Discurso durante a 106ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre ações do Partido dos Trabalhadores no poder.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre ações do Partido dos Trabalhadores no poder.
Publicação
Publicação no DSF de 08/07/2005 - Página 22580
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PROVOCAÇÃO, CRISE, NATUREZA POLITICA, GOVERNO FEDERAL.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, VINCULAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a história real e sincera da crise que um partido criou e envolveu a Nação não ameaça propriamente a democracia brasileira, que se tem mostrado superior ao plano de poder que um grupo petista um dia entendeu ser a prioridade do Brasil.

Para ser real e sincera, essa história começa por mostrar que esse desvairamento todo tinha sede no Palácio do Planalto, em ante-sala da Casa Civil e próxima do gabinete de trabalho (?) do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Para ser real e sincera, é preciso lembrar, e reafirmar, que a oposição brasileira tornou mais alta sua voz no momento primeiro, quando veio à tona para a Nação estarrecida a revelação do verdadeiro propósito daquela ante-sala.

            Por obra e graça do Ministro-Chefe mais importante do Governo, viu-se que ali, no outro lado da rua, aos olhos da Nação e na vizinhança dos dois outros Poderes da República, o Partido dos Trabalhadores tornou-se o controlador da jogatina, do jogo do bicho aos bingos.

Para fazer o caixa 2, quem sabe o 3 e um sem número de outros caixas eleitorais de um Partido que imaginou possível permanecer por três décadas governando desse jeito, o jeito deles, petistas.

Em tempo e a horas, a oposição fez o brado de alerta que lhe impunham a responsabilidade e a missão a ela outorgadas pelo povo, no vere dictum das urnas.

Sabe o Senado, sabe a Nação que a oposição fez uso das prerrogativas constitucionais para investigar, numa CPI, o Bingo do Palácio do Planalto. A ela impuseram todas as barreiras e dificuldades o PT, o Governo, sua base partidária e lamentável e incrivelmente a direção do Senado. O STF resgatou esse direito das minorias.

Pensaram que saíram vitoriosos. Vitória de Pirro, que eles não sabem que expressa tão somente uma conquista em que as perdas do vencedor são tão grandes ou maiores que a pretensa e ilusória idéia de vitória.

Rebentaram a pipoca e não perceberam que nem era pipoca. Era só piruá, aquele mururu que fica no fundo e que, agora, se transforma nesse novo e interminável rosário de desvios, roubos e empréstimos sujos.

É o piruá petista.

Naquele momento, quando o povo ficou inteirado das ações do bicheiro Waldomiro, na sede do Poder da República, quem perdeu foi a Nação. Por obra e graça - repito - do grupo petista de Poder.

O grupo petista seguiu em seu estranho, oculto, tenebroso e aético desiderato de Poder pelo Poder. E acabaram contribuindo, embora negativamente, com a língua portuguesa. O grupo inventou um sinônimo petista para corrupção: o Mensalão.

À História Real e Sincera incorporou-se mais lama, também com a cena do maço de dinheiro entregue a um diretor dos Correios. Apenas mais uma faceta da agora trágica trajetória de um Partido em que um dia o povo acreditou.

É possível que a cena, exibida centenas de vezes pela televisão, fique perene na lembrança dos brasileiros como emblema do Partido dos Trabalhadores. É a lembrança de um tempo que a população não quer que se repita.

Por um período, o noticiário do rádio, da tevê, dos jornais, as conversas nos lares, no trabalho e nas ruas vão predominar com esse tema caliginoso. Pelo menos enquanto durarem as investigações que haverão de apenar os culpados, expungindo-os para sempre da cena política nacional.

A História Real e Sincera desse episódio enodoa um partido, o criador de toda essa sujeira. Macula dirigentes governamentais, pela adesão. E atinge um Presidente, pela omissão. Queira Deus que não pela conivência.

Essa é uma História por enquanto com começo e meio.

A Nação - e não apenas a oposição - espera que chegue o Fim.

Era o que eu tinha a dizer.

Estou anexando a este pronunciamento, para que constem dos Anais do Senado da República, as notícias a seguir, extraídas da Folha de S.Paulo e de O Estado de S. Paulo.

 

*************************************************************************

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

*************************************************************************

Matérias referidas:

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/BANCOS

Total em financiamentos bancários foi de R$ 28 mi; R$ 8 mi são do Rural e BMG BB emprestou R$ 20 mi ao PT em dois anos de governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos dois primeiros anos do Governo Luiz Inácio Lula da Silva, o diretório nacional do PT obteve R$ 28 milhões em empréstimos de três bancos diferentes: Banco do Brasil, Banco Rural e BMG.

