Pronunciamento de Wellington Salgado em 28/07/2005
Discurso durante a 121ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Homenagem de pesar pelo falecimento do mineiro Jean Charles de Menezes, em Londres, dia 22 de julho do corrente.
- Autor
- Wellington Salgado (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
- Nome completo: Wellington Salgado de Oliveira
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SENADO.
HOMENAGEM.:
- Homenagem de pesar pelo falecimento do mineiro Jean Charles de Menezes, em Londres, dia 22 de julho do corrente.
- Aparteantes
- Eduardo Suplicy, Luiz Otavio, Maguito Vilela, Mão Santa.
- Publicação
- Publicação no DSF de 29/07/2005 - Página 25858
- Assunto
- Outros > SENADO. HOMENAGEM.
- Indexação
-
- DISCURSO, INAUGURAÇÃO, MANDATO, ORADOR, SAUDAÇÃO, APROVAÇÃO, CRIAÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL.
- HOMENAGEM POSTUMA, CIDADÃO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), VITIMA, HOMICIDIO, ERRO, POLICIA, PAIS ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, EMIGRAÇÃO, BRASILEIROS, BUSCA, MELHORIA, CONDIÇÕES DE TRABALHO.
- ELOGIO, TRABALHO, SENADOR, ESPECIFICAÇÃO, COMISSÃO.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Já pedi ao Presidente para tentar dar um jeitinho, mas como sou aquele desvio padrão muito grande em relação à média.
Sr. Presidente,...
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Com licença, Senador Wellington.
Senador Luiz Otávio, V Exª falará em seguida ao Senador Wellington Salgado.
O SR. LUIZ OTÁVIO (PMDB - PA) - Será uma honra muito grande. Eu vim, inclusive, para ouvir o discurso do Senador Wellington.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Luiz Otávio.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vejam bem como o mundo e o destino, às vezes, são um pouco duros com a pessoa. No meu primeiro dia no Senado, tive um momento maravilhoso, pois, a vida inteira, lutei para abrir universidades pelo Brasil afora e, soube que foram aprovadas seis universidades federais para o Brasil.
A todo momento, ficava preparando um discurso para quando eu subisse pela primeira vez à tribuna. O meu discurso, com certeza, seria sobre a grande taxa de juros cobrada sobre a dívida de Minas Gerais - todos os Estados pagam 6% mais IGPDI, enquanto Minas paga 7,5%.
Mas o que acontece? Justamente hoje sou obrigado a mudar o teor do meu primeiro discurso aqui no Senado. Por quê? Porque quero anunciar, Sr. Presidente, que o mineiro Jean Charles Menezes voltou ao Brasil. Voltou com 27 anos de idade, depois de morar quatro anos na Inglaterra. Voltou, mas não vai sentar à mesa no domingo, não vai mais contar o que viu no país nos Beatles e dos Rolling Stones. Não vai mais cantar a última música do U2, nem vai mais falar da performance irreverente do vocalista do Oasis. Na verdade, Sr. Presidente, ele nunca mais vai falar.
Jean Charles de Menezes foi morto com oito tiros na cabeça, dados pela melhor polícia do mundo, no país dos principais movimentos culturais, dirigido, talvez, pelo mais moderno dirigente mundial, Toni Blair. Mesmo assim, eles mataram Jean Charles, mataram com oito tiros na cabeça. Mataram um eletricista, mataram uma esperança, uma maldita esperança que faz com que cada vez mais mineiros e brasileiros decidam ir embora do nosso País. Talvez, Sr. Presidente, não seja uma esperança, mas sim uma desesperança no nosso País.
Jean Charles, natural de Gonzaga, Minas Gerais, filho de Dona Maria Otoni Menezes e do Sr. Matozinho Otoni Menezes, vai ser enterrado com glórias, com a bandeira de Minas sobre seu ataúde e com muitos a acompanhar o seu cortejo.
O Presidente Lula, com seu grande coração, já ligou para a família e falou pessoalmente com o pai da vítima, Sr. Matozinho Otoni da Silva, apresentou condolências pela tragédia e enfatizou a importância de uma indenização que Jean Charles merecia por ser arrimo de família. O Presidente disse também que o Governo britânico pediu, formalmente, desculpas à família e ao País.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não existe nem nunca vai existir indenização ou desculpa que possa fazer curar a tristeza e a saudade que, com certeza, doerão pelo resto da vida no coração dos pais, dos irmãos e dos amigos que perdem um ente querido dessa maneira absurda.
