Discurso durante a 119ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Esclarecimentos sobre o dinheiro apreendido recentemente no aeroporto de Brasília, declarado como originário de doações à Igreja Universal do Reino de Deus. Repúdio as declarações do chefe da polícia britânica sobre a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes recentemente em Londres.

Autor
Marcelo Crivella (PL - Partido Liberal/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA EXTERNA. HOMENAGEM.:
  • Esclarecimentos sobre o dinheiro apreendido recentemente no aeroporto de Brasília, declarado como originário de doações à Igreja Universal do Reino de Deus. Repúdio as declarações do chefe da polícia britânica sobre a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes recentemente em Londres.
Aparteantes
Edison Lobão, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 27/07/2005 - Página 25672
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA EXTERNA. HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, CONCLUSÃO, POLICIA FEDERAL, ORIGEM, DINHEIRO, APREENSÃO, AEROPORTO, CAPITAL FEDERAL, DOAÇÃO, MEMBROS, IGREJA EVANGELICA, ESCLARECIMENTOS, PROCEDIMENTO, POLICIA, DIFICULDADE, DEPOSITO, VERBA, CONTA BANCARIA, ENTIDADE.
  • REPUDIO, DECLARAÇÃO, CHEFE, POLICIA, PAIS ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA, APOIO, CONDUTA, POLICIAL, HOMICIDIO, CIDADÃO, NACIONALIDADE BRASILEIRA, SUSPEIÇÃO, TERRORISMO.
  • HOMENAGEM POSTUMA, CIDADÃO, NACIONALIDADE BRASILEIRA, VITIMA, HOMICIDIO, PAIS ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Venho à tribuna para falar de duas coisas: quanto à primeira, já me pronunciei na semana retrasada, a respeito do dinheiro - R$ 10 milhões - que foi apreendido em Brasília, num avião vindo da Região Norte do Brasil com direção a São Paulo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, naquele mesmo dia, não como Senador, mas como membro e participante da Igreja Universal do Reino de Deus, eu disse que se tratava de ofertas, de doações e de que essa estratégia era adotada porque não havia outra solução. As doações que vêm do Brasil inteiro precisam ser levadas para São Paulo, onde todos os pagamentos são feitos, pois há uma dificuldade tremenda para se conseguir depósitos nos bancos, isto é, depositar em contas valores pequenos, miúdos, que demoram muito tempo para serem contados, quando as contas não são naquela agência bancária; que o transporte é complicadíssimo, é caro, é difícil. Tudo isso foi explicado também pelo Presidente da Igreja, Deputado João Batista, que acompanhava naquele momento essas ofertas.

Pois bem, as ofertas foram apreendidas, instaurou-se um inquérito para investigar as coisas, mas, infelizmente, o episódio não foi poupado pelos noticiários e pelos jornais, que concluíram com precipitação, tentando ligar a doação de pessoas, na maioria muito humildes, que se refletiam nas ofertas com notas de cinco e dez reais, as quais constroem um trabalho tão bonito neste País, com mensalão, com dinheiro de corrupção, com dinheiro na cueca, quando uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra. Mas, com o noticiário que se propagou, parecia que se tratava de farinha do mesmo saco.

Mas não há nada melhor do que o tempo. O tempo é o senhor da razão. Três dias depois, a Polícia Federal já concluía que aqueles recursos pertenciam mesmo à igreja. Na quinta-feira à noite, a Polícia Federal, três dias depois, estava convencida disso, e, para não prejudicar a instituição, sabendo que a Justiça demoraria um certo tempo para liberar o dinheiro - a Justiça no Brasil é lenta -, tomou a decisão de depositar os recursos na Caixa Econômica Federal, em nome da igreja, numa conta remunerada, na sexta-feira. Ao fazer isso, comprovou aquilo que eu havia dito da tribuna.

O delegado da Polícia Federal me contou da dificuldade que teve de encontrar um banco que aceitasse esse depósito, um banco que aceitasse o depósito dos R$10 milhões, na conta da igreja, numa agência de Brasília. Foi difícil encontrar esse banco. Por exemplo, o Banco do Brasil, com todos os apelos da Polícia Federal, recusou-se.

