Discurso durante a 118ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Indignação com os pronunciamentos do Presidente Lula nos últimos dias, e sua postura diante da crise que se instaurou em seu governo. Considerações sobre a denominada "Conexão Gushiken". Farsa da indignação do Partido dos Trabalhadores com o Sr. Marcos Valério. Proposta do estabelecimento e votação da agenda mínima.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Indignação com os pronunciamentos do Presidente Lula nos últimos dias, e sua postura diante da crise que se instaurou em seu governo. Considerações sobre a denominada "Conexão Gushiken". Farsa da indignação do Partido dos Trabalhadores com o Sr. Marcos Valério. Proposta do estabelecimento e votação da agenda mínima.
Aparteantes
Ramez Tebet, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 26/07/2005 - Página 25258
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMICIO, DESVIO, RESPONSABILIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL, AUSENCIA, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO.
  • REITERAÇÃO, ATUAÇÃO, BANCADA, DEFESA, ESTABILIDADE, DEMOCRACIA, PRESERVAÇÃO, MANDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANALISE, POSSIBILIDADE, IMPEACHMENT, COMPROVAÇÃO, CORRUPÇÃO, CHEFE DE ESTADO.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, ANALISE, CRISE, POLITICA NACIONAL, LEITURA, TRECHO.
  • RECOMENDAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SAIDA, PARALISAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • IMPORTANCIA, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO, VINCULAÇÃO, LUIZ GUSHIKEN, JOSE DIRCEU, EX MINISTRO DE ESTADO, ESPECIFICAÇÃO, DESVIO, RECURSOS, FUNDOS, PENSÕES, PROJETO, PODER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CONGRESSO NACIONAL, IMPRENSA, FUNÇÃO FISCALIZADORA, BENEFICIO, DEMOCRACIA.
  • QUESTIONAMENTO, DIVIDA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PUBLICITARIO, IRREGULARIDADE, CORRUPÇÃO, ORIGEM, RECURSOS.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ENTREVISTA, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ECONOMISTA, ESTUDO, DEMOCRACIA, AMERICA LATINA, INEFICACIA, MANIPULAÇÃO, POPULARIDADE, CHEFE DE ESTADO.
  • CONCLAMAÇÃO, VOTAÇÃO, MATERIA, INTERESSE NACIONAL, GARANTIA, GOVERNO, PAIS.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o melhor que o Presidente Lula poderia fazer a essas alturas do drama que ele mesmo contribuiu para criar seria não propriamente calar-se; ele é o Presidente legitimamente eleito e pode, portanto, falar, pronunciar-se, mas com a altitude exigida pelo seu cargo. O que não é aceitável é o Presidente continuar se prestando a cenas do tipo ópera-bufa, que hoje têm como cenário o Palácio do Planalto.

Primeiro foi a farsa a que a revista Veja se refere nesta semana, a farsa do sofá no gramado de um castelo francês, montada e dirigida pelo marqueteiro Duda Mendonça. Agora, ainda sob a mesma inspiração nada inteligente, o Presidente é colocado à frente de palanques improvisados supondo arregimentar as massas populares.

Collor pretendeu aliar-se aos taxistas, ilaqueando a boa-fé desses profissionais. Lula, no domingo, tentou o mesmo com os cegonheiros, sem também nenhuma dúvida de que pretendia levar na conversa essa outra categoria profissional. Antes, na sexta e no sábado, fez comícios na refinaria Duque de Caxias e no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Presidente tem que fazer comícios ou tem que governar?

Cuidado, Presidente, acabe com essa maneira de embair os trabalhadores que um dia depositaram todas as esperanças em Vossa Excelência. Todos eles estão desiludidos e daqui a pouco vão estranhar se Vossa Excelência insistir em continuar chamando-os de companheiros.

Não, Presidente, não vá além, como tentou fazer nesta manhã no aeroporto de Brasília a pretexto de visitar obras. Chega, Presidente, suas encenações já extrapolaram o limite do razoável. Aja como legítimo mandatário do mais alto cargo do País. Presidente Lula, em respeito ao povo, tenha compostura altiva, porque ninguém conspira para retirá-lo do Palácio do Planalto. O que a sociedade deseja, Presidente Lula, é limpar o Governo.

O que Vossa Excelência pretenderia com esse canto de sereia, já fora de hora, sem sintonia com o que pensa o povo? Aonde quer ir? Provocar as massas? Como, Presidente? Que capacidade de mobilização teria hoje o seu Partido, teria hoje o seu Governo? Ninguém do povo iria às ruas para gritar, por exemplo, “Corrupto unido, jamais será vencido!”. Não há capacidade de mobilização alguma com uma consigna dessa sorte e dessa baixeza moral, Senador Alvaro Dias, Presidente desta sessão.

