Discurso durante a 125ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Agravamento da crise política com o surgimento de fatos novos. Análise do depoimento do Deputado José Dirceu no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Agravamento da crise política com o surgimento de fatos novos. Análise do depoimento do Deputado José Dirceu no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2005 - Página 26380
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONFIRMAÇÃO, DECLARAÇÃO, PARTICIPANTE, CORRUPÇÃO, ALEGAÇÕES, CRIME ELEITORAL, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, TENTATIVA, OBSTACULO, PUNIÇÃO.
  • CRITICA, FALTA, VERDADE, INCOERENCIA, DEPOIMENTO, JOSE DIRCEU, EX MINISTRO, CHEFE, CASA CIVIL, REGISTRO, SUPERIORIDADE, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • REGISTRO, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, PARTICIPANTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ANTERIORIDADE, GESTÃO, SECRETARIO NACIONAL, SEGURANÇA PUBLICA, CONFIRMAÇÃO, ARTICULAÇÃO, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, CORRUPÇÃO.
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, ROBERTO JEFFERSON, DEPUTADO FEDERAL, DENUNCIA, PARTICIPAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REUNIÃO, BANCADA, CONGRESSISTA, DISCUSSÃO, FACILITAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, EMPRESA ESTRANGEIRA, TELEFONIA, RECEBIMENTO, PROPINA, FINANCIAMENTO, DIVIDA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB).

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de fazer uma apreciação rápida, seqüenciando o que abordou o Senador Arthur Virgílio, que mostrou-se preocupado, como eu, com o curso dos fatos, com o envolvimento de pessoas e com o agravamento da crise - crise que nós não criamos.

Senador Arthur Virgílio, V. Exª se lembra de como tudo começou, da seqüência de entrevistas e depoimentos do Sr. Marcos Valério, do Sr. Silvio Pereira e do Sr. Delúbio Soares, terminando ontem pela palavra do ex-Ministro José Dirceu. Senador Tasso, o primeiro foi o Marcos Valério, o segundo foi Silvio Pereira, o terceiro foi Delúbio Soares e o quarto, José Dirceu. É o quarteto de ouro.

Fazendo uma ligação claríssima com o raciocínio que fizeram cada um dos integrantes do quarteto de ouro, falou Sua Excelência, o Presidente da República, em uma entrevista em Paris que foi muito comentada e debatida. Na mesma linha de raciocínio, o dolo praticado diria respeito a financiamento de campanha, o crime praticado seria eleitoral. A história era a mesma. O quarteto de ouro contava a mesma história que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ontem, houve o depoimento do ex-Ministro José Dirceu, que se confrontou com o Deputado Roberto Jefferson. Alguns dizem que um ganhou, outros dizem que o outro ganhou. Alguns dizem que José Dirceu saiu-se muito bem. Saiu-se muito bem, porque se esperava que S. Exª morresse e, como não morreu, saiu-se muito bem. Não sei para quem ele se saiu muito bem, porque foi um festival de incoerências e de fatos não-explicados.

Senador Tasso Jereissati, V. Exª se lembra de que as conjecturas foram todas feitas em torno de crime eleitoral e financiamento de campanha por caixa dois. O produto do trabalho do Sr. Marcos Valério, supõe-se, orientado pelo ex-Ministro José Dirceu, operado pelo Sr. Silvio Pereira e pelo Sr. Delúbio Soares, objetivava apenas financiamento de campanha com caixa dois, e sobre isso manifestou-se Sua Excelência, o Presidente da República, dizendo que achava esse um fato natural e corriqueiro no Brasil.

