Discurso durante a 112ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Réplica ao discurso do Senador Aloizio Mercadante.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL.:
  • Réplica ao discurso do Senador Aloizio Mercadante.
Publicação
Publicação no DSF de 19/07/2005 - Página 24768
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL.
Indexação
  • REGISTRO, AMIZADE, ORADOR, DEFESA, HONRA, ALOIZIO MERCADANTE, SENADOR, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMENTARIO, INEXISTENCIA, DUVIDA, LEGITIMIDADE, MANDATO, CONGRESSISTA.
  • ESCLARECIMENTOS, QUESTIONAMENTO, INFERIORIDADE, DECLARAÇÃO INDIVIDUAL, DESPESA, CAMPANHA ELEITORAL, MOTIVO, POPULARIDADE, ALOIZIO MERCADANTE, SENADOR.
  • REGISTRO, NECESSIDADE, SUSPENSÃO, FUNDO PARTIDARIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB), ALEGAÇÕES, ILEGALIDADE, DINHEIRO, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • REGISTRO, DEFESA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REPUDIO, POSSIBILIDADE, FALTA, ETICA, INQUIRIÇÃO, SUSPEIÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para uma explicação pessoal. Com revisão do orador.) - Obrigado.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador Aloizio Mercadante propôs um tom, e aceito o tom proposto por S. Exª. Ele sugere um tom elevado e com a retomada de parâmetros civilizados para se discutir a questão neste plenário.

É meu intento e, portanto, é plena a aceitação.

S. Exª refere-se - e o Presidente Lula o fez ontem do mesmo jeito - a possíveis problemas em quaisquer partidos do espectro brasileiro. O Sr. Delúbio Soares diz que há, claramente, caixa dois no PT, e o diz como sendo a saída mais amena para esse emaranhado de acusações em que se coloca o Partido de S. Exª.

V. Exª estranhou, Senador Aloizio Mercadante. Vou ler, de forma objetiva, alguns itens de campanha, mas esclareço que considero muito cômodo dizermos: sou candidato a senador, tenho fulano de tal como candidato a governador; entro em um programa de televisão e falo; entro em um avião como se fosse invisível, como se não ocupasse um lugar; a panfletagem foi organizada pelo governador, como se não houvesse uma divisão clara, proporcional ao cargo pleiteado por todos, das responsabilidades financeiras de campanha. Mas há.

Não ousaria dizer, pelo respeito que tenho a V. Exª, que seu mandato estaria sub judice, até porque se o Partido se responsabilizou por grande parte dos gastos e se o Sr. Delúbio diz que foi um caixa dois, é terrível. Confio em V. Exª. Tenho certeza absoluta. V. Exª não conhece Valério e não se envolveu em coisa alguma. Defenderia V. Exª, como fiz com seus correligionários Paulo Delgado e Sigmaringa Seixas, de um jeito que V. Exª não fez comigo. Isso marcou profundamente a minha relação com V. Exª.

Se é verdade, por um lado, que, aos tucanos, é recomendado o respeito claro a V. Exª, ficou patente que qualquer rastaqüera pode dizer o que quiser de mim no seu Partido. Faz parte do jogo. Petista ainda pode tudo, pelo menos na ilusão que alimenta certas figuras que não estão se dando conta da gravidade da situação em que está enfiado esse Partido. V. Exª não é tratado de maneira descortês por nenhum tucano. Se surgisse uma insinuação parecida com aquelas na CPMI, eu viraria bicho em defesa de V. Exª. Eu chamaria o tucano que tivesse feito essa gracinha de mau gosto e o teria repreendido duramente. Não senti nada parecido com isso. V. Exª viajou, cumpriu a sua rotina e não demonstrou por mim a consideração e o respeito que o Senador Paulo Paim demonstrou, que a Senadora Ideli Salvatti demonstrou. Precisamente por isso, eu quis mostrar a V. Exª que, se é para se jogar um outro tipo de jogo, eu estou aqui.

Mais ainda: quero discutir - já que quero excluir completamente essa história do Sr. Delúbio e seus caixas 2, 3, 8, 9, 25, o número que ele quiser - e dizer que, para mim, há itens básicos de campanha, Senador Aloizio Mercadante. Programa de TV, programa de rádio, anúncio de TV, anúncio de rádio: não me diga que é tudo igual. Não é, porque tem o spot do Senador no horário que lhe cabe...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Isso tem de ser computado na medida clara do que é o valor do mercado que aí está. Desculpe-me, sei que V. Exª não sabe disso. R$1,9 milhão, Duda? Não acredito. Não ficou rico daquele jeito, cobrando tão pouco para fazer campanha para um partido político. Nós sabemos que foi muito mais.

