Discurso durante a 109ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Balanço deste semestre legislativo. Considerações a respeito da crise do PT. Trabalhos desenvolvidos pela CPMI dos Correios. Posicionamento das Oposições diante da atual crise política. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Balanço deste semestre legislativo. Considerações a respeito da crise do PT. Trabalhos desenvolvidos pela CPMI dos Correios. Posicionamento das Oposições diante da atual crise política. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Azeredo, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 13/07/2005 - Página 23727
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, EFEITO, CRISE, NATUREZA POLITICA, ATUALIDADE, COMENTARIO, IMPORTANCIA, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), SOLIDARIEDADE, JOSE GENOINO, EX PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ACUSAÇÃO, VINCULAÇÃO, CRIME.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), BANCADA, CONGRESSO NACIONAL, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, TRABALHO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO.
  • SUGESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROVIDENCIA, SOLUÇÃO, CRISE, ETICA, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tem toda razão V. Exª, Sr. Presidente, em terminar este semestre legislativo. E ele termina com pauta trancada por MPs editadas em excesso pelo Governo Federal. De fato, o Senado obrou, o Senado trabalhou, o Senado conseguiu inclusive, nesta fase derradeira, fazer coexistir a atividade investigativa com a atividade legislativa, com a atividade ordinária, atividade essencial e básica que cabe a cada um de nós, e a todos nós em conjunto, Senador Mão Santa, executarmos. Vejo que essa é uma prova, sim, da maturidade da Casa, é uma prova, sim, da maturidade do Congresso, e isso reflete a maturidade da Nação.

Ouvi atentamente o Líder Aloizio Mercadante, que fez seu discurso solidário em relação a companheiros. Tomo um dos seus companheiros para, sobre ele, me reportar, precisamente o ex-Presidente do Partido dos Trabalhadores, Deputado José Genoíno, para dizer que também eu não acredito em desonestidade por parte desse eminente homem público. Não acredito. Tenho recomendado que, ao ouvir Genoino depor na CPMI, que se lhe dê o tratamento mais digno, mais justo, mais elevado. Creio em erros e vi os erros, erros lamentáveis, e presenciei erros lamentáveis. Mas não acredito que possa ele ter, depois de tantos anos de conhecimento, de convivência - e dá para se conhecer o caráter de alguém -, se pautado pelo desvão da conduta pessoalmente desonrada. Não creio.

Sr. Presidente, quando falo em respeitar pessoas que vêm a uma CPI, prego que todos sejam respeitados, todos, do mais revoltante acusado ao mais digno injustiçado. Todos. Afinal de contas, o parlamentar está ali com plena vantagem, ele tem diante de si alguém com mãos atadas.

Meu pai me dizia que eu jamais deveria dizer para alguém, como parlamentar - ele falava isso quando me elegi deputado pela primeira vez - aquilo que eu não diria a esse alguém num elevador se me encontrasse sozinho com esse alguém, num prédio distante do Senado Federal, onde supostamente eu teria seguranças e teria pessoas a me defender. Meu pai me dizia sempre isto: nunca faça, numa posição de superioridade tática, aquilo que você, talvez não fizesse se você estivesse em situação de igualdade ou de inferioridade tática”. E o Senador Daniel Krieger ainda dizia mais: “É um dever o ser, talvez, arrogante com os poderosos e sempre humilde com os humildes”.

Entendo que o trabalho investigativo, que deve ir até o fim, até o cerne, deve primar pelo respeito a quem está respondendo. Deve se basear na argúcia de quem está perguntando e na honestidade de quem está querendo encontrar soluções para o País. Não adianta uns negarem verdades, não adianta outros forjarem verdades. É um processo que vai se delinear, que vai se desenhar com toda a inteireza, com toda a correção ao longo dos tempos em que dure essa CPMI ou que durem outras CPIs.

Pessoalmente, até por uma questão geracional, lamentei muito tudo isso que aconteceu com o Genoíno. Não conheço os demais, não os conheço a ponto de opinar sobre eles. Não me agrada a figura do drama humano, mas entendo que Brasil atravessa uma necessária passagem a limpo. Eu gostaria, Líder Mercadante - digo isso de coração -, que pudéssemos estar aqui discutindo, como sempre fizemos, a conjuntura econômica do País, a conjuntura política. V. Exª, por exemplo, acaba de dizer da geração de empregos em dobro, e não concordo com esse número. Entendo que, ao contrário, a média, se incluirmos os formais e os informais, é ligeiramente superior ao outro governo que governou sofrendo sete choques externos contra. Eu poderia dizer que este Governo recebeu vários choques externos a favor. Essa é uma diferença essencial entre os dois períodos, se queremos fazer aqui uma apreciação que prime pela honestidade intelectual. Mas adoraria estarmos aqui a discutir neste nível: V. Exª se equivocou aqui, eu posso ter me equivocado acolá, vamos ver quem tem razão, vamos terçar as armas das razões.

