Discurso durante a 108ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Ponderações sobre o episódio envolvendo apreensão de dinheiro em poder do assessor de deputado estadual filiado ao PT. (como Líder)

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Ponderações sobre o episódio envolvendo apreensão de dinheiro em poder do assessor de deputado estadual filiado ao PT. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 12/07/2005 - Página 23005
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • REITERAÇÃO, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AUSENCIA, TROCA, ACUSAÇÃO, PREJUIZO, POLITICA PARTIDARIA.
  • QUESTIONAMENTO, APREENSÃO, ILEGALIDADE, DINHEIRO, ASSESSOR, DEPUTADO ESTADUAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), SUSPEIÇÃO, CONLUIO, PREJUIZO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, ANALISE, CONFLITO, INTERESSE, POLITICA NACIONAL, REITERAÇÃO, APOIO, IMPORTANCIA, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AUSENCIA, PRIVILEGIO, MEMBROS, GOVERNO.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pela Liderança do Bloco de Apoio ao Governo. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu não poderia deixar de vir à tribuna no dia de hoje, em que pese estar com a boca anestesiada, com as palavras saindo pela metade. Vou tentar expor um pouco do meu pensamento principalmente quanto aos episódios desse final de semana.

Antes de mais nada, Sr. Presidente, num aparte feito ao Senador José Agripino, ficou muito claro que nós do PT não estamos nem um pouco interessados em fazer, no que se refere a qualquer fato que envolva qualquer pessoa de qualquer Partido político ou agremiação social, campeonato de acusação. Longe de nós. Isso está reiterado. V. Exª já o disse e responde pela vontade de todo o nosso Partido. Isso não vai ocorrer.

Fico, às vezes, pensando como é que as notícias chegam. A primeira notícia que tratou desse avião falava em menos de R$1 milhão - foi a primeira versão que ouvi. Depois, foi para R$20 milhões; agora, para R$6 milhões. Fico imaginando, no meio de tantas expectativas, como fica a cabeça de uma pessoa que não tem acesso à velocidade dos meios de comunicação.

A outra coisa é o que ocorreu com esse funcionário do gabinete do Deputado Estadual Guimarães, do PT do Estado do Ceará. Eu estava naquele momento em São Paulo, numa reunião a que ele também estava presente e percebi que houve, do momento da notícia à chegada de algumas das explicações, um verdadeiro baque, uma pancada no coração.

O Deputado nos trouxe a seguinte versão: esse funcionário, de fato, trabalha com ele e é filiado ao PT do Estado do Ceará há algum tempo. É um dos funcionários conhecidíssimos do PT do Ceará, pessoa sempre vista como ímpar no que diz respeito ao seu trabalho, e não havia jamais qualquer perspectiva de essa pessoa estar envolvida com qualquer cena dessa natureza

O que ocorre de estranho? Na quarta-feira da semana passada, pela manhã, ele teria feito uma ligação para o Deputado Guimarães, que já estava em São Paulo para participar dessas reuniões que tivemos. O Deputado conversou com esse funcionário como se ele estivesse em Fortaleza, tratando da sua agenda para esta semana que iniciamos. Essa versão do telefone está comprovada. A última vez que se falaram por telefone foi exatamente na quarta-feira de manhã.

Depois, ele saiu da cidade de Fortaleza dizendo que estava indo passar um final de semana prolongado na casa de seus familiares, na cidade de Aracati, porque estava muito cansado e gostaria de passar um final de semana mais tranqüilo. Foi essa a versão que ele deixou ao sumir da cidade. Todos imaginaram que ele teria ido para Aracati.

Depois que foi flagrado pela Polícia Federal com as malas de dinheiro e com dinheiro dentro das roupas, o intervalo de tempo entre a sua prisão e o telefonema que foi feito para a contratação de um advogado foi muito curto, de menos de trinta minutos. O advogado para quem ligou pertence a uma das bancas mais renomadas do Estado de São Paulo, uma das bancas mais caras do Estado de São Paulo. Não é para qualquer “bico” o acesso àquele apoio jurídico. Depois, fechou-se em copas. Não falou com ninguém, absolutamente com mais ninguém.

José Genoino tomou a iniciativa de pedir que os advogados do PT fossem conversar com ele, saber o que estava ocorrendo, e ele se recusa a falar com o advogado do PT.

Estamos aqui imaginando, Sr Presidente. Vamos dizer que o PT tivesse dinheiro guardado na sua sede e que estava querendo mandar o dinheiro para fora. Será que somos tão burros? Será que somos tão idiotas? Se tivéssemos dinheiro guardado dentro de mala na sede do PT iríamos mandá-lo por um “babaca”, para pegar um avião? Eu não admito. Não posso admitir que queiram nos transformar em imbecis desse quilate.

Sr. Presidente, eu gostaria mesmo que a Polícia Federal pudesse nos dizer a todos o que esse cidadão foi fazer em São Paulo e a mando de quem. Estamos querendo saber que notícia é essa. Ninguém mais do que nós está interessado. Tudo leva a crer que ou esse cidadão, durante esses anos todos, se tornou um agente duplo ou esse cidadão, em algum momento, foi convencido por alguém a prestar um grande serviço a não-sei-quem.