            Pesquisas, pesquisas. Então, tudo é do governador, nada ali beneficia o senador? Então, nada deve ser computado na conta do senador? Mobilização, eventos, comícios, panfletos, caminhadas, carreatas, reuniões, pessoal, locação de palco, sonorização, iluminação, transporte... Então, o senador entra, banho tomado, fala na hora própria, soltam lá os foguetes para ele, e ele não tem participação nenhuma naqueles gastos de campanha? Ou deveria ter declarado alguma parte, a proporcional que fosse, já que era o número dois da eleição? O número um seria sempre o Governador.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma) - Vou prorrogar o tempo para V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente.

Administração, locação de sede, escritório político - não dá para misturar o seu escritório político com outro -, pessoal, comando, suporte. Vi uma coisa que parecia inédita no seu Partido. Vi, neste ano, cabos eleitorais. Vi. Viajei pelo País inteiro e, em vez daqueles petistas vibrantes que, embora chatos, eram legítimos, vi pessoas balofas arrastando para um lado e para outro uma bandeirinha, quase que esperando para receber a diária no fim do dia ou no fim da semana, ou a semanada.

Móveis, equipamentos, informática, telefones centrais, aparelhos de telefone, contas telefônicas, os insumos necessários a uma campanha, material promocional, camisetas, bonés, mídias, assessoria própria para atingir a mídia não eleitoral e, portanto, assessoria de comunicação social, jornais de campanha, logística, veículos, transporte, combustíveis, fretamento de aeronaves, passagens aéreas, hospedagem, alimentação, impressos, panfletos, cartazes, folders etc.

Senador Aloizio Mercadante, V. Exª tem razão: eu não estou aqui para propor um jogo de hipocrisia nem para dizer que se devem ao PT todos os defeitos do quadro político. Não faria isso. Ao contrário: aceito o tom elevado que V. Exª propõe e aqui lhe abro, de maneira pública, o coração. Alguém me perguntou lá fora: “Mas o Sr. Roberto Jefferson não disse que o seu partido, o PTB, trabalhava caixa-dois?” Senador José Agripino, creio que temos de ser justos, não é preciso ter nenhuma coragem, basta justiça. Se o PTB disse, pelo seu presidente de então, que fazia isso, deveríamos pedir a suspensão do fundo partidário para o PTB; com clareza: PT e PTB, os dois. Isso é o justo, isso é o correto.

Mas não considero ilegítimo o seu mandato, Senador Aloizio Mercadante, de forma alguma. Ao contrário: V. Exª é um dos grandes nomes do Congresso Nacional; é um parlamentarque nunca , a meu ver, demonstrou jaça na sua participação na vida pública. Nunca demonstrou, e eu nunca tive economia em dizer isso de V. Exª, mesmo nos momentos dos nossos embates mais duros.

Eu apenas quis dizer que, na minha opinião, se fizermos a conta direitinho, veremos que não é pouco o que custa uma eleição num Estado do porte do seu, assim como não custa pouco uma eleição num Estado do tamanho do meu. Pessoas do seu partido, espero eu que não acolitadas pela direção nacional, até porque não vou responder a ninguém de lá, responderei sempre ao Presidente daqui...

Nada - e aí vou usar uma expressão não sei se da Senadora Heloísa Helena ou da Senadora Ideli - de perder tempo com os porcos, vamos para o dono dos porcos, direto para o dono dos porcos. Dizem, no meu Estado, que, como eu declarei R$1,6 milhão, eu teria comprado o meu mandato. Eu, que fui o homem público com mais votos em toda a história do Estado do Amazonas em todos os tempos - mais votos que o Presidente Lula, mais votos que o Governador de Estado -, teria eu comprado a eleição. Eu, que procurei justamente fazer o contrário: declarar tudo aquilo que recebi de arrecadação de campanha. É preciso chegarmos a essas verdades, Sr. Senador Aloizio Mercadante.

