Discurso durante a 124ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas a atos terroristas, onde quer que eles ocorram. Lamento e solidariedade com a morte do mineiro Jean Charles de Menezes, na Inglaterra, pela polícia. Apelo para que o Governo olhe para a situação difícil por que passa a agricultura brasileira. Premência para a realização da reforma política. (como Líder)

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. POLITICA AGRICOLA. EDUCAÇÃO. REFORMA POLITICA.:
  • Críticas a atos terroristas, onde quer que eles ocorram. Lamento e solidariedade com a morte do mineiro Jean Charles de Menezes, na Inglaterra, pela polícia. Apelo para que o Governo olhe para a situação difícil por que passa a agricultura brasileira. Premência para a realização da reforma política. (como Líder)
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 03/08/2005 - Página 26222
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. POLITICA AGRICOLA. EDUCAÇÃO. REFORMA POLITICA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, FAMILIA, CIDADÃO, NACIONALIDADE BRASILEIRA, VITIMA, HOMICIDIO, AUTORIA, POLICIA, COMBATE, TERRORISMO, PAIS ESTRANGEIRO, INGLATERRA.
  • NECESSIDADE, PAIS INDUSTRIALIZADO, ALTERAÇÃO, POLITICA, COMBATE, TERRORISMO, MOTIVO, AUMENTO, VIOLENCIA, IMPORTANCIA, EMPENHO, IMPLANTAÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL, MUNDO, AUXILIO, PAIS SUBDESENVOLVIDO, REDUÇÃO, FOME, MISERIA.
  • SOLICITAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), ATENÇÃO, URGENCIA, CRISE, SETOR, AGROPECUARIA, RISCOS, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL.
  • EXPECTATIVA, SANÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROJETO, TRANSFORMAÇÃO, CAMPUS AVANÇADO, MUNICIPIO, JATAI (GO), CATALÃO (GO), ESTADO DE GOIAS (GO), UNIVERSIDADE FEDERAL.
  • NECESSIDADE, APROVAÇÃO, PROJETO, REFORMA POLITICA, OBJETIVO, VIGENCIA, PROXIMIDADE, ELEIÇÕES.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a inexplicável morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, em Londres, traz de volta ao debate o tema da segurança internacional. Jean Charles, um eletricista brasileiro de 28 anos que vivia e trabalhava legalmente na Inglaterra, foi fuzilado com oito tiros na cabeça, disparados pelas costas, numa ação precipitada, equivocada e trágica da polícia britânica.

A ação despropositada da polícia foi uma reação aos atentados de 7 de julho, quando bombas colocadas em estações de transporte público mataram mais de 50 pessoas. As declarações das autoridades a respeito do erro da polícia na morte do brasileiro também foram desastradas.

O Primeiro-Ministro Tony Blair lamentou o ocorrido - inclusive, hoje ou ontem, telefonou ao Presidente Lula -, mas defendeu a ação da polícia anunciando que é necessário continuar atirando para matar. Aproveitando-se do momento de comoção que toma conta dos britânicos, Blair repetiu a bazófia tantas vezes dita pelo Presidente americano George W. Bush de que nada fará com que a Inglaterra recue na luta contra o terror.

Atentados como os de sete de julho em Londres, ou como os sofridos pelos Estados Unidos em 2001, acedem o sentimento de patriotismo das pessoas e inflam a popularidade dos governantes. Com um olho na tragédia e outro nos números, esses governantes acabam se julgando super-heróis, tomando medidas que geram mais violência. Essa é uma tese que se comprova a cada dia.

Os atos de terrorismo contra Londres e Nova Iorque são atos covardes, sim, ações hediondas, sim, que merecem o repúdio de todo mundo, sem dúvida nenhuma. Mas, por ser no Ocidente, em países ricos, não são mais nem menos covardes e hediondos que os atos de terrorismo que assistimos há muitos anos, todos os dias, no Oriente Médio, no Egito, em Israel, em Gaza, na Palestina e em toda aquela região. Nem são menos covardes e hediondas que as centenas de mortes diárias a que assistimos, inertes, em países paupérrimos na África, na Ásia, na América Central. Nesses casos, nem são necessárias bombas ou homens bombas. Nesses casos, as pessoas morrem natural e diariamente por pura falta de ter o que comer. Morrem de fome.