Srªs e Srs. Senadores, os mineiros sabem exatamente o que é um almoço de domingo com toda a família. Desgraçadamente, o próximo domingo será dois dias após o enterro de Jean.
Sr. Presidente, talvez um dia, quem sabe, Bono Vox, vocalista do U2, faça uma música para Jean Charles. Com certeza, os mineiros cantarão a música Amigo, pensando em Jean Charles, símbolo da esperança de um dia melhor, símbolo do desejo de ser melhor, símbolo da responsabilidade de trocar a solidão num país estranho por melhores condições para seu pai, sua mãe e seus irmãos.
Sr. Presidente, hoje, Minas está de luto, está triste, muito triste porque, quando acontece algo assim com um mineiro, toda Minas Gerais sofre. Hoje é um dia muito triste, muito triste mesmo, Sr. Presidente.
Para terminar, pois não quero estender essa tristeza, devo dizer: Jean Charles, durma com Deus! E que, onde quer que esteja, seus olhos brilhem com a eterna esperança que o fez viver em Minas Gerais e na Inglaterra!
O Sr. Luiz Otávio (PMDB - PA) - Senador Wellington, peço um aparte a V. Exª.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Pois não, Senador Luiz Otávio.
O Sr. Luiz Otávio (PMDB - PA) - Apenas para, nesta oportunidade, em nome do meu Estado do Pará, do Senado Federal, do Senador Renan Calheiros, Presidente do Senado e do Congresso Nacional, prestar a nossa solidariedade a V. Exª no cumprimento de seu dever como mineiro, não apenas fazendo esse pronunciamento, mas apoiando a família desse jovem. Jean representava o Brasil na Inglaterra, assim como tantos estudantes e trabalhadores, mais de 15 mil, de acordo com dados da Embaixada do Brasil em Londres, que se encontram na mesma situação do Jean. Na verdade, V. Exª, nesse pronunciamento, demonstra, em nome do seu grandioso Estado, o sentimento do povo mineiro. E associo-me a V. Exª no envio de condolências à família em nome do meu Estado do Pará e de todo o Brasil. Sabemos da dificuldade que o governo inglês tem, como todos os governos, de enfrentar o terrorismo, mas também não podemos pactuar com o estado de violência que atinge a todos os cidadãos, a toda a sociedade. O Brasil, por intermédio do Presidente Lula, teve um gesto muito forte, muito firme, ao enviar o Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a Londres, na Inglaterra, para estar, inclusive, com o Primeiro Ministro Tony Blair, numa demonstração da capacidade do povo brasileiro de se revoltar com a violência cometida pela Scotland Yard. Creio que a polícia inglesa fará uma reflexão sobre o modo de operar. A decisão da inspetora de fuzilar, na verdade, esse brasileiro foi tomada nos últimos momentos. Hoje, os jornais do mundo todo, com a força da mídia e da Internet, demonstram claramente que, no inquérito que está sendo apurado, poderia ter sido evitado esse grave e sério fuzilamento. Com certeza, deverá haver um gesto de reflexão em todo o sistema de segurança da Inglaterra. Agradeço a V. Exª a oportunidade de fazer um aparte a seu brilhante discurso nesta manhã.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Luiz Otávio.
Veja bem, Senador: nesses momentos em que vivemos essas denúncias de pagamento de mensalão, em que só se fala em dinheiro, quem levou, quem deu, conseguirmos ter ainda algum sentimento no coração e perceber a dor que essa família está sentindo, a dor da desesperança.
Realmente fiquei muito preocupado, inclusive, porque, no dia seguinte aos atentados em Londres, meu filho mais velho viajou para estudar em uma universidade inglesa, e está lá até hoje. E tenho que ficar, a todo o momento, pedindo para ele não...
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP. Fazendo soar a campainha.) - Senador, estou recebendo uma informação técnica de que o microfone capta o som a uma distância de até 50 centímetros. Assim V. Exª pode ficar mais à vontade, porque estou percebendo que está se sacrificando. Desculpe-me interrompê-lo por isso.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - É sempre uma honra ser interrompido por V. Exª.
