Discurso durante a 120ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários à pesquisa do Datafolha sobre honestidade dos políticos.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários à pesquisa do Datafolha sobre honestidade dos políticos.
Aparteantes
César Borges.
Publicação
Publicação no DSF de 28/07/2005 - Página 25768
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, RESULTADO, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, DEMONSTRAÇÃO, METADE, POPULAÇÃO, AUSENCIA, IDENTIFICAÇÃO, ETICA, CONFIANÇA, POLITICO, PERCENTAGEM, OPINIÃO PUBLICA, CITAÇÃO, NOME, ELOGIO, CONDUTA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, CONGRESSISTA, GOVERNO, SOCIEDADE, DEMONSTRAÇÃO, RESPONSABILIDADE, CRISE, PAIS, EMPENHO, INVESTIGAÇÃO, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, ATO, CORRUPÇÃO, GARANTIA, CONFIANÇA, RESPEITO, OPINIÃO PUBLICA.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, temos, já não diria todos os dias, mas todas as horas, muitas novidades. Não só fatos, mas também posicionamentos. Então, é bom ficarmos acompanhando atentamente toda a evolução dos fatos, das opiniões e das posições.

Mas o que me traz à tribuna hoje são algumas questões, entre elas a revelação de uma pesquisa que está na Folha de S.Paulo, do Datafolha, de que metade dos brasileiros não consegue citar nome de político honesto. Portanto, estamos todos muito em baixa de maneira geral, porque, se metade da população não consegue identificar honestidade na atividade que exercemos, penso que é uma preocupação generalizada para todos nós.

Mas, quando a população é instada a fazê-lo, mesmo metade não conseguindo citar nenhum nome, os que conseguem citar um nome colocam exatamente o Presidente Lula como o primeiro colocado.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Quantos por cento?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Dezenove por cento lembram do Presidente Lula como uma pessoa honesta. E é interessante que o segundo mais citado fica nove pontos percentuais atrás. Então, o Presidente Lula com dezenove, e o segundo citado com apenas dez por cento.

É importante trazer esses dados pela preocupação que traz a todos nós, porque metade não consegue identificar ninguém, nenhum político honesto, até porque houve alguns decibéis nos debates políticos nos últimos dias a respeito de honestidade etc. E é muito importante lembrar como a população está enxergando a todos nós, os fatos, as situações que estamos vivenciando.

A outra questão que considero de fundamental importância trazer é que estamos exatamente sendo avaliados pela população em relação ao critério de honestidade e envolvimento com as investigações em andamento no Congresso Nacional, nas várias CPIs em funcionamento, algumas em verdadeira ebulição. Todos nós temos que dar uma demonstração inequívoca da nossa responsabilidade com os fatos, com aquilo que está sendo apresentado e trazido pela imprensa todos os dias - ou melhor, a toda hora -, e do nosso envolvimento e da nossa preocupação. Afinal, é assim que a população estará nos apreciando e nos avaliando, durante esse processo, em relação a nossa atuação e ao nosso empenho nas investigações.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, trago, ainda, alguns ingredientes que considero importantes. Primeiro: corrupção não tem data de vencimento. Corrupção, quando ocorre, deixa mácula, deixa digitais, deixa o episódio que, se não foi investigado, apurado e punido no tempo adequado, quando volta à baila -isso foi citado aqui ontem - não prescreve, como o iogurte, que tem data de validade, que não pode ser consumido quando passa o prazo. Ou seja, não existe o “não investigue mais porque é assunto de antigamente”. Acho que corrupção não tem data de validade nem data de vencimento. Ou seja, episódios - volto a dizer - existem muitos, vários que, infelizmente, não foram investigados, apurados, nem os culpados punidos.

Quero dizer que também que em corrupção não tem essa história de foco, de dizer “vamos focar só a corrupção daqui, deste episódio”, como dito em vários jornais. Não quero personalizar, mas dizer que é preciso investigar sem mudar o foco só porque apareceram outras questões, outros episódios assemelhados, creio que - temos que ter bastante clareza disto - não é por aí.

O outro ponto se refere a não se fazer blindagem. Gostaria de deixar muito claro, porque, como estamos on-line -  pelo visto a TV Senado e a TV Câmara acompanham os nossos trabalhos no Congresso Nacional pior do que em final de Copa do mundo -, quem tentar fazer blindagem realmente terá muita dificuldade depois para se expressar.