Já há fartas demonstrações de que a sociedade em geral não aceita a continuidade da sôfrega e deslavada ação dos corruptos que se plantaram no Palácio do Planalto. O povo já sabe que tudo teve começo ali do outro lado da rua e com indícios muitos fortes de que o QG, o quartel general, era numa sala quase ao lado do gabinete presidencial. Em meio a essas provocações baratas de última hora, já nem falo daquela colocação ainda mais tola, para não dizer leviana, em que o Presidente investe sua ira contra as elites brasileiras. Muito provavelmente, Lula não sabe exatamente o que é elite. Da elite, Presidente, faz parte a professorinha primária, que, no seu Governo, ganha menos do que um gari, que, por sua vez, mereceria ganhar mais do que aufere nas capitais brasileiras. Elite, Presidente, é uma pequena camada da população que enfrentou anos de escola e se tornou a parcela mais apta e que, só por isso, se destaca entre nossa desassistida população. É preciso que o Presidente saiba um pouco mais para já não insistir das búferas óperas “dudeanas”.

Presidente, a elite que Vossa Excelência menciona não é certamente a elite intelectual brasileira. A elite intelectual, diz Aurélio, é o que há de melhor em uma sociedade ou em um grupo. Quer mais um exemplo, Presidente? É da elite um professor universitário, um médico que labuta nos nossos hospitais, faz plantões, luta pela vida e ajuda a conservar a vida dos outros. Essa elite, Presidente, quer apenas que a verdade se apure à exaustão. Basta meio minuto de conversa com um cidadão comum para sentir o pensamento dominante entre os brasileiros.

Não pense, nem remotamente, Presidente, que a Oposição quer a sua cabeça. Alguém aqui já falou em impeachment? Não. Quem falou em impeachment foi o seu Partido na última reunião da nova executiva. Ao final desse pronunciamento, volto a falar de uma nova farsa montada pelo Partido dos Trabalhadores. Agora, o que a Oposição tem como decisão é que se algo de grave atingir o Presidente e houver razão para impeachment, aí vai ter, com toda clareza, porque não estamos aqui para apadrinhar corrupção, desvio de qualquer sorte. Há compromisso em manter a governabilidade do País, mas não há compromisso em manter, por exemplo, um Presidente corrupto. Há compromisso em manter a ordem brasileira, a ordem constitucional e, portanto, não se falou em impeachment, porque não se tem comprovação alguma de corrupção feita diretamente por Vossa Excelência, Senhor Presidente. Essa é a diferença que tem que ser bem colocada. O PSDB não teme nada que venha da Constituição e não está aqui, portanto, refém nem desse sentimento de proteção a Vossa Excelência.

Pelo contrário, ainda na semana passada e nas anteriores, fiz votos para que o seu mandato fosse cumprido até o final, até o dia 31 de dezembro de 2006. Por que, então, Senhor Presidente, esse seu comportamento atropelado, como se estivesse na posição de fera acuada? O que teme Vossa Excelência? Algo que ainda não saiu nas revistas? Algo que ainda não foi publicado nos jornais? O que temeria Vossa Excelência para estar tão acuado, para estar tão agoniado, para estar tão atormentado do jeito que seus pronunciamentos de líder sindical de segunda categoria - não de primeira, como Vossa Excelência já foi - jamais de Presidente, como sugerem esses seus pronunciamentos?

Vossa Excelência não andou dizendo por aí que queria ou quer a punição dos responsáveis por esse mar de lama petista? Como é que agora investe contra quem quer apuração das denúncias, fingindo que ainda pode mobilizar massas populares neste País? A postura da Nação é inteiramente no sentido da apuração dos fatos, Senhor Presidente. Basta ler os jornais. Os dessa manhã mostram o retrato em corpo inteiro da crise criada pelo Governo petista.

Em nome da Oposição, que, ao contrário do comportamento palaciano, ela - Oposição - é responsável, faço uma advertência, agora diretamente ao Presidente: não cometa mais asneiras! Chega o que já fizeram seus antigos companheiros, que agora começam a pensar em ter o PT bem a distância.

Do noticiário de hoje, destaco, desde logo, a matéria da repórter Vera Rosa*, que interpreta o quadro caótico criado no País pelo Governo petista, concluindo que agora Lula anda em busca de blindagem. “Está procurando a blindagem errada”, é o que diz a matéria do Estadão anexada a este pronunciamento, juntamente com outras notícias sobre a crise petista.

É só o que há nos jornais. Uma crise atrás da outra. Todas falam de crise. Crise é a palavra mais pronunciada de uns tempos para cá.

O que é crise afinal? É preciso explicar ao Presidente, com uma didática bem fácil. Recorro ao Aurélio:

       Fase difícil, grave, na evolução das coisas, dos fatos, das idéias e da política.

E, mais ainda, do mesmo mestre Aurélio:

       Situação grave em que os acontecimentos da vida social, rompendo padrões tradicionais, perturbam a organização de alguns ou de todos os grupos integrados na sociedade.

Por que a situação teria ficado tão grave no Brasil? Porque um grupo, que agora se sabe descompromissado com o País, entendeu de pilhar o dinheiro do povo, tudo em nome de uma pretensa República petista.

Pilhar, Sr. Presidente, significa subtrair fraudulentamente, furtar, roubar, surrupiar. Exatamente o que vinha fazendo a quadrilha criada a partir de inspiração do seu Palácio, do Palácio do Planalto.

Isso tudo vinha sendo feito em nome das milhares de pessoas que votaram em Lula? - Pergunto eu. Em nenhuma hipótese. Nunca! Não somos nós da Oposição os responsáveis pela crise, nem são os cegonheiros, os metalúrgicos ou os trabalhadores da refinaria; nem são os metalúrgicos do ABCD paulista. A maioria dos brasileiros, entre eles essas categorias, que agora Lula que tratar com paparicos, quer distância dos corruptos.