A maior fonte de financiamento bancário do partido nesses dois anos foi o Banco do Brasil, que permitiu, por meio de três contratos de leasing, a informatização dos diretórios petistas no país, com a compra de 5.000 computadores e 5.000 impressoras com copiadoras, fax e scanners.

Procurado ontem pela Folha, o Banco do Brasil se recusou a divulgar as garantias, os avalistas, as taxas de juros e quaisquer outros dados sobre os contratos, além de se negar a explicar se as parcelas estão sendo pagas em dia pelo PT. O banco também não informou se outros partidos políticos receberam empréstimos semelhantes e em que condições. A assessoria do BB alegou "sigilo bancário".

Segundo a revista "Veja" o avalista do contrato com o banco BMG foi o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, cuja agência detém parte dos contratos de propaganda do BB. O publicitário também pagou uma parcela do empréstimo, de acordo com a revista.

Déficit

O relatório da prestação de contas do Diretório Nacional do PT de 2004 registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e assinado pelo presidente da sigla, José Genoino, e pelo tesoureiro, Delúbio Soares, mostra que a decisão de contrair os seis empréstimos causou enorme déficit nas finanças do partido.

O patrimônio líquido da sigla, em 31 de dezembro de 2004, foi de R$ 24 milhões negativos. Isso significa dizer que, se o PT vendesse todos os seus ativos e recebesse todos os créditos ainda ficaria sem condições de cobrir o rombo.

O primeiro empréstimo contraído pelo PT na era Lula foi com o BMG, no valor de R$ 2,4 milhões, em fevereiro de 2003. Entre fevereiro e abril de 2004, o PT assinou três contratos de leasing com o BB, que somavam R$ 17,1 milhões em dezembro de 2004.

Em dezembro do ano passado, o partido obteve os dois últimos empréstimos registrados no TSE: um no Banco Rural, de Minas Gerais, no valor de R$5,1 milhões, e outro no Banco do Brasil, de R$3,5 milhões.

A Folha apurou que três contratos de leasing do PT com o Banco do Brasil foram assinados por Delúbio Soares e José Genoino e não tiveram avalistas. As garantias não teriam sido bens imóveis, mas a própria arrecadação do partido.

Os três empréstimos ainda não foram integralmente quitados. No ano passado, foram alvo de um processo aberto no TCU (Tribunal de Contas da União) a partir de uma representação do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). A apuração do TCU concentrou-se na taxa de juros. O senador queria saber se era compatível com a de mercado.

Os auditores, sem os dados de outras instituições, só puderam compará-las com as taxas do próprio banco. Como não constataram vantagem para o PT, o processo foi para o arquivo em abril deste ano.

Procurada ontem, a assessoria do Diretório Nacional do PT informou que o partido só vai se manifestar quando concluir "uma pesquisa nos anos de 2003 e 2004 na contabilidade do PT".

CLÓVIS ROSSI

A culpa de Lula

SÃO PAULO - Helmut Kohl foi o líder político que conduziu o processo de reunificação da Alemanha, tarefa ciclópica. Deu certo -claro que com os problemas inerentes à imensidão do desafio.

Kohl, portanto, é um formidável herói, cultuado por seus concidadãos, certo? Mais ou menos. Na verdade, Kohl está no ostracismo, mesmo agora que seu partido, a CDU (democracia-cristã) tem grandes chances de voltar ao poder.

Motivo: um escândalo em torno de financiamento irregular de campanha eleitoral. Familiar? Pois é. E o dinheiro, diga-se, nem foi para o bolso de Kohl. Pagou assim mesmo o preço político.

Por que, então, Luiz Inácio Lula da Silva deve ser inocentado a priori? Se há culpas no PT, como se deduz da pressão do próprio Lula para afastar a cúpula partidária, o presidente não pode ficar imune.

Não se trata, como no caso alemão, de suspeitar de que Lula tenha posto dinheiro no próprio bolso, mas de ter claro que as irregularidades de que são suspeitos os dirigentes do PT visavam beneficiar o partido, sim, mas o governo do partido também.

Digamos que Lula não soubesse de nada. É inocente por isso? Não. É culpado por omissão. No mínimo, por ter aceitado que outros líderes do partido aparelhassem o PT para agir em benefício do governo e da reeleição do principal líder petista.

