Discurso durante a 114ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Elogio à conduta do Senador Eduardo Suplicy. Comentários à entrevista do Presidente Lula concedida em Paris, para uma TV Francesa. Considerações sobre os trabalhos das CPIs em funcionamento no Congresso Nacional.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Elogio à conduta do Senador Eduardo Suplicy. Comentários à entrevista do Presidente Lula concedida em Paris, para uma TV Francesa. Considerações sobre os trabalhos das CPIs em funcionamento no Congresso Nacional.
Aparteantes
Ana Júlia Carepa, Eduardo Suplicy, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 20/07/2005 - Página 24884
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, CONDUTA, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, ASSINATURA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CRITICA, OBSTACULO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONCESSÃO, ENTREVISTA, IMPRENSA, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, ACUSAÇÃO, DESRESPEITO, JORNALISTA, BRASIL, IMPROPRIEDADE, CONDUTA, CHEFE DE ESTADO.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FRAUDE, ROMPIMENTO, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), PAGAMENTO A VISTA, AERONAVE, DENUNCIA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), VINCULAÇÃO, CORRUPÇÃO, TENTATIVA, OBSTACULO, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sou daqueles que, nesta Casa, não perde uma oportunidade sequer de elogiar a conduta do Senador Eduardo Suplicy, Parlamentar íntegro, vítima das incompreensões do seu Partido, mas um homem de convicções. Imagino onde V. Exª, Senador Eduardo Suplicy, que teve a coragem de assinar a CPMI do Mensalão, estaria neste instante, se não tivesse tido a certeza de que ela ia dar no que deu.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - CPMI dos Correios.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - CPMI dos Correios. São tantas CPMIs, que nos afogamos nelas.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Assinei também a do Mensalão.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª assinou a CPMI, e o seu Partido caiu de pressão neste plenário. Discursos grosseiros, declarações injustas, mas V. Exª veio aqui e confirmou o que diz Eclesiastes: que, mais cedo ou mais tarde, a virtude triunfa sempre.

Hoje, seu Partido se curva diante da obrigação de aceitar a realidade. Talvez, Senador Suplicy, bem melhor tivesse sido para o Partido dos Trabalhadores, se, bem lá atrás, não tivesse tentado jogar embaixo do tapete fatos que já eram do conhecimento público, que a Nação toda sabia. Talvez, se a CPI do Waldomiro tivesse sido instalada, se a CPI do Banestado tivesse chegado ao fim sem nenhuma interrupção, para que não fossem apurados alguns fatos que envolviam militantes do seu Partido, não estivéssemos vivendo hoje este vexame.

O Presidente Lula, Sr. Presidente, talvez tenha cometido, na semana passada, no meu modo de ver, o maior erro político de sua vida pública. Ninguém, ao longo de sua caminhada, de sua travessia de 25 anos, foi tão compreendido, tão ajudado pela imprensa brasileira quanto o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva. Quantos jornalistas correram riscos, ao acompanharem Lula em suas caminhadas, ao registrarem, na época da censura, nas páginas dos jornais em que trabalhavam, matérias, às vezes até cifradas, sobre a atuação daquele jovem sindicalista que despontava como uma liderança no cenário político brasileiro!

O ato do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de desrespeitar toda a imprensa brasileira na França e dar uma entrevista a um organismo estrangeiro foi desapontador, Senador Eduardo Suplicy. Imagine V. Exª como um representante de um jornal ou de uma emissora de televisão ou de uma rádio, mandado a Paris, com as despesas pagas pelo órgão de imprensa, chegando lá, vê-se frustrado, sem poder prestar contas a seu editor-chefe ou a seu jornal ou a sua televisão, por não ter acesso a uma entrevista com o Presidente do seu País. E essa entrevista é dada a um órgão da imprensa francesa que, por azar do destino e para felicidade dela, tinha como entrevistadora uma jornalista brasileira.