As CPIs vão ajudar a expungir essa gente. Até aqui, Lula fala e fala. O que mais ele fez foi passar a mão na cabeça de corruptos. Adulou os corruptos. Só mandou alguns embora ante a evidência dos fatos.

Sigo na leitura do noticiário, com uma análise do Senador José Sarney:

Com sua notória experiência pública, ex-Presidente da República que foi, o ilustre representante do Amapá confidenciou a pelo menos dois interlocutores estar muito preocupado com o mal desempenho do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante da gravidade da situação. Segundo os interlocutores, o Senador Sarney avalia que Lula está errando muito e que, se nada for feito, dificilmente ele termina esse ano como Presidente”.

Quem diz isso é Sarney, não sou eu. Se Sarney disse, não vai colocar nenhuma nota desmentindo, vai confirmar. É assim que age um ex-Presidente da República, é assim que age um ex-Presidente do Congresso Nacional, é assim que age um Senador da República, Sr Presidente.

E leio no Correio Braziliense matéria intitulada “A Conexão Gushiken”. E agora já estamos falando, Senadora Heloisa Helena de conexão. E já está normal, estamos nos acostumando.

Conexão boa, saudável é a conexão aérea. Eu tomo um vôo para a sua terra, Maceió, devo talvez fazer conexão em Recife, talvez? Posso ir direto? Mas posso fazer, se eu quiser, em Recife. Vou visitar o Senador Sérgio Guerra em Recife e faço uma conexão para lá. Essa é a conexão que dá para aceitar.

Agora, estamos engolindo nós a “Conexão Gushiken” - e vou já mostrar como funciona essa história das molas mestras das conexões da corrupção no Palácio do Planalto. “Conexão Gushiken” seria algo ligado à corrupção, chefiado pelo ex-ministro e atual “sei-lá-o-quê”, ex-Deputado também, Luiz Guishiken.

Diz o Correio Braziliense:

Essa conexão passa pela Superintendência de Previdência Complementar, órgão vinculado ao Ministério da Previdência, que tem como missão regular e fiscalizar o sistema de Previdência Complementar. O comandante da SPC foi indicação pessoal de Gushiken, que também avalizou a trinca que está abaixo de Adaci Reis: Leonardo Paixão, Secretário adjunto do órgão; Valdir Gomes, de Assuntos Atuariais, e Carlos Alberto de Paula,Coordenador Geral de Projetos Especiais e de Fomento.

A ligação de Adaci Reis com Gushiken é tão forte que nenhum dos dois Ministros que passaram pela pasta da Previdência desde a posse de Lula, Ricardo Berzoini, Amir Lando e Romero Jucá, atreveu-se a mexer com o chefe da SPC. Amir Lando até que tentou, mas deu marcha-a-ré. Lando confidenciou a amigos que Reis era intocável e despachava diretamente com Gushiken.

Encerro as citações, Sr Presidente, lendo o primeiro parágrafo do artigo intitulado “E Agora José”?”, publicado hoje na Folha de S. Paulo por Carlos Alberto Libânio Christo, Frei Betto, da intimidade de Lula, e que, entre outros cargos, foi Assessor Especial da Presidência da República em 2003 e 2004. Diz Frei Betto:

A festa acabou? Já não há mais PT? Não, José, de tudo isso fica uma grande lição. Não é a direita que inviabiliza a esquerda. Esta tem sido vítima de sua própria incoerência, inclusive quando se elege por um programa de mudanças e adota uma política econômica de ajuste fiscal que trava o desenvolvimento, restringindo investimentos públicos e privados.

Termino com mais um conselho ao Presidente Lula, o milésimo que lhe faço desta Tribuna. Vossa Excelência, Presidente, elegeu-se para governar o País até o final de 2006. Espero em Deus que assim seja. Até lá, Presidente, afaste-se dessa política suicida de atiçar a fogueira do inconformismo da sociedade brasileira.

Sr. Presidente, eu tenho algumas coisas mais a dizer. Uma é que é essencial termos uma noção muito clara. Para mim duas vertentes, a partir do Palácio do Planalto, instauraram neste País uma rede de corrupção jamais vista, que supera de longe aquilo que foi montado no Governo Collor. De longe! Uma delas, que começa a ser desvendada agora, ligada à comunicação social e a fundos de pensão, é subordinada ao Ministro Luiz Gushiken - ex-Ministro, não sei que cargo ocupa hoje. A outra é chefiada pelo Ex-Ministro José Dirceu. Essa é a verdade! A outra cuidava do resto.

As CPIs haverão de mostrar com clareza todos os resultados disso que para mim, Senadora Heloísa Helena, é algo extremamente grave, porque fazia parte de um projeto de poder. O projeto de poder era, com essa dinheirama toda arrecadada por essas vias jamais duvidosas, porque certamente corruptas, eleger uma bancada de 250 Deputados do PT, talvez, e com isso chegar à Maioria na Casa, com um pouco mais de adesões de alguns fisiológicos daqui ou de acolá. Isso na hipótese de reeleição do Presidente Lula, que parecia certa.

