Discurso durante a 107ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Questionamentos a respeito da idoneidade de Luiz Gushiken.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Questionamentos a respeito da idoneidade de Luiz Gushiken.
Aparteantes
César Borges.
Publicação
Publicação no DSF de 09/07/2005 - Página 22774
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), TENTATIVA, DESVALORIZAÇÃO, DEPOIMENTO, SECRETARIO, EMPRESA DE PUBLICIDADE, DESVIO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PAGAMENTO, PROPINA, MESADA, CONGRESSISTA.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, PERIODICO, VALOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), SUSPEIÇÃO, CORRUPÇÃO, LUIZ GUSHIKEN, MINISTRO DE ESTADO, SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO DE GOVERNO E GESTÃO ESTRATEGICA, IRREGULARIDADE, GESTÃO, FRAUDE, PENSÕES.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador. ) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, já não é novidade para quem vem acompanhando o desenrolar desta crise que enlameia a história do PT de maneira irreversível que o PT tenha, através de uma técnica de diversionismo, procurado desviar a realidade dos fatos.

Quando vem um depoente à Casa prestar esclarecimentos, como foi o caso ontem da Sra Karina, antes de se tentar tirar dela o proveito de informações de quem viveu a intimidade do início de um ciclo vicioso envolvendo o até então virgem PT e a corrupção nacional, procura-se desqualificá-la, procura-se desviar os fatos.

Quando se potencializa na CPMI a participação do Deputado Roberto Jefferson no Programa do Jô Soares e cria-se um caldo de cultura em torno de uma nota, desvia-se da realidade dos fatos. Roberto Jefferson, Karina, Marcos Valério, são componentes de um teatro cujo ator principal é o dinheiro público, o seu desvio, e é atrás disso que o Brasil inteiro está: de saber realmente quem deu condições ao Sr. Marcos Valério de andar, se for verdade, com as malas, indiciando alas, partidos ou quem quer que seja.

Querer saber se a Sra Karina tem um parente que foi ou será vereador no Estado de Minas Gerais é um detalhe que pouco interessa. O que se quer apurar é se os fatos denunciados pela Srª Fernanda Karina Ramos Somaggio, são verdadeiros. E, ao que parece, pelo menos, o que está sendo posto, até agora, são. Não se pode exigir de uma secretária que tinha limitação no acesso aos fatos a perfeição do seu depoimento sobre eles. Mas o simples ato de mostrar os índicios e apontar para onde achá-lo, onde está a fonte, já é um grande serviço prestado à Nação. Mas isso faz parte da estrutura, da história do PT. Enfrentar os fatos, a verdade, Senador César Borges, neste momento, é o que menos interessa ao Governo, através dos membros que estão envolvidos nesse triste episódio. Porque, como já diziam nossos avós, a verdade dói.

Hoje, vejo uma matéria da Folha de S.Paulo, com o seguinte título, Senador César Borges: “Sob suspeita, Gushiken perde força e deve deixar o governo”. Eu esperava que o Ministro das Comunicações, poderoso, e sendo talvez a mais privilegiada fonte de informação do País, fosse prestar esclarecimentos claros sobre a sua participação e o seu envolvimento na gestão dos fundos de pensão e no privilégio dado a setores já conhecidos da publicidade nacional. Não quero entrar no episódio envolvendo o seu cunhado, porque não gosto de tratar de questões familiares.

José Linhares, quando Presidente da República, disse certa vez que tinha um grande conflito: os parentes lhe pedindo favores e os auxiliares dizendo que negasse. E ele disse: “O diabo é que os auxiliares são amigos transitórios; quando eu deixar o poder, me largam; os parentes vão me atazanar a vida inteira.” Talvez o Sr. Gushiken pense da mesma maneira. É um direito que lhe assiste.

A matéria conta que, em uma conversa dele com o Presidente da Republica, fazendo uma avaliação sobre os episódios, ele chegou, com o Presidente, à conclusão de que o banqueiro Daniel Dantas estaria alimentando um lobby no Senado para detoná-lo ou para criar esses fatos. Surpresa minha, aliás honrosa se verdade fosse, porque fico bem no cenário com as companhias - V. Exª, Senador César Borges e o Senador Antonio Carlos Magalhães, que, até onde sabia, tem relações cerimoniosas com o banqueiro baiano, seu conterrâneo. Mas o Sr. Gushiken diz isso. Talvez S. Exª esteja confundindo as coisas.