Como dizia, Senador Luiz Otávio, é maravilhoso ver que V. Exª, que é um homem que vive lutando pelo seu Estado e lutando pelo Brasil, também consegue manter seu coração ainda preparado, com sentimentos, para perceber a dor dessa família e de todos os mineiros neste momento.
O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Vou conceder mais cinco minutos a V. Exª, Senador Wellington.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Pois não, Senador Maguito Vilela.
O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - É apenas para cumprimentá-lo pelo pronunciamento. Já tive a oportunidade de prestar a minha solidariedade ao povo de Gonzaga, de Minas e, naturalmente, ao povo brasileiro, pelo trágico desaparecimento do Jean Charles de Menezes, de uma forma brutal, inconcebível. Cumprimento-o pelo pronunciamento e, mais uma vez, quero dizer que V. Exª é muito bem-vindo a esta Casa. Temos certeza absoluta de que V. Exª trará grandes contribuições, como já vem fazendo, a este Senado. V. Exª é um jovem voltado para a educação, principalmente a educação de nível superior, e tem prestado relevantes serviços ao País na área da educação e do esporte, haja vista que V. Exª, nas suas universidades, patrocina um dos melhores times de basquete do nosso País, incentivando a juventude a praticar esportes. Assim, reapresento os votos de boas-vindas a V. Exª, desejando que continue trazendo informações, fazendo pronunciamentos, apresentando projetos, propostas de emenda à Constituição, que irão, sem dúvida alguma, engrandecer, enriquecer, honrar e dignificar este Parlamento. Muito obrigado.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Maguito Vilela, pelo aparte.
Uma coisa muito importante que tenho a dizer é que, quando cheguei a esta Casa, vim munido de informações da mídia de que aqui se trabalha pouco. E, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aqui se trabalha muito. Muito, muito, muito mesmo. Não se tem horário, as pessoas pensam que o trabalho é somente o plenário; entretanto, a maior parte do trabalho está justamente nas Comissões. E ainda, vivendo este momento, estão todos os Senadores trabalhando muito. Então, para minha geração - já que sou um dos mais novos, digamos assim, e, com isso, posso cometer alguns erros -, quero deixar registrado que estou muito orgulhoso desta Casa e, com certeza, vou dizer do quanto se trabalha aqui ao final de meu mandato, cumprindo esta etapa do mandato do nosso Ministro Hélio Costa.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - É uma honra tê-lo aparteando o meu pronunciamento, depois de tê-lo observado bastante durante minha vida e, agora, conhecê-lo pessoalmente.
Pois não, Senador Eduardo Suplicy.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero também juntar-me a V. Exª em suas palavras de solidariedade e sentimento de pesar à família e a todos os mineiros pelo assassinato, pela polícia inglesa, de Jean Charles de Menezes, este rapaz de 27 anos, que saiu do e foi para a Inglaterra buscar uma oportunidade de trabalho e, assim, poder ajudar seus familiares, muito modestos em termos de recursos, ali em Gonzaga. Hoje, a cidade inteira está mobilizada, acompanhando o seu funeral. Ainda ontem, quando a polícia inglesa conseguiu prender uma pessoa que estava efetivamente envolvida nos atos de terrorismo, utilizando aquela arma de efeito paralisador, ficou claramente demonstrado que não teriam sido necessários aqueles disparos, diante mesmo da possibilidade de Jean Charles de Menezes ter qualquer tipo de envolvimento com os atentados, alvejando-o na cabeça.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Da mesma maneira que não teria sido necessário aos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido terem provocado milhares de mortes no Iraque para que Saddam Hussein fosse apeado do poder. Teria sido muito melhor que se utilizassem os meios da não-violência para se transformar a vida política do Iraque. Em função daquele erro crasso, continua a haver mortes de inocentes como Jean Charles de Menezes. Quero informar a V. Exª que, ainda ontem, registrei aqui, da tribuna do Senado, requerimento encaminhado ao Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado e da Câmara, por iniciativa minha e do Deputado...
(Interrupção do som.)
