Discurso durante a 110ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solicita demissão do Diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Mauro Marcelo. Defende sua convocação à CPI dos Correios, por motivo de mensagem que circulou na rede interna da Abin, criticando atitudes dos membros da CPI e o trabalho da comissão. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Solicita demissão do Diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Mauro Marcelo. Defende sua convocação à CPI dos Correios, por motivo de mensagem que circulou na rede interna da Abin, criticando atitudes dos membros da CPI e o trabalho da comissão. (como Líder)
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 14/07/2005 - Página 23975
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • DENUNCIA, DESRESPEITO, MEMBROS, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), CORRESPONDENCIA, DIRETOR GERAL, AGENCIA BRASILEIRA DE INTELIGENCIA (ABIN), NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS.
  • DEFESA, CONVOCAÇÃO, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), AUTORIDADE, AGENCIA BRASILEIRA DE INTELIGENCIA (ABIN), QUESTIONAMENTO, OBSTACULO, INVESTIGAÇÃO, CONFLITO, GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEMISSÃO, DIRETOR GERAL, AGENCIA BRASILEIRA DE INTELIGENCIA (ABIN).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estou em mãos com um documento estarrecedor. Trata-se de uma mensagem, que me parece interna, assinada pelo Sr. Mauro Marcelo de Lima e Silva, Diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência - Abin, dirigida certamente aos seus comandados.

É claro que ele vai alegar que se trata de uma mensagem interna e é claro que vou rebater que as pessoas devem ter compostura interna e externamente. Ele vai alegar que tratava com os seus subordinados, e eu vou alegar que, se ele não tem compostura ao tratar com os seus subordinados, ele não tem compostura para tratar com o Brasil. Mais um pouquinho, ele escrevia palavras de baixo calão nessa mensagem.

Vou ler alguns trechos, Senador Antonio Carlos Magalhães.

Diz ele, tentando proteger o Sr. Lange, que fez tudo para evitar o depoimento do Sr. Lange à CPI. A ele se refere o que seriam os estragos na imagem profissional do Sr. Lange. Mais adiante, ele diz: “Neste exato momento, o que devo fazer é elogiar a conduta do profissional Lange, como um verdadeiro herói ao enfrentar as bestas-feras em pleno picadeiro”. As bestas-feras seríamos nós, os Parlamentares.

Depois, ele critica a AGU, refletindo uma luta interna.

Com muita honra, concedo o aparte a V. Exª, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Também tratarei desse assunto. E quero dizer que esse delegado é uma pessoa amiga pessoal do Presidente da República e foi colocado na Abin justamente para apagar a figura do General Félix, que se submete a isso na Abin. Esse é quem manda, hoje, na Abin. Como não tenho medo, nem V. Exª, nem ninguém aqui, do Sr. Delegado Mauro Marcelo, que, aliás, foi ao meu Gabinete, quando foi tomar posse, quero dizer que a besta-fera ele encontra no Palácio do Planalto. Não é aqui, nesta Casa, que ele encontra. Isso o Presidente Renan Calheiros deve oficiar para o Presidente da República, defendendo o Congresso e a CPI.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Antonio Carlos.

Bestas-feras no Palácio do Planalto, a exemplo do Waldomiro Diniz, dadas a práticas escusas em matéria de dinheiro público.

            Em desenho-animado, besta-feras geralmente matam, praticam maldades, mas eu me refiro a bestas-feras de outro tipo. O Sr. Mauro Marcelo me parece um trêfego, parece-me uma figura de pouca estabilidade emocional.

Tenho, Presidente Roberto Saturnino, algumas implicâncias na minha vida. Por exemplo, com quem dá entrevista para a imprensa e aceita fazer aquele retrato com a mão no queixo. Para mim, morre! Se o repórter disser: “Agora, coloca a mão no queixo”. Eu digo: “Não coloco. A mão no queixo eu não coloco. Já implico um pouco com aquela postura “assim”, aquela já é bastante grotesca. Essa do queixo é terrível. Tem uma dele, empossado; ele diz assim: “Agora sou um homem de absoluta importância, devo, portanto, adquirir maneirismos”. E cheguei a dizer isto na imprensa: “Que coisa estranha, ele começa mal, porque ele tira fotos com a mão no queixo. Não é bom”.

Nenhum cargo público deve deformar os hábitos de quem quer que seja. E algumas providências se impõem. A primeira - e essa recomendação já foi feita à Bancada do PSDB, à Bancada das Oposições, PFL e demais Partidos, na CPI - é a convocação do Sr. Mauro Marcelo e do General Félix, para que possamos ver até que ponto as investigações não estão sendo obstaculizadas pela via dessa briga interna, tola, estulta que se passa por lá.

