Discurso durante a 125ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao artigo jornalista Elio Gaspari publicado hoje, no jornal O Globo. Depoimento do Sr. Luiz Eduardo Soares na CPMI dos Bingos.

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Comentários ao artigo jornalista Elio Gaspari publicado hoje, no jornal O Globo. Depoimento do Sr. Luiz Eduardo Soares na CPMI dos Bingos.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2005 - Página 26371
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ERRO, NOMEAÇÃO, TESOUREIRO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ENTREGA, JOSE DIRCEU, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, RESPONSABILIDADE, ARTICULAÇÃO, BANCADA, APOIO, GOVERNO, RESULTADO, CRISE, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, CORRUPÇÃO, BINGO.
  • REGISTRO, DEPOIMENTO, PARTICIPANTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, ACUSAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, COAÇÃO, MINISTERIO PUBLICO DA UNIÃO, POLICIA, IMPRENSA, JUDICIARIO, FACILITAÇÃO, DESVIO, RECURSOS, SETOR PUBLICO.
  • CRITICA, ALEGAÇÕES, JOSE DIRCEU, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCONHECIMENTO, CORRUPÇÃO, BINGO, CRISE, PAIS.
  • EXPECTATIVA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CONGRESSO NACIONAL, IDENTIFICAÇÃO, CONGRESSISTA, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, inicialmente, registrar um pequeno trecho do artigo publicado hoje, no jornal O Globo, pelo jornalista Elio Gaspari, que diz o seguinte:

José Dirceu é uma página virada das fantasias de Brasília. Colocando-se de lado sua personalidade apoteótica, que o infortúnio transformou em bode, o problema continua do mesmo tamanho. Hoje, como no dia 1º de janeiro de 2003, quando foi empossado na Presidência da República, o problema - pensou-se que fosse solução - chama-se Lula. A Constituição determina que ele dure pelo menos até 31 de dezembro do ano que vem.

Foi Lula quem cometeu o erro desastroso de entregar ao Chefe do Gabinete Civil a articulação política e a gerência administrativa de seu Governo. Se em vez de ter colocado José Dirceu nesse cruzamento de jacaré com melancia tivesse nomeado São Francisco de Assis, o resultado seria parecido. Paralisou a máquina e transformou a rede de apoio parlamentar de seu governo numa tessitura desconexa que só podia ser amarrada com o mensalão. Foi ao armazém, pediu dois pacotes de leite, uma vassoura, três abacaxis e quer reclamar do formato do embrulho.

Foi Lula quem colocou Delúbio Soares na tesouraria do PT e o manteve mesmo depois que o companheiro saiu por Brasília fumando charutos Cohiba [cubanos], movendo-se como se fosse tesoureiro da administração. Referindo-se à sua capacidade de influenciar agendas, informava: “Com burocrata de Ministério? É só ligar e marcar para quatro ou cinco dias depois.”

Nunca é demais lembrar que Waldomiro Diniz, um subchefe do Gabinete Civil filmado achacando um bicheiro (antes de ser levado para o palácio por José Dirceu), foi exonerado “a pedido”. Em sindicalês, nem justa causa deu.

Sr. Presidente, presido hoje a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos, cujo Vice-Presidente é V. Exª. Ontem, ouvimos o Sr. Luiz Eduardo Soares, que, sem dúvida, prestou um depoimento contundente àquela Comissão. Demonstrou de forma clara as verdadeiras intenções do Partido dos Trabalhadores, de que fez parte: coação das instituições fiscalizadoras - Ministério Público da União, Polícia, imprensa, Judiciário -, para facilitar a drenagem de recursos públicos, visando à perpetuação do Partido no poder, tudo isso capitaneado pelo Sr. José Dirceu, Deputado Federal, ex-Ministro do Governo Lula, todo-poderoso.

Esse ardiloso esquema, Sr. Presidente, montado por José Dirceu com conhecimento da cúpula do PT, contava com a colaboração do naipe de Waldomiro Diniz e de Marcelo Sereno, ambos arrecadadores de recursos que posteriormente foram nomeados para a Casa Civil.

