Discurso durante a 114ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Necessidade de que se apure as denúncias de corrupção contra o Governo Lula e o eventual envolvimento do Partido dos Trabalhadores.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA. ADMINISTRAÇÃO PUBLICA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Necessidade de que se apure as denúncias de corrupção contra o Governo Lula e o eventual envolvimento do Partido dos Trabalhadores.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 20/07/2005 - Página 24883
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA. ADMINISTRAÇÃO PUBLICA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • COMENTARIO, INTERESSE, OPINIÃO PUBLICA, DESCOBERTA, VERDADE, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.
  • SUGESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONCESSÃO, ENTREVISTA, JORNALISTA, BRASIL, OBJETIVO, ESCLARECIMENTOS, SITUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • ELOGIO, EFICACIA, FUNCIONAMENTO, INSTITUIÇÃO FEDERAL, BENEFICIO, DEMOCRACIA, BRASIL.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ENCAMINHAMENTO, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, COMPROVAÇÃO, RECEBIMENTO, PROPINA, CONGRESSISTA.
  • REGISTRO, ATENÇÃO, ORADOR, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), RECEBIMENTO, PROPINA, DEPUTADO FEDERAL.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Augusto Botelho, Srªs e Srs. Senadores, estamos vivendo um momento extremamente difícil no Brasil. Eu gostaria de estar aqui, Senador Mão Santa, a debater formas de erradicação mais rápida da pobreza no Brasil, formas de fazer a economia crescer, com a criação de empregos, numa velocidade a maior possível. Eu gostaria de estar, sobretudo, debatendo e recomendando aos membros do Copom, que amanhã decidirá sobre a taxa de juros, que enxerguem as possibilidades de diminuir gradualmente as taxas de juros para que venha a economia a crescer mais velozmente, aumentando as oportunidades e as decisões de investimento e a capacidade produtiva, aumentando a oferta de bens e serviços e contribuindo para que os objetivos de estabilidade de preços, de crescimento da economia, de oportunidade de emprego e melhoria da distribuição da renda se tornem mais compatíveis.

O interesse maior da Nação hoje está voltado para descobrir a verdade, e é necessário, de fato, que tenhamos esta disposição de passarmos a limpo inteiramente todos os fatos que caracterizaram problemas, seja no âmbito do Governo, seja no âmbito do Partido dos Trabalhadores ou dos partidos aliados. E a disposição do Presidente Lula de dizer que quer a verdade inteira e de querer colaborar para que isso efetivamente aconteça é alvissareira, sendo importante que isso se torne, de fato, realidade.

Tendo o Presidente concedido entrevista à TV francesa, a um dos principais canais da França, que foi comprada e retransmitida pelo “Fantástico”, na Rede Globo de Televisão, domingo último, e havendo um número tão significativo de órgãos de comunicação no Brasil que desejam ter igual oportunidade, e dada a situação de interesse tão grande pelos assuntos do momento, quero aqui reiterar, Senador Mão Santa, a minha recomendação: avalio que está no momento de o Presidente dar outra entrevista coletiva, tal como fez há pouco mais de um mês, quando poderão os jornalistas fazer as perguntas com total liberdade. E que Sua Excelência responda a 30, 40, 50 perguntas dos jornalistas brasileiros, os quais conhece tão bem, pois com ele conviveram ao longo de sua trajetória, desde que fundou o Partido dos Trabalhadores.

Penso que uma atitude como essa contribuirá para o próprio propósito do Presidente de trazer a verdade inteiramente à tona. Quando Sua Excelência disse que uma verdade quando dita de maneira a expressar o que realmente aconteceu é dita num momento e, 100 ou 200 anos depois, continua a mesma verdade, estava salientando a importância de toda e qualquer pessoa transmitir os fatos tais como aconteceram, seja Silvinho Pereira, que agora está depondo perante a CPI, seja Delúbio Soares, amanhã, Marcos Valério, depois de amanhã ou na semana próxima, e cada uma das pessoas que irão prestar depoimento.