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador, vou conceder mais um minuto para que V. Exª possa concluir.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Para que o Ministro Celso Amorim possa comparecer à reunião conjunta de ambas as Comissões e explicar as medidas que vêm sendo tomadas pelo Governo brasileiro sobre Jean Charles de Menezes, assim como sobre João José Vasconcelos Júnior, mineiro, que ainda está sob o domínio dos rebeldes no Iraque. Meus cumprimentos a V. Exª.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Suplicy. De V. Exª, eu só poderia esperar realmente um sentimento dessa grandeza.
Senador Mão Santa, por favor.
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador, V. Exª já encerrou três vezes o seu pronunciamento. Se V. Exª faz questão de conceder mais um aparte, vou lhe dar mais tempo.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Por favor, porque, sempre que o Senador Mão Santa fala, o Brasil todo ouve, e eu também.
Pois não, Senador Mão Santa.
O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Sr. Presidente Romeu Tuma, deixa o Piauí entrar nessa política do café-com-leite - São Paulo e Minas Gerais.
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - É que V. Exª é recordista em apartes. V. Exª disse que o Senador Alvaro Dias era o recordista em pronunciamentos...
O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Sim, está no hino do Piauí: “Piauí, terra querida; Filha do sol do Equador”. Na luta, o seu filho é o primeiro que chega. Depois do sonho de Tiradentes, fomos nós que expulsamos os portugueses na Batalha do Jenipapo. Então, eu não poderia deixar de saudar V. Exª, Senador Salgado, que representa muito bem a história deste Senado. Por aqui, além dos grandes valores, bastaria citar Juscelino Kubitschek, que foi cassado quando sentava na sua cadeira. Isso traduz o que é política. Mas eu queria dizer da solidariedade de V. Exª. Shakespeare diz que não há nem bem, nem mal; o que vale é a interpretação. Portanto, esse mártir - se não for Tiradentes é um outro - é do momento atual, da crise atual. Naquela ocasião, era a independência que se buscava, a liberdade; e, agora, o mineiro é o mártir da luta pelo trabalho na nossa Pátria, que não há. Que haja uma reflexão dos governantes, como o fez Rui Barbosa, que está ali, que é baiano. Ele disse que tem de ser dada a primazia ao trabalho e ao trabalhador. O trabalho e o trabalhador são os que vêm primeiro, são eles que fazem a riqueza. Essa é uma reflexão para que o Governo propicie trabalho aos brasileiros, inspirado na morte de mais um mártir mineiro, que foi em busca da dignidade do trabalho, o que não encontra na sua Pátria.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Mão Santa, pelo aparte.
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador Wellington, a Mesa, com bastante amargura, se solidariza com o pronunciamento de V. Exª em homenagem ao jovem Jean Charles. Acredito que V. Exª traz toda a amargura não só do povo mineiro, mas do povo brasileiro, na esperança de que fatos como esses não se repitam e não entristeçam a Nação, como ocorreu na Inglaterra.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Já pedi ao Presidente para tentar dar um jeitinho, mas como sou aquele desvio padrão muito grande em relação à média.
Sr. Presidente,...
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Com licença, Senador Wellington.
Senador Luiz Otávio, V Exª falará em seguida ao Senador Wellington Salgado.
O SR. LUIZ OTÁVIO (PMDB - PA) - Será uma honra muito grande. Eu vim, inclusive, para ouvir o discurso do Senador Wellington.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Luiz Otávio.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vejam bem como o mundo e o destino, às vezes, são um pouco duros com a pessoa. No meu primeiro dia no Senado, tive um momento maravilhoso, pois, a vida inteira, lutei para abrir universidades pelo Brasil afora e, soube que foram aprovadas seis universidades federais para o Brasil.
A todo momento, ficava preparando um discurso para quando eu subisse pela primeira vez à tribuna. O meu discurso, com certeza, seria sobre a grande taxa de juros cobrada sobre a dívida de Minas Gerais - todos os Estados pagam 6% mais IGPDI, enquanto Minas paga 7,5%.
Mas o que acontece? Justamente hoje sou obrigado a mudar o teor do meu primeiro discurso aqui no Senado. Por quê? Porque quero anunciar, Sr. Presidente, que o mineiro Jean Charles Menezes voltou ao Brasil. Voltou com 27 anos de idade, depois de morar quatro anos na Inglaterra. Voltou, mas não vai sentar à mesa no domingo, não vai mais contar o que viu no país nos Beatles e dos Rolling Stones. Não vai mais cantar a última música do U2, nem vai mais falar da performance irreverente do vocalista do Oasis. Na verdade, Sr. Presidente, ele nunca mais vai falar.