Sua Excelência errou desde o começo. O primeiro princípio de um Chefe de Estado é o de que não se fala, fora do território nacional, de assuntos internos do País. Não se expõem as questões políticas fora do Brasil. Não se fala da economia, da crise política, porque isso é assunto da exclusividade da Nação brasileira. O Presidente Lula se isolou num belo jardim, com perguntas e respostas não sei se programadas ou não, e concedeu um privilégio. E a imprensa, para ter acesso, teve de pagar ao jornal francês, à revista francesa o direito de exclusividade daquela matéria. O pior veio depois. Talvez os autores daquela idéia fantástica não tivessem atentado para um fato primordial: o fuso horário. O Presidente deu uma entrevista, e, em um momento contínuo, dois integrantes de seu Partido davam entrevistas no mesmo sentido e com o mesmo objetivo, ou seja, o de justificar o injustificável.

Não quero aqui dizer que este País é feito por filhos de Maria. Não quero negar que, em período eleitoral, infelizmente, em alguns casos, existe o tão propalado caixa dois. Mas isso jamais pode ser admitido pelo Chefe de Estado. Errou quem comunicou ao Presidente da República que seu Partido praticava o caixa dois, e errou o Presidente da República, ao revelar ao Brasil, anos depois de tomar conhecimento dessa convivência, que sabia do fato e que era algo corriqueiro.

Essa notícia veio da França para cá, e já não se pode, a partir de então, Senador Eduardo Suplicy, dizer que o Presidente Lula é inocente, até porque, se pegarmos os pronunciamentos feitos não só por Sua Excelência, mas pelos integrantes do seu Partido, veremos que são todos eles no sentido de combater essa prática - quando o PT era Oposição, abro um parêntese para que todos entendam. Todos verão que o Partido tinha, na sua linha filosófica, o combate a gastos de campanha, ao abuso do poder econômico, ao famigerado caixa dois. Ele queria a mais transparente das apurações com os gastos eleitorais. E como, agora, não só admite, como seu tesoureiro aceita o fato de que essa arrecadação vem desde o ano 2000, de que ela cresceu em 2002 e eclodiu em 2004?

Mas há um fato tão grave, Senador Maranhão: o de que o certame de arrecadação não se restringia apenas ao período eleitoral. Começaram, gostaram e continuaram. A movimentação financeira permanece, as arrecadações continuam, e as cifras que estão aparecendo a cada dia são estarrecedoras. Tinha certeza de que o Presidente jamais soubera daquilo e de que, se soubesse, protestaria. Infeliz do momento em que tentaram dar uma nova versão da operação Uruguai para o momento atual.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - E aí vem apenas comprovar, Senador Mão Santa, o que venho dizendo há algum tempo. Nunca vi um desejo tão grande do atual Governo de querer parecer com o Governo Collor! É uma fixação, nos erros, nos arrecadadores, na maneira de governar.

É lamentável que, até então ausente de qualquer indício de participação, os fatos recentes comecem a arrastar o Presidente para uma realidade triste e penosa.

Ouço o Senador Mão Santa com muito prazer.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes, é muito oportuno o pronunciamento de V. Exª. Entendo que o Presidente Lula tem que pedir dois perdões: perdão à Nação pelo que o Partido dele fez e perdão pelo que ele disse. E V. Exª está dando essa chance. O Pai Nosso diz que perdoamos, o próprio Cristo disse: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem, o que dizem”. Está na hora de ele pedir perdão pelo que o Partido fez e pelo que ele disse.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Sr. Presidente, nunca imaginei - e digo isso com toda pureza d’alma - o envolvimento do atual Governo e de integrantes do PT - alguns deles eu achava que estavam só esperando o momento certo para chegar ao céu, sem precisar de nenhuma intermediação, direto, sem passar pelo purgatório - nessa prática tão condenável.

Em alguns depoimentos na CPI, o cinismo com que as pessoas negam os fatos comprovados documentalmente é de arrepiar, é de estarrecer e é, acima de tudo, de entristecer os que nessa caminhada de vinte e cinco anos acreditaram, deram seu suor, deram os melhores anos da juventude, os melhores momentos da vida acreditando na ascensão dessa estrela que se cantava aos quatro ventos, que tinha com a esperança vencido o medo.

