Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao afastamento de integrantes do PT da Executiva Nacional por suposto envolvimento nas denúncias recentes de corrupção.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários ao afastamento de integrantes do PT da Executiva Nacional por suposto envolvimento nas denúncias recentes de corrupção.
Publicação
Publicação no DSF de 07/07/2005 - Página 22296
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, DEPUTADO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), COMPROVAÇÃO, PROPINA, MESADA, CONGRESSISTA, CORRUPÇÃO, VINCULAÇÃO, EMPRESARIO, PUBLICIDADE, IRREGULARIDADE, INDICAÇÃO, CARGO PUBLICO.
  • SUSPEIÇÃO, TRAFICO DE INFLUENCIA, ENRIQUECIMENTO ILICITO, EMPRESA, PROPRIEDADE, LUIZ GUSHIKEN, MINISTRO DE ESTADO, SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO DE GOVERNO E GESTÃO ESTRATEGICA, VINCULAÇÃO, FUNDOS, PENSÕES, COBRANÇA, PROVIDENCIA, GOVERNO, AFASTAMENTO, SUSPEITO.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há cerca de dois meses, o Ministro José Dirceu, em uma entrevista à revista Veja, deu a seguinte declaração: “Qualquer CPI minimamente competente pega o Delúbio e pega o Silvinho”. Portanto, aparentemente, o Ministro José Dirceu tinha uma bola de cristal, porque a CPI mal começou a funcionar, a CPI ainda não ouviu o depoimento nem do Silvinho nem do Tesoureiro Delúbio, e, assim mesmo, os dois já foram afastados pelo PT de seus cargos na Executiva Nacional do Partido. Foram afastados, Sr. Presidente, exatamente porque os indícios de que eles montaram um esquema de corrupção para arrecadar dinheiro público e pagar mensalão a Deputados e a Partidos políticos estão à vista de todos.

A cada dia, as provas são maiores. Ontem mesmo, houve uma declaração - aliás, uma nota oficial - do Deputado José Borba, Líder do PMDB na Câmara. Não se trata de um Deputado comum, mas do Líder daquele PMDB na Câmara, que estava no comando da negociação com o Palácio do Planalto para que aquele Partido ocupasse Ministérios. S. Exª disse simplesmente o seguinte: “Nós nos reunimos com o publicitário Marcos Valério e com os Líderes do PT para nomear cargos na Administração Federal”. Então, além de o Sr. Marcos Valério distribuir dinheiro e arrecadar dinheiro público, ele ainda nomeava nas estatais. Quem sabe ele não nomeou um Ministro ou algo assim para depois utilizar na arrecadação para o mensalão?

Não tenho a bola de cristal do ex-Ministro José Dirceu. Mas, se a tivesse, diria que o próximo dessa lista é o Ministro Luiz Gushiken. Primeiramente, ele comanda dois setores estratégicos do Governo, principalmente se for para utilizá-los para fazer arrecadação de recursos. Trata-se do setor da comunicação social - e todos já vimos o que está acontecendo - e do setor dos fundos de pensão. Na realidade, ontem, o próprio Deputado Roberto Jefferson, que tem sido o grande denunciador de todos esses atos do Governo, já disse que esse deveria ser o próximo setor investigado.

O Ministro Gushiken, na verdade, é - ou era - dono de uma empresa que, no ano de 2002, faturou R$151 mil. Trabalhando um ano inteiro, a empresa da qual o Sr. Luiz Gushiken é um dos sócios, faturou apenas R$151 mil. Se formos considerar o faturamento mensal, esse fica em torno de R$12 mil.

No final de 2002, o Presidente Lula ganhou a eleição, o Sr. Gushiken veio ser Ministro, e o que aconteceu com a sua empresa? Ele se afastou da empresa, que mudou de nome, e o faturamento subiu de R$151 mil, em 2002, para R$1 milhão, em 2003, e praticamente R$2 milhões, em 2002. Então, na realidade, o faturamento partiu praticamente de zero - R$151 mil -, em 2002, chegou a R$1 milhão, em 2003, e a R$2 milhões, em 2004.