Jean Charles de Menezes foi morto com oito tiros na cabeça, dados pela melhor polícia do mundo, no país dos principais movimentos culturais, dirigido, talvez, pelo mais moderno dirigente mundial, Toni Blair. Mesmo assim, eles mataram Jean Charles, mataram com oito tiros na cabeça. Mataram um eletricista, mataram uma esperança, uma maldita esperança que faz com que cada vez mais mineiros e brasileiros decidam ir embora do nosso País. Talvez, Sr. Presidente, não seja uma esperança, mas sim uma desesperança no nosso País.
Jean Charles, natural de Gonzaga, Minas Gerais, filho de Dona Maria Otoni Menezes e do Sr. Matozinho Otoni Menezes, vai ser enterrado com glórias, com a bandeira de Minas sobre seu ataúde e com muitos a acompanhar o seu cortejo.
O Presidente Lula, com seu grande coração, já ligou para a família e falou pessoalmente com o pai da vítima, Sr. Matozinho Otoni da Silva, apresentou condolências pela tragédia e enfatizou a importância de uma indenização que Jean Charles merecia por ser arrimo de família. O Presidente disse também que o Governo britânico pediu, formalmente, desculpas à família e ao País.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não existe nem nunca vai existir indenização ou desculpa que possa fazer curar a tristeza e a saudade que, com certeza, doerão pelo resto da vida no coração dos pais, dos irmãos e dos amigos que perdem um ente querido dessa maneira absurda.
Srªs e Srs. Senadores, os mineiros sabem exatamente o que é um almoço de domingo com toda a família. Desgraçadamente, o próximo domingo será dois dias após o enterro de Jean.
Sr. Presidente, talvez um dia, quem sabe, Bono Vox, vocalista do U2, faça uma música para Jean Charles. Com certeza, os mineiros cantarão a música Amigo, pensando em Jean Charles, símbolo da esperança de um dia melhor, símbolo do desejo de ser melhor, símbolo da responsabilidade de trocar a solidão num país estranho por melhores condições para seu pai, sua mãe e seus irmãos.
Sr. Presidente, hoje, Minas está de luto, está triste, muito triste porque, quando acontece algo assim com um mineiro, toda Minas Gerais sofre. Hoje é um dia muito triste, muito triste mesmo, Sr. Presidente.
Para terminar, pois não quero estender essa tristeza, devo dizer: Jean Charles, durma com Deus! E que, onde quer que esteja, seus olhos brilhem com a eterna esperança que o fez viver em Minas Gerais e na Inglaterra!
O Sr. Luiz Otávio (PMDB - PA) - Senador Wellington, peço um aparte a V. Exª.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Pois não, Senador Luiz Otávio.
O Sr. Luiz Otávio (PMDB - PA) - Apenas para, nesta oportunidade, em nome do meu Estado do Pará, do Senado Federal, do Senador Renan Calheiros, Presidente do Senado e do Congresso Nacional, prestar a nossa solidariedade a V. Exª no cumprimento de seu dever como mineiro, não apenas fazendo esse pronunciamento, mas apoiando a família desse jovem. Jean representava o Brasil na Inglaterra, assim como tantos estudantes e trabalhadores, mais de 15 mil, de acordo com dados da Embaixada do Brasil em Londres, que se encontram na mesma situação do Jean. Na verdade, V. Exª, nesse pronunciamento, demonstra, em nome do seu grandioso Estado, o sentimento do povo mineiro. E associo-me a V. Exª no envio de condolências à família em nome do meu Estado do Pará e de todo o Brasil. Sabemos da dificuldade que o governo inglês tem, como todos os governos, de enfrentar o terrorismo, mas também não podemos pactuar com o estado de violência que atinge a todos os cidadãos, a toda a sociedade. O Brasil, por intermédio do Presidente Lula, teve um gesto muito forte, muito firme, ao enviar o Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a Londres, na Inglaterra, para estar, inclusive, com o Primeiro Ministro Tony Blair, numa demonstração da capacidade do povo brasileiro de se revoltar com a violência cometida pela Scotland Yard. Creio que a polícia inglesa fará uma reflexão sobre o modo de operar. A decisão da inspetora de fuzilar, na verdade, esse brasileiro foi tomada nos últimos momentos. Hoje, os jornais do mundo todo, com a força da mídia e da Internet, demonstram claramente que, no inquérito que está sendo apurado, poderia ter sido evitado esse grave e sério fuzilamento. Com certeza, deverá haver um gesto de reflexão em todo o sistema de segurança da Inglaterra. Agradeço a V. Exª a oportunidade de fazer um aparte a seu brilhante discurso nesta manhã.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Luiz Otávio.