A decepção, a frustração jogou a esperança para baixo. Temos, neste momento, que tentar salvar o País, este País forte, de boa-fé, de credibilidade excessiva, que achou que essa mudança, para uns, radical, para outros nem tanto, seria, enfim, o nosso caminho para o paraíso. Qual nada! A promessa de alimentação três vezes ao dia para todos os brasileiros ficou no discurso. O rompimento festejado com o FMI agora mesmo foi demonstrado que é uma farsa, uma balela, quando o Governo paga adiantado uma parcela de US$8 bilhões, dinheiro esse que podia ser empregado em áreas sociais.

Aliás, Senador Suplicy, V. Exª, que briga por um salário justo, que briga por igualdade social, imagino como não ficou triste ao ver que o maior investimento social feito no atual Governo foi a compra de um avião por R$168 milhões. Não discuto a necessidade. O Presidente precisa ter a dignidade do cargo. Mas não precisavam comprar o avião à vista. Ninguém no mundo compra avião à vista; compra pagando em 20 ou 30 anos. E compra de governo a governo, são compras facilitadas.

O que a Nação não entendeu ainda e está curiosa para saber é porque esse avião foi pago de maneira adiantada, Sr. Presidente. Nem os xeiques árabes, que têm dinheiro jorrando pelos poços de petróleos, fazem esse tipo de aquisição. Fazem o leasing, compram em longo prazo, porque são homens de visão, homens que vêem negócios. E um País como o nosso, com as dificuldades que vive, é que tem a coragem e a ousadia de fazer uma compra dessa natureza! Isso um dia ainda será explicado.

Senador Eduardo Suplicy, o velho ditado que diz “onde há fumaça há fogo” nunca mostrou, como neste momento, como é rica a sabedoria popular, porque esses que estão aí no pelourinho, comprometendo o seu Partido e a sua história, já são falados pelos excessos, pelo comportamento há pelo menos dois anos. Providência nenhuma foi tomada. Espero que o Partido de V. Exª acorde e, ao invés de querer arrastar o Brasil inteiro, a classe política, como um todo, para a lama, procure ele mesmo fazer uma profilaxia, se renovar e fazer com que, finalmente, essa estrela, um dia, volte a subir. A estrela cadente, infelizmente, do Partido de V. Exª frustra, portanto, o Brasil e centenas de brasileiros, crédulos como V. Exª, que é um dos que mais sofrem neste momento, com a angústia de ver o seu Partido viver situações para as quais V. Exª não contribuiu. Ouço V. Exª, com muita alegria.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Heráclito Fortes, V. Exª mostra problemas que estão ocorrendo no Governo do Presidente Lula, pessoa a quem deposito a minha confiança e espero que possa corrigir os rumos, sejam os relativos ao nosso Partido, sejam os relativos ao que se passa com o Governo. Tenho sido perguntado por algumas pessoas - ainda vejo aqui uma matéria no Valor Econômico de hoje - se alguns Parlamentares do PT estariam até considerando mudar de partido. Afirmo que, quando ingressei no PT, tomei uma decisão que considero uma decisão de vida: contribuir para que as coisas melhorem no nosso Partido, que aqueles grandes anseios de realização de justiça, de democracia e de ética na vida política e na administração pública sejam sempre alcançados com o maior empenho. Muito obrigado.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª pode se julgar um homem feliz. O Estado de V. Exª sabe separar o joio do trigo. Sou testemunha, porque todas as vezes que vou a São Paulo, vejo que São Paulo sofre com V. Exª o que V. Exª sofre por causa do seu Partido. Aquela semana em que V. Exª passou aqui as privações, as agressões dos seus colegas por ter tomado atitude coerente, era comovente ver como São Paulo está ao seu lado. V. Exª se sinta muito feliz de que neste rabo de cometa, nessas águas turvas de uma enchente que vem arrancando tudo o que encontra pela frente, V. Exª está em um local seguro. Sinta-se muito feliz por isso e, do perigo que V. Exª viveu e passou, cercado de tantas pessoas ruins que enganavam V. Exª, o Presidente e a Nação, V. Exª escapou ileso. V. Exª é um herói nesse contexto todo.