No mais, V. Exª chegou a dizer isso... Em relação a V. Exª, vou dizer quais são os meus sentimentos. V. Exª já disse mais de uma vez, já disse para mim e já disse pelos jornais, que V. Exª sabe que as coisas passam muito rapidamente comigo...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ...e V. Exª tem um saldo positivo comigo muito grande, um saldo positivo muito grande. Eu não deixaria nunca de respeitá-lo, de querê-lo bem e, talvez até por respeitá-lo e querê-lo bem, tenho anotada, e não a anotaria de outros, esta omissão que, para mim, foi grave. Constatar que, no seu partido, qualquer irresponsável pode dizer o que quiser a meu respeito sem ser admoestado. Foi algo que a mim me marcou, foi algo que a mim me fez mal, foi algo que a mim me sugeriu que eu estava tendo compreensão sem estar recebendo compreensão de volta.

Então, acredite: quando trouxe aqui para questionar - e continuo fazendo isso - a sua prestação de contas, estava embutido ali também uma boa dose de amizade pessoal. Queria dizer a V. Exª que não aceitava esse método, porque V. Exª me conhece e sabe que não convivo com a injustiça, não sei dormir com a trava da injustiça na garganta. Por isso é que dormi mal e, no dia seguinte, acordei para defender Sigmaringa Seixas e Paulo Delgado...

(Interrupção no som.)

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Apelo a V. Exª que encerre o seu pronunciamento.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não acuso ninguém, mas tem gente que se explicou naquele episódio do Banco Rural de maneira tão amarela, que eu, olhando como telespectador, disse: “Meu Deus do céu! Isso está esquisito”. Disseram: “Não, o meu assessor foi lá. O meu assessor estava de blusa azul. Naquele dia tinha também não-sei-quem na porta. A Elba Ramalho estava dançando na porta do banco e não sei o quê...”

Eu sei quem é Sigmaringa Seixas e quem é Paulo Delgado, por isso fui defender os dois, até porque vi a angústia de Sigmaringa Seixas, que é parecida - ele foi acusado, eu não fui - com a angústia que eu tive de extrapolar.

Exagerou... Exagerei em quê? Exagerei em quê? Eu podia ter dito com palavras mais amenas tudo aquilo que estou pensando das omissões do Presidente da República e do quadro de corrupção que está varrendo o País.

Exagerou o quê? Alguém vem, faz insinuações no ar, à meia-noite, insinua alguma coisa contra a minha honra pessoal e quer que eu me comporte como uma moça da antiga Socila, treinando boas maneiras para casar com um homem da alta sociedade paulista?

Não é esse o meu objetivo. Meu objetivo era claramente dizer que ninguém tripudia sobre a minha honra impunemente. Já demonstrei isso à farta e eu sou previsível: as pessoas sabem que, em agindo comigo assim, a resposta é assado; em agindo assado, a resposta é assim. Nunca respondi à lealdade com deslealdade. Nunca responderia a amizade e companheirismo sem ser com lealdade e companheirismo. Por outro lado, não me peçam limites quando se trata de eu ter o meu calo moral pisado, porque esse é o meu patrimônio e esse não tem quem atinja.

Saiba, como última expressão: quando eu trouxe o nome de V. Exª, eu queria precisamente chamar sua atenção para o que me pareceu ser uma bela injustiça pessoal. A injustiça se faz pela ação. V. Exª praticou injustiça comigo pela omissão. Eu imaginava que V. Exª teria ligado à meia-noite e dez para esse cidadão para não deixá-lo virar a noite sem que ouvisse a ponderação de V. Exª de que é fundamental ter respeito por quem merece respeito, é fundamental ter consideração por quem merece consideração, é fundamental tratar com lealdade quem não trata seus adversários com deslealdade.

Talvez eu seja um adversário à moda antiga, adversário que não gosta de pisar. Estava negociando com o seu partido respeito ao Ministro José Dirceu, porque eu não admito que se humilhe um general de tropa. Aliás, não admito que se humilhe ninguém. Eu não quero que se humilhe Marcos Valério numa CPI; eu não quero que se humilhe Delúbio, ninguém! Uma pessoa que age assim se ofende de maneira tripla quando sente que é uma mão só: lealdade e consciência daqui pra lá; de lá pra cá, somenos importância e algo que me beirou um pouco a leviandade e a falta de convicção de caráter em relação a minha pessoa. Não exatamente de V. Exª, mas incomodou-me a atitude; para mim foi uma atitude, e atitudes e gestos eu respondo com atitudes e com gestos.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/07/2005 - Página 24768