Discurso durante a 122ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância do depoimento do Deputado José Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados na próxima terça-feira. Comentários sobre o currículo do Deputado José Dirceu.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Importância do depoimento do Deputado José Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados na próxima terça-feira. Comentários sobre o currículo do Deputado José Dirceu.
Publicação
Publicação no DSF de 30/07/2005 - Página 25972
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • EXPECTATIVA, DEPOIMENTO, JOSE DIRCEU, EX MINISTRO DE ESTADO, DEPUTADO FEDERAL, COMISSÃO DE ETICA, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, APURAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), CORRUPÇÃO, PAGAMENTO, MESADA.
  • COMENTARIO, DETALHAMENTO, ORDEM CRONOLOGICA, VIDA PUBLICA, JOSE DIRCEU, DEPUTADO FEDERAL, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTICIPAÇÃO, DIVERSIDADE, FATO, RELEVANCIA, HISTORIA, BRASIL.
  • AVALIAÇÃO, GESTÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mozarildo Cavalcanti, gostaria hoje de fazer um pronunciamento a respeito de evento histórico que acontecerá na vida do Brasil, do Congresso e do ex-Ministro José Dirceu de Oliveira e Silva, pois acredito que será de grande importância o seu depoimento no Conselho de Ética, na próxima terça-feira, dia 2, bem como o depoimento que provavelmente fará, se assim considerar necessário, a qualquer das Comissões Parlamentares Mistas de Inquérito, seja a dos Correios ou a do Mensalão, eventualmente até às duas em conjunto. Aliás, se na próxima terça-feira, perante o Conselho de Ética, fizer um depoimento completo, é possível que ambas as CPIs se dêem por satisfeitas.

Eu gostaria de fazer uma reflexão a respeito da vida do Deputado José Dirceu, que teve importância vital para alguns acontecimentos que se verificaram no Brasil ao longo de sua vida, acontecimentos que culminaram com a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. José Dirceu presidiu o Partido dos Trabalhadores e foi o principal coordenador da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, que se sagrou Presidente em 2002, no segundo turno, com 53 milhões de votos ou 62% do eleitorado brasileiro, tendo como principal adversário o hoje prefeito de São Paulo José Serra, que foi nosso colega aqui no Senado.

Filho de Castorino de Oliveira e Silva e de Olga Guedes da Silva, José Dirceu de Oliveira e Silva nasceu em 16 de março de 1946 em Passa Quatro, Minas Gerais.

Formou-se em Direito e exerceu os mandatos de Deputado Estadual (Constituinte), entre 1987 e 1991, em São Paulo; Deputado Federal (Congresso Revisor), de 1991 a 1995, por São Paulo; Deputado Federal, de 1999 a 2003; e, atualmente, de Deputado Federal, eleito para o período de 2003 a 2007.

Licenciou-se do mandato de Deputado Federal (Legislatura de 1999 a 2003) para exercer o cargo de Ministro-Chefe da Casa Civil em 1º de janeiro de 2003. Licenciou-se do mandato de Deputado Federal, na Legislatura de 2003 a 2007, para exercer o cargo de Ministro-Chefe da Casa Civil de 3 de fevereiro de 2003 a 22 de junho de 2005.

É filiado ao PT desde 10 de fevereiro de 1980, sendo, portanto, fundador do Partido dos Trabalhadores, assim como eu próprio, assim como o Presidente Lula, como Sérgio Buarque de Hollanda, como Paulo Freire, Francisco Weffort e tantos outros que estiveram na cerimônia de fundação do PT.

Foi Secretário de Formação Política do PT, de 1981 a 1983; Secretário-Geral, de 1983 a 1987; foi do Diretório Regional do PT de São Paulo em 1985; Secretário-Geral do PT de São Paulo, de 1987 a 1993. De 1987 a 1993, foi Secretário-Geral do Diretório Nacional do PT. Foi coordenador da campanha do PT à Presidência da República em 1989; Primeiro Vice-Líder do PT em 1993; Presidente do PT, de 1995 a 1997 e de 1998 a 2002; e Vice-Líder do PT de 2001 a 2002.

Foi Assistente Jurídico, Auxiliar Parlamentar e Assessor Técnico de Gabinete da Assembléia Legislativa de São Paulo entre 1981 e 1987.

Formou-se em Direito na PUC, onde estudou de 1965 a 1983. Fez pós-graduação em Economia (incompleta), na PUC, em São Paulo.