E não é só o que eu havia dito - que é difícil encontrar uma agência que aceite depósitos nesse volume, com notas miúdas -, o transporte também é difícil. Disse-me o delegado da Polícia Federal que o dinheiro estava depositado aqui, no representante do meio circulante do Banco Central, a poucas quadras da agência da Caixa Econômica, que, depois de exaustiva negociação, aceitou o depósito. Uma distância de algumas quadras, Sr. Presidente. A Polícia Federal fez, então, contato com uma empresa de transporte de valores, chamada Confederal, de Brasília, para transportar o dinheiro do Banco Central para a Caixa Econômica. A empresa disse que, para fazer aquele transporte, precisaria de dez caminhões, porque, de acordo com sua própria política, seu regimento interno, seu estatuto, só transporta R$1 milhão por caminhão. Portanto, precisaria de dez caminhões para carregar aquele valor. Mais uma vez, a Polícia Federal constatou aquilo que disse aqui, na segunda-feira, fruto de uma experiência de 28 anos. A igreja não nasceu ontem e tem buscado soluções para os seus problemas. Mas, nesse momento, não se ouve, e lá estava a Polícia Federal atormentada para transportar, para depositar o dinheiro, como eu havia dito aqui, pois é difícil, os bancos não aceitam.

Sabem o que fez a Polícia Federal? Como não tinha dinheiro para pagar a empresa para transportar o dinheiro do Banco Central para a Caixa Econômica, resolveu levar nas viaturas da própria Polícia. E tiveram de montar uma operação imensa. Ao chegarem com o dinheiro à Caixa Econômica, mais uma vez encontraram dificuldades. Onze horas para contar todas aquelas notas.

Senador Edison Lobão, há um ditado que diz o seguinte: “O castigo vem a cavalo”. Tenho o maior respeito pela instituição. Mas, lá pelas tantas, eu disse assim: Bem feito! porque eu disse, eu falei que era difícil encontrar um banco para depositar; não aceitaram, viveram na carne. Eu disse que era complicado esse transporte, sentiram o que nós passamos. Infelizmente, não nos ouviram e expuseram uma instituição séria a um vexame.

Essas coisas infelizmente acontecem quando se tomam decisões precipitadas. Mas ainda bem que foi com uma igreja acostumada, sofrida, que já venceu muitos desafios. Espero que isso não ocorra com o Presidência da República. Os ingleses dizem jump into conclusion, uma frase que uma criança, numa escola americana ou inglesa, ou qualquer país de língua inglesa, sabe de cor: pular numa conclusão. E quantas vezes em busca de noticiário de manchetes as pessoas, em um jump into conclusion, colocam em dúvida a honra de instituições, de pessoas de bem e, pior, expõem suas vida! Porque são pastores que, amanhã, terão suas igrejas invadidas por pessoas que vão achar que aquelas ofertas, fruto da arrecadação de uma semana, durante o aniversário, acontecem a todo instante.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Com muita honra, Senador Edison Lobão, ouço V. Exª. 

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Senador Marcelo Crivella, V. Exª explica didaticamente o episódio que envolveu a Igreja Universal do Reino de Deus. Acho que procede muito bem na medida em que traz a esta Casa revelações que, na verdade, os Senadores não conheciam porque estavam ligados apenas às versões que surgiram na Imprensa. Uma coisa é o fato que traz V. Exª hoje, e a outra é a versão do fato, que, em geral, é deformada, é deletéria nos seus resultados. Eu sei, Senador Marcelo Crivella, que tudo parece conspirar contra a Igreja Universal do Reino de Deus. Digo isso com a autoridade de quem não é sequer evangélico. Eu sou católico, mas tenho uma admiração profunda pelos evangélicos e quero aqui destacar a Igreja Universal do Reino de Deus, pelo seu sofrimento, por sua luta indormida em benefício das classes sociais e dos mais desvalidos. Senador Marcelo Crivella, Jesus Cristo veio para salvar a humanidade e sofreu tudo que nós conhecemos e está escrito no Evangelho. Jesus Cristo passou por todas as vicissitudes que se pode imaginar, e o que Ele queria era apenas o bem da humanidade, não mais do que isso. Quando vejo todos os dias, abrindo os jornais e assistindo à televisão, os desvios e os descaminhos da humanidade, as drogas, os crimes, eu logo me lembro das igrejas evangélicas - da Igreja Católica também, é a minha igreja, mas sobretudo das igrejas evangélicas -, do bem que elas fazem à humanidade. Não fossem elas, ai da humanidade!

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Porque elas trazem mais segurança no mundo do que o aparelho policial de Estado. V. Exª tem minha solidariedade completa. Este episódio demonstra que a prudência deve vir antes da intolerância e da imprudência. O que se fez com a Igreja Universal do Reino de Deus, eu diria, foi uma imprudência. V. Exª explica, com toda honestidade que informa o seu caráter, como os fatos ocorreram, um a um, e por que esses dízimos estavam sendo transportados de avião, e não depositados numa agência bancária. Diga-se, até para a confirmação e reafirmação disso, que as agências bancárias - segundo o relato de V. Exª, que é verdadeiro -, não aceitam receber quantias tão elevadas em notas tão pequenas e para o transporte, em seguida, via magnética.

