Discurso durante a 124ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta ao Governo Federal sobre a situação dos produtores rurais. (como Líder)

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Alerta ao Governo Federal sobre a situação dos produtores rurais. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 03/08/2005 - Página 26187
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • NECESSIDADE, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACEITAÇÃO, SUGESTÃO, EFICACIA, MELHORIA, PROBLEMA, PAIS.
  • NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, PROVIDENCIA, SOLUÇÃO, CRISE, AGRICULTURA, ESPECIFICAÇÃO, SITUAÇÃO, PRODUTOR, TRIGO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DIFICULDADE, MANUTENÇÃO, EXTENSÃO, LAVOURA, AUSENCIA, RECURSOS FINANCEIROS, AQUISIÇÃO, INSUMO, UTILIZAÇÃO, TECNOLOGIA, PLANTIO, SAFRA.
  • SUGESTÃO, GOVERNO FEDERAL, AQUISIÇÃO, PRODUÇÃO AGRICOLA, ARROZ, UTILIZAÇÃO, PROGRAMA ASSISTENCIAL, COMBATE, FOME, MERENDA ESCOLAR, REDUÇÃO, PREJUIZO, AGRICULTOR.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, foi um prazer ceder a vez ao Senador Ramez Tebet porque, ouvindo o seu pronunciamento, posso afirmar que concordo com a maioria das teses levantadas aqui pelo nobre colega.

Não é o assunto que vou tratar porque parece-me que a sociedade brasileira está um pouco saturada de ouvir só estes assuntos: mensalão, corrupção, desvio de dinheiro... Nestes próximos minutos, gostaria de tocar num assunto tão importante quanto este que está sendo tratado pelas CPIs que é investigar fundo, buscar os responsáveis, puni-los, fazer a limpeza para que possamos continuar trabalhando em paz no Congresso Nacional e que o Governo possa também continuar trabalhando.

Eu estava pensando, nesses dias, que uma das virtudes que o homem público deve ter, principalmente quando assume um cargo da importância de Presidente da República, Governador, Prefeito, Senador, Deputado Federal é saber distinguir aqueles que fazem o elogio sincero daqueles que bajulam e, com puxa-saquismo - penso que o termo é regimental porque o vejo nos dicionários -, se caracterizam muitas vezes em volta de alguém que assume o poder. Penso que o grande problema foi o Presidente Lula se sentir confortável com a bajulação, com o puxa-saquismo e deixar de ouvir sugestões de quem não tem nenhum interesse pessoal, deixar de ouvir aqueles que elogiam quando podem, quando devem, porque há um motivo, mas criticam quando devem criticar. Eu me coloco nesse grupo e tenho visto que V. Exª também, Senador Paulo Paim.

Há muito tempo venho dizendo que não concordo... Penso que o Presidente precisa, neste momento, colocar em prática outra virtude que um homem público deve ter, que é a de ouvir as pessoas que desinteressadamente estão dando sugestões. Fala-se muito em agenda positiva, mas não se pratica agenda positiva. Fala-se em votar matérias importantes no Congresso Nacional, mas os projetos estão emperrados aqui porque há muitas CPI funcionando. Hoje fui à Comissão de Assuntos Econômicos e vi que havia apenas três assinaturas no livro. Assinei e voltei para o meu Gabinete porque não sou membro das CPIs - poderia ser, mas não sou porque quis dar oportunidade aos Senadores do meu Partido que pediram para participar delas. Tenho outras missões a desempenhar como Líder do PDT e tenho procurado desempenhá-las. Gostaria que o Presidente Lula soubesse que nossas sugestões não custam nada, não custam mensalão, não custam dinheiro de Orçamento. Muitas vezes, essas sugestões podem resolver problemas que o Governo não tem conseguido evitar.

Sr. Presidente, farei algumas citações, começando pelo Estado de V. Exª. Tenho em mão a Gazeta Mercantil de hoje que noticia o seguinte: “Triticultor gaúcho reduz plantio e uso de tecnologia”. A área de trigo plantado no Rio Grande do Sul foi reduzida em 20%, e a tecnologia também foi reduzida em torno dessa porcentagem. Isso significa que o triticultor está plantando porque não pode deixar a terra vazia, senão ela será desapropriada. É essa a situação que queremos para um produtor que perdeu com a estiagem como nunca no seu Estado, no meu Estado?

É essa a situação que queremos para quem tem dado uma contribuição enorme para o desenvolvimento nacional, para a geração de empregos? Já vi V. Exª defender aqui os produtores de uva, de vinho, de trigo, assim como os de arroz, que ainda estão aguardando uma solução.

V. Exª foi testemunha de que eu disse aqui que somente fazer leilão não resolverá o problema. O Governo não tem os Programas Fome Zero e a Merenda Escolar? Por que não compra dois milhões de toneladas de arroz para esses programas sociais, a fim de matar a fome de gente que não tem o que comer? Assim, resolverá dois problemas ao mesmo tempo: enxugar o mercado de arroz e matar a fome de quem não tem o que comer. Vai fazer o preço subir? Vai fazer leilão de 150 mil toneladas, de 200 mil toneladas? Isso entra no país todo dia pela fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai sem fiscalização. Não resolverá nada. Estou alertando o Governo.

Costumamos falar, Senador Paulo Paim, daquilo que entendemos. Não falo sobre este assunto sem entendê-lo, porque estudei muito isso; a vida inteira praticamente eu me debrucei sobre este assunto e acho que posso dar uma contribuição ao Governo.

O Governo pode, usando os programas sociais que tem, resolver o problema dos produtores e o daqueles que passam fome neste País. A mesma Gazeta Mercantil de hoje noticia que venda de insumos estão em queda e não é só no Rio Grande do Sul, onde a queda é mais drástica. Não estou falando da safra de trigo; estou falando da safra de verão, que está para ser plantada. As entregas de adubo do primeiro semestre foram 28% menores do que as feitas no ano passado, os insumos em geral tiveram uma redução de 20%. Isso significa o quê? Que o produtor vai plantar porque tem medo de que a área seja desapropriada se não produzir. Ele vai plantar sabendo de antemão que não vai colher o suficiente para pagar o custo da produção, porque não está usando tecnologia.

Presidente Paulo Paim, todos os dias elogiamos a Embrapa, órgão público acima de qualquer suspeição, que deu uma contribuição enorme ao País. Se temos tecnologia, por que vamos dispensá-la neste momento? Sabe por que os produtores estão reduzindo tecnologia? Porque não têm preço para vender os seus produtos. O Governo, das nove promessas feitas quando houve o tratoraço, cumpriu apenas uma. O Governo continua lidando com isso como se fosse uma brincadeira. Isso vai, tenho repetido isso, contaminar toda a economia.

Ou o Governo adota as medidas necessárias para sanear o setor de produção deste País, deixando que a crise seja investigada pelo Congresso Nacional e tomando providências quando for convocado a tomá-las, ou haverá um desastre na próxima safra de grãos, e quem vai pagar a conta será toda a sociedade brasileira.

É mais um alerta que estou fazendo!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/08/2005 - Página 26187