Veja bem, Senador: nesses momentos em que vivemos essas denúncias de pagamento de mensalão, em que só se fala em dinheiro, quem levou, quem deu, conseguirmos ter ainda algum sentimento no coração e perceber a dor que essa família está sentindo, a dor da desesperança.
Realmente fiquei muito preocupado, inclusive, porque, no dia seguinte aos atentados em Londres, meu filho mais velho viajou para estudar em uma universidade inglesa, e está lá até hoje. E tenho que ficar, a todo o momento, pedindo para ele não...
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP. Fazendo soar a campainha.) - Senador, estou recebendo uma informação técnica de que o microfone capta o som a uma distância de até 50 centímetros. Assim V. Exª pode ficar mais à vontade, porque estou percebendo que está se sacrificando. Desculpe-me interrompê-lo por isso.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - É sempre uma honra ser interrompido por V. Exª.
Como dizia, Senador Luiz Otávio, é maravilhoso ver que V. Exª, que é um homem que vive lutando pelo seu Estado e lutando pelo Brasil, também consegue manter seu coração ainda preparado, com sentimentos, para perceber a dor dessa família e de todos os mineiros neste momento.
O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Vou conceder mais cinco minutos a V. Exª, Senador Wellington.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Pois não, Senador Maguito Vilela.
O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - É apenas para cumprimentá-lo pelo pronunciamento. Já tive a oportunidade de prestar a minha solidariedade ao povo de Gonzaga, de Minas e, naturalmente, ao povo brasileiro, pelo trágico desaparecimento do Jean Charles de Menezes, de uma forma brutal, inconcebível. Cumprimento-o pelo pronunciamento e, mais uma vez, quero dizer que V. Exª é muito bem-vindo a esta Casa. Temos certeza absoluta de que V. Exª trará grandes contribuições, como já vem fazendo, a este Senado. V. Exª é um jovem voltado para a educação, principalmente a educação de nível superior, e tem prestado relevantes serviços ao País na área da educação e do esporte, haja vista que V. Exª, nas suas universidades, patrocina um dos melhores times de basquete do nosso País, incentivando a juventude a praticar esportes. Assim, reapresento os votos de boas-vindas a V. Exª, desejando que continue trazendo informações, fazendo pronunciamentos, apresentando projetos, propostas de emenda à Constituição, que irão, sem dúvida alguma, engrandecer, enriquecer, honrar e dignificar este Parlamento. Muito obrigado.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Maguito Vilela, pelo aparte.
Uma coisa muito importante que tenho a dizer é que, quando cheguei a esta Casa, vim munido de informações da mídia de que aqui se trabalha pouco. E, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aqui se trabalha muito. Muito, muito, muito mesmo. Não se tem horário, as pessoas pensam que o trabalho é somente o plenário; entretanto, a maior parte do trabalho está justamente nas Comissões. E ainda, vivendo este momento, estão todos os Senadores trabalhando muito. Então, para minha geração - já que sou um dos mais novos, digamos assim, e, com isso, posso cometer alguns erros -, quero deixar registrado que estou muito orgulhoso desta Casa e, com certeza, vou dizer do quanto se trabalha aqui ao final de meu mandato, cumprindo esta etapa do mandato do nosso Ministro Hélio Costa.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - É uma honra tê-lo aparteando o meu pronunciamento, depois de tê-lo observado bastante durante minha vida e, agora, conhecê-lo pessoalmente.
