Discurso durante a 124ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação de apoio ao discurso do Senador Leonel Pavan, defendendo a necessidade urgente da implementação de uma política para a agricultura. Defesa da reforma política.

Autor
João Batista Motta (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: João Baptista da Motta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. REFORMA POLITICA.:
  • Manifestação de apoio ao discurso do Senador Leonel Pavan, defendendo a necessidade urgente da implementação de uma política para a agricultura. Defesa da reforma política.
Publicação
Publicação no DSF de 03/08/2005 - Página 26232
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. REFORMA POLITICA.
Indexação
  • APOIO, PRONUNCIAMENTO, LEONEL PAVAN, SENADOR, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, AGRICULTURA, ECONOMIA FAMILIAR.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, POLITICA, DESENVOLVIMENTO AGRICOLA, NEGLIGENCIA, SITUAÇÃO, PEQUENO AGRICULTOR.
  • COMENTARIO, POSSIBILIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCONHECIMENTO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • IMPORTANCIA, BUSCA, SOLUÇÃO, CRISE, NATUREZA POLITICA, SOLICITAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, ELABORAÇÃO, ROTEIRO, TRABALHO, NECESSIDADE, APROVAÇÃO, REFORMA POLITICA, DEFESA, IMPLANTAÇÃO, SISTEMA DE GOVERNO, PARLAMENTARISMO, SUGESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, PAUTA, INTERESSE NACIONAL.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faço coro com o Senador Leonel Pavan, quando S. Exª se reporta ao sacrifício e às dificuldades que vive o homem do nosso campo. Faço coro com S. Exª, porque sou testemunha do sofrimento que essa classe de brasileiros vem passando.

Veja bem, Sr. Presidente, Senador Mão Santa, aquele cidadão que plantou arroz, cujo preço na época do plantio era R$50,00, está fadado hoje a vender a R$20,00, mas não está achando R$20,00. Se colher quatro mil sacas, vai vender por apenas R$80 mil, e o custo desse plantio é, no mínimo, R$120 mil.

Hoje, pela manhã, quem ligou as TVs viu que estão sendo exterminadas do nosso campo as matrizes: as vacas estão sendo levadas para o açougue. Isso quer dizer que vão faltar bezerros, que vão faltar machos disponíveis para o abate. No entanto, o resultado dessa má política só veremos daqui a oito ou nove meses, talvez doze. Aí o povo vai, então, sentir na pele o erro que o Governo comete, por não ter uma política para o campo.

Neste País - repito o que tenho falado várias vezes desta tribuna -, só há política para livrar a cara de multinacional. O preço do telefone só se eleva, assim como o dos automóveis. Aquilo que as multinacionais produzem apenas tem seu preço aumentado. E quanto ao que o brasileiro, o pobre coitado homem do campo, produz? Os economistas do Governo, cara-de-pau, vão para a televisão, para comemorar que baixou o preço da carne, do arroz, da soja, mas não dizem ao povo brasileiro que subiram os demais preços. Houve uma compensação, e eles comemoram: “não houve inflação!”

O homem do campo está perdendo a sua terrinha. O homem do campo está perdendo o direito de viver como sempre viveu, com dignidade! Por isso estou falando aqui, corroborando o que disse o Senador Leonel Pavan. S. Exª pede que o Presidente Lula tome providências. Mas, Presidente Mão Santa, não há mais como fazê-lo.

Estamos vivendo no País o presidencialismo, um regime que não existe mais no mundo, a não ser nos Estados Unidos. Infelizmente, talvez só o mudemos, quando os Estados Unidos também o fizerem, porque temos sempre a mania de copiar os outros.

O que podemos esperar de um País com um regime presidencialista, como o nosso, em que o Governo, às vezes, cai no descrédito, como está acontecendo atualmente, e não tem mais cabeça para encontrar seu rumo? Por que não fizemos a reforma política no início do Governo Lula? Agora mesmo, acabei de ver o pronunciamento do ex-Ministro José Dirceu, defendendo-a. Por que não a fazemos amanhã, implantando neste País o parlamentarismo, regime em que o Primeiro-Ministro, que é o gerente da casa - no caso, o Brasil -, pode ser trocado pelo Parlamento, no momento em que perder a credibilidade, como ocorre nos países mais avançados do mundo? Por que não partimos para isso?