Para mim - e eu acredito piamente nisso - era um projeto de poder montado com muito dinheiro e ainda com aquela desculpa do tipo: “Ah! Nós não acreditamos nessa República burguesa. Vamos, então, tirar dinheiro dessa República burguesa. Vamos desmoralizar esses Deputados desmoralizados do Partido fisiológico tal, do Partido fisiológico qual e vamos tocando, porque o que importa é que nós somos capazes de fazer um país melhor, um país mais justo”.

No meio do caminho, perderam-se nos vinhos, nos cohibas, nos lands rovers, nas casas de praia, nos apartamentos à beira-mar - ninguém é de ferro -, se perderam nas delícias de um sistema que fingiam combater.

Para mim, está claro como água: era um projeto milionário de poder. E, mais ainda, pensavam: “Nós sempre estivemos acima do bem e do mal. Então, podemos fazer isso, porque ninguém vai desconfiar de nós. Como é que a imprensa vai achar que nós somos capazes de fazer isso? Quem é, no Senado ou na Câmara, que vai ter a ousadia de dizer que nós somos capazes de fazer isso?”

Em cima de uma base de caráter fundamentalista religiosa - eu sou religioso, mas não sou fundamentalista -, diziam que, já que a verdade pertencia a eles, seriam capazes de, pura e simplesmente, tocar para a frente esse projeto que seria de oito anos de Lula e de mais pelo menos oito anos de alguma liderança que surgisse a partir de todo esse aparato, de toda essa encenação montada no País.

Isso foi descoberto. E foi descoberto porque não poderia dar certo numa democracia como a brasileira, em que existe uma Imprensa investigativa como a nossa, um Congresso com uma oposição forte e vigilante como a nossa, e um Judiciário funcionando a pleno vapor. Ilusão imaginar isso dar certo.

Eu queria dizer a V. Exª, Senadora Heloísa Helena, que cada dia eu tenho uma certa decepção a mais com o Presidente Lula. Quando eu vi essas reações dele de ir para os sindicatos, imitando o Fernando Collor, ele que não tem mais maioria, que já não pode ir para a praça pública, porque não tem como fazer grandes comícios em praça pública - não tem mesmo! -, demonstra que nele há o propósito de não quer apurar coisa alguma. E demonstra que quer deter as apurações, demonstra que quer assustar quem está apurando, ou seja, propõe uma espécie de guerra popular nas ruas que pode repetir o fiasco do verde e amarelo de Collor. Ele que não peça para colocar a estrelinha vermelha do PT nos que estiverem com ele, porque volto a dizer: não existe slogan “corrupto unido jamais será vencido.” O povo não vai para as ruas com uma consigna dessas. Mas não vai mesmo!

O Presidente Lula me dá a impressão agora de que sabia mesmo de tudo, de que tinha consciência clara do que estavam fazendo, talvez não de pormenores, mas sabia que estavam mostrando um grande projeto de arrecadação de fundos para a perenização do PT no poder.

Outro dia eu estava lendo uma declaração do Senador Jefferson Peres e me ponho completamente de acordo com ela e com ele. Diz o nosso ilustre Senador, meu Colega pelo Amazonas, que tem também essa convicção. Diz ele o seguinte: “A minha convicção não basta, é preciso um fato, é preciso um link. Então, não tendo um link, o que importa a minha convicção?” Mas eu, que comecei esse processo achando que o Presidente Lula poderia não saber de nada, estou vendo que a sua reação é claramente a de quem está com muito medo de que as investigações cheguem até o final.

Claramente. Nitidamente isso. Portanto, o Presidente Lula está encenando agora a sua porção Chavez, fazendo-a aflorar, procurando outros setores, porque já não consegue abranger a sociedade como um todo, vendo ruir um projeto de poder, quando está tudo muito claro. O Senador Alvaro Dias sabe disso melhor do que eu, até porque está à testa, representando o PSDB com maestria na CPI, e a Senadora Heloísa Helena, da mesma maneira, representa o seu Partido com brilho na CPI. Ambos dominam muitos mais dados do que eu. Para mim, tudo está tão mais claro! Está claro para as revistas semanais, está claro para todos.

Está em curso, neste País, e em marcha uma investigação que não se sabe aonde vai chegar. Não se sabe. O que nós sabemos é que, diferentemente de episódios outros de caixa 2 de campanha - e isso é irregular e isso é condenável - mas, diferentemente de hipóteses outras e de possibilidades outras de caixa 2 de campanha, desta vez há uma espécie de caixa 3 de campanha. Não é bem caixa dois não. Não é bem aquela história de o “empresário ajuda fulano a se eleger”. Não. Não é isso. Dessa vez, usando como preposto o Sr. Marcos Valério, montaram um esquema de lavagem de dinheiro absolutamente fantástico e inédito neste País. Essa é a diferença essencial. Alguém diz assim “Sempre neste País coube a corrupção”.