Foi Vice-Presidente do DCE da PUC de São Paulo de 1965 a 1966; foi Presidente da UEE, em São Paulo, em 1968 - exatamente quando houve aquele histórico Congresso da UEE, em Ibiúna, onde ele e muitos de seus companheiros ali reunidos acabaram sendo presos pelas forças da repressão do Regime Militar.

Foi presidente do Centro Acadêmico 22 de Agosto em 1966; é Presidente de Honra da UEE de São Paulo.

Dentre as suas obras publicadas estão a que fez com Vladimir Palmeira, Abaixo a Ditadura, pela Garamond, em 1998; com Marcus Ianoni, Reforma Política: Instituições e Democracia no Brasil, pela Fundação Perseu Abramo, em 1999.

Participou de viagem oficial à China como representante da Câmara dos Deputados em 2001.

Devido à sua militância política e estudantil, foi preso no 30º Congresso da UNE em 1969, teve a sua nacionalidade cassada e foi banido do País. No exílio trabalhou e estudou em Cuba, retornando ao Brasil com a Anistia.

Participou ativamente do movimento pela anistia aos processados e condenados por atuação política e da coordenação da Campanha pelas Diretas para a Presidência da República em 1984.

Como Deputado Estadual, destacou-se pela oposição ao Governo do Estado de São Paulo e pela fiscalização dos atos do Executivo estadual, propondo ações ao Ministério Público e ao Judiciário.

Esses dados constam do currículo preparado pelo gabinete do Deputado José Dirceu de Oliveira e Silva.

Todavia, Presidente Mozarildo Cavalcanti, gostaria eu de dizer ainda algumas das coisas que sei sobre a vida de José Dirceu, dos momentos que nós dois partilhamos, solidários nas campanhas pela redemocratização deste País, especialmente quando, a partir de 1980, ambos participamos da fundação do PT.

Em 1982, eu estive entre aqueles que a direção do Partido dos Trabalhadores, inclusive José Dirceu, avaliou que deveriam ser candidatos a Deputado Federal, indicação que aceitei. Eu era Deputado Estadual eleito pelo MDB em 1978, mas, juntamente com Airton Soares, que já havia ingressado no PT também na sua fundação e era Deputado Federal com José Genoino, Irma Passoni, Luiz Dulce, José Eudes, Beth Mendes, Djalma Bom - éramos oito. Fomos eleitos Deputados Federais e fomos, ambos, parte do primeiro Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores e muito interagíamos. Entre as principais campanhas pelas quais nós resolvermos nos empenhar, estava a campanha por eleições diretas em todos os níveis como, por exemplo, para prefeito das capitais, para Presidente da República e para Governador. Felizmente, em 1982, houve eleição para Governador. Lula foi o nosso candidato. Durante a campanha, estivemos em muitos comícios - eu, José Dirceu, Lula e tantos outros.

Em 1983, o Partido dos Trabalhadores resolveu se empenhar para que houvesse eleições diretas para a Presidência da República. Organizamos, então, o primeiro comício pelas Diretas Já, do qual José Dirceu foi um esteio, um grande organizador, realizado em novembro de 1983, diante do Estádio Municipal do Pacaembu, na Praça Charles Müller. Compareceram cerca de 30 mil pessoas, quase todas mobilizadas pelo Partido dos Trabalhadores, pelo PCdoB e pelo PDT. O PMDB estava parcialmente empenhado, tanto que o então Governador de São Paulo, Franco Montoro, não foi ao comício. Naquele dia havia o Grande Prêmio de corrida de cavalos no Jóquei Club, o Governador lá esteve e acabou não indo ao comício, mas esteve presente o Senador Fernando Henrique Cardoso que, inclusive, fez uma homenagem àquele que certamente estaria no comício não fosse ter falecido exatamente naquela madrugada, o saudoso Menestrel das Alagoas, Senador Teotônio Vilela. Tamanha foi a mobilização e a vibração daquele comício que todos nos animamos a continuar aquela campanha. O próprio Governador Franco Montoro resolveu abraçá-la inteiramente e solicitou ao Secretário da Cultura, Jorge da Cunha Lima, que apoiasse o Secretário-Geral do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu, que foi o principal organizador da campanha das Diretas Já e esteve praticamente todos em todos os comícios, como um dos seus principais oradores, ao lado de Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Sobral Pinto, Luiz Inácio Lula da Silva, que falava e mobilizava a população, e tantos outros.