Já disse e vou repetir para todo o Brasil: vi o banqueiro Daniel Dantas, em toda a minha vida, três ou quatro vezes. Sou amigo do seu ex-cunhado e sócio Carlos Rodemburgo; sou amigo pessoal. Não sou lobista nem sou sócio; sou amigo. Não tenho a tradição de transformar amigos em meus sucessores em sociedades, aí sim, beneficiadas pelo governo. Não tenho a tradição de escolher amigos e nomeá-los para dirigir funções que influenciem o sistema de fundo de pensão. Não é o meu perfil.

Acho que o Sr. Gushiken deveria enfrentar, olho no olho, o Presidente da República, pedir-lhe desculpa, perdão pelo excesso de confiança que recebeu de Sua Excelência e não querer desviar os fatos, encontrando bodes expiatórios para os seus pecados. Parece que o perfil do Sr. Gushiken é o de um homem dengoso, que não gosta de ser contrariado. Foi assim todas as vezes. Conhecido como vazador das conversas reservadas do Palácio - é um direito dele, porque tem o acesso privilegiado -, quantas vezes comandou campanhas sórdidas, inclusive contra seus colegas José Dirceu e Antonio Palocci?

Ele nunca explicou à Primeira-Dama do País, quando, uma semana antes, teve uma pequena rusga palaciana, por que vazou para a imprensa aquela famosa estrela do jardim de Dona Marisa. Quanto àquela estrela, só têm acesso ao Palácio - pelo que sei - pessoas íntimas ou as máquinas fotográficas oficiais; ninguém chegaria a ver aquela estrela vermelha, cuidada com tanto esmero, num jardim privado.

É lamentável que queira o Sr. Gushiken transferir para terceiros o seu próprio erro. Aliás, um dos atos que tem tido costume - e é comum de quem tem acesso privilegiado e, no caso do Presidente Lula, parece que é um dos poucos - é levar as suas versões. E por ouvir apenas versões isoladas, o Presidente Lula começou a pagar o preço. O próprio Roberto Jefferson confessa que passou vários meses tentando avisar ao Presidente que um cordão sanitário colocado à sua volta não permitia que isso acontecesse.

O Sr. Ministro Gushiken faz confusão e vem falar de um episódio que eu pouco conheço, a não ser pela imprensa. Gushiken chegou a ser espionado por uma empresa, a Kroll, por orientação do orientação do banco de Dantas. Com muita lucidez, o Deputado Paulo Delgado, seu colega de partido, que considero insuspeito, uma das figuras mais lúcidas e respeitadas do PT - por isso mesmo colocado no ostracismo, por ter lucidez suficiente para prever e para apontar as crises -, em um artigo assinado pela competente jornalista Rosângela Bittar, do jornal Valor, faz uma reparação, Senador César Borges. Está no artigo:

À argumentação de que o processo envolve também questões de Estado [vejam bem, Excelências, é a famosa escuta], uma vez que teria sido espionado um integrante do governo federal, o deputado esclarece: "A origem do episódio é anterior ao nosso governo. O próprio ministro Luiz Gushiken (a autoridade citada), prejudicado no caso, era diretor de uma consultoria previdenciária dos fundos de pensão à época, e não ministro de Estado" [Leia-se lobista].

Se houve espionagem, na área empresarial, a um lobista, não pode ele misturar com a função de Chefe de Estado. E penso que o Sr. Gushiken, justamente tão ofendido com esse tipo de expediente condenável, estaria na obrigação de mostrar ao País a fita. Fala-se nessa fita, mas ninguém sabe, ninguém viu e ninguém vê. Só se lê sobre esses fatos na imprensa. Seria o momento de o próprio Presidente Lula dizer: “Chegou a hora da verdade. Quero ver a fita. Quero ver a fita de um ministro meu espionado!”. E aí tomar as providências mais sérias, mais duras e enérgicas contra quem a praticou. Mas não se pode basear o Presidente da República no disse-me-disse das mariquinhas que o cercam.