Coube - e isso é lamentável. Dessa vez, nós temos algo oficial, nós temos algo maior, temos algo acima do que já foi feito antes. E eu percebi isso, Senadora Heloísa Helena, quando eu vi o Presidente assumir candidamente que é o que sempre se fez no País. Mas, Presidente, se fosse para dizer isso, o senhor não teria sido eleito. Se fosse para dizer isso, o senhor teria perdido a eleição. Se fosse para dizer isso, o senhor teria sido derrotado. Quando o senhor disse isso, acendeu uma luz amarela no meu cérebro: Meu Deus, se ele admite isso com tanta candura é porque no fundo tem coisa muito mais grave por trás disso.

As revistas todas mostram, com clareza, como se dava a entrada do dinheiro, como se dava o processamento do dinheiro, como se dava a saída do dinheiro.

Por que o PT está devendo? Aí eu queria denunciar uma fraude, Senadora Heloísa Helena, Senador Alvaro Dias. Por que o PT está devendo dinheiro hoje? Porque esse dinheiro não era para ser pago nunca. Esse dinheiro foi doação clara, esse dinheiro é retribuição. Não é doação coisa alguma.

O inesperado, ficou evidente, foi a descoberta do delito que fez, de repente, eles fingirem que estão devendo os olhos da cara ao Sr. Marcos Valério. Que coisa mais ridícula! Se o Sr. Marcos Valério não tem direito ao dinheiro, como ele pode estar cobrando de alguém? Como é que o PT recorre a um empresário que tem tantos contratos no Governo? Não tem como vingar essa nova fraude.

Fiquei muito triste porque este Governo tem duas ancoras: uma delas, sem dúvida alguma, é o Ministro Palocci, que fala com o que o Presidente chama de elites - e fala muito bem - e a outra âncora é o Ministro Márcio Thomaz Bastos, figura cordial, de passado respeitável. A revista Veja desanca o Ministro Márcio Thomaz Bastos. E se ele não se explica fica desautorizado como interlocutor de uma Oposição que queira responsavelmente discutir o País, caso a crise se agudize, porque tratou a corrupção ou teria tratado a corrupção como se fosse advogado de um criminoso e não Ministro da Justiça do País.

As desculpas, a montagem, a versão, é o que temos, quando, ao Ministro da Justiça de um País democrático, de um País decente, deveria interessar a verdade e não a mentira, não a desculpa e não a versão. Ele não está no júri perorando; ele está representando a Justiça do País pelo ângulo como a vê o Poder Executivo.

Mas a farsa, Srª Presidente, é bem simples de ser vista. É uma farsa clara, nítida. Estamos vendo o PT esbravejar: “O Sr. Marcos Valério, se quiser, que nos processe”. “O Sr. Marcos Valério, se quiser, que cobre na Justiça o que entende que nos lhe devemos”. “Até nos ajuda”, diz o Presidente Tarso Genro, diz o Secretário-Geral Berzoini, “até nos ajuda ele ir à Justiça, porque vamos saber exatamente o que devemos e o que não devemos”.

Primeiro, como o PT pode tratar como um credor comum uma pessoa completamente incomum como o Sr. Marcos Valério?

Segundo, Srª Presidente, é imaginar que somos uma Nação de beócios, uma Nação de capadócios, uma Nação de sonhadores, uma Nação de incapazes de..., uma Nação de inimputáveis e supor que possa passar pela cabeça de alguém como legítima essa idéia de que o PT deve dinheiro ao Marcos Valério, de que agora paga o que está claramente posto e o que não está tão claramente posto não paga e, ao fim e ao cabo, depois de não sei quanto tempo arrecadando dinheiro daqui, vendendo seus broches para alguns incautos que ainda queiram comprar broches do PT, paga. Enfim, não é assim. Não é nada simples. Sabemos com clareza que é um jogo de cartas marcadas. O Sr. Marcos Valério não está, de jeito algum, cobrando do PT como se ele fosse o credor da padaria que tem um crédito a receber com a vizinha da Superquadra 305 ali e que está sem lhe pagar há duas semanas. Ele não é um banco para ser credor normal de uma pessoa normal e contrair um empréstimo normal. Não é! não é!

O Sr. Marcos Valério era parceiro do PT e parceiro deste Governo num processo de rapinagem de dinheiro público. Isso tem que ficar colocado com toda clareza, porque qualquer discussão sobre governabilidade - e o PSDB não foge a ela - não deve implicar a figura da hipocrisia, a figura da mentira, a figura da colocação para baixo do tapete.

Aí aparece alguém ligado ao PSDB que buscou não sei quê, não sei quantos reais com o Sr. Marcos Valério, para fazer campanha. Aí alguns pressurosos dizem: “então a Oposição está nisso”. Não está não. Não está não. Qualquer coisa periférica não tem nada a ver com estrutural. O estrutural é: esquema de corrupção montado no Governo Lula, montado pelo PT para servir um projeto de eternização e perenização do PT no poder. Essa é a clareza!

“Ah, porque o Deputado Roberto Brant, do PFL”, não sei o quê. É problema do Roberto Brant, do PFL. Eles vão saber como se resolver. Não tem nada a ver com mensalão, não tem nada a ver com compra de voto. Tem nada a ver com esse caixa 3. É caixa 2. Isso é uma outra história. Nada a ver com esse caixa 3 absurdo que foi montado pela primeira vez na República brasileira.