Digo tudo isso para chegar a uma conclusão. Não será espalhando mais medo e violência que os Estados Unidos e a Inglaterra vão colocar fim ao terror. Os atentados de julho, pelos indícios disponíveis, já não foram perpetrados por organizações terroristas organizadas. Ou seja, o terror começa a se espalhar indiscriminadamente por jovens que, todos os dias, têm visto suas pátrias devastadas pela guerra e também pelo terror.

É preciso que os países ricos usem suas forças para estabelecer a paz no Oriente Médio. Garantir o que definiu uma resolução da ONU há mais de trinta anos, garantindo um estado independente para a Palestina, como foi garantido a Israel.

Também a ONU, há menos tempo, estabeleceu um plano para minimizar a fome no mundo nos próximos anos. Desse projeto, que tive a oportunidade de detalhar nesta tribuna há algumas semanas, consta a ajuda anual dos países ricos aos países mais pobres do mundo. Todos os grandes assinaram o compromisso, mas alguns não cumpriram, entre eles estão justamente os Estados Unidos e a Inglaterra. São os dois mais poderosos, que mais condições têm de ajudar, e os que têm mais sofrido com ataques terroristas.

Os Estados Unidos gastam anualmente mais de US$500 bilhões com a guerra - mais de US$500 bilhões com a guerra! Pelo projeto da ONU, para se erradicar a fome até 2.025, prevê-se que os Estados Unidos destinem US$16 bilhões em ajudas humanitárias, o que o governo daquele país se recusa a fazer. Gasta US$ 500 bilhões com a guerra, mas se nega a dar US$16 bilhões em ajudas humanitárias.

Cito apenas dois exemplos ilustrativos de ações que seriam mais eficientes na guerra ao terror. Sem construirmos justiça social, todos estaremos, agora e sempre, vulneráveis a ações terroristas. Não adiantam as grandes conquistas tecnológicas e econômicas, se no país do lado pessoas morrem de fome.

Injustiça gera revolta e revolta gera reações extremadas e, naturalmente, incontroláveis.

Se os países ricos não mudarem a estratégia de ação diante do terror vão continuar sofrendo com atentados e vendo seus cidadãos morrerem em ações covardes. O terror, estimulado pela revolta de quem sofre com a guerra, se multiplica como a fome. Se hoje são presos ou mortos três ou quatro terroristas, amanhã surgem outros com a mesma disposição de matar e morrer. A experiência após 11 de setembro de 2001 prova essa tese, defendida hoje por dezenas de intelectuais e estudiosos do assunto em todo o mundo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aproveito, mais uma vez, para me solidarizar com a família do mineiro Jean Charles de Menezes, covardemente assassinado pela política britânica, cujo corpo foi sepultado no última dia 29 do mês próximo passado. Como os britânicos que morreram em sete de julho, Jean Charles também é uma vítima inocente.

Cumprimento às autoridades brasileiras pela ação imediata de apoio à família. E espero que a vigilância sobre o assunto, por parte do Ministério das Relações Exteriores e por parte da imprensa, continue atenta. É preciso que os policiais que mataram um inocente sejam responsabilizados pelos seus atos. E que a família de Jean Charles seja devidamente indenizada pela perda irreparável.

Esse tipo de desdobramento é fundamental, porque inibe ações futuras, preservando a vida de outros inocentes, brasileiros que moram no exterior.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dispondo do tempo que ainda tenho nesta tribuna, faço coro com as palavras do ilustre Senador Osmar Dias. Talvez o Governo, por intermédio de seus Ministros das áreas agrícola e econômica, não esteja atento para o que vai acontecer com a agricultura brasileira, que está totalmente asfixiada. Os agricultores brasileiros estão desesperados. O Governo não consegue atender os problemas e as reivindicações trazidas pelos agricultores, reivindicações justas, honestas e corretas.

Tenho convicção de que o Brasil vai sofrer muito por não entender o problema que assola a agricultura brasileira. Hoje, os insumos e adubos, tudo o que os agricultores precisam comprar agora, estão sendo comprados em quantidade infinitamente menor do que no ano passado. Isso vai trazer uma queda brutal na produção agrícola de nosso País, bem como nas exportações de alimentos, principalmente de grãos, especialmente a soja, gerando desemprego ainda maior em nosso País, principalmente se levarmos em conta que é na agricultura que se produzem os empregos mais baratos deste País, evitando-se, conseqüentemente, o êxodo rural.