Antes que os descerebrados adeptos da teoria da conspiração comecem a berrar, já vou avisando: não, não é o caso de impeachment. Pelo menos com o que se sabe até agora.

Mas já é, sim, o caso de uma distribuição adequada de responsabilidades. A defenestração da cúpula do PT pode ajudar o governo a sair da catatonia e a encontrar uma linha de defesa menos inepta, mas não basta para inocentar o presidente.

Lula tem o que fazer

 
A revelação de que pouco mais de um mês depois da posse do presidente Lula o publicitário mineiro Marcos Valério - apontado como o caixa do 'mensalão' - intermediou e avalizou um empréstimo de R$2,4 milhões do BMG ao PT, do qual ele viria a pagar uma prestação de R$350 mil, representa um golpe mortal na cúpula do partido. Os seus estilhaços alcançam o Palácio do Planalto. Era literalmente o que faltava para escancarar as relações espúrias entre o tesoureiro petista Delúbio Soares, outro avalista do financiamento, o 'homem da mala' seu comparsa e a administração com a qual ele celebrou (em mais de um sentido) contratos milionários tidos como possivelmente superfaturados pelo relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).

A evidência também atingiu em cheio o presidente do PT, José Genoino, que primeiro desmentiu o negócio ao qual dera o seu aval por escrito, depois jogou o vexame da participação de Valério nas costas de Delúbio e por fim disse que assinou o contrato sem ler. A nova denúncia alcançou também o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, que recebeu em palácio a diretoria do BMG, levada a ele pelo valoroso publicitário, para que a casa bancária aceitasse a transação pedida pelo partido. O encontro, sobre cujo conteúdo apenas se pode especular, foi um ato absolutamente incompatível com a função pública do chamado 'superministro' de Lula. Confirma a acusação do deputado Roberto Jefferson de que a verdadeira sede do PT funcionava no 4.º andar da sede do governo da República.

A história empesta ainda mais o cenário político, mas não muda a natureza do problema que os brasileiros não imaginavam que um dia iria desabar sobre o avalista por excelência da imagem de retidão do partido que sempre gravitou ao seu redor e em larga medida se nutriu do seu formidável carisma. Mas, no nível a que chegou, a crise deixa poucas escolhas ao presidente Lula. Para tentar salvar o seu governo e a sua biografia, não poderá se esquivar de algumas decisões patentemente difíceis e, por isso mesmo, politicamente heróicas. Elas dariam direção e substância à 'agenda positiva' que por enquanto não passa de uma expressão retórica. A sorte de Lula é que, para se lançar a tanto, ele dispõe da plataforma construída pela atitude responsável que a oposição vem tomando. 
Desde logo, bem faria o presidente 'de todos os brasileiros' se deixasse de socorrer o PT no seu momento da verdade. A hora é de deixar o partido fazer o que lhe aprouver. Um ato decerto sem precedentes - mas a crise o que é? Ao mesmo tempo, espera-se que, tendo enfim percebido a futilidade de tentar abafar as apurações dos malfeitos expostos, Lula instrua os seus no Congresso a desistir de vez do golpe de criar a CPI diversionista da compra de votos. Está claro que 'é tudo uma coisa só', como diz o deputado tucano Alberto Goldman: loteamento político e uso das estatais para irrigar o caixa 2 de partidos, tráfico de influência, venda de facilidades e suborno de políticos - corrupção, numa palavra. O caso dos Correios é apenas um fio da meada - ou a primeira peça desse puzzle 
que se vai completando mais rapidamente do que se esperava. 
No plano do governo, é tarde para pedir que a reforma ministerial ignore o recente acordão fisiológico do presidente com o PMDB governista. Por incrível que pareça, o negócio - que também é de compra de apoio, embora sem dinheiro - foi fechado quando já eram públicas as denúncias da criatividade do PT na matéria. 
Mas é outra a reforma que pode ser a salvação de Lula. Trata-se do saneamento da administração federal, o equivalente à limpeza das proverbiais cavalariças de Áugias. A mais extensa malha fina, com a máxima visibilidade, deveria ser lançada sobre os contratos passíveis de conter maracutaias, freando-se a execução de todos quantos mostrem indícios de irregularidades, sobretudo na área da publicidade oficial. Em paralelo, o Planalto começaria a 'despolitizar' a máquina, trocando políticos por técnicos e cortando cargos de confiança. 
Além disso, correspondendo à atitude positiva da oposição, que continua acreditando na inocência de Lula ('até agora nada indica que o presidente Lula tenha diretamente algo que ver com tudo isso', escreveu Fernando Henrique anteontem no Estado), ele poderia buscar uma pauta legislativa suprapartidária.