Quanto mais eles dão desculpas e quanto mais o Presidente vai aos seus sindicalistas para fingir uma coragem que, talvez, ele não tenha mais no seu íntimo, mais se agrava o quadro que hoje em dia é de proporções inimagináveis.

Eu queria, ao denunciar esta farsa, mais uma - já teve a farsa das mentiras do Sr. Valério sobre os empréstimos, já teve a farsa das mentiras todas de quem assinou e de quem não assinou, já teve dinheiro em cueca, já teve tudo, já teve tudo - eu queria dizer com clareza que nós denunciamos a farsa e a fraude de uma falsa indignação do PT com o Sr. Marcos Valério, que foi seu parceiro.

A pergunta que faço a V. Exª, Senador Alvaro Dias, é muito clara, muito rasteira, muito simples. O PT passou 20 anos da sua existência denunciando todo mundo, todo mundo. O PT sempre farejou o que lhe parecia irregularidades. O Sr. Gushiken*, hoje, disse que está arrependido do que fizeram com o Ministro Eduardo Jorge, que foi uma injustiça muito grande e que concorda, disse isso ao jornalista Merval Pereira, que a vida do PT foi dedicada a matar reputações de pessoas honradas. Mas um Partido assim, que denunciava o que era justo e que até denunciava o que era injusto, como admite Gushiken, um Partido que denunciava tudo e todos, esse Partido, pelas pessoas que hoje estão assumindo a direção do PT, esse Partido não percebeu nada: que tinha uma grande montagem, que tinha uma grande farsa sendo encenada, que tinha uma grande rapinagem de dinheiros públicos. Esse Partido não percebia nada disso! Não percebia de jeito algum nada disso! Ninguém, ninguém, dos atuais dirigentes, ninguém dos que aparentemente estão limpos nessa questão sabia de nada! Ignoravam, estavam alienados, não tinham noção, não sabiam, não ouviram, estavam todos surdos e mudos, como surdo e mudo estava o próprio Presidente Lula.

Aí alguém diz assim: “O seu Partido se fecha para conversa sobre a governabilidade?”.

Nunca, nunca se fechará!

“O seu Partido se fecha para discutir uma agenda mínima?”.

Nunca, nunca se fechará! O meu Partido está pronto para discutir e votar uma agenda mínima que garanta a governabilidade do País.

“O seu Partido, por outro lado, exige alguns pontos a serem preenchidos para aceitar qualquer conversa?” Exige. A primeira questão básica é que a conversa parta de lá; a segunda é que, pela primeira vez, nessa crise, falem a verdade, de uma vez por todas, parem de embair a opinião pública e parem de inventar desculpas, porque a desculpa só vai misturar os bons petistas aos tão maus, só vai impedir dali o surgimento de um novo partido ou até a refundação desse Partido que teve tanta vida útil neste País.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª me concede um aparte?

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com muita honra concederei aparte aos dois Senadores. Ouço o Senador Sibá Machado e, em seguida, o Senador Ramez Tebet.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Arthur Virgílio, não ouvi o conjunto do seu pronunciamento, só essa parte final, mas preciso deixar V. Exª muito bem esclarecido do seguinte: é verdade que o conjunto do PT desconhecia esses fatos. Sou Presidente do PT no Estado do Acre já há quatro anos e, durante essas campanhas eleitorais todas, procurei insistentemente revitalizar sempre o perfil da militância do PT, de ir, sim, com uma bandeira à rua, de vender a camiseta, o boton, de insistir numa campanha cada vez mais de base e de evitar que suba na cabeça da militância o poder. Não é porque se ganha o governo que a vida agora é fácil e será possível que as coisas caiam do céu. E foi essa a minha insistência esse tempo todo. E, na conversa que tive com o Genoíno, conversa pessoal, olho no olho, ouvi dele exatamente isto: que realmente não ia atrás dessa parte administrativo-financeira do PT e que fazia a parte política. Reconhece que fez um mal, que cometeu um erro por ter entregado a tesouraria, sem nenhuma especulação, sem nenhuma dúvida, sem nenhuma sombra de qualquer coisa, para o Delúbio. Então, sobre essa pergunta, sobre essa dúvida que V. Exª levanta - será que ninguém sabia? -, eu digo por mim e digo por pessoas que, também como eu, estão impressionadas com o nível das informações que estão chegando hoje do Brasil. Mas assim como V. Exª, ninguém está aqui querendo tapar o sol com a peneira. Nós reconhecemos que há um problema, que o problema não é dos menores, é muito grave, que o problema é muito sério, e requer, de cada um de nós, agora, muita serenidade e muita hombridade para reconhecer o erro que foi cometido. E todos estamos imbuídos do propósito de ajudar insistentemente - queremos dizer isso ao Brasil - a CPMI. Que a Polícia Federal, com o que puder trazer de novo, e o Ministério Público e todas as instituições que estão a investigar e a julgar esses fatos possam, o mais rápido possível, livrar o Brasil desse tédio a que todos estamos submetidos.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Sibá Machado. Se o PT fosse composto de pessoas como V. Exª, que merece todo o meu apreço, se fosse composto de pessoas com a sua pureza, tenho certeza de que essa crise não existiria. E tenho certeza de que a base do PT tampouco teria ciência do que se passou. Eu me referia às figuras tarimbadas do PT, eu me referia às figuras maliciosas do PT. Por exemplo, o Senador Alvaro Dias denuncia algo extremamente relevante. Denuncia que esse empréstimo dado ao PT estaria pago, porque o BMG teria sido beneficiado, privilegiadamente, com os depósitos para os créditos consignados aos nossos idosos. Ninguém do PT percebeu isso? Ninguém do alto escalão do PT percebeu isso? Ninguém percebeu que estava havendo benefício claro a um banco e que podia haver um interesse? Aquele PT tão investigativo, aquele PT tão perdigueiro, aquele PT que farejava tudo que supostamente era errado nos outros Governos e que aí, diz Gushiken, cometia injustiças e até assassinava a reputação de pessoas que não mereciam ter sua reputação assassinada. Esse é o PT que a mim não convence. Se alguém disser para mim que José Genoino amanhã estará rico, chego até a acreditar que não. Pelo que conheço dele, ele não tem um tostão, e continuo acreditando nisso. Então foi um gesto de incompetência dele sim, por não tomar conta. Seria uma desilusão a mais que eu teria se soubesse mais isso. Mas o esquema que foi montado e que está aí só pode ser respondido com verdades, com punições efetivas, com esclarecimentos cabais. Só pode ser respondido quando o Presidente parar com esse proselitismo de agora se dirigir aos sindicatos como se pudesse ele colocar povo contra povo, chamando de elite algo que ele não define bem e se esquecendo de que há uma elite sim que prejudicou o Presidente Lula, essa elite nova que ocupou as estatais, que ocupou cargos tão importantes e que, em tão pouco tempo de Governo, caiu tão facilmente nas tentações de mexer de maneira espúria com a coisa pública, com o dinheiro público.