            Com as investigações, lamentavelmente, começa a aparecer uma outra verdade, que é dura para a classe política do Brasil, que é de fazer vergonha a membros do Congresso Nacional e que tem de ser investigada no limite máximo para ser extirpada. Pelos números avaliados até agora, já se sabe que...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - ... do dinheiro do Sr. Marcos Valério, foi tirado dinheiro para a festa da posse do Presidente; foi gasto um volume expressivo de dinheiro com advogado para defender a imagem do PT no caso Santo André - Senador Pavan, 550 mil reais para defender a imagem do PT no caso Santo André -; quinze milhões de reais para pagamento à empresa do Sr. Duda Mendonça. Quem é Duda Mendonça? É o marqueteiro do Presidente da República, é o homem que está o tempo todo com o Presidente, orientando os seus depoimentos e aparições públicas. Foram feitas transferências para diretórios regionais do PT, para não falar nas milionárias transferências dirigidas a líderes de partidos. Nada de financiamento de campanha e caixa dois. Os números estão mostrando, claramente, que o dinheiro, que era muito, operado por Marcos Valério, ia de Duda Mendonça a financiamento da festa de posse do Presidente; ia de advogado para defender a imagem do Partido em Santo André aos diretórios regionais do PT nos Estados, passando, Sr. Presidente, por algo que está cada vez mais claro, por ilações perigosíssimas, ilações de enriquecimento ilícito de elementos do “quarteto de ouro”. Enriquecimento ilícito do Sr. Sílvio Pereira, que foi presenteado com um Land Rover - devolvido -, o que levou à renúncia ao cargo de Secretário-Executivo do PT, porque foi pilhado no mal feito, no tráfico de influência, nos contratos da Petrobras, que geraram um Land Rover, um mino que ele não poderia normalmente comprar. O apartamento denunciado, comprado pela esposa do ex-Ministro José Dirceu, numa operação curiosíssima de compra e venda entre pessoas amigas, quase que uma doação entre...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - ... amigos que têm, Sr. Presidente, uma ligação muito forte com o amigo maior, que é o poder da Presidência da República. Falam até em festas em hotéis.

Mas o que mais me preocupou, Sr. Presidente, e que me traz à tribuna hoje são duas coisas. Enquanto as TVs estavam ligadas no confronto Roberto Jefferson versus José Dirceu, estava ocorrendo, na CPI dos Bingos, o depoimento do Sr. Luiz Eduardo Soares, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, ex-Secretário de Segurança do Rio de Janeiro; e do Sr. Sérgio Canozzi, empresário do jogo do bicho, que disse que representava interesses de espanhóis, que, durante o Governo Garotinho e o Governo Benedita da Silva, teve encontros com autoridades do Governo fluminense que teriam o controle da concessão do jogo.

E aí entra, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o quinto elemento, aquele que fecha o “quinteto de ouro”. Senador Juvêncio, eram quatro: Delúbio, Silvinho, Marcos Valério, José Dirceu. Entra aí o quinto: o Sr. Marcelo Sereno, que foi para o Rio de Janeiro para ser o “supersecretário”, para ser o arrecadador de dinheiro para campanhas e outras coisas mais e que tinha como braço operador o Sr. Waldomiro Diniz, que ficou do Governo Garotinho para o Governo Benedita, de PMDB para PT, mantido para aquilo que o Sr. Sérgio Canozzi disse e o Sr. Luiz Eduardo Soares, numa operação de perguntas e respostas que foram feitas, inclusive por mim...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - ... que chegasse a uma constatação e confirmação.

Senador Pavan, ao Sr. Luiz Eduardo Soares, petista, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública do Governo Lula, perguntei claramente a ele se eu estava certo ou errado ao fazer a ilação de que, entre o que se está investigando hoje na CPMI dos Correios, no “quarteto de ouro”, e o que aconteceu com Waldomiro Diniz, com Marcelo Sereno, com o Governo do Rio de Janeiro e com a Loterj, havia um claro traço de união que se chama José Dirceu. Ele me disse que forçoso seria reconhecer que sim, o que ele não tinha era provas, mas forçoso reconhecer que sim.

O traço de união mostra, Senador Leonel Pavan, que o esquema praticado agora não é financiamento de campanha, porque quando se fala em jogo de bicho - e aí é o que mais me preocupa - entra o dinheiro de narcotráfico, de entidades clandestinas e de máfia, o dinheiro mais escuso e mais perigoso que se possa imaginar, e não se está investigando ainda esse fato. Isso é o que me causa arrepio, porque a nossa obrigação será investigar tudo e chegarmos onde tivermos que chegar.

No depoimento de ontem, Senador Tasso Jereissati, chegou-se a um lugar em que não se pode parar a investigação. Chegou-se à clara declaração, por parte de Roberto Jefferson, de que a empresa Portugal Telecom, contactada pelo Governo brasileiro, teria sido procurada por elementos do PT e do PTB, para facilitar o negócio de compra da Brasil Telecom, mediante uma propina grande que iria custear déficits do PT e do PTB.

Aí entrou em cena a própria figura do Presidente...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Já vou terminar, Sr. Presidente.

Entra em cena a figura, ex-Senador e Governador Roberto Requião, a figura específica do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teria participado