Tão ousado dever de casa talvez esteja além das forças do presidente. Mas, a esta altura, o que lhe resta?

Terça-feira, 5 de Julho de 2005

Globalprev paga aluguel à mulher de Gushiken  
Apesar de a casa-sede da empresa, que foi do ministro, pertencer à cunhada, quem recebe o pagamento é sua mulher

Carlos Marchi

Silvana Guaiume

A casa-sede da Globalprev Consultores Associados Ltda., empresa que pertenceu ao ministro Luiz Gushiken e à sua mulher, Elizabeth Leonel Ferreira, pertence à cunhada do ministro, Cristiane Leonel Ferreira, mas a empresa paga os aluguéis a Elizabeth. Desde janeiro de 2003, a Globalprev, que antes se chamava Gushiken & Associados S/C Ltda., ganhou inúmeros contratos com fundos de pensão de estatais.

Ontem, a Secretaria de Comunicação de Governo, da qual Gushiken é titular, emitiu nota assinada pelo ministro, na qual ele reafirma que deixou a empresa em 2002, mas admite que ela funciona na casa "de propriedade de pessoa da minha família" em Indaiatuba. Anteontem, a Secom não quis responder ao Estado se a casa pertencia a Gushiken ou a parente dele. Na nota, Gushiken negou ter feito indicações na área dos fundos de pensão, admitindo apenas que indicou Wagner Pinheiro para a presidência da Petros.

Apesar das reiteradas afirmações de que o ministro não tem mais vínculo com a empresa, foi uma assessora da Secom que informou ao Estado que a Globalprev também distribuiria nota ontem. A nota aportou no e-mail que o repórter dera à assessoria da Secom, que não era de conhecimento da empresa. A nota diz que o aluguel da casa é de R$ 1.479,68 mensais, mas não cita o nome do locador.

A assessoria da Secom admite que a casa pertence a Cristiane, cunhada do ministro, aduzindo que a Globalprev paga regularmente os aluguéis, não a Cristiane, mas a Elizabeth, mulher do ministro, proprietária informal da casa. E acrescenta que Elizabeth declara o recebimento no Imposto de Renda.

A Secom explica que, ao falecer, o pai deixou para Cristiane a casa à Rua Canadá, 203, onde funciona a Globalprev; e para Elizabeth a casa à Rua Oswaldo Cruz, 651, no centro de Indaiatuba. Depois as duas trocaram os imóveis informalmente.

Um sócio da Globalprev, Rafael Tadeu Ferrari, representado no contrato social pelo pai, Augusto Tadeu Ferrari, dá a casa da Rua Oswaldo Cruz como endereço , mas não mora lá. Augusto costuma se apresentar como sócio da Globalprev sem sê-lo. A família Gushiken morou na casa da Rua Canadá longo tempo, até se mudar para uma chácara, de onde foi para Brasília no início do governo Lula.

ALTERAÇÃO

Gushiken abriu a Gushiken & Associados em maio de 1999, depois de atuar na campanha presidencial de 1998. A empresa tinha capital inicial de R$10 mil e os sócios eram ele e Elizabeth. O objeto social declarado da empresa era "atividades de assessoria em gestão empresarial".

Em junho de 2000 os dois admitiram novo sócio, José Valdir Gomes, hoje diretor de Atuária da Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência, em cuja direção Gushiken instalou outro antigo assessor, Adacir Reis. Em dezembro de 2002, após Lula se eleger, nova mudança. Gushiken, Elizabeth e Gomes transferiram suas quotas a Wanderley José de Freitas e Rafael Tadeu Ferrari, representado por seu pai, Augusto Tadeu Ferrari. O objeto social da empresa passou a ser "serviços de organização de festas e eventos e treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial".

Em janeiro de 2003 a empresa aumentou seu capital para R$ 50 mil, divididos pelos dois sócios. O último movimento empresarial não está ainda concluído: em maio, os sócios requereram a constituição de nova empresa que se chamará Globalprev EDN Empresa de Desenvolvimento de Negócios Ltda., da qual serão sócios a Globalprev Consultores Associados, Wanderley e Ferrari, filho.