Mas, devo dizer, Sr. Presidente, que não podemos olvidar que há uma crise de proporções enormes a assolar este País; uma crise de raízes éticas, uma crise que põe em cheque a nossa capacidade de defender as instituições neste País; uma crise que está revelando conexões: explode uma denúncia aqui, explode outra denúncia acolá, explode uma falcatrua, explode algo que significa uma malversação. Para onde nos viramos existe uma realidade a ser investigada. E tenho procurado, o tempo inteiro, me pautar pela vontade de ver tudo apurado e pela serenidade de ver tudo apurado dentro do Estado de direito, dentro das regras da licitude.

Portanto, é evidente que não posso imaginar que seja róseo o quadro que está a nossa volta, o quadro não é cor de rosa; ao contrário, temos algumas certezas. Uma delas - e aí vem o positivo - é que temos um quadro econômico internacional sorridente - e continua sorridente, talvez não tão escancaradamente sorridente como já foi, ao longo de 2003 e 2004, mas, sorridente ainda, felizmente sorridente. E temos um quadro interno marcado por uma crise política profunda e não imagino que uma crise política, se ela não é debelada em curto prazo, não consigo imaginar que ela não atinja de alguma forma a economia. Então, se alguém quer preservar a economia, que cuide de resolver a crise política de maneira rápida, de maneira pronta, de maneira precisa, porque é inevitável o contágio, por mais que nós estejamos todos a louvar o fato de que, até agora, não houve contágio significativo; redução de investimento, sim; mais cautela por certos agentes, sim; inquietação, por parte de outros tantos agentes, também. Ainda hoje discuti com um grupo de banqueiros e de empresários - fui cedinho a São Paulo para isso - e percebi neles perplexidades, muitas indagações. Não faço o jogo do alarmismo, mas não posso fingir, alienadamente, que está pura e simplesmente tudo bem. Eu gostaria, portanto, de deixar bem claro que se temos um objetivo para este momento - e não pode haver férias nesse combate - é o esclarecimento de todos os fatos, esclarecimento de todos os fatos que estão a ocorrer na CPMI dos Correios; esclarecimentos de todos os fatos que possam vir a ocorrer nas demais Comissões Parlamentares de Inquérito; esclarecimento de todos os fatos onde quer que eles estejam sendo investigados: nas Comissões de Ética, na Polícia Federal, no Ministério Público, nas Comissões Parlamentares de Inquérito.

O Senador Aloizio Mercadante se refere, fazendo justiça, ao trabalho que, até o momento - eu espero que sempre seja assim -, vem sendo executado pelo Relator Osmar Serraglio, do PMDB, e pelo Presidente Delcídio Amaral, do PT, na CPMI dos Correios. Eu diria que assiste a esses dois homens públicos enorme mérito nesse episódio, porque estão, de fato, fazendo, com isenção, um trabalho. Mas digo que tem algo que vai além disso, tem algo que precisa ser considerado. Não haveria clima se não portassem os dois com a correção com que estão se portando, não haveria clima, ainda assim, para não se fazer uma investigação profunda, uma investigação que fosse até final, porque a opinião pública está clamando, a opinião pública está perplexa.

O cineasta Sílvio Tendler disse-me a frase mais significativa de todo esse episódio que está aí. Disse-me que estava vendo um filme de terror. Disse-me: ”Um filme com esse enredo, com esses personagens, não poderia jamais supor.” Digo, à minha moda, que se eu poderia imaginar que fossem estourar aqui e acolá demonstrações de inexperiência que se confundissem com incompetência administrativa, muito bem, um caso ou outro de corrupção, muito bem! Mas aconteceu em dose cavalar. Isso está muito sério, isso está muito grave. Isso tem que ser olhado na devida seriedade e na devida gravidade.