Houve, então, o comício da Praça da Sé, em 25 de janeiro, além de outros em praticamente todas as grandes capitais e cidades brasileiras. Lembro especialmente os enormes comícios com cerca de um milhão de pessoas na Candelária, no Rio de Janeiro e em São Paulo, no Vale do Anhangabaú.

Infelizmente, em abril de 1984, não foi possível conquistarmos aqui os três quintos necessários para que houvesse eleição livre, direta. Então, houve o grande dilema: participarmos ou não do Colégio Eleitoral. O PT entendeu que não deveríamos participar do Colégio Eleitoral. Nesse ponto, eu, mais uma vez, estive de acordo com José Dirceu. Houve, inclusive, a saída... Não houve propriamente um processo de expulsão, porque o Secretário-Geral Francisco Weffort ficou encarregado de dialogar com os Deputados José Eudes, Ayrton Soares e Beth Mendes, para que eles desistissem de continuar no Partido dos Trabalhadores. Então, acabou não havendo um processo de expulsão.

Houve, em 1985, outra interação forte minha com José Dirceu, porque ele era da direção e da coordenação da campanha para Prefeito de São Paulo, quando concorreram Jânio Quadros, Fernando Henrique Cardoso, eu e mais dez ou doze candidatos. Fernando Henrique foi o segundo com 34% dos votos, Jânio Quadros foi eleito com 37% e eu tive algo como 19,9% dos votos. Tivemos muitas ocasiões de diálogo José Dirceu, José Álvaro Moisés e José Américo e também com os coordenadores que, às vezes, ficavam preocupados com a minha equipe de comunicação, Carlito Maia, Chico Malfitani e Erazê Martinho. Eles propuseram, primeiramente, um programa de televisão de uns 20 minutos, em agosto de 1985, em que fizemos um diálogo, eu, a Marta, Marisa, Lula, Paulo Freire, Marilena Chauí e Antonio Fagundes. Foi muito interessante.

Quando os três Josés viram o programa, disseram: mas, como, não dá para fazer outro? Que negócio é esse? Falar da vida de vocês e tal, e as coisas do PT? Felizmente, nem deu tempo para fazer outro, o programa foi bem sucedido. Os três coordenadores da minha campanha disseram: “Olha, Eduardo, então, vamos fazer uma campanha com o slogan: Experimente Suplicy. É diferente de tudo que está aí”.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, vou pedir licença para maior tolerância porque, realmente, V. Exª vai perceber, Senador Mozarildo Cavalcanti, meu caro Presidente, que revelar alguns fatos aqui importantes para a História do Brasil.

Tivemos algumas discussões e desavenças, mas a campanha fez o PT crescer, obteve cerca de 20% dos votos. Fernando Henrique disse a amigos que atribuía a mim o fato de ele não ter conseguido vencer Jânio Quadros. Queríamos que houvesse eleição em dois turnos.

Pois bem. Em 1986, houve novamente a campanha para Governador do Estado, outra vez fui escolhido. Tivemos outra interação forte. José Dirceu teve algumas divergências comigo no que diz respeito à comunicação, mas continuamos batalhando juntos.

Em 1990, houve muita harmonia, quando fui escolhido candidato ao Senado e fui eleito.

Também em 1988, ele foi uma das pessoas que ponderou: Que tal você ser candidato a Vereador? Tão bem votado fui que acabei sendo Presidente da Câmara Municipal e, pela gestão ali muito transparente, condizente com os valores e o objetivo do PT, fui levado a ser candidato ao Senado; vitorioso em 1990.

Aconteceu, Senador Mozarildo, um episódio importante em 1992: Pedro Collor de Melo deu uma entrevista às páginas amarelas da Veja. Era um sábado. Fiquei impressionado com a entrevista, liguei para o Deputado José Dirceu e perguntei: Você viu? Vamos conversar com ele?

Liguei para Pedro Collor de Melo, que estava no Hotel Maksoud. Ali conversamos, durante cinco horas, com Pedro Collor de Melo. Tão impressionados ficamos que escrevemos em minha casa, logo a seguir, o requerimento que trouxemos ao Senado, ao gabinete do Líder Humberto Lucena, do PMDB. Fizemos um ligeiro ajuste na ementa, Humberto Lucena chamou os demais Líderes e, em dois ou três dias, obtivemos as assinaturas necessárias para constituir a CPI sobre os atos de Paulo César Farias, que acabou levando à campanha por ética na política, que novamente mobilizou milhões de brasileiros, jovens de rosto pintado, e Lula, novamente presente, como um dos principais oradores nos gigantescos comícios. E houve, então, a queda de Fernando Collor de Melo.