Pois não, Senador Eduardo Suplicy.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero também juntar-me a V. Exª em suas palavras de solidariedade e sentimento de pesar à família e a todos os mineiros pelo assassinato, pela polícia inglesa, de Jean Charles de Menezes, este rapaz de 27 anos, que saiu do e foi para a Inglaterra buscar uma oportunidade de trabalho e, assim, poder ajudar seus familiares, muito modestos em termos de recursos, ali em Gonzaga. Hoje, a cidade inteira está mobilizada, acompanhando o seu funeral. Ainda ontem, quando a polícia inglesa conseguiu prender uma pessoa que estava efetivamente envolvida nos atos de terrorismo, utilizando aquela arma de efeito paralisador, ficou claramente demonstrado que não teriam sido necessários aqueles disparos, diante mesmo da possibilidade de Jean Charles de Menezes ter qualquer tipo de envolvimento com os atentados, alvejando-o na cabeça.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Da mesma maneira que não teria sido necessário aos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido terem provocado milhares de mortes no Iraque para que Saddam Hussein fosse apeado do poder. Teria sido muito melhor que se utilizassem os meios da não-violência para se transformar a vida política do Iraque. Em função daquele erro crasso, continua a haver mortes de inocentes como Jean Charles de Menezes. Quero informar a V. Exª que, ainda ontem, registrei aqui, da tribuna do Senado, requerimento encaminhado ao Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado e da Câmara, por iniciativa minha e do Deputado...
(Interrupção do som.)
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador, vou conceder mais um minuto para que V. Exª possa concluir.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Para que o Ministro Celso Amorim possa comparecer à reunião conjunta de ambas as Comissões e explicar as medidas que vêm sendo tomadas pelo Governo brasileiro sobre Jean Charles de Menezes, assim como sobre João José Vasconcelos Júnior, mineiro, que ainda está sob o domínio dos rebeldes no Iraque. Meus cumprimentos a V. Exª.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Suplicy. De V. Exª, eu só poderia esperar realmente um sentimento dessa grandeza.
Senador Mão Santa, por favor.
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador, V. Exª já encerrou três vezes o seu pronunciamento. Se V. Exª faz questão de conceder mais um aparte, vou lhe dar mais tempo.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Por favor, porque, sempre que o Senador Mão Santa fala, o Brasil todo ouve, e eu também.
Pois não, Senador Mão Santa.
O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Sr. Presidente Romeu Tuma, deixa o Piauí entrar nessa política do café-com-leite - São Paulo e Minas Gerais.
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - É que V. Exª é recordista em apartes. V. Exª disse que o Senador Alvaro Dias era o recordista em pronunciamentos...
O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Sim, está no hino do Piauí: “Piauí, terra querida; Filha do sol do Equador”. Na luta, o seu filho é o primeiro que chega. Depois do sonho de Tiradentes, fomos nós que expulsamos os portugueses na Batalha do Jenipapo. Então, eu não poderia deixar de saudar V. Exª, Senador Salgado, que representa muito bem a história deste Senado. Por aqui, além dos grandes valores, bastaria citar Juscelino Kubitschek, que foi cassado quando sentava na sua cadeira. Isso traduz o que é política. Mas eu queria dizer da solidariedade de V. Exª. Shakespeare diz que não há nem bem, nem mal; o que vale é a interpretação. Portanto, esse mártir - se não for Tiradentes é um outro - é do momento atual, da crise atual. Naquela ocasião, era a independência que se buscava, a liberdade; e, agora, o mineiro é o mártir da luta pelo trabalho na nossa Pátria, que não há. Que haja uma reflexão dos governantes, como o fez Rui Barbosa, que está ali, que é baiano. Ele disse que tem de ser dada a primazia ao trabalho e ao trabalhador. O trabalho e o trabalhador são os que vêm primeiro, são eles que fazem a riqueza. Essa é uma reflexão para que o Governo propicie trabalho aos brasileiros, inspirado na morte de mais um mártir mineiro, que foi em busca da dignidade do trabalho, o que não encontra na sua Pátria.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Senador Mão Santa, pelo aparte.
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador Wellington, a Mesa, com bastante amargura, se solidariza com o pronunciamento de V. Exª em homenagem ao jovem Jean Charles. Acredito que V. Exª traz toda a amargura não só do povo mineiro, mas do povo brasileiro, na esperança de que fatos como esses não se repitam e não entristeçam a Nação, como ocorreu na Inglaterra.
O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG) - Muito obrigado, Sr. Presidente.