Portanto, é com preocupação que vejo que nos encaminhamos para o fim deste semestre legislativo. É com preocupação porque ao PSDB jamais interessou a figura do quanto pior, melhor. Algumas pessoas dizem: “Então, o que se vai fazer? Vamos propor saídas extralegais, saídas legais extremas?” Não. O PSDB não tem que fazer assim. O PSDB tem que fazer exatamente o seu papel, que é investigar tudo, até o final, na parte que lhe cabe, ajudar a investigar tudo, até o final, na parte que lhe caiba. O PSDB não tem que fazer algo que não é do seu cerne. O PSDB tem que procurar algo que, para mim, deve ser o objetivo de tudo: a verdade, tão-somente a verdade, nada mais do que a verdade, apenas a verdade.

Alguém diz que isso é pouco. Eu digo: não, isso é tudo. Isso é acima da espetaculosidade. Isso é acima do jogo corriqueiro da troca de emoções fugazes. É acima de tudo isso.

Portanto, eu gostaria de dizer, Sr. Presidente, que neste momento em que aqui imaginamos que ainda haverá outras ocasiões para estarmos juntos, mas nesta sessão, quando V. Exª comemora resultados numericamente tão bons, quando comemora resultados tão significativos, a Casa andou, a Casa funcionou. V. Exª tem sido um Presidente operoso, capaz de cumprir com seu dever, capaz de cumprir com sua obrigação, e nós aqui a ajudá-lo - eu me refiro agora especificamente à Oposição. A Oposição dizendo, o tempo todo que ela não seria empecilho a que matérias fossem votadas. Um dia, vim a esta tribuna e disse: instalemos a CPI em conjunto, investiguemos tudo que tem de ser investigado, e a Oposição assume o compromisso de votar uma agenda legislativa que pode não ser ambiciosa - a agenda legislativa que está aí não é ambiciosa, e a culpa não é nossa; a culpa é do Governo -, mas nós votaríamos uma agenda legislativa ambiciosa. Estamos votando a agenda não tão ambiciosa que está posta às nossas mãos.

Mais tempo se tivéssemos, votaríamos essas quatro medidas provisórias. Mais tempo se tivéssemos, daríamos cabo de outras tantas matérias, como as tão relevantes matérias que foram aqui deliberadas, que foram aqui votadas, que foram aqui decididas, sem prejuízo do que aconteça e do que está acontecendo na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito neste momento, sem prejuízo do que aconteça amanhã, sem prejuízo do que venha a acontecer a cada instante, a cada momento. A Constituição, sábia como é, previu tudo. Ela previu o momento da paz, previu o momento do confronto, ela previu todos os momentos. E estamos aqui para cumprir com a nossa parte.

Portanto, Sr. Presidente, quando revelo a V. Exª a minha perplexidade, tantas vezes posta aqui da tribuna, em relação aos fatos que ocupam os noticiários televisivos, que ocupam o noticiário dos rádios, dos jornais, os fatos que dão ao povo a impressão de um desalento brutal em relação às instituições, que demonstram uma crise do Executivo, que, com relações promíscuas com o Legislativo, está a causar estupefação, temos que mostrar, com clareza, as culpas, preservando as inocências todas. Digo-lhe da alegria que tenho de privar com V. Exª, de privar com a Mesa Diretora, aqui representada, por exemplo, pelo Senador Tião Viana, meu amigo tão querido; de privar com os meus companheiros de Oposição, com os meus companheiros de Partido, com os meus companheiros, sim, de trabalho, da Base Governista, com figuras que dão o melhor de si, cada um com a sua visão.

Creio no Senado como uma Casa de pessoas sérias, eu creio no Parlamento como uma Casa de pessoas majoritariamente honradas, eu creio no Parlamento como uma Casa feita de pessoas, majoritariamente, de boa-fé. Eu não acredito num Parlamento onde se diga que a maioria não tem boa-fé. Eu diria que isso aqui reflete exatamente a sociedade. A sociedade tem os seus defeitos, e os seus defeitos estão aí expostos em todos os momentos, nos jornais, nos noticiários. Os nossos defeitos são também expostos de maneira hiperbolizada. Nós somos o reflexo de uma sociedade no que ela tem de maturidade, no que ela tem de equívocos, no que ela tem de defeitos, no que ela tem de qualidades.

Não adianta alguém dizer que existe uma sociedade perfeita e tão pura, existe um Parlamento tão impuro e tão imperfeito. Não é assim. Existe um Parlamento que corresponde a uma sociedade, existe uma sociedade que tem que cobrar do Parlamento quando ele se desvia, existe uma sociedade que tem que cobrar do Governo seriedade, atitude, correção, justeza, justiça. E nós estamos vendo que, sob esse campo, muito tem ficado a desejar. Muito tem ficado a desejar, sim.