A que grande serviço me refiro? Naqueles dias, Delúbio e Silvio Pereira foram prestar esclarecimentos à Polícia Federal; naquele dia, estava reunida em São Paulo a corrente majoritária do PT chamada Campo Majoritária do PT, chamada Campo Majoritário, para avaliar a situação do Presidente José Genoíno. E era véspera da reunião do Diretório Nacional do PT, que tomaria determinadas deliberações a respeito do funcionamento de sua Executiva. É muita coincidência! Ninguém mais do que eu gostaria de ouvir a explicação da ligação desse cidadão.

Portanto, fique o PFL tranqüilo que, da parte do PT, esse tipo de insinuação jamais haverá. De nossa parte, não! E não falta esse tipo de conselho. Repito a V. Exª, Senador José Agripino, que, hoje pela manhã, me disseram que agora eu tinha uma boa matéria para fazer contraponto. Eu disse: “Contraponto coisa nenhuma! Estamos tratando de coisa muita séria, muito séria mesmo. Não vamos tomar esse tipo de atitude”.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - V. Exª me permite um aparte, Senador Sibá Machado?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Lembro que, na campanha eleitoral, um cidadão conhecido de muitos tentou sugerir que o PT fizesse uma peça de acusação de recursos financeiros do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, o que refutamos de imediato. Não vamos entrar nesse tipo de caminho. Sr. Presidente, infelizmente, estamos entrando em uma situação que é uma verdadeira onda de terror que quer acabar com a vida de pessoas, que é o que há de mais sagrado.

Ouço, com atenção, o aparte do Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Sibá Machado, V. Exª demonstra ser um homem sensato e equilibrado pelo fato de não ter acolhido o mau conselho que lhe deram de fazer o contraponto entre o que está ocorrendo com o PT e o que supostamente ocorreu com o PFL, pois V. Exª teria sido desautorizado por seu correligionário, o Senador Marcelo Crivella, que assumiu dessa tribuna, desse mesmo lugar, a propriedade e a legitimidade dos recursos pela declaração na Polícia Federal de Manaus, no Amazonas, e teria dito que o dinheiro pertencia à Igreja Universal do Reino de Deus. A única dúvida que o PFL tem e da qual não abre mão de ver investigada é por que o Deputado João Batista, que detém um mandato parlamentar que pertence ao PFL, acompanhava essa viagem. Isso não aceitamos, a menos que S. Exª venha a se justificar com propriedade. Mas o dinheiro, que é o dolo, o fulcro central, e talvez oferecesse o contraponto a que se referia V. Exª, já foi devidamente esclarecido pelo Senador Marcelo Crivella, que leu uma nota em que teria deixado V. Exª muito mal se tivesse estabelecido o contraponto casos do PT versus caso do Deputado João Batista com a Igreja Universal do Reino de Deus.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Agradeço o aparte de V. Exª e reitero que nós também não estamos nem um pouco dispostos a esse tipo de situação.

Sr. Presidente, peço a atenção de V. Exª para concluir meu pensamento no que diz respeito ao desafio da nova Executiva de nosso Partido. O Ministro Tarso Genro, que deve deixar a pasta em breve, assumindo a Executiva do Partido dos Trabalhadores, tem a missão de reiterar para os filiados do Partido, que são mais de 800 mil, e para a sociedade brasileira a correta e bem sucedida política externa do Governo Lula, de reiterar para nossos 820 mil filiados e para a sociedade brasileira a correta condução da política econômica do País pelo Presidente Lula, e de reiterar aquilo que a sociedade sugere que se avance ainda...

(Interrupção do som.)

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - ...mais, nas políticas sociais. Essa é a missão do novo Presidente, nosso querido companheiro Tarso Genro.

Gostaria também de frisar, Sr. Presidente, que não me sai da cabeça que há diversos tipos de interesse em jogo no cenário atual: interesses políticos, com a antecipação das eleições, pelo menos no debate a esse respeito; interesses na elucidação dos fatos que ocorrem, se há ou não ligação verdadeira no que se diz; interesses, quem sabe, do passado, de algum saudosista que pensa que há uma relação pejorativa, asquerosa, contra o Presidente Lula, por um operário de pouca escolaridade ter assumido a Presidência da República. E digamos que nessa junção de interesses, de pontos de vista que não se conciliam ideologicamente, mas que podem se conciliar, sem sombra de dúvida, em matéria ocasional, conjuntural, de dizer que...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/ PT - AC) - Mais um minuto, improrrogável, a fim de que V. Exª possa concluir, Senador Sibá Machado.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Agradeço a V. Exª.

            Diante de tudo isso, o Partido dos Trabalhadores está com a consciência tranqüila de que nosso papel na CPI dos Correios, na CPI dos Bingos ou na CPI do Mensalão, que será instalada, ou em qualquer outra CPI que vier a se instalar nesta Casa, é o de contribuir ao máximo a fim de que a elucidação seja feita em tempo recorde. E por que dizemos isso? Porque quem tem de responder publicamente somos nós, principalmente, pois nossos nomes foram citados. A ninguém mais do que nós interessa isso.

Concluindo, Sr. Presidente, acerca dos episódios da semana passada, por que houve tanto grito naquele momento? Porque ninguém é criança. Havia, naquele momento, uma condução meramente política. Não estávamos ali discutindo uma atuação imediata que precisava ser resolvida. Portanto, digo, em alto e bom som, para todo o Brasil: “Não temos medo de investigação”. E reitero: qualquer companheiro nosso que estiver envolvido, com certeza pagará com relação ao que a lei atribui a essa pessoa, seja no âmbito da...

(Interrupção do som.)

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - ...investigação policial ou no âmbito da investigação nesta Casa.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/07/2005 - Página 23005