O Sr. Luiz Eduardo Soares disse que, no Rio de Janeiro, antes da eleição do Presidente Lula, estava a serviço do PT, mandado pelo Sr. José Dirceu - palavras do Sr. Luiz Eduardo Soares -, e era candidato a Vice-Governador da Srª Benedita da Silva. Afirmou que o Sr. Waldomiro Diniz, que havia sido nomeado pelo ex-Governador Garotinho, permaneceu na Loterj para ser o arrecadador estadual do PT no Rio de Janeiro quando a Benedita assumiu com a renúncia do Garotinho. O Sr. Marcelo Sereno, Secretário de Estado do Governo da Srª Benedita da Silva, tinha como obrigação ser o arrecadador nacional - olhem bem - do PT, inclusive para a eleição do Presidente Lula.

Ora, Srªs e Srs. Senadores, qual foi o prêmio dos dois arrecadadores? O Sr. Waldomiro Diniz foi pego, numa fita, pedindo dinheiro a um bicheiro para financiar a campanha do PT. O outro, o Sr. Marcelo Sereno, também arrecadador, foi denunciado, envolvido com a GTech, envolvido com a Caixa Econômica Federal, por ter pedido propina para o PT.

Qual foi o prêmio desses dois rapazes inocentes, desses inocentes que o Sr. José Dirceu disse que não conhecia? Esqueceu-se o Sr. José Dirceu de que Waldomiro Diniz morou no mesmo apartamento dele. Que homem inocente o Sr. José Dirceu! Que homem bonzinho o Sr. José Dirceu! Trabalhou 13 anos - 13, o número do PT - com o Sr. Waldomiro Diniz e nunca soube de nada que aconteceu com esse cidadão.

Que prêmio receberam eles, Srªs e Srs. Senadores? Quando o Presidente Lula se elegeu e levou o Deputado José Dirceu para a Casa Civil e o tornou seu Primeiro-Ministro, o mais forte de todos, ele levou Waldomiro Diniz e o Sr. Sereno para serem seus assessores, para que eles continuassem arrecadando recursos, seja de bicheiros, seja do jogo, seja de empresários. Não me interessa com quem conseguiam o dinheiro, mas ele servia para financiar campanhas de políticos do PT.

Senador Alvaro Dias, está em minhas mãos e com a imprensa a lista distribuída hoje pelo Sr. Valério. Sabemos não ser verdadeira, pois existem muitos, muitos outros políticos e empresários envolvidos com o Sr. Marcos Valério.

Queremos saber o seguinte: o Presidente Lula não sabia de nada? Será que o Presidente Lula não sabia de nada?

Saibam os senhores o que vi, há pouco, na televisão - o Brasil talvez o tenha visto também. O Presidente Lula disse que não precisa de ninguém, que não precisa de imprensa e lançou-se, ainda há pouco, candidato à reeleição em Garanhuns. Agora foge da crise, foge da verdade e foge, acima de tudo, das explicações que tem de dar ao povo brasileiro.

Não é possível que o Presidente da República não saiba o que está acontecendo neste País, não saiba que o seu Partido está roubando o Brasil. É preciso que Sua Excelência saiba disso. Os senhores que são do PT sabem que, no PT, não se faz nada sozinho. Sabem que o Sr. Delúbio não está fazendo tudo isso sozinho. Não adianta tentar enganar o povo brasileiro mais uma vez. É preciso coragem! É preciso o Senhor Presidente vir a esta tribuna, é preciso usar a televisão para pedir perdão ao povo brasileiro.

Não me venham dizer que os senhores estão convencendo os brasileiros. Não me venham os Srs. Senadores, Deputados e dirigentes do PT dizer, afiançar que o povo brasileiro está acreditando nos senhores. Não! São bilhões de reais. Não são milhões. São bilhões de reais! É preciso que o povo brasileiro, que os Srs. Parlamentares que estão de mãos limpas - e aqui vejo três Senadores do PT; tenho certeza de que os Senadores Paulo Paim, Eduardo Suplicy e V. Exª, Senador Tião Viana, são homens de mãos limpas, com mandatos limpos, a serviço do povo e dos Estados que V. Exªs representam.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Mas não acredito, Senador Eduardo Suplicy, que o Sr. Delúbio seja o único responsável. Não creio que V. Exª acredite que o Sr. Delúbio fez isso sozinho.

Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Há poucos dias, Senador Efraim Morais, a Liderança do PFL e do PSDB ingressou com representação perante a Justiça Eleitoral para que o Partido dos Trabalhadores não tivesse mais o financiamento público de campanha. Queria alertar: quando houve problemas no âmbito do Governo Fernando Collor de Mello, do qual o PFL era uma das principais legendas de suporte, nunca generalizamos para o PFL aquilo que foi detectado como um problema pela CPI e que levou até ao afastamento do Presidente. Não solicitamos cassação de registro nem que deixasse de haver o financiamento público de campanha. V. Exª, há poucos instantes, fez uma generalização relativamente ao Partido dos Trabalhadores. Eu gostaria de recomendar a V. Exª: vamos fazer a apuração com equilíbrio, com serenidade, examinando tudo o que...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ... porventura tenha ocorrido para além de partidos políticos. E vamos fazer a correção dos rumos. Erros podem ter ocorrido com os seres humanos que fazem parte do meu Partido, do Partido de V. Exª, do Governo e do Congresso Nacional. Vamos corrigir esses erros, mas cuidado com a generalização. Como seu companheiro no Senado, falo uma palavra, assim, de reflexão para V. Exª.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço a V. Exª, Senador Eduardo Suplicy...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Efraim...

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Eu tive até o cuidado de mencionar aqui as pessoas do PT que estavam presentes, entre os quais V. Exª. Mas, Senador Eduardo Suplicy, nessa história de vamos apurar a passo de...

(Interrupção do som.)

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - ... tartaruga ninguém agüenta. Enquanto isso se constroem documentos, enquanto isso se queimam documentos, enquanto isso, o Brasil fica à deriva. O País está à deriva.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Efraim...

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - E eu tenho convicção de que o que aconteceu com a Executiva do Partido de V. Exª... Quando me refiro ao PT, entendo que, na realidade, quem se responsabiliza pelo destino do Partido é sua Executiva. E o que vimos, de uma só vez, foi que saiu o Presidente, o Sr. José Genoíno; saiu o Sr. Delúbio, que devia estar em outro canto, devia estar na cadeia; saiu o Sr. Sílvio Pereira.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Efraim...

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - O que observamos é que lá foram substituídos por Tarso Genro. Quem é Tarso Genro? Ministro. Quando foi para lá foi como Ministro da Educação, homem sério, nada tenho contra ele, ex-Ministro do Governo...

(Interrupção no som.)

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Humberto Costa, ex-Ministro do Governo; Berzoini, aquele que aqui mostramos que não gostava dos velhinhos, ex-Ministro do Governo. E o Presidente Lula diz que não sabia de nada disso, quando tira os seus dirigentes que foram escolhidos e os leva para dentro do PT, do seu governo?! Não acredito que o Presidente Lula...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Efraim...

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - V. Exª tem um minuto.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Suas palavras, Senador Efraim, soam como se hasteasse a bandeira da Paraíba. Na bandeira do Brasil, está escrito “Ordem e Progresso”. Na da Paraíba, “Nego”. Era uma inspiração para negar o comunismo. E V. Exª está negando a corrupção na nossa Pátria.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço, Senador, pela referência à minha querida Paraíba.

Sr. Presidente, agradeço a tolerância de V. Exª. Estou satisfeito. Espero que todos nós não joguemos fora essa oportunidade que nos é dada por meio de uma arma democrática, constitucional: as nossas CPIs. Que possamos buscar a boa investigação e os culpados. E que este Congresso possa, com essa oportunidade, separar o joio do trigo, mas, acima de tudo, culpar e cassar, se necessário, todos aqueles Parlamentares envolvidos. Que a Justiça cuide também da corrupção que envolve o Poder Executivo.

Agradeço a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2005 - Página 26371