Com a generosidade do Presidente, fico muito feliz em conceder um aparte à Senadora Ana Júlia Carepa.

O SR. PRESIDENTE (Augusto Botelho. PDT - RR) - Prorrogo a sessão por mais dez minutos, para o Senador Paulo Octávio falar após o Senador Heráclito.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Senador Heráclito Fortes, serei muito breve. Quero apenas lhe dizer, em relação inclusive a essa questão de sair do Partido dos Trabalhadores, que, ao contrário, sinto muito orgulho e uso a estrela do PT. Não estou nem usando o broche de Senadora, até porque os meus brochinhos quebraram. Mas eu não deixo de usar o broche do PT. E não será isso que todos falam “É o PT. É o PT”. Não é o PT. Vamos investigar. Sou membro titular da CPI, que não é CPI apenas de mensalão, mas CPI para investigar qualquer recebimento de recursos pecuniários ou vantagens por membros do Congresso Nacional, seja agora, seja há dez anos. Não fala porque até o crime é o mesmo. Mas quero dizer a V. Exª que também me empenharei na investigação, e quem quer que seja o culpado será punido. É isso o que defendemos. Orgulho-me, porque, pelo menos neste momento, neste País, podemos investigar, Senador, o que não foi possível em outros momentos. Não foi possível, porque não se permitiam fazer CPIs, não se permitia, inclusive, que se aprofundassem as investigações; quando se fazia CPI, esvaziava-se a mesma. Não estou dizendo que é a sua posição, pelo contrário, mas V. Exª sabe que isso aconteceu em nosso País. Então, precisamos ter esse cuidado e essa responsabilidade, além de, com certeza, cumprirmos a nossa parte, votarmos o que é fundamental ao Brasil. Era o registro que eu gostaria de fazer na sua fala. Muito obrigada.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Quanto a se mudar de Partido ou a se ficar no Partido, essa é uma questão de foro íntimo, e nela não entro. Mas essa história de dizer que se faz CPI agora porque é o Governo de V. Exª não é correta, porque este Governo não quis CPI. O Governo de V. Exª desautorizou-a, desmoralizando companheiros de V. Exª aqui porque assinaram a CPI do Waldomiro. A CPI dos bingos desmoralizou e desautorizou vários companheiros de V. Exª. Essa CPI foi constituída porque é da rua, tem a capilaridade que têm os Correios brasileiros. A voz do povo veio de fora para dentro, exigindo que os fatos fossem apurados. O Partido de V. Exª não só boicotou até o último minuto a CPI, como também manipulou a eleição dos membros dirigentes da CPI, quebrando acordo tradicional. Ainda hoje está lá, manipulando o desenrolar da CPI, sem permitir a participação clara e coerente da minoria. Não quer quebra de sigilo bancário de pessoas que estão envolvidas, não quer quebra de sigilo telefônico. A cada momento, faz obstruções que prestam um desserviço ao País.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - O Senador Delcídio Amaral está fazendo um trabalho ruim?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Não, o Senador Delcídio Amaral é um dissidente do Partido de V. Exª e é olhado com olhos de desconfiança por alguns setores do Partido. V. Exª sabe bem disso. O Senador Delcídio Amaral vive sendo pressionado pelas atitudes corretas e coerentes que toma. Não está agradando o Partido de V. Exª. Tanto isso é verdade, que, na semana passada, conversando com o Líder e falando que o Partido de V. Exª, a base do Governo, tinha a Presidência e o Relator da CPI, S. Exª me disse, com a cara mais séria do mundo: “O Presidente, nem tanto!”

Então, essas coisas não são bem assim. Nenhum governo gosta de CPI. CPI incomoda, é natural. CPIs só acontecem quando a credibilidade do governo cai, e aí há o apoio daqueles que se cansaram de dizer amém. Daí o gesto histórico do Senador Eduardo Suplicy, que, contrariando as diretrizes do Partido, assinou essa CPI.

Senadora, essa será a CPI da verdade, doa em quem doer. E, após essa CPI, o Brasil será bem melhor.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/07/2005 - Página 24884