Portanto, se eu digo que há uma crise ética no País - e uma crise com a qual tem a ver este Governo -, eu não estou exagerando, eu não estou inventando, eu não estou criando, eu não estou difamando, eu não estou caluniando. Eu estou, pura e simplesmente, Sr. Presidente, fazendo uma observação que é do senso comum.

            Hoje, se eu pudesse - eu digo isso do fundo do meu coração - fazer alguma recomendação ao Presidente Lula, eu diria: Presidente Lula, procure ouvir mais a opinião das ruas e leia menos a pesquisa do Dr. Clésio. Eu lhe diria isso com toda a pureza d’alma. E o Dr. Clésio, se quer ajudar o Presidente, ajude de outro jeito, porque não é o que eu sinto nas ruas. Não vejo aprovação ao Presidente. Eu vejo o temor de que ele repita este mandato. Eu vejo isso em todas as classes sociais. Eu vejo isso de cima a baixo da pirâmide social deste País.

            Portanto, cabe ao Presidente uma grande responsabilidade: a de procurar encerrar o seu mandato de maneira segura, cumprindo com o seu dever, cumprindo com o seu trabalho até o final, cumprindo com o dever de entregar este País, na frente do povo, no dia 31, ou no dia 1º de janeiro de 2007.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com muita alegria.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - E com muita alegria quero, primeiro, ratificar suas palavras em referência ao nosso Presidente. Caro Presidente Renan, isso tudo começou quando o povo foi às ruas e gritou: liberdade, igualdade e fraternidade. A confusão não foi fácil. Teve a guilhotina de Robespierre. Mas é a Napoleão Bonaparte a quem quero me referir. Ele disse assim, nas suas meditações: “O francês é tímido, é preguiçoso até para tomar banho, mas quando ele tem um grande comandante, ele vale por cem.” V. Exª tem sido esse grande comandante do Senado. São 22 horas e 33 minutos. O exemplo arrasta. V. Exª está dando o exemplo e nós estamos aqui. Mas, Senador Arthur Virgílio, V. Exª reencarna a coragem e a verdade da excelência de seu pai Arthur Virgílio, em momentos difíceis da ditadura. Está aqui um quadro. Vejam, um quadro vale por dez mil palavras Confúcio, ele sabia. Pesquisa: “55% dizem que Lula sabia da corrupção; 49% acham que o PT é um Partido desonesto.”

Então, como Cristo dizia, em verdade, em verdade vos digo - e só existe uma verdade. Não existe a verdade do Clésio e essa aqui. Então, é aquela verdade do meu PMDB de Ulysses, que disse: “Ouvi a voz rouca das ruas!” Apenas isso, Lula.

O SR ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Mão Santa.

Tem a palavra o Senador Eduardo Azeredo.

O Sr Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador Arthur Virgílio, quero apenas registrar neste encerramento o trabalho do Senado, sob a liderança do Senador Renan Calheiros, e o trabalho de V. Exª, Líder do meu Partido, nosso Líder no Senado, que tem sabido ter a serenidade necessária, que é combativo, é firme quando necessário, mas sempre tendo o interesse público em primeiro lugar. Meus parabéns pela sua atuação. É muito bom estarmos sob sua Liderança, e vamos continuar aqui trabalhando pelo bem do País.

O SR ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Eduardo Azeredo. Para mim, a honra é redobrada de poder tê-lo como companheiro e de ter o Senador Mão Santa como presença tão constante na nossa luta diária.

Mas, Sr Presidente, eu não me demorarei. Eu apenas lhe digo da obrigação que cada um tem de cumprir de maneira estrita, de maneira firme com o seu poder. Por exemplo, ao Presidente incumbe uma atitude. Se V. Exª me perguntasse, Senador Renan Calheiros, qual é o grande salto de qualidade que o Brasil deu, eu diria que deu, sim, um grande salto de qualidade.

Pela primeira vez na vida, meu prezado amigo, Senador Tião Viana, vejo um Presidente da República - e isso para mim tem muito de tática política e é prova de como o Brasil amadureceu - envolvido numa crise ética grave, gravíssima, com um potencial desestabilizador grave, gravíssimo. Mas eu vejo o Presidente procurar sair da crise sem ser pela via do populismo econômico. Isso é novo na América do Sul. O Presidente faz isso porque está convencido de que se desestabilizaria em dez dias se optasse pelo aventureirismo a la Perón ou a la qualquer coisa. Ele opta por uma linguagem de austeridade econômica, até porque isso ancora o Presidente, isso lhe dá força, isso significa o Presidente ter feito, neste momento, uma opção que, no fundo, não é anti-histórica, é histórica, porque está andando para frente. Não anda para trás. Isso me dá uma enorme alegria.