Em 1993, quando José Carlos Alves dos Santos deu aquela entrevista às páginas amarelas da Veja, liguei para o Senador Pedro Simon e vim com ele para Brasília. No meu gabinete, redigi o requerimento da CPI. Fui ao apartamento dele à meia-noite - ele estava de pijama -, e ele o assinou junto comigo. Trouxe o requerimento aqui, os principais Líderes se reuniram e, em poucas horas e dias, colhemos mais de um terço das assinaturas e constituiu-se a CPI do Orçamento. Novamente com a participação do José Dirceu, que teve um papel muito forte, fizemos um trabalho em defesa da transparência e da ética na política e assim por diante.

Recordo esses fatos, Sr. Presidente, porque, em todos esses períodos, tivemos muitas batalhas em comum. Em alguns momentos, sabem todos, como, por exemplo, no episódio em que a Senadora Heloísa Helena votou contrariamente ao projeto de reforma da previdência - eu votei favoravelmente, mas defendi o direito de ela discordar -, tivemos divergências, José Dirceu e eu .

José Dirceu também ficou incomodado comigo quando sugeri a ele, em 2004, que seria interessante que ele viesse ao Senado explicar o caso Waldomiro Diniz. Ele ficou um pouco bravo comigo, mas, depois, disse: “Quem sabe eu devesse ter seguido a recomendação do Senador Suplicy e ido ao Senado Federal”.

Poderia recordar outros momentos, mas quero concluir, Sr. Presidente, Senador Mozarildo Cavalcanti, transmitindo algumas palavras ao meu companheiro de Partido com quem tantas vezes estive junto: Meu caro Deputado José Dirceu, V. Exª está vivendo um dos momentos mais importantes de sua história, tão importante quanto quando foi preso no Congresso da UNE, em 1969, um símbolo da resistência; tão importante quanto foram os seus anos de exílio em Cuba e em outros lugares do Brasil; tão importante quanto seu tempo vivido no interior do Paraná, quando precisou até usar outro nome; tão importante quanto aquilo que sei que V. Exª mais preza, o carinho que tem para com seus filhos, sua filha, Joana, seu filho, Zeca, sua família; tão importante quanto a dedicação extraordinária que você teve para com o Partido dos Trabalhadores; tão importante quanto a sua dedicação para que o Presidente Lula fosse eleito.

Tenho a convicção de que Lula sabe a relevância e a importância da dedicação extraordinária que teve José Dirceu para conseguir coordenar esforços do PT e dos partidos aliados para que as multidões acorressem aos enormes comícios, às manifestações de apoio ao Presidente. Sei da importância que teve o Ministro José Dirceu como principal coordenador político e Ministro da Casa Civil nesses trinta meses de Governo, que teve muitas ações bem-sucedidas.

Hoje, o Presidente Lula tem dito que, felizmente, o seu Governo tem conseguido fazer com que as oportunidades de emprego cresçam muito mais do que durante o Governo anterior; que as oportunidades de emprego formal têm aumentado ao ritmo de quase 110 mil por mês, enquanto, no Governo anterior, nos oito anos passados, era de cerca de 8 ou 9 mil por mês; que as exportações cresceram exponencialmente, juntamente com o saldo da balança comercial, da balança externa; que a inflação está razoavelmente contida; que o crescimento da economia, em 2004, foi o maior dos últimos dez anos; que a economia está crescendo, apesar de não tanto quanto ele desejaria - e ontem o Presidente Lula mencionou que é necessário tomar medidas para fazer a economia crescer mais e melhor; que o principal programa social, o Bolsa-Família, conforme falávamos há pouco, está atingindo mais de 7,2 milhões de famílias e atingirá um quarto da população; que há a perspectiva de se instituir, proximamente, a renda básica de cidadania. Se temos perspectivas tão positivas, elas se devem também ao esforço do Ministro José Dirceu.