Mas tenho por V. Exª um respeito muito grande, Senador Sibá, e V. Exª sabe disso. V. Exª tem sido um bravo, tem defendido um Governo no qual crê, um projeto no qual acredita, com uma bravura que, a meu ver, credita ao respeito dos seus pares. Sou o primeiro a proclamar isso de maneira aberta para todos os nossos colegas ouvirem.

Muito obrigado a V. Exª.

Ouço o Senador Ramez Tebet.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Arthur Virgílio, confesso, de início, que meu aparte não vai trazer nada ao pronunciamento de V. Exª...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª fala com a autoridade de um ex-Presidente do Congresso e do homem de bem que é.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - ...mas ele tem uma finalidade, a de proclamar que, no meu ponto de vista, se V. Exª não está em primeiro lugar, está entre os primeiros na sua luta - sua, nossa, de todos nós - contra essa situação calamitosa, essa tragédia moral em que a vida do País está mergulhada. Então o meu aparte é para parabenizar V. Exª e também para afirmar que não devemos recear nada, porque essa é uma tragédia que vai trazer benefícios para o País com toda a certeza. Por quê? Porque não haverá - e é preciso deixar claro isso para a opinião pública brasileira - eventuais possíveis acordos, entre quaisquer Líderes, que possam tampar o sol com a peneira. Essa crise só tem uma saída, que V. Exª vem proclamando, juntamente com outros próceres, como o Senador Álvaro Dias e a Senadora Heloísa Helena, que hoje preside os nossos trabalhos: levar até as últimas conseqüências a apuração dos fatos. E não há nada que temer se isso demorar um pouco. O que não se pode fazer é parar as investigações sob o argumento de que o País vai parar e vai perder a credibilidade. Penso justamente ao contrário, Senador Arthur Virgílio, que os investidores, o mundo inteiro vai proclamar que o Brasil não é mais o país da impunidade, que o Brasil sabe trabalhar com as situações mais difíceis, dando segurança aos negócios, aumentando os investimentos, lutando e continuando o seu trabalho. Há três CPIs funcionando, e o Congresso não está paralisado por causa de CPI! Pode estar paralisado por medidas provisórias ou por outras razões, mas não pelo funcionamento das CPIs, que merecem uma palavra de incentivo, se a minha palavra valesse ao menos para incentivar, e merecem uma palavra de justiça. Esta, sim, quero fazer às três CPIs que estão em funcionamento e que, com certeza, passarão o Brasil a limpo. Meus cumprimentos a V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Ramez Tebet. Como eu já dizia ainda há pouco,...

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já concluo, Srª Presidente.

V. Exª fala com a autoridade do ex-Presidente do Congresso que foi e do homem de bem que será por todos os seus tempos.

Na medida em que eu respondo a V. Exª, encerro pedindo à Srª Presidente que seja incluída nos Anais da Casa a entrevista de Ivan Padilla, publicada na revista Época: “O Fim do Populismo”. Nela, demonstra-se à farta que, nas democracias latino-americanas, não há mais espaço para quem inventa, para vendedores de ilusões, aí incluído, claramente, nosso Presidente Lula. Essa entrevista é feita com a economista Marta Lagos, chilena, Diretora do Instituto Latinobarómetro, com sede em Santiago, que elabora estudos e pesquisas sobre a democracia latino-americana.