Estou vendo, na CPMI, as renúncias de mandatos que vão acontecer e que estão acontecendo. Talvez essas pessoas não voltem, por serem donas de partido, à cabeça do listão que estão querendo implantar no País. É mais um absurdo que vamos cometer contra a nossa democracia.

Presidente Mão Santa, o homem que governar este País precisa estar sob outro regime, que é o parlamentarismo. Não temos outra saída. É claro que aqui, ali e acolá, haverá um Governo respeitado. Há Governadores da atual safra que são excelentes.

O meu Estado, por exemplo, que sempre foi manchete vergonhosa em nosso País, com as denúncias mais escabrosas, com os maiores crimes cometidos contra o povo, hoje navega em céu de brigadeiro. O Governador Paulo Hartung, com mão-de-ferro, não transigiu diante do interesse público; rompeu com o crime organizado, com aqueles que gostavam de cobrar pedágio pela instalação de empresas no meu Estado. Tudo isso acabou. O Espírito Santo hoje exporta um verdadeiro exemplo para o nosso País, um modelo novo de administração. Por que isso está ocorrendo, Presidente Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores? Porque o nosso Governador agiu com mãos-de-ferro e não deixou que a administração ficasse por conta dos seus assessores.

O Presidente Lula, neste momento, acredito, é uma das maiores vítimas deste País. Não havia motivo nenhum para o PT transigir, para sair recolhendo dinheiro nas estatais, a fim de entregar a esse ou àquele parlamentar. O Presidente Lula não mandou nada de espúrio para ser votado aqui. Sua Excelência deve estar lamentando-se: por que fizeram isso? Por que o meu Partido me traiu? Por que corromper? Por que arrancar dinheiro dos cofres públicos, para entregar a parlamentares? O Presidente Lula não mandou a esta Casa nada que fosse espúrio, que fosse errado, para ser votado. Aqui tudo foi votado na santa paz de Deus; todos queriam ajudar o Presidente.

Eu mesmo, estou aqui desde o começo, apoiando este Governo, querendo que ele acerte, que o meu País cresça. Repito: por que fizeram isso com o Presidente Lula? Por que tanta corrupção? Por que tanto dinheiro? Por que colocar nosso País como corrupto nas manchetes de todos os jornais do mundo? Não havia necessidade disso, Senador Mão Santa. E ainda dizem que a corrupção vem de governos passados. É claro que ela sempre imperou. Sempre houve corrupção, mas nunca nesse nível, a ponto de se comprarem consciências e lideranças. Continuo perguntando por que essa compra, se não havia a menor necessidade de que isso acontecesse. Será que todo o dinheiro desviado foi realmente para as mãos desses Parlamentares? Será que não havia gente no Governo, fazendo caixa e que apenas uma pequena parte dava para meia dúzia de Parlamentares? Será que aquilo que era entregue a esses Parlamentares não se destinava a encobrir os erros que o próprio Governo ou as pessoas de dentro dele estavam cometendo?

            Presidente Mão Santa, mais uma vez, faço um apelo ao Presidente Renan Calheiros...

(Interrupção do som.)

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - Mais uma vez, apelo ao nosso Presidente Renan Calheiros no sentido de que façamos uma agenda mínima de trabalho. Vamos aprovar aqui uma reforma política capaz de tirar o nosso País do mar de lama em que vive hoje.

Apelo ao Presidente Lula que encampe uma maneira, um modus vivendi que nos leve a tirar o País do estado agonizante em que nos encontramos hoje.

Sr. Presidente, quero agradecer e parabenizar V. Exª, que é essa figura máxima do Piauí. V. Exª hoje é respeitado em todo o território nacional. Sou testemunha disso, porque o vejo, volta e meia, nos aeroportos deste País sendo abraçado por todas as pessoas que o encontram. Desde o começo, V. Exª já falava o que estou falando aqui hoje. Desde o começo, V. Exª tinha consciência de que iria acontecer o que acabou acontecendo. V. Exª é um visionário, é um homem competente, que já enxergava de há muito tempo que, mais cedo ou mais tarde, nesse Governo mergulharíamos no caos em que estamos mergulhados.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/08/2005 - Página 26232