É possível que, na interação do Governo com a direção do Partido, tenha havia alguns erros. Mas eu tenho a convicção, Senador Mozarildo Cavalcanti, meus caros companheiros, de que, se todos nós, do Partido dos Trabalhadores, que formamos este Partido, que acreditamos nele, pudermos dizer algo construtivo e positivo ao Deputado José Dirceu seria: que ele venha, na próxima terça-feira, disposto a dizer toda a verdade, mesmo com a presença, na primeira fila, do Deputado Roberto Jefferson, que formulou aquelas denúncias e que chegou a dizer que José Dirceu deveria sair antes que se viesse a culpabilizar e tornar réu o Presidente Lula. O Ministro José Dirceu preferiu vir à planície e tornar-se novamente Deputado Federal para explicar e expor tudo. E se, porventura, erro tiver ocorrido, que ele possa reconhecer. Mas nada será mais importante para a história do Brasil, para a história de José Dirceu, quaisquer que sejam as conseqüências, do que a sua disposição completa de dizer toda a verdade.

Sr. Presidente, creio que esse é o sentido maior da minha recomendação ao Deputado José Dirceu, por tudo aquilo que nós dois batalhamos juntos para a construção desse Partido. Sabe José Dirceu que eu entrei no Partido dos Trabalhadores como uma decisão de vida. Se divergências tivemos em alguns momentos, ele sabe que continuarei sendo um companheiro seu do Partido que ele ajudou a fundar.

Portanto, Sr. Presidente, concluo, com esta recomendação: caro José Dirceu, venha trazer toda a verdade, porque isso só nos fará bem, aos brasileiros, a nós do PT, a você e ao Presidente Lula, pois sei o quanto você o estima.

Sr. Presidente, estou encaminhando à Mesa um requerimento de pesar, que agradeceria fosse considerado, em memória do jogador Jair Rosa Pinto.

 

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. PTB - RR) - Sobre a Mesa, requerimento que passo a ler.

É lido o seguinte:

REQUERIMENTO Nº 805, DE 2005

 

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. PTB - RR) - A Mesa encaminhará a solicitação de V. Exª, Senador Eduardo Suplicy, conforme o requerimento.

O requerimento vai ao Arquivo.

 

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, gostaria de justificar o requerimento.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. PTB - RR) - Tem V. Exª a palavra para justificar o requerimento.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Vítima de uma embolia pulmonar, o jogador Jair Rosa Pinto, o Jajá, que defendeu a seleção brasileira de futebol na Copa de 1950, tinha 84 anos e estava internado no Hospital da Lagoa, zona sul do Rio, desde o dia 11, onde se recuperava de uma cirurgia no abdômen.

Jair Rosa Pinto deixou viúva, dois filhos e seis netos. O corpo foi velado no cemitério do Caju, na zona portuária do Rio, e vai ser cremado hoje.

Jajá começou no Madureira, em 1938, formando com Lelé e Isaías um trio conhecido como os “Os Três Patetas”, que rapidamente chegou à seleção.

Durante sua carreira, Jair defendeu também o Vasco (1943 -1946), o Flamengo (1947 - 1949), o Palmeiras (1950 - 1955), o Santos, meu time (1956 - 1960), o São Paulo (1961 - 1962) e a Ponte Preta (1963 - 1964). Tentou ainda carreira de técnico. Na seleção, o meia foi titular da equipe vice-campeã da Copa de 1950 (participou daquele jogo tão difícil para nós, brasileiros, o final da Copa do Mundo, quando o Brasil perdeu para o Uruguai, no Rio, o “Maracanazo”) e foi campeão e artilheiro da Copa América de 1949. Ganhou também um Carioca (1945), três Paulistas (1950, 1956 e 1958), além da Copa Rio (1951).

“Ele era uma pessoa querida por muita gente. Nem gosto muito de ficar falando sobre ele para não me emocionar”, comentou um dos seus filhos, Luiz Antônio.

“Marcar o homem não era mole. Ele tinha as pernas fininhas, mas chutava forte demais. Além de craque, era um sujeito sensacional”, diz Pinheiro, que costumava freqüentar a roda de amigos de Jair na praça Saens Peña, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio, onde morava o ex-jogador. No ponto de encontro na praça, conhecido como Canto do Jajá, existia uma placa, retirada devido a obras municipais. Amigos disseram que há pedido encaminhado à Prefeitura do Rio para que o ponto se torne logradouro oficial.

“O Jair era fora de série, pena que não tive o prazer de jogar ao seu lado. Quando cheguei ao Vasco, ele já tinha saído”, lembra Lima, meia-esquerda, campeão pelo Vasco em 1949 e 1950. O diretor de futebol da equipe paulista, Salvador Hugo Palaia, vai além: “Foi uma das glórias do Palmeiras. O melhor jogador do clube na sua posição, ao lado de Ademir da Guia”, disse.