Eu, mais uma vez, talvez pela trigésima vez, quero alertar o Governo, o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que, por certo, está sabendo desta situação, dos problemas que advirão ao nosso País em função...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Maguito...

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - ...do não socorro do Governo, neste momento, aos agricultores brasileiros.

Com muita honra, concedo a palavra ao ilustre Senador, ex-Governador do Piauí, Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Atentamente estava ouvindo a homenagem feita ao mártir mineiro, eletricista, recentemente. E quis Deus estar aí o Senador Aelton Freitas, que representa o Vice-Presidente da República nesta Casa. Atentai bem, Maguito, V. Exª que tem proximidade com o Presidente Lula. Atentai bem para essa mensagem desse novo mártir mineiro. Tivemos o mártir Joaquim da Silva Xavier, que lutou pelas liberdades deste País, e agora há outro mineiro, dando isso aí que V. Exª está alertando: o desemprego. E isso é que faz o brasileiro sem emprego, sem trabalho, com muita dignidade, atravessar os mares, as fronteiras - está aí uma novela. E talvez - talvez! - se o Presidente Lula tivesse escutado um homem de trabalho, um homem competente, o seu Vice-Presidente da República, ele teria baixado os juros. A cada 1% que se baixa nas taxas de juros corresponde a dois milhões de empregos. É hora de o Presidente da República... Essa é a voz do nosso PMDB, o PMDB de orgulho, o PMDB autêntico, que dá essa cooperação ao Governo que está aí, perdendo a oportunidade de cumprir a sua palavra de 12 milhões de empregos prometidos. Talvez o outro mineiro, que não seja o mártir Tiradentes, o mártir eletricista, seja a solução para este País. Que o Lula, que está aí desorientado, tire uma licença de 90 dias para reestudar a sua missão e coloque o Vice-Presidente da República. Talvez não tenhamos mais mártires mineiros em nossa História.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço e acolho as palavras de V. Exª, que, sem dúvida alguma, engrandecem o meu pronunciamento.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao falar também dos problemas da agricultura, que, se não acudida, gerará muito desemprego, tenho certeza absoluta, tenho convicção de que os pleitos e reivindicações dos agricultores brasileiros ainda serão atendidos.

Espero que não tardiamente, porque, na agricultura, há dia, hora e mês para se plantar. Se não se adubar, se não se colocar calcário, se não se plantar no momento certo, não adianta. A agricultura é uma atividade diferente, que depende da situação climática, ou seja, depende das chuvas.

Por isso, o Governo tem de atender - se é que vai atender - imediatamente.

Gostaria ainda, Sr. Presidente, aproveitando os minutos que me restam, de fazer um apelo ao Ministro da Educação, recém-empossado, para as duas universidades de Goiás: a universidade do sudoeste goiano, com sede na minha cidade de Jataí, cidade-pólo do sudoeste; e também a universidade do sudeste goiano, com sede na cidade de Catalão. São dois campus da universidade federal já implantados, avançados e que vêm prestando relevantes serviços à educação de Goiás e do Brasil, com cursos importantíssimos. Lá já está tudo consolidado; basta a transformação desses campus em universidade. O Senado já aprovou, a Câmara está aprovando, e esperamos a sanção do Presidente da República.

            E uma última palavra com relação à reforma política. Vi aqui muitos oradores desfilando nesta tribuna, dizendo que talvez ainda não seja o momento ideal para se fazer a reforma política.

            Senador Mão Santa, que gosta muito de ler, li Dalai Lama recentemente. Ele diz o seguinte:

Só existem dois dias do ano em que nada pode ser feito: um chama-se ontem, e outro chama-se amanhã. Hoje é o dia certo para fazer tudo o que pode ser feito.

            Então, a reforma política, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não pode ser amanhã; não pôde ser ontem, mas não pode ser amanhã. A reforma política tem de ser hoje, agora. É praticamente uma exigência de toda a sociedade brasileira.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/08/2005 - Página 26222