Por que aconteceu isso? Porque o Ministro Gushiken se afastou para tomar conta dos fundos de pensão. E é exatamente para esses fundos de pensão das estatais e para os sindicatos que essa empresa - que ficou agora com o nome de Globalprev - presta serviços.

Há duas hipóteses. A primeira é de que o Ministro Gushiken é um incompetente, porque, enquanto ele estava na empresa, ela não crescia; bastou que ele saísse para que ela tivesse um crescimento admirável. Então, a primeira conclusão a que chegamos, Senador Heráclito, é de que ele era um incompetente; era ele quem atrapalhava o crescimento da empresa. A segunda alternativa é que ele estaria utilizando sua influência de secretário principal do Presidente Lula para fazer com que sua empresa aumentasse o faturamento.

Então, são duas alternativas: ou ele é incompetente, e, quando saiu, a empresa cresceu; ou é uma pessoa competente, mas se está utilizando da máquina pública para beneficiar uma empresa que era dele e que, agora, tem os seus dois ex-sócios como proprietários.

Portanto, em qualquer uma das duas versões, o Ministro Luiz Gushiken deveria ser afastado, antes que o Deputado Roberto Jefferson diga novamente: “Sai logo, Gushiken!” Penso que ele deveria ser afastado para se defender desse tipo de acusação. Se, posteriormente, ficar provado que é inocente, que não houve influência alguma dele e que, efetivamente, a empresa melhorou sua produtividade abrindo um novo mercado, em áreas em que ele não tinha influência alguma, ele voltaria para sua função. O Presidente Lula precisa reagir rápido, não pode demorar. Já estamos há seis semanas do início dessas acusações e, na realidade, Senador Marco Maciel, não se tomaram as devidas providências.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Sabemos também que o Ministro Gushiken toma conta ou supervisiona os fundos de pensão, os quais mobilizam bilhões de reais. Os principais fundos de pensão estatais movimentam R$110 bilhões de reais por ano! E os dois principais cargos na Previ, por exemplo, são ocupados pelo Sr. Sérgio Rosa e pelo Sr. Henrique Pizzolato, ambos por indicação do Ministro Gushiken. Na Funcef, a indicação foi do Ministro José Dirceu. Em Furnas, a indicação foi do Sr. Marcelo Sereno. Esse Sr. Marcelo Sereno, que não é nada no Governo, indicou o Presidente do fundo de pensão dos funcionários de Furnas.

Portanto, Sr. Presidente, há uma série de pontos.

O Ministro Gushiken diz que não conhece o Sr. Marcos Valério. Isso é pouco provável, porque o Sr. Marcos Valério era o operador do setor de comunicações, pelo lado do PT, e o Ministro Gushiken era o operador do setor de comunicações pelo lado do Governo. Se o Sr. Gushiken não o conhece, certamente seus auxiliares o conhecem. Portanto, fiz um requerimento, logo no início da CPI, para que o Ministro Gushiken venha depor. Considero esse depoimento importante para sabermos como funciona todo esse setor de comunicações no Governo.

Então, Sr. Presidente, o meu apelo final é para que o Presidente Lula tome logo uma providência em relação ao Ministro Gushiken. O Deputado Roberto Jefferson já está dizendo hoje que há operador nos fundos de pensão. Então, antes que o Deputado...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Peço a V. Exª que conclua, Senador José Jorge. V. Exª tem mais um minuto.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Encerrarei antes, Sr. Presidente.

Antes que o Deputado Roberto Jefferson mande demitir o Ministro, como fez em relação ao Ministro José Dirceu, aos diretores dos Correios e do IRB e aos diretores de Furnas, é importante que o Presidente Lula assuma o comando e diga ao Ministro Gushiken que venha à planície se defender. A partir daí, se ele for inocente, ele poderá voltar, e todos ficaremos de consciência tranqüila.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/07/2005 - Página 22296