Estou fazendo esse pronunciamento, e aí fui ver no painel uma nota com o nome “Sai de baixo: Um integrante do governo” quer dizer, frase de fogo amigo, “compara a situação de Luiz Gushiken (Secom) com a de uma jaca mais que madura, no meio do caminho, entre o galho e o chão.” Cuidado, Gushiken, porque o seu chão é lama e dela você precisa sair. Mas saia com dignidade, se é que consegue, sem enlamear os outros, sem querer puxar ninguém para o seu atoleiro.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Senador Heráclito Fortes, V. Exª me concede um aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Concedo um aparte a V. Exª, Senador César Borges.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Senador Heráclito Fortes, agradeço-lhe, porque V. Exª me permite também comentar sobre esse assunto que foi motivo, hoje, de uma nota jornalística assinada pelos jornalistas Ana Flor e Kennedy Alencar. Desejo, inicialmente, até dar o benefício da dúvida ao Sr. Luiz Gushiken, porque não está aqui a declaração aspeada, significando que foi uma declaração dele ou do Presidente Lula. Mas a nota fala em uma conversa em que teriam sido apontados os nobres Senadores Antonio Carlos Magalhães, V. Exª e eu como aliados de Dantas. Então, eu queria lhe dizer, inicialmente, que sempre para mim é honroso estar na companhia de V. Exª e do Senador Antonio Carlos - todos conhecem minhas relações de amizade e minhas relações políticas com o Senador Antonio Carlos. No entanto, estamos, sempre parceiros e companheiros, em missões nobres para servir o nosso Estado, o nosso País. E essa observação me parece ser de alguém que não está numa boa fase, como a própria nota reconhece, um pouco acima, Senador Heráclito Fortes, quando diz que o Ministro coloca nas mãos do Presidente Lula, mas que, “se depender da vontade de seus familiares, ele deixará o cargo. Foi um desgastado Gushiken quem tomou a iniciativa de pedir a reunião com o presidente Lula”. Eu acho que ele deve atender, efetivamente, seus familiares, porque o que está na imprensa não é ação de ninguém a não ser do próprio Gushiken. Ele é responsável por ter feito uma empresa de fachada, que passou para seus sócios, que funciona na sua residência, e hoje quer passar para a opinião pública que essa empresa, que passou de um faturamento de R$60 mil para R$900 mil, é apenas obra da competência dos seus ex-sócios. Nisso, sem sombra de dúvida, ninguém acredita. Isso é tráfico de influência, como, aliás, não é privilégio do Sr. Gushiken nesse Governo. Parece-me que essa é uma prática comum. Tanto é, nobre Senador Heráclito Fortes, que sabemos - nós que estamos na CPMI dos Correios - que a presença da empresa SMP&B nos Correios deve-se a uma orientação que partiu do Sr. Gushiken, porque ela não tinha capital.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI ) - Por uma adulteração de regras de contrato.

O Sr. César Borges (PFL-BA) - Exatamente, de modificação das normas de procedimentos internos dos Correios. Então, quero dizer a V. Exª que estou muito tranqüilo. O Sr. Daniel Dantas é um baiano, e eu o conheço apenas como baiano. Poucas vezes travamos qualquer tipo de diálogo em ocasiões meramente formais e sociais. Da mesma forma, o Sr. Carlos Rodemburgo é uma pessoa que conheço. E não vejo nada que desabone esses dois cidadãos. Não tenho nada a favor nem contra. São pessoas baianas e que trabalham. Que as questões dele com o Governo se resolvam entre eles. Tanto eu como V. Exª e o Senador Antonio Carlos Magalhães temos inteira e total isenção sobre esse tipo de relacionamento. Assim, coloco-me aqui solidário, esperando que o Governo Lula possa tirar essas pessoas que não corresponderam à confiança do Presidente, como o Sr. Gushiken, e possa o Senhor Presidente assumir as suas responsabilidades que não foram assumidas por seus amigos, correligionários, como o Sr. Gushiken. Muito obrigado, nobre Senador Heráclito Fortes.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Meu caro Senador César Borges, quando entramos numa CPMI como esta, em que o Brasil todo busca a verdade, temos que estar preparados para fatos dessa natureza. Não me pegou nenhum sentimento de surpresa, Senador César Borges. Eu já tinha sido avisado por alguns companheiros, inclusive do Piauí, de que o PT tinha mandado pesquisar a minha vida, tinha mandado saber de algum deslize que eu tivesse cometido na minha vida pública, coisas dessa natureza.