(Interrupção de som.)

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - V. Exª tem, portanto, Senador Marcelo Crivella, minha solidariedade e minha manifestação de cumprimentos por trazer esta verdade translúcida nesta manhã ao Senado da República e ao País.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Muito obrigado, Senador Edison Lobão. Não faço nenhuma crítica à Polícia Federal. Acho que agiram com muita correção, quando, três dias depois, depositaram todo o dinheiro em nome da Igreja Universal numa conta remunerada da Caixa Econômica Federal.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Marcelo Crivella...

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Concedo-lhe já.

Apenas gostaria de ter poupado a Polícia Federal - se tivessem me ouvido - de todo esse sofrimento. Porque eu disse que era difícil encontrar uma agência para depositar, da dificuldade para contar e, pior, do transporte oneroso. E lá ficaram delegados se revezando onze horas na polícia, depois mais onze horas no banco, numa dificuldade para encontrar uma companhia para transportar. Pediram dez caminhões. Só podiam transportar um milhão por caminhão. A Confederal, um milhão por caminhão, são dez milhões, dez caminhões, à distância de duas quadras. Uma luta tremenda. E podiam ter sido poupados disso se tivessem nos ouvido.

Pois não, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Quis Deus estar presidindo a sessão o Presidente desta Casa, Senador Renan Calheiros, que está dando possibilidade ao País do referendo da paz. Acompanhei esse que foi um grande trabalho no Congresso, as muitas audiências públicas, como parlamentar. E das sugestões que ouvi - sugestões todo mundo dá: desarma, coloca soldado, coloca o Exército na rua, pena de morte -, a mais interessante, Senador Marcelo Crivella, foi de um jornalista do Rio de Janeiro, que contou que subia a Rocinha e outras favelas e constatava, dava o testemunho: onde havia uma igreja, a paz em torno dela era presente. Então é disto que o Brasil precisa: de mais igreja, de mais Deus. Sobretudo neste momento, para lembrar, entre os Dez Mandamentos, “Não roubarás!”, aos políticos do meu Brasil.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL - RJ) - Sem dúvida.

Para concluir, Sr. Presidente, gostaria de fazer aqui um repúdio veemente à atitude do chefe da polícia britânica de Londres, Sr. Ian Blair, que foi de uma insensibilidade a toda prova, quando deu entrevista falando sobre a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, que, aos 27 anos, fugindo de três policiais, desuniformizados, não-identificados, foi perseguido, imobilizado, dominado e assassinado com oito tiros.

Senador Edison Lobão, o Brasil precisa saber, porque temos milhões de brasileiros hoje vivendo no exterior, como é que uma polícia como a Scotland Yard persegue um brasileiro que não tem a menor aparência de terrorista, um rapaz com boa aparência, trabalhador, o imobilizam e, nesse instante, não conseguem sentir que debaixo da sua roupa não existia um colete de dinamites ou de bombas, e aí liquidam a vida de um rapaz de 27 anos com oito tiros covardes.

Vem o chefe de polícia, Ian Blair, e diz o seguinte: “Olha, a polícia está certa. Eles têm que atirar na cabeça porque se atirarem no corpo vão atingir o dispositivo das dinamites e muitas pessoas vão morrer.” Eles não fizeram isso a certa distância. Eles fizeram isso sobre o corpo do rapaz, quando ele estava dominado e deitado no chão. Sabem quem viu isso? Um senhor inglês, que estava sentado no mesmo vagão do trem, lendo um jornal e que, pelas declarações que deu, mostrou muita indignação porque achou uma covardia, como o mundo inteiro achou.

A partir de domingo, as autoridades britânicas começaram a mudar o tom das declarações e agora já falam em uma indenização. Talvez a família precise dessa indenização para repor o que esse rapaz deixa de representar no orçamento doméstico, mas o povo brasileiro, o Congresso Nacional sobretudo, a nossa Comissão, Senador Valdir Raupp, que defende os brasileiros que vivem no exterior, queremos honra, queremos dignidade, queremos um pedido de desculpa oficial do Governo britânico e queremos que os responsáveis sejam punidos.

Agora, sim, quatro dias depois, sem “jump into conclusion”, diante dos fatos, o Brasil espera uma resposta à altura da dor que sentimos pela morte do nosso irmão.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/07/2005 - Página 25672