O Estado tentou conversar ontem com os sócios da Globalprev, sem sucesso. A secretária informou que Wanderley e Ferrari não estavam e não sabia se voltariam ontem. Não foi possível localizar Cristiane.

 

Terça-feira, 5 de Julho de 2005

TCU põe sob suspeita contratos da Novadata

Empresa de informática é de Mauro Dutra, velho amigo de Lula; valores chegam a R$ 161,4 milhões

Vannildo Mendes

BRASÍLIA - Quatro contratos firmados entre a Empresa Brasileira de Correios (ECT) e a empresa de informática Novadata estão relacionados entre os que contêm indícios de irregularidades. A empresa pertence a Mauro Dutra, um velho amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os valores envolvidos chegam a R$161,4 milhões e terão de passar por uma inspeção do Tribunal de Contas da União (TCU) para identificar responsabilidades e avaliar eventuais prejuízos. Só um dos contratos, o de maior valor (R$113,6 milhões), foi assinado no governo anterior, regido pelo pregão 042/2002, mas foi renovado pelo atual e encontra-se em vigor.

Todos os demais contratos foram firmados depois que o presidente Lula tomou posse, em janeiro de 2003. Os negócios de Dutra integram o primeiro lote de 21 contratos enviado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios e que apresentam sinais de irregularidades. Eles somam um volume de R$4,8 bilhões.

Os problemas, alguns de natureza formal e outros com suspeita de superfaturamento de preço ou de licitação dirigida, foram identificados no pente-fino que o TCU e a Controladoria-Geral da União (CGU) realizam na gestão da estatal desde a posse do governo Lula, a pedido do próprio presidente.

20% IRREGULARES

Ao todo, estão sendo analisados 600 contratos por uma equipe de 28 auditores dos dois órgãos, em tempo integral. Cerca de 100 desses contratos já passaram pelo pente-fino, o que dá uma média de dois contratos com irregularidades a cada dez analisados. Entre os que faltam passar pela checagem há pelo menos mais três com a Novadata ou com consórcios integrados pela empresa de Dutra.

Outra empresa a ser checada por inspeção do TCU é a Skymaster Airlines Ltda., uma das responsáveis pela Rede Postal Noturna (RPN), com a qual os Correios têm dois contratos em vigor, no montante de R$115,2 milhões. A empresa foi citada pelo presidente licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), como integrante de um dos esquemas de arrecadação do PT, que seria comandado pelo secretário-geral do partido, Silvio Pereira, que pediu afastamento ontem. O contrato teria sido renovado em 2004 por um valor 300% maior. A direção dos Correios nega que tenha havido irregularidade na licitação ou na renovação.

O contrato mais expressivo obtido por Dutra nos Correios, firmado em 2002, era de venda de kits de informática para a estatal em todo o País. A Novadata uniu-se à Positivo Informática no consórcio Alpha, para ganhar essa licitação. Em 2004, o mesmo consórcio ganhou o pregão 050 para aquisição de microcomputadores e notebooks, no valor de R$ 3,4 milhões. No início de 2005, firmou contrato, com dispensa de licitação, no valor de R$2 milhões, para prestação de serviços de manutenção de equipamentos.

CORREIO HÍBRIDO

Ainda em 2004, a Novadata, em parceria com as empresas ATP, Positivo e Hewlett Packard (HP), forneceu novos lotes de microcomputadores, descritos no pregão 057/2004, no montante de R$43 milhões. O maior de todos os contratos a serem analisados é a concorrência internacional 012/2002, no valor de R$4,3 bilhões, vencida pela BR Postal. Destina-se à implantação do Correio Híbrido, solução integrada para diversos serviços postais.

Também serão submetidos ao crivo do TCU dois contratos com a multinacional Unisys, no valor de R$ 63,4 milhões, por suspeita de irregularidades. A empresa teria sido pivô do escândalo envolvendo a estatal, conforme depoimentos colhidos pela Polícia Federal. Num deles, o ex-agente do SNI José Fortuna Neves revelou que a agência de inteligência do governo, a Abin, estava infiltrada nos Correios desde o fim do ano, a mando do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, para afastar a Unisys da estatal.

Dentro dos Correios, conforme Fortuna, a Abin se deparou com empresários de suas relações que estavam em rota de colisão contra o então chefe do Departamento de Compras, Maurício Marinho, flagrado em fita de vídeo recebendo propina.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/07/2005 - Página 22580