Quando o Brasil sair dessa crise, haverá de sair com a democracia consolidada e haverá de sair mais forte. O Governo pode ser fraco. O Presidente não sei como sai. Espero que saia com o seu mandato inteiro, e é o que eu desejo. Mas a democracia brasileira vai mostrar, mais uma vez, que tem remédio para enfrentar as crises.

É a primeira vez que vejo isso. Não deve ter faltado ao Presidente gente do tipo: “Presidente, vamos tapar todos os buracos das estradas, vamos liquidar com o superávit primário, vamos fazer, vamos acontecer. E o senhor ganha a eleição.” E eu diria: e depois, Presidente? Depois, o senhor terá um resultado trágico na sua vida.

O Presidente está dizendo assim: olha, eu, para me salvar desta crise, preciso reafirmar o compromisso com a estabilidade econômica, eu preciso reafirmar o compromisso com o ajuste fiscal, eu preciso reafirmar o compromisso com a quitação dos compromissos brasileiros no exterior.

Isso é uma coisa nova. Muito bem. Mas o Presidente, por outro lado, precisa parar de emitir sinais contraditórios. Quando nomeia o Sr. Marinho, eu digo: meu Deus, é uma novidade! O Marinho tem inserção real na sociedade. Mas quando Marinho, o Ministro do Trabalho, vai ao Palácio e lá promovem um ato meio de comício, com palavras de ordem, se queixando da Imprensa conservadora, se queixando das elites em golpe, eu digo: será possível que isso não é um retrocesso? Será que não é o Presidente cedendo à tentação do Chavismo, à tentação de ir para as ruas?

Não vá para as ruas, Presidente! Não vá porque o senhor hoje não pode mobilizar ninguém em cima da idéia força que o senhor não tem. Não vá para as ruas, Presidente! Procure governar o País. Não vá para as ruas. A idéia força que o senhor não tem não sustenta uma luta. Ninguém sairia para defender o quadro que aí está. As pessoas sairiam para defender conquistas outras.

Procure reconquistar o respeito das pessoas jovens, procure reconquistar o respeito dos seus militantes, procure voltar as suas origens. Isso só se dará pela busca incessante da verdade. E a verdade vai machucar pessoas, a verdade vai cortar pessoas, a verdade vai ceifar carreiras, a verdade vai ser dura para muito e vai ser dura para alguns.

O Presidente, portanto, quando é contraditório me inquieta. E eu devo dizer que tudo o que eu espero é que ele saiba ser Presidente numa hora dura, na hora mais dura de teste para o seu Governo e para a governabilidade do seu País.

Nós aqui temos que mostrar até hoje, e cada um de nós tem pago as suas penas. Há pessoas que me dizem assim: “Você não tem sido tão duro quanto você já foi.” E eu digo que algumas pessoas são maliciosas, algumas pessoas são assim até tolas. Dizem: “Será que estão escondendo alguma coisa? Será que querem... “ Eu já ouvi coisas até grosseiras, enfim.

Quem faz oposição como o meu Partido fez tem que ter, primeiro, isenção, não ter rabo-de-palha qualquer; e, segundo, o meu Partido tem coragem para fazer oposição.

Fui a primeira pessoa a criticar o Presidente Lula, aqui desta tribuna, no primeiro dia, quando, pela primeira vez, ligou-se este microfone. O Presidente Lula, endeusado pela opinião pública, com pesquisas verdadeiras, com popularidade real, e não com a popularidade do Sr. Clésio. O Sr. Clésio nunca está falando a verdade; está iludindo e enganando o Presidente com pesquisas que não correspondem à realidade. A pesquisa do Sr. Clésio não é verdadeira; ela é inveraz. Naquela época, eu fiz oposição ao Presidente, dura; oposição inclemente, oposição dura. Oposição dura a alguém com quem eu já privei do ponto de vista da relação pessoal. Oposição dura. Hoje, eu faço oposição dura. E estou aqui, neste momento, fazendo oposição dura. Mas não me peçam para fazer o papel do agente desestabilizador em um quadro que, para mim, tem de ser trabalhado com todo o cuidado, com toda a verdade, com toda a veracidade. Há CPIs trabalhando. Não cumpre a mim, Líder de um Partido de Oposição importante como o PSDB, o papel do espiroqueta; não cumpre a mim o papel do lançador de chamas em fogueira; não cumpre a mim o papel de abafador; não cumpre a mim o papel de lançador de água em crise nenhuma, até porque eu não tenho de fazer o papel de bombeiro nesta crise; até porque eu quero a apuração dos fatos até o final. Mas, bom senso, cautela, a idéia de não manchar reputações antes do tempo! A verdade vai aparecer, Senador Wellington. A verdade vai aparecer. Vai aparecer. E as coisas que tiverem de acontecer no País vão acontecer todas elas, todas elas vão acontecer. Ninguém vai ficar livre das coisas que vão acontecer. É uma espécie de destino que está pré-traçado, um destino que vai se cumprir, um destino que vai se realizar até o final. Eu não tenho dúvida nenhuma disso.

