Discurso durante a 108ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa da continuidade dos trabalhos do Congresso Nacional em julho. Críticas a ingerência do PT no governo.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONGRESSO NACIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Defesa da continuidade dos trabalhos do Congresso Nacional em julho. Críticas a ingerência do PT no governo.
Aparteantes
Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 12/07/2005 - Página 23007
Assunto
Outros > CONGRESSO NACIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, OBSTRUÇÃO PARLAMENTAR, PROJETO, LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTARIAS (LDO), OBJETIVO, CONTINUAÇÃO, TRABALHO, CONGRESSO NACIONAL, PERIODO, RECESSO, JULHO, AUSENCIA, ONUS, CONVOCAÇÃO EXTRAORDINARIA.
  • QUESTIONAMENTO, ESCLARECIMENTOS, SIBA MACHADO, SENADOR, ALEGAÇÕES, CONLUIO, APREENSÃO, DINHEIRO, ASSESSOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, ACUSAÇÃO, IRREGULARIDADE, EMPRESA, FILHO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ANALISE, POLITICA PARTIDARIA, ERRO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), APROPRIAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DEFESA, COMANDO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • IMPORTANCIA, AGILIZAÇÃO, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, TOTAL, DENUNCIA.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, minhas senhoras e meus senhores, nosso Partido está inteiramente certo em não permitir que esta Casa entre em recesso diante dos graves acontecimentos que o País vive. Não podemos votar a LDO porque não queremos autoconvocação, não queremos que o Presidente da República convoque, não queremos que os Presidentes da Câmara e do Senado convoquem, porque, assim, os Senadores e Deputados terão que ganhar ajuda de custo. E se prorrogarmos a LDO, como estamos fazendo, não vai se pagar a ninguém, e todos terão a obrigação de trabalhar.

Hoje é um dia incomum. Há poucos Senadores porque às segundas e sextas-feiras não há um grande comparecimento. Entretanto, alguns pontos devem ser tratados agora.

Em primeiro lugar, já expliquei que o caso do Parlamentar do PFL é muito diferente do caso do PT. O problema - e pediria a atenção do Senador Sibá Machado - é saber a origem do dinheiro, de onde veio esse dinheiro e, pelo discurso do Senador Sibá Machado, que hoje lidera o Partido dos Trabalhadores, evidentemente, houve uma conspiração contra José Genoíno; alguém fez tudo isso a fim de que José Genoíno perdesse a Presidência. Pergunto: por que os senhores aceitaram? Por que aceitaram derrubar o Genoíno assim, tão facilmente?

V. Exª quer me apartear?

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Sim, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Com o maior prazer, Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Antonio Carlos Magalhães, sobre esse fato, estávamos há duas horas de conversa, com todos analisando a importância de o Genoíno permanecer na Presidência do PT. Ele disse: ”Não façam nenhum cavalo de batalha. O que for melhor para todos eu aceito”. Foi exatamente nesse interstício que surgiu a notícia do cidadão com dinheiro dentro das roupas. Quando viu aquilo, ele disse: “Fico impossibilitado espiritualmente de continuar à frente do PT. Peço que vocês compreendam a situação”. Porém, a nossa decisão era a de que ele permanecesse. Temos certeza da inocência do Presidente do Partido, e de que não há qualquer ligação dele com esse tipo de episódio. Entretanto, ele disse: “Vou para casa. Preciso descansar. Estou muito cansado. Se necessário for, voltamos a tratar do assunto em outro momento”. Naquele momento, ele pediu encarecidamente que entendêssemos. Nós compreendemos e demos a ele o direito de ir para casa.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - A benevolência me faz aceitar o aparte de V. Exª e tomá-lo como verdadeiro.

Quero dizer, entretanto, que há casos graves no Partido dos Trabalhadores. Um deles - não desejo falar para não magoar a figura do Presidente da República - é o problema em relação ao seu filho. Aliás, penso que o filho do Presidente Lula é menos culpado do que a empresa que tentou suborná-lo ou que o subornou. Como esse fato é muito pessoal, não quero tratar do assunto antes de ficar totalmente elucidado, mas tem que ser elucidado. A Telemar não colocaria esse dinheiro gratuitamente. Não é isso que os homens ricos fazem, e a empresa só tem homens ricos. Portanto, não trato desse caso em respeito à figura do Presidente da República, mas vai ser tratado.