Pelé sentiu muito a morte de Jair Rosa Pinto, o Jajá, seu companheiro da época em que iniciou no Santos. “Fiquei bastante chateado quando soube. Tenho por ele muita admiração e também uma enorme gratidão, porque me orientou muito no início da carreira”, conta. “Eu tinha 17 anos quando comecei a jogar no Santos. Na época, o Jajá estava no time e me ajudou bastante passando muito da sua experiência”.

Segundo o Atleta do Século, o relacionamento profissional se transformou em amizade durante os anos de trabalho na Vila Belmiro. Pelé também lembrou de uma coincidência que o aproximou de Jair Rosa Pinto: o fato de ter o mesmo nome de batismo de Zoca, seu irmão.

Outro jogador com muitas lembranças de Jair é o goleiro Oberdan Cattani. Os dois atuaram juntos no Palmeiras e também na seleção paulista. “Ele era um cara muito fechado. Não gostava muito de brincadeiras. Tinha um gênio diferente, mas foi um bom companheiro e sempre teve o respeito dos dirigentes”, lembra. Cattani ressaltou a precisão dos chutes de longa distância do meia. “Ele fazia uns lançamentos precisos de 50 metros. Com eles o Humberto foi artilheiro, e o Aquiles também fez muitos gols. Mas Jair também driblava e chutava bem”.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Das muitas partidas que disputou no Palmeiras ao lado de Jair, Cattani recorda de uma em especial. “Em 1952, a gente fez uma viagem para o México, e como ele (Jair) era habilidoso, fazia muitos gols de falta. Por isso, sempre que tinha jogada de bola parada, a torcida mexicana pedia para ele fazer a cobrança, gritando o nome dele de um jeito engraçado”. Com ele. Para o Vice-Presidente do time da Vila Belmiro, Norberto Moreira da Silva, o Jair era um palito, mas batia na bola melhor que o Gérson”.

Jair Rosa Pinto, o Jajá, foi um dos grande jogadores brasileiros.

Há uma lembrança em especial, Sr. Presidente, da qual volta e meia me recordo: eu era rapaz, quando ele veio para o Santos, e o Pelé o conheceu. Havia um time muito jovem, e eis que, ali, entrou um veterano. Jair era aquele veterano,...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... que sabia colocar ordem no time, orientar os novos jogadores e mostrou o que era a experiência ao lado da juventude, fazendo dos Santos, em 1958, um extraordinário campeão paulista.

Concluo lembrando a entrevista concedida por Pelé, ontem, que falou também sobre o Robinho. Faço uma recomendação ao Robinho, dirigindo-me ao Presidente do Santos, Marcelo Teixeira - eu, como torcedor dos Santos: Presidente Marcelo Teixeira, vê se chega logo a um acordo com Robinho. Como o Real Madrid já pagou 30 milhões ao Santos para ter direito ao jogador Robinho - o jogador teve a sua mãe seqüestrada, todos nós o respeitamos -, e, como o próprio Pelé tem dito, vamos deixar o Robinho ter a oportunidade de jogar na Espanha, no Real Madrid. Em vez de se exigirem 20 milhões, Presidente Marcelo Teixeira, por que não entrar em entendimento? Quem sabe se possa dizer ao Real Madrid, em vez da exigência de mais esses 20 milhões: “Façamos o seguinte: o Robinho joga aí por três, quatro anos ou pelo tempo que for necessário; depois, o clube empresta o Robinho para jogar no Santos, no campeonato brasileiro, para que nós, santistas, e os brasileiros, possamos assistir novamente a algumas partidas de futebol com o jogador mesmo que seja por um breve período de seis meses ou um ano”.

Eles vão chegar a um entendimento. Que o façam e liberem o Robinho, para que, juntamente com a sua mãe e a sua família, ele possa realizar o seu sonho. E, quem sabe, em pouco tempo, ele não retorne para jogar no Santos e no Brasil, até porque, jogando no Santos, em São Paulo, ou em qualquer estádio do Brasil, os estádios ficam cheios. Até os estrangeiros vêm assistir a ele. Esse é um ponto positivo para o turismo em Santos e onde ele estiver jogando.

Em homenagem ao grande Jair Rosa Pinto, que o Santos e o Robinho possam chegar a um bom entendimento, para que o jogador seja feliz e continue honrando o Brasil e todos nós, que torcemos pelo Santos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/07/2005 - Página 25972