Portanto, é com muita tranqüilidade que eu digo: “Olha, que coisa boa nós podermos hoje encerrar esta fase da Sessão Legislativa com sessões deliberativas, porque daqui para a frente teremos debates - e teremos ainda a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias -, mas encerrar isso de maneira muito altaneira, com a consciência do dever cumprido, com a consciência de saber que tem uma crise que não foi inventada por nós, uma crise que não foi atiçada por nós, uma crise não foi acolitada por nós, uma crise que não foi inventada por nós, uma crise que nos impactou e que nos desagradou, uma crise que nos machucou também, até porque não queríamos ver o Brasil deste jeito. Queríamos ver o Brasil livre de todas essas labaredas que levam descrença à opinião pública, que levam descrença aos jovens, que levam desalento aos mais velhos. Não queremos um Brasil onde se diga que no segmento político grassa a corrupção, até porque não é nisso que acredita o PSDB. Queremos, portanto, a punição daqueles que são verdadeiramente culpados, queremos a punição daqueles que são verdadeiramente capazes de terem fraudado a confiança do País. E nós queremos isso doa a quem doer, atinja a quem tiver que atingir, no Executivo e no Legislativo.

Agora, o PSDB não precisa perder a serenidade, não precisa perder o compromisso com o País, não precisa perder a sobriedade. Mostrar, sim, que é um Partido de pessoas maduras, formado por Líderes que são capazes de dar o melhor de si e não apostar no pior, até porque quando o pior tem que vir ele vem, ninguém tem que inventar o pior. Dar o melhor de si é obrigação de quem é efetivamente patriota.

Portanto, Sr. Presidente, agradeço a V. Exª por tudo; agradeço aos meus adversários, Senador Tião Viana; agradeço aos meus aliados; agradeço a todas as Srªs e aos Srs Senadores e digo que eu me sinto muito bem nesta Casa, sinto que é uma Casa - dá para se perceber - de maturidade, uma Casa de experiência, uma Casa muito renovada hoje, mas marcada pela experiência, por pessoas que já foram, por pessoas que ainda vão ser e por pessoas que serão sempre muita coisa de influentes na vida pública do País. O Senado é uma Casa construtiva, e o Senado haverá de mostrar esse perfil de Casa construtiva. E para ser construtivo, não é preciso deixar de ter coragem, de ter ousadia no momento próprio. Mas eu olho para o Senado e digo: puxa vida, se há desgaste lá fora do Parlamento e sei que tem do Executivo, Sr. Clésio, pelo amor de Deus, não continue enganado o Presidente da República. Sr. Clésio, eu lhe peço isto: pare com a brincadeira de enganar o Presidente da República. O senhor está enganando o Presidente da República, Sr. Clésio! Não faça isso! Sei que há uma desgaste brutal para o Presidente da República lá fora e um desgaste enorme para o Congresso, mas eu ando nas ruas com a maior tranqüilidade e com a cabeça erguida. E lhes digo mais: cabeça erguida por mim e cabeça erguida pela Casa a que pertenço. Tenho muito respeito pelo Senado da República. Quando ando de cabeça erguida, ando por mim e porque sei que é de cabeça erguida que deve ser visto o Senado da República, tão bem presidido por V. Exª e tão bem representado pelos Senadores que, de diversos Partidos e de diversas correntes ideológicas, representam seus Estados aqui. Na maioria esmagadora, vejo muito espírito público, muita luta, muito apego, muito denodo, muita crença.

Portanto, se eu tivesse que recomeçar, eu seria de novo homem público neste País.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/07/2005 - Página 23727