Respondo com três itens fundamentais. O primeiro é que as investigações devem ir até o fim, sem essa tentativa até cretina de esconder o caixa três - e não caixa dois - com que opera esse Governo; sem essa tentativa de colocar-se como essencial o que é periférico, enquanto o essencial é a corrupção sistêmica, montada em um projeto de poder desse Governo e desse Partido, o PT. É preciso ir até o fim das investigações.

O segundo é o Presidente não ousar - por isso dou importância a essa matéria de Marta Lagos -, no auge e no ápice do que seria a sua insensatez, vir às ruas imaginando que por essa via coloca-se impune, acima do bem do mal, acima de investigações, porque a democracia é mais forte do que quaisquer forças que ele ainda possa arregimentar. Essa é uma proposta essencial, sob pena de Sua Excelência permitir que se deteriore completamente a sua relação com a Oposição brasileira, que vai reagir.

Em terceiro lugar, para mostrarmos com clareza que o Brasil pode - da parte do Senado tem sido assim - e deve manter-se governável, embora as investigações se processem radicalmente até o final, proponho, nitidamente, que elaboremos em conjunto a tal agenda mínima e que a votemos. Devemos votar aquilo que é essencial no político e no econômico para tocar o País. Este País tem que ser governável de qualquer jeito, com Lula ou com quem quer que seja; tem que ser governável a vida inteira. O Brasil não pode ser tratado com irresponsabilidade por ninguém.

Então, não se diga que a investigação atrapalha a governabilidade, porque não é o que queremos; não se diga que a governabilidade depende do fim das investigações, porque isso não corresponde à realidade. Por outro lado, não pense o Presidente que, assumindo uma porção Chávez - prefiro sua porção Palocci -, vai intimidar as Oposições e, com isso, fazendo suposta guerra popular nas ruas, vai fazer mais do que imitar um presidente de triste figura que não completou o seu mandato há 13 anos.

O Presidente Lula precisa, de uma vez por todas, compreender - e peço um pouco mais de tempo para concluir, Srª Presidenta - que tem falado de maneira inadequada. Toda vez que um presidente fala deve ser capaz de diminuir a crise que recebeu, toda vez que fala. Foi assim com o Presidente Clinton: acusado do que foi acusado - e não era corrupção -, quando foi ao Capitólio, Câmara e Senado reunidos, saiu de lá aplaudido de pé pelos seus adversários e pelos aliados. A crise ficou menor. Foi assim com o Presidente Reagan: acusado, com fortes evidências, no episódio Irã-Contras, ele foi e saiu ovacionado pelo Parlamento. Diminuiu a crise.

O Presidente não pode vulgarizar a sua palavra. A cada momento fala algo que não é bom para ele, não é bom para o seu Governo, não é bom para a sua relação com o Congresso nem para a sua relação com a sociedade. Ameaças que não pode cumprir. Ameaças não devem ser proferidas; ameaças que não podem ser cumpridas, essas é que não devem ser proferidas mesmo. E ele não tem condição de cumprir ameaça alguma contra ninguém. Se Sua Excelência propuser algo parecido com mobilização de lá e de cá, vai ver que de cá se mobiliza mais do que de lá. E não é isso que queremos. Não fizemos até agora um só movimento cotejando forças, nem um só movimento. E não que nos não faltem instrumentos para realizar esse movimento se quisermos fazê-lo. Não o queremos.

Tudo o que queremos é dizer ao Presidente que fique tranqüilo, pois ele não está enfrentando os seus antigos companheiros na Oposição; ele enfrenta as pessoas que têm efetivamente mais maturidade do que aquelas que faziam Oposição antigamente. Não queremos mexer no seu mandato, a menos que este se revele corrupto, a menos que o Presidente apareça como claramente culpado. Aí não temos por que proteger o Presidente. Mas temos todo o interesse em que, enquanto isso não acontecer - e se Deus quiser isso não acontecerá -, Sua Excelência governe o País, e governe-o de modo a entregá-lo ao seu sucessor em condições melhores do que aquelas em que o recebeu; e, por sua vez, que o sucessor o entregue em condições ainda melhores.

A bravata não é caminho para o Presidente. A bravata não é caminho para deter as investigações. E as investigações não são o caminho para determos a governabilidade. Esse é o compromisso de todos aqueles que respeitam o País. Portanto, basta sermos sinceros.

Faço apenas uma exigência para qualquer conversa no sentido dessa governabilidade: que o Presidente assuma para valer as culpas do seu Governo e as do seu Partido. Enquanto permanecer esse jogo de mentira - e a nova direção do PT também já está mentindo, dizendo que não sabia de nada e que está indignada com o Sr. Marcos Valério -, enquanto não acabar essa comédia-bufa, essa ópera-bufa, teremos dificuldades, sim, de daqui para frente conversarmos com quem detém o poder no País hoje, porque estamos vendo que estão resvalando para descaminhos. Não são caminhos. Tudo o que quero para o meu País são caminhos e não descaminhos. Se o Governo pretende desvãos, vamos denunciá-los. Não queremos desvãos. Queremos caminhos para a Nação brasileira.

Obrigado, Srª Presidente.

Era o que tinha a dizer.

 

************************************************************************************************

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso 1 e § 2º, do Regimento Interno.)

************************************************************************************************

Matéria referida:

“O fim do populismo”, revista Época.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/07/2005 - Página 25258