Existe algo que volto à tribuna para ressaltar de forma inequívoca: o compromisso com a investigação, com a apuração dos fatos, com a punição de todos os atos de corrupção, sem fazer blindagem, sem essa lógica de não mudar o foco. Nós conquistamos, neste País, instituições democráticas, uma Constituição e uma legislação que estão em vigor, e que ninguém tenha a tentação de se contrapor a elas ou querer fazer subterfúgios para trilhar caminhos tortuosos para qualquer coisa.

Luiz Inácio Lula da Silva, dos políticos honestos, é o mais citado. Foi eleito por 53 milhões de brasileiros, conquistou um mandato de quatro anos e vai cumprir o mandato de quatro anos.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Será reeleito ou não, pela Constituição e, volto a dizer, pelo povo nas urnas. Se ele entender que deve se candidatar à reeleição, será o povo brasileiro que lhe concederá ou não um novo mandato.

E não cabe a ninguém dizer aqui que respeitaremos a decisão do povo se o reeleger, até porque não há outra alternativa. Não há outra alternativa a não ser respeitar aquilo que o povo decide nas urnas. Nenhum outro caminho que não seja o respeito à decisão do povo nas urnas cabe mais neste País. Não cabe mais. Nós já superamos isso.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - É possível conceder um aparte, Senadora?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Acho que não, porque estou com o meu tempo esgotado.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP. Fazendo soar a campainha.) - Eu já prorroguei seu tempo por dois minutos e gostaria que V. Exª concluísse.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Mas dois Senadores me pedem aparte.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Eles terão oportunidade de falar. V. Exª está falando para uma comunicação inadiável.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Senador César Borges, estou falando para uma comunicação inadiável. Até poderia retomar o assunto depois. Só quero afirmar, porque tenho...

O Sr. César Borges (PFL - BA) - V. Exª não gosta do debate. É bem verdade isso.

SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Se V. Exª fizer questão de conceder apartes, posso conceder mais um minuto, desde que sejam rápidos.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Concedo o aparte ao Senador César Borges e ao Senador Sibá Machado, rapidamente, para eu poder concluir e não dizerem que eu estou fugindo do debate.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Primeiro, quem não respeitava o resultados das urnas era o Partido de V. Exª, que pregava “Fora FHC”. Nós não pregamos isso. Nós fazemos uma oposição democrática. Segundo, para o Presidente da República, que está na mídia todos os dias, só ter 19% da população brasileira que o aponta como honesto - ou seja, 81% acham que ele é desonesto - é realmente estarrecedor. Eram apenas essas observações, dizendo que V. Exª tem melhorado muito, tem saído daquela posição de querer blindar as pessoas. Continue nessa linha que V. Exª vai bem. Muito obrigado pelo aparte, Senadora.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Senador César Borges, em primeiro lugar, a teoria de “Fora FHC” foi muito debatida dentro do PT e não foi tese vencedora nas instâncias do Partido. Parcela de militantes do PT levou essa bandeira, à revelia das decisões majoritárias do Partido.

Em segundo lugar, a pesquisa Datafolha não diz que 19% considera o Presidente Lula honesto e que 81% o consideram desonesto. Não! Senador César Borges, a pesquisa Datafolha diz que metade dos brasileiros não apresenta nenhum político honesto. Portanto, isso é grave para todos nós. Dos que lembraram algum político honesto, 19% citaram o Presidente Lula.

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - E o segundo nome citado tem 9% a menos ainda que o Presidente Lula.

Então, para que não paire nenhuma dúvida, não quero trazer ao debate meramente a questão da honestidade, mas o debate do respeito às instituições, ao direito do povo, porque é dele que emana o poder. Em nossa Constituição, está colocado que é do povo que emana o poder. Portanto, se o povo elegeu o Presidente Lula por quatro anos, este mandato dado pelo povo será respeitado. E, se o povo der o direito ao Presidente Lula de reeleição, tem de ser respeitado.

Outros caminhos, quaisquer que sejam, são caminhos que este País não voltará a trilhar, porque nos custou muito reconstruir a democracia, Senador Romeu Tuma, foi muito dolorosa e muito difícil a reconstrução. Talvez haja pessoas que sintam saudades. Eu não tenho e a ampla maioria da população não tem e quer respeitar a democracia e o direito de o povo votar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/07/2005 - Página 25768