Mas quero salientar algo importante que está ocorrendo no Brasil hoje: é que as instituições estão funcionando. Notem que a Constituição prevê que os Deputados Federais e os Senadores, nós podemos, para bem realizar a nossa missão, requerer informações, convocar autoridades para prestar esclarecimentos e instituir CPIs quando fatos determinados e complexos são objeto de interesse da Nação para se saber. Então, houve fatos determinados. Mais de um terço de Deputados e Senadores quiseram formar as CPIs, e elas estão em funcionamento. E é importante que a Nação esteja respirando, que haja debates fortes e quentes aqui, como temos presenciado mesmo neste mês que, de outra maneira, seria de recesso, mas que está sendo o momento de aprofundarmos as investigações. E é importante que não estejamos vendo aqui, por exemplo, quaisquer ameaças de golpes militares ou de rebeliões de qualquer natureza. O que está havendo é o funcionamento normal das instituições democráticas, e isso é muito importante para nós, prezado Senador Maranhão, porque estamos observando isto: a normalidade do funcionamento das instituições brasileiras.

É importante também que o Presidente dê, a cada dia, seu exemplo pessoal de retidão, de correção, para que todos que em volta de Sua Excelência estejam trabalhando venham a ter um procedimento semelhante. Se, em algum momento, falhas estiverem sendo observadas por parte daqueles que trabalham em torno do Presidente, então isso é um convite para que os que não se portam tão bem acabem realizando ações que não sejam as mais adequadas.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Suplicy, serei muito breve.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Quero aqui transmitir o quão importante é e será para o Presidente dar o primeiro exemplo no seu cotidiano.

Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Pois é, o primeiro exemplo está no Livro de Deus, quando diz: “Diga-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Isso era bom V. Exª lembrar. Sei que o Presidente não gosta muito de ler, principalmente a Bíblia, mas isso está lá escrito. Que ele evite essas más companhias que tem tido ao longo dos dias de seu Governo.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Mão Santa, quando vivemos dentro de uma organização - pode ser um partido, um governo -, como essa organização é constituída de seres humanos, e como nós, seres humanos, podemos a qualquer momento cometer erros, pode acontecer de algum dentre nós fazer uma bobagem, cometer um erro ou uma irregularidade; mas o importante é que essa instituição, um partido político ou o Congresso Nacional, tenha os meios para corrigir esses erros de maneira a mais precisa.

Senador Mão Santa, estamos tendo a informação, nesses dias, da evidência de que pode ter havido aqui aquele pagamento de um benefício extra para que Parlamentares dos mais diversos partidos viessem a votar de acordo com o Governo. Se isso for comprovado - e a CPI do Mensalão retoma os seus trabalhos amanhã, às 11 horas, para averiguar isso -, é da maior gravidade.

O jornal O Estado de S. Paulo trouxe a matéria do Expedito Filho, neste domingo, dizendo que um personagem, que foi apelidado de Garganta Profunda, teria já há algum tempo encaminhado à Comissão Parlamentar de Inquérito a evidência, o seu testemunho, de que de fato cerca de vinte e poucas pessoas estariam recebendo esse tal mensalão. Se ocorreu isso, é algo da maior gravidade na história do Congresso Nacional. Sou membro da CPI do Mensalão e estou me dispondo a trabalhar, efetivamente.

Eu gostaria de estar percorrendo o interior do Piauí para saber em que medida o Bolsa-Família será gradualmente transformado naquilo que eu tenho defendido, a renda básica de cidadania. Mas, neste momento, sinto-me na responsabilidade de desvendar inteiramente esses episódios, contribuindo seja para a CPMI dos Correios, seja para a CPMI do Mensalão ou para outras, e vamos fazê-lo, mesmo que em recesso. Teremos de apurar inteiramente a verdade e transmitir ao Chefe desta Nação quão importante é que cada pessoa, no seu Governo e no meu Partido, o Partido dos Trabalhadores, contribua para o desvendar completo da verdade.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/07/2005 - Página 24883