Discurso durante a 110ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre a atual situação política do país.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Reflexão sobre a atual situação política do país.
Publicação
Publicação no DSF de 14/07/2005 - Página 23971
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, DEMOCRACIA, BRASIL, GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL, ATUALIDADE, IMPORTANCIA, SENADO, PRESERVAÇÃO, ESTADO DEMOCRATICO, NECESSIDADE, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, AUSENCIA, PRIVILEGIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RISCOS, CASSAÇÃO, DENUNCIA, TRAFICO DE INFLUENCIA, ENRIQUECIMENTO ILICITO, FILHO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, disponho de dez minutos e de mais dois minutos, regimentais. E, com o coração do Maranhão, terei mais três minutos, totalizando quinze minutos.

Sr. Presidente, cumprimento V. Exª, as Srªs e os Srs. Senadores, as brasileiras e os brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

Senador Gilberto Mestrinho, o nome de V. Exª, que vem do Amazonas, deveria ser - mestre foi Cristo - Mestrão, de tanta experiência e sabedoria sobre a democracia.

Este é o momento de fazermos uma reflexão: por que estamos aqui e para onde vamos, Senador Luiz Otávio?

Estamos aqui, mas, no meu tempo de escola, este seria um dia de férias: 13 de julho. No meu Piauí, Luiz Otávio, no delta, é verão, e nós estamos aqui, numa vigília democrática.

Senador Gilberto Mestrinho, o mundo foi sintetizado pelo filósofo Aristóteles, que disse que o homem é um animal social. Se não vive em sociedade, não é homem. Na sociedade, buscou-se uma forma de se viver bem e a essa forma política se chamou governo. Senador Luiz Otávio, buscaram-se todas as formas de governo.

Senador Eduardo Suplicy, desligue o telefone, porque o PT não tem nada a lhe ensinar. Quem tem somos nós.

Winston Churchill disse que a democracia era ruim, mas que não havia nada melhor do que ela. Então, Saturnino, temos que vivê-la. Winston Churchill não tem.

O povo, insatisfeito com as formas de absolutismo, foi às ruas e gritou: “Liberdade, igualdade e fraternidade”. Caíram todos os governos totalitários, absolutistas, simbolizados pelos reis. Todos caíram. A isso chamaram de república, que Abraão Lincoln definiu como o governo do povo, pelo povo e para o povo.

Nós, cem anos depois, adotamos a república, e está aí um dos que trabalharam por ela.

Senador Luiz Otávio, sou orgulhoso do Piauí, porque, 17 anos antes da Proclamação da República, lá havia um jornal chamado Oitenta e Nove, de David Caldas, na libertária Teresina, primeira capital planejada deste País. Inspirava-se na Revolução Francesa e foi justamente em 15 de novembro de 1889 que se instalou-se a nossa República. Deve-se isso ao Piauí. Nós viemos antes. Como agora, vamos ensinar o PT. Essa tem sido a nossa destinação.

Permanecemos na democracia. Senador Leite, o País saiu algumas vezes dela, e uma dessas ocasiões foi durante a ditadura civil de Vargas. Ele era um homem bom, trabalhador, competente, mas ditadura não é bom. Está aí o livro Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, que tão bem conhece o Senador Antonio Carlos Valadares.

Depois, houve uma ditadura militar recente, a respeito da qual falam os livros de Elio Gaspari: Ditadura Derrotada, Ditadura Envergonhada e Ditadura Escancarada. Então, não foi bom. O melhor é a democracia, que, como disse Churchill, é ruim, mas o homem não descobriu coisa melhor.

O Senado está aqui há 181 anos.

A democracia foi golpeada, sofreu dificuldades, mas quero crer, Senador José Agripino, que acompanhou muitas crises, que nenhuma foi tão grave como esta, nem mesmo aquela que fez Rui Barbosa deixar o Governo, quando os militares queriam se suceder no poder: Deodoro, Floriano, Marechal Hermes e outros militares. Ele disse que estava fora, inventou a campanha civilista, para não participar da ditadura militar, e disse a célebre frase, quando o convidaram para permanecer como Ministro: “Não troco a trouxa das minhas convicções por um Ministério”.

Senador Mestrinho, talvez V. Exª estivesse presente quando um homem, diante do mar de lama deste País, bradou daqui: “Será mentira a viuvez, o crime, a morte, a orfandade?” Afonso Arinos denunciava o Governo Vargas, e este viu que a verdade não se esconde, envergonhou-se e teve a coragem de deixar o Governo daquela maneira. Mas não foi contra a democracia.

Assumiu Café Filho, não assumiu Carlos Luz, e este País sempre esperou, ao longo da História, a decisão do Senado, que tem sido, nesses 181 anos, o poder moderador. Malis minus, Senador Luiz Otávio, dos males o menor. Graças ao Senado, não há guerra civil, e é com essa mesma inspiração, com esse mesmo estoicismo que estamos aqui. Lula mandou fechar, mas estamos aqui, como alunos indisciplinados, na aula, sem calendário.