A outra, Sr. Senador José Agripino, é nós, daqui, cobrarmos veementemente ao Presidente da República, e o preenchimento do cargo de Diretor-Geral da Abin passa pelo Senado da República, se não podemos demiti-lo, já que podemos assentir ou não com a nomeação dele, mas não podemos demiti-lo, cobrarmos nós a demissão do Sr. Mauro Marcelo pelo Senhor Presidente da República, por falta de compostura para dirigir órgão tão importante da administração federal.

E uma terceira providência: convocarmos para a Comissão Especial da Abin o Sr. Mauro Marcelo, para que ele venha aqui se explicar. Ele pode dizer: “É documento interno”. Em documento interno ou documento externo, o homem público deve ser elegante o tempo inteiro. Deve ter cobro, deve ter sobriedade, deve ter respeito aos seus subordinados...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ...e deve ter noção de que tudo que ele escreve vai para arquivos e está fazendo parte do acervo histórico do País.

Portanto, é lamentável, e diz muito bem o Senador Antonio Carlos, chamar de bestas-feras pessoas que querem investigar os mal-feitos e os casos de corrupção que transformam em algo purulento o Governo que aí está. Isso é um pouco demais. Nós queremos, portanto, devolver para o Sr. Mauro Marcelo...

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte, Senador Arthur Virgílio?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com muito prazer.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - É bastante rápido. Concordo com V. Exª que, na realidade, ele deve vir aqui se explicar na Comissão que acompanha o trabalho da Abin. Como sou membro dessa Comissão, na condição de Líder da Minoria - é uma Comissão pequena, são apenas seis Parlamentares -, vou fazer a convocação para que ele venha aqui se explicar o mais rápido possível. Penso que é a sugestão correta. Ele já esteve, há 15 dias, na Comissão, mas falando sobre outro assunto, sobre a questão dos Correios. Mas agora podemos convocá-lo para falar exatamente sobre esse assunto.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Perfeitamente, Líder José Jorge.

Finalizo, Sr. Presidente, dizendo que ele pode até não vir. O Presidente da República o demite em atenção ao Senado. O Presidente da República tem a maior dificuldade para demitir corruptos. Ele sempre inventa umas amizades, um apego sentimental a corruptos já bastante declarados. Espero que ele não seja cheio de dedos para demitir quem considera o Congresso um antro de bestas-feras. Não tem cabimento manter no Governo alguém com essa falta de compostura, alguém com essa falta de seriedade, alguém com essa falta de apreço pelo representante do povo brasileiro, que é o Congresso Nacional.

Portanto, eu poderia dizer: “Besta-fera é V. Exª”. Prefiro dizer outra coisa. A depender de mim, Sr. Mauro Marcelo, o senhor vai sair da Abin e acabará essa prática...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - …de ficar bisbilhotando a vida de pessoas quaisquer sem autorização judicial.

A partir de mim, vai acabar essa sua tentativa de transformar em SNI de ditadura aquilo que deveria ser o serviço de inteligência de uma democracia. O senhor, Sr. Mauro Marcelo, está abaixo desse cargo, como este Governo está abaixo do que a Nação quer. O senhor está abaixo do que esse cargo exigiria do senhor e este Governo do Presidente Lula está muito abaixo do que se pode imaginar como expectativa de ética e de seriedade ao conduzir a coisa pública.

Portanto, se o Presidente Lula tem que se arrastar até 2006, que não arraste junto com ele - seria uma tragédia - o Sr. Mauro Marcelo de Lima e Silva que, com certeza, não é parente do Duque de Caxias. Se Deus quiser, não é parente do Duque de Caxias. E que ele, por favor, não venha aqui se virar ex-Diretor-Geral. Que venha aqui urgente, Senador José Jorge, se o Presidente Lula demonstrar dificuldades, por afeto, tendo em vista que ele já foi seu segurança em eleições, se demonstrar vontade de mantê-lo. E se ele vier aqui, vamos deixar bem claro, ele entra na nossa audiência como Diretor-Geral e sai da audiência conosco como ex-Diretor Geral.

É um compromisso para todos nós assumirmos. Ele entra como Diretor-Geral e sai daqui, com a sua arapongagem toda, como ex-Diretor-Geral, porque sua permanência é absolutamente inaceitável. E vamos fazer com a posição dele o que eu faço, neste momento, com este documentinho (rasga o documento) dele que não merece ir para os Anais da Casa, porque pertence ao lixo da história e à lembrança de uma ditadura que nunca mais se vai implantar numa República democrática como a brasileira, Sr. Presidente.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/07/2005 - Página 23975