, para cumprir com objetividade a missão institucional.

Mas qual é essa missão, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores? O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foi criado com a missão de “formular e implementar as políticas para o desenvolvimento do agronegócio, integrando os aspectos de mercado, tecnológicos, organizacionais e ambientais, para o atendimento dos consumidores do País e do exterior, promovendo a segurança alimentar, a geração de renda e emprego, a redução das desigualdades e a inclusão social”.

Isso significa que o Ministério da Agricultura foi criado para estimular o aumento da produção agrícola e pecuária, fomentar o desenvolvimento do agronegócio, com o objetivo de atender o consumo interno e formar excedentes para exportação.

A conseqüência dessa política é a geração de emprego e renda, a promoção da segurança alimentar, a inclusão social e a redução das desigualdades sociais.

Para cumprir sua missão, o Ministério da Agricultura deveria formular e executar políticas para o desenvolvimento do meio rural, integrando aspectos mercadológicos, tecnológicos, científicos, organizacionais e ambientais, para um melhor atendimento dos consumidores brasileiros e conquistar e manter o mercado internacional.

Dessa forma, a atuação do Ministério baseia-se na busca de sanidade animal e vegetal, da organização da cadeia produtiva do agronegócio, da modernização da política agrícola, do incentivo às exportações, do uso sustentável dos recursos naturais e do bem-estar social.

O que se presencia hoje, Srªs e Srs. Senadores, é uma dualidade de atuação do Governo na área rural. Dois Ministérios da Agricultura. Um tradicional, criado há 145 anos, por decreto imperial, com a missão exemplificada, mas hoje totalmente engessada, com uma estrutura estagnada, uma reforma mal feita, pouco discutida com a sociedade, funcionários novos (que querem acertar) mas ainda despreparados, pouco treinados, exercendo cargos de direção sem o devido amadurecimento, e outros trazidos de fora, sem o conhecimento e a especialização devida para o exercício do mister.

Esse despreparo da equipe organizacional gera um quadro de arrogância (de cima para baixo) e uma subserviência (de baixo para cima), fomentando insegurança nos que têm na agricultura a atividade econômica e produtiva.

Como mencionei anteriormente, Srªs e Srs. Senadores, o Ministro Roberto Rodrigues chegou ao cargo trazendo em sua bagagem um currículo de vivência rica no agronegócio, despertando grande esperança, mas que, ao passar desses dois anos e meio de governo, tem decepcionado a todos os que militam no trato das coisas da agricultura, porque a máquina governamental não permite que a política agrícola tenha a fluidez que a economia do País requer.

Por essa razão, os produtores prepararam uma grande marcha sobre Brasília para demonstrar ao Governo o descontentamento e o tanto que a sufocante política nacional tem desestimulado o setor agrícola do País. Não temos garantia de preços e nem tampouco seguro agropecuário. O agronegócio, como os Srs. Senadores sabem, é o responsável pela estabilidade da economia nos seus diversos aspectos, gerando emprego, renda para o campo e para a cidade e os saldos na balança de pagamentos de que tanto o Brasil precisa.

O outro Ministério - o do Desenvolvimento Agrícola - dos sem-terra, da agricultura familiar, que tem os recursos e que tem tentado, de uma forma ou de outra, fazer a inclusão social, às vezes financiando grupos que invadem fazendas, órgãos públicos, obstrução de estradas e outras que as Srªs Senadoras e os Srs. Senadores já conhecem.

O Ministério da Agricultura tem deixado a desejar, provocando o descontentamento da sociedade organizada do setor cooperativista, das federações de agricultura e da cadeia produtiva do agronegócio. Não consegue ultrapassar a barreira da burocracia e da incompetência de outros órgãos do Governo Federal.

Essa introdução, Sr. Presidente, é para relatar um fato concreto acontecido no Estado do Espírito Santo, fato esse de estarrecer a qualquer cidadão que tenha o mínimo de sensibilidade. Quero relatar o caso do Daniel, que trabalha desde os 18 anos de idade na atividade da mamocultura, inicialmente como terceirizado e, depois, organizando a sua própria cultura, seguindo a expansão do mamão no Estado do Espírito Santo. Mudou-se para o norte onde continuou trabalhando na lavoura de mamão com a experiência adquirida ao longo de 12 anos na atividade. Constituiu lavoura própria dentro dos padrões que o mercado requer. Contou, para isso, com importante apoio do Sicoob, Cooperativa de Crédito de São Mateus, banco do sistema de cooperativas de crédito que, acreditando em sua potencial experiência, emprestou-lhe, inicialmente, R$33 mil, com os quais juntamente com seus irmãos, Joel e Manoel, constituiu uma primeira lavoura de 15 mil pés de mamão em terras arrendadas.