Quis Deus que agora chegasse Arthur Virgílio, com o espírito libertário e democrático do seu pai, que foi Senador.

Devemos ficar em vigília porque o Brasil nunca dantes teve tanta imoralidade e tanta corrupção nos seus 505 anos. Nunca, Saturnino, nunca. Ó Maguito, nunca. Não venha mais defender o indefensável, não. V. Exª pode ter mais liderança, mais tamanho, mais esporte, mas a História do Brasil eu acompanho. Nunca dantes houve tanta sem-vergonhice, tanta roubalheira, tanta safadeza, tanta indignidade.

Getúlio, em uma época menos ruim que esta, foi levado ao suicídio; outros renunciaram; outros foram cassados. E esta é a vigília.

O que pensa o Senado? Mestrinho, vou transmitir à Nação: este é um poder moderador. Eu os conheço, os 81, e talvez mais do que todos, porque sou médico e estudei Psicologia. O que deseja cada um é salvaguardar a democracia. Não vai partir daqui nenhuma acusação ao Presidente Lula. Queremos salvaguardar a democracia.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador Mão Santa?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Permitirei. V. Exª pode usar o art. 14, para eu não perder tempo, e ainda tem o corporativismo do Partido que está na Presidência, do Saturnino.

Então, o que se pensa aqui? Salvaguardar a democracia, que não tem nada a ver com o PT. O PT não tem nada com a democracia. A sua origem é aliada aos partidos da ditadura. Mas, cuidado, atentai bem: se aparecer algo lá fora que comprometa o Presidente da República, este Senado o cassará. Serão 50 contra 30.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu sei a votação. Eu a conheço.

Disponho de dez minutos mais dois, pela lei.

O SR. PRESIDENTE (Roberto Saturnino. Bloco/PT - RJ) - Senador Mão Santa, estou concedendo a V. Exª dois minutos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não, não, o Regimento me permite dez mais dois, doze. Aí, vou pedir a generosidade de V. Exª, que foi um extraordinário Prefeito do Rio de Janeiro, que pode mandar dois.

O SR. PRESIDENTE (Roberto Saturnino. Bloco/PT - RJ) - A generosidade tem que ser dada a V. Exª e também aos demais oradores inscritos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Como no futebol, desconte o tempo do nosso papo.

Atentai bem: se surgir, forte como o Watergate, o Lula será cassado aqui! De 50 a 30, eu os conheço. Sua Excelência não tem maioria aqui. Esta é a Casa dos pais da Pátria. Ninguém quer, ninguém deseja isso, mas atentai bem: é muito grave o que a Veja e a Folha de S.Paulo disseram, atingindo a própria família do Lula. É muito grave que o filho de Sua Excelência, em uma sociedade... Olha o tráfico de influência! De um capital ínfimo de R$10 mil para R$200 mil; Telemar, que indiretamente é Nação; 25% do BNDES; são as investidoras, as imorais de Seguro: a Previ, a Petros, o seguro da Caixa Econômica. Então, essa é a razão de este Senado estar em vigília.

Mas já está chegando o final, porque a hora é essa. Senador Maguito Vilela, disse o meu patrono, Francisco de Assis, o santo, que “onde houver erro, que eu leve a verdade”. E a verdade é que este País, na sua generosidade e na sua sensibilidade...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Roberto Saturnino. Bloco/PT - RJ) - Senador Mão Santa, darei a V. Exª um minuto a mais, esperando que V. Exª conclua o seu pronunciamento.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Cristo, em um minuto, fez o Pai-Nosso. Então, vou aproveitar também para rezar: Ó Deus, ó Cristo, abençoe este País. Que saibamos buscar aquela pregação do próprio Cristo, que disse: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Essa é a fome do povo do Brasil! Eles querem justiça! Eles querem a busca da verdade! Este País só pode ter rumo, só pode ter perspectiva, só pode permanecer com aquele símbolo positivista de “Ordem e Progresso” se aceitarmos a verdade. E a verdade está aí. Será mentira o Waldomiro? Será mentira o carequinha bilionário? É muito dinheiro.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Roberto Saturnino, governei o Piauí - Odacir Soares também governou o seu Estado - e a dívida do Piauí era de R$ 1,2 bilhão. No entanto, pelas mãos do carequinha do PT passaram mais de R$ 2 bilhões nesses últimos meses. Isso é um mar de vergonha. Estamos, como Castro Alves, no desespero. Ele se inspirou, no desespero, no que diz respeito à libertação dos irmãos escravos, e disse: “Ó Deus, onde estás, diante de tanta desgraça?” Essas são as nossas palavras aos céus e a Deus. E que Deus dê a este Senado a inteligência, a competência e a firmeza para que este País continue na paz, porque é através da paz que vamos levantar a Bandeira onde está escrito “Ordem e Progresso”.

Nossa gratidão.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/07/2005 - Página 23971