Quero tratar principalmente dos fundos de pensão, que darão muita dor de cabeça a V. Exªs, porque é aí que está a principal ação dessas figuras que estão desmoralizando a política no Brasil mediante compra de votos.

As coisas que acontecem com esse Marcos Valério... Já se tem elementos de sobra para colocá-lo na cadeia. E o que se publica? Que ele tem o telefone do meu gabinete. O telefone do meu gabinete todo mundo pode ter, até um ladrão como Marcos Valério, mas nunca recebi telefonema dessa figura, nunca o conheci nem quero conhecê-lo, a não ser quando o vejo na CPI pagando o preço da sua desonestidade.

O mal do Partido de V. Exª foi ter confundido Partido com Governo; e, quando se confunde Partido com Governo, o resultado não é outro.

Agora, o que se vêem? Os derrotados. O Presidente Tarso Genro não é um derrotado; é um homem até de valor, não há dúvida, Sr. Presidente. Mas o Delúbio é realmente um ladrão, está mais do que provado. O Sílvio Pereira era um distribuidor de cargos para roubar. Esses foram expulsos. Logo depois, veio o Deputado José Genoino. É uma crueldade com ele. V. Exªs foram pouco corretos, pouco amigos e pouco solidários com o Genoino.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Já terminarei, Sr. Presidente.

Mas apuraremos tudo aqui. Este mês tem que ser de apuração de todos esses casos. Quantas CPIs forem necessárias devem ser feitas. Faz-se depois uma grande CPI, mas vamos investigar tudo nas CPIs que estão já formadas para não haver atrasos. A CPI dos Correios já poderia estar muito mais adiantada se fosse pela vontade de alguns Senadores e Deputados que dela participam. Mas, infelizmente, a direção - que é de um homem de bem, o Senador Delcídio Amaral - tem sido pouco ativa em colocar as coisas nos devidos lugares.

Quem perde com isso é o Congresso Nacional. Os políticos passam a ficar desmoralizados na rua. Nós todos ficamos igualados àqueles que recebem mensalão. Que o mensalão existe, o Presidente Lula sabia. Isso ninguém pode ignorar. Tenho certeza de que a carta do Sr. Marconi Perillo, já que ele não quer vir pessoalmente depor, vai provar isso, porque ele avisou - assim como Miro Teixeira e Roberto Jefferson avisaram. Então são três pessoas que avisaram ao Presidente há muito tempo. De certa época em que ele recebeu o aviso, mandou suspender, mas já estava muito em curso, tinha mais de dois anos de mensalões. E agora vem a Presidência do PT dizer que vai monitorar os seus ministros.

Veja que independência vai ter este Governo, que já começa com o PT comandando. Mesmo que monitorasse, que não tornasse público para não desmoralizar as figuras que estão sendo nomeadas hoje pelo próprio PT. E, mais ainda, se eles vão vigiar, vão vigiar também os ministros do Renan Calheiros e do José Sarney, do PMDB. Serão todos vigiados, porque não é justo que só vigie e monitore os homens do PT. É justo que monitore todo o Governo, já que o Partido monitora, e o Presidente não comanda.

V. Ex.ª há de ver que, para haver monitoração do Partido, é porque o Presidente da República não comanda os seus ministros. Se ele comanda, não precisa de monitor; se ele não comanda, é preciso de monitor, e o Tasso Genro já se colocou como esse monitor.

Meus amigos, eu tenho muito interesse em que essas coisas fiquem logo claras, que tudo fique certo para o Brasil encontrar o caminho. Ninguém mais pode ficar aceitando as coisas que ocorrem.

Eu teria muito mais a falar, mas, obediente que sou ao Presidente, terminarei. Amanhã, se possível, voltarei para debater com V. Ex.ª certamente esses assuntos que são do interesse não meu, mas do País. O Brasil não pode continuar com o Governo que está. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/07/2005 - Página 23007