Outro dia, fui surpreendido com uma funcionária de um Ministério sentada na cadeira dos jornalistas na CPI - sem exercer essa profissão - com a missão de investigar os que estavam ali, de pedir informações sobre os que estavam ali. A princípio, pensei que era sobre os investigados, mas não, era sobre nós Parlamentares. Uma funcionária do Ministério da Justiça, Senador. E um funcionário meu, ao perguntar o que tinha achado do patrão, ela me surpreendeu, porque nem eu me lembrava, nem sabia. Tinha encontrado nos seus apontamentos uma denúncia que foi feita contra mim, quando prefeito de Teresina, por usar a frase “unidos seremos mais fortes” na placa da Prefeitura. E a Justiça tomou a decisão de mandar retirar porque fazia ligação ao meu nome. Não sei por que esse processo está parado no Supremo. Caso de vida ou morte! Questão de Estado! Mas até que isso me prestou um benefício porque descobri que tinha essa pendência. Veja V. Exª como essa gente atua.

Quando comecei a criticar o Governo, Senador César Borges, recebi, para surpresa minha, uma intimação do Ministério do Planejamento me cobrando prestações de contas de uma ponte feita quando fui Prefeito em Teresina, há mais de 15 anos, alegando que a ponte não existia. Aliás, essa ponte é um dos orgulhos da minha administração, porque foi construída em 96 dias. E está lá! A simples fotografia mostraria. Mas é o expediente, é a maneira sórdida como esse pessoal atua.

Ontem mesmo V. Exª foi testemunha: quando se queria quebrar o sigilo bancário de alguns cardeais do PT, eles passavam de boca em boca a ameaça de quebrar sigilo bancário de ex-governadores e de atuais governadores dos Partidos de Oposição, como se aquela ameaça nos fizesse recuar da decisão.

Tudo isso é lamentável!

Mais lamentável ainda é que esses fatos passem ao largo do Presidente da República, que creio que precisa acordar enquanto é tempo. Será possível que temos culpa pela demissão dos diretores do Banco do Brasil, efetuada ontem ou anteontem, porque praticavam operações suspeitas com os bancos envolvidos - e indicados pelo PT - nos fatos que estarrecem a Nação e porque também faziam operações cruzadas, beneficiando os mesmos grupos, por meio dos recursos dos Fundos de Pensão?

Esses fatos precisam ser passadas a limpo, e a CPMI está aí.

Por fim, quero dizer ao Sr. Ministro Gushiken que, se há alguma pendência - vou encerrar, meu caro Presidente -, algum ranço com relação a esse grupo empresarial, alguma dúvida, a CPI da Privatização foi criada. Não queriam a CPI a Privatização? Vamos passar tudo a limpo. Estaremos nela, Senador César Borges. Não vamos abrir mão disso. Queremos passar essas coisas a limpo. E este é o grande momento.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Maguito Vilela. PMDB - GO) - V. Exª já excedeu o seu tempo em sete minutos. Concedo mais um minuto para que V. Exª conclua.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Agradeço a V. Exª.

Este é o grande momento de se saber quais são as missões ou o que faz de fato, como é a atuação do Sr. Sérgio Ricardo ou Ricardo Sérgio Rosa - não sei ao certo, porque às vezes confundo. O que ele faz? De maneira republicana ou de maneira não-republicana? O misterioso, aquele que é visto, no interior de Minas, de maneira humilde, de maneira modesta, para que a imprensa noticie os seus hábitos, mas que, nas suas fugas, como presidente desse fabuloso fundo, vai a Nova Iorque, faz negociações milionárias sem consultar a CVM, sem ouvir o Conselho e sem dar satisfações ao banco.

(Interrupção do som.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Essas coisas precisam ser passadas a limpo no momento certo.

Por último, quero dizer ao Ministro Gushiken que não lhe desejo mal algum. Tivemos uma convivência fraterna na Câmara dos Deputados, vi sua atuação eficiente e competente como membro da CPI dos Fundos de Pensão - já se vai muito tempo. Lembro que, no ano de 2002, ele entrou no Piauí com a sua Gushiken Associados para prestar serviços à companhia de habitação do Estado. Considerei muito estranho, porque vinha uma fundação do Rio Grande do Sul, mas aconteceu. Não fiz denúncia alguma. Se ele tiver, como diz a Folha de S.Paulo, o destino da jaca, que escolha o melhor terreno, se a lama ou o chão firme, mas que vá só e respeite os outros.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/07/2005 - Página 22774