Daniel conhecia muito bem a atividade, tanto a lavoura quanto o processo de comercialização dessa fruta, que possui um forte mercado nacional e internacional. Com sua experiência e seriedade, conduzia sua lavoura com grande zelo e eficiência, produzindo mamão de excelente qualidade. Por isso mesmo, a maior parte de sua produção era absorvida pela Distribuidora Sanches Comércio de Frutas Ltda., de São Paulo, que abastecia a rede do Grupo Pão de Açúcar daquele Estado. O restante de sua produção era comercializado com diversos outros centros consumidores do País, como Porto Alegre, onde Daniel abastecia o mercado local a partir de um box no Ceasa, adquirido para esse fim. O sucesso de Daniel permitiu que estruturasse seu negócio e expandisse sua atividade. Adquiriu trator, sistema de irrigação, veículos para uso na atividade, cinco alqueires de terra e um box no Ceasa de Porto Alegre, conforme já mencionado acima, para ajudar a absorver a sua crescente produção, que, no final de 2001, já contava com mais de 30 mil plantas entrando em fase de produção e mais 25 mil plantas em formação, gerando 40 empregos diretos na lavoura.

Daniel era um produtor independente. Construiu seu patrimônio sem se sujeitar ao grupo que controlava a atividade da mamocultura do Espírito Santo. Não buscou o financiamento da Associação de Produtores e de Exportadores de Mamão do Norte Capixaba nem tampouco tornou-se dependente dessas instituições para vender seu mamão.

A atividade da mamocultura no Espírito Santo é controlada por um grupo de grandes produtores que dominam todo o processo, desde a constituição da lavoura e quantidade produzida quanto a comercialização interna e externa da fruta, não permitindo que a atividade fuja desse controle.

Sr. Presidente, foi o Ministério da Agricultura, responsável pela fiscalização das culturas vegetais de valor econômico do Estado, através da então DFA, Delegacia Federal da Agricultura, que fiscais federais, certamente, atuando para atender a interesses escusos, destruíram a lavoura de Daniel, sem qualquer laudo técnico ou motivação maior.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Senador João Batista Motta, peço a V. Exª que conclua o seu discurso. V. Exª dispõe de mais um minuto.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - Sr. Presidente, estou concluindo.

O Ministério da Agricultura reconheceu o erro depois de concluso o processo administrativo disciplinar, demitindo os fiscais federais agropecuários, que atuaram diretamente no caso, a bem do serviço público, e punindo outros superiores hierárquicos.

Conforme foi amplamente caracterizado e comprovado na sindicância e no processo administrativo disciplinar instituídos pelo Ministério da Agricultura para apurar as irregularidades praticadas na erradicação da lavoura, a qual foi feita de forma totalmente ilegal e arbitrária, eliminou-se da atividade um produtor estabelecido de forma independente.

Foram, Sr. Presidente, 70 mil pés de mamão erradicados de forma ilegal, arbitrária e reconhecida pelo próprio Ministério, sem, no entanto, indenizar o produtor. Quer dizer, o Ministério causa prejuízo ao produtor, reconhece a culpa,...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Concederei mais um minuto a V. Exª.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - …como demonstrado no inquérito administrativo, pune seus fiscais com a demissão a bem do serviço público e depois diz ao agricultor prejudicado: “Se quiser, procure a Justiça. Lá você poderá ganhar a questão”.

Como V. Exª, Sr. Ministro, pode permitir que um fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura, com a conivência e com a participação de outros funcionários do mesmo órgão, ao arrepio da lei, como ficou demonstrado no inquérito administrativo, destrua não somente a plantação, mas a vida de um pequeno produtor de mamão, por não indenizá-lo dos prejuízos causados pelo seu Ministério?

            Hoje, o Daniel vive a sua via-crúcis, de favores de amigos, na luta incessante de buscar…

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Senador João Batista Motta, a Mesa lhe dará mais um minuto, improrrogável.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - ...buscar, no Ministério e noutros órgãos da Administração Federal, a reparação dos prejuízos causados diretamente pelo Ministério da Agricultura, a sua justa e devida indenização, para que possa recuperar a sua condição de cidadão pleno e voltar a fazer a única coisa que sabe na vida, que é ser agricultor.

Ao Ministério da Agricultura não basta a punição de funcionários que, investidos da autoridade pública e em nome da instituição, destruíram a cultura e a vida de um pequeno agricultor. É preciso indenizá-lo adequadamente, de forma justa.

A bem da Justiça, Sr. Ministro Roberto Rodrigues, é necessário que Daniel seja imediatamente ressarcido dos prejuízos causados pelas atitudes inconfessas e discricionárias dos funcionários do seu Ministério. Caso contrário, o Ministério estará exonerando-se de sua missão e do cumprimento de seu cívico dever.

O Ministério, com sua estrutura agronômica, não pode falhar diante desse episódio, sob pena de exonerar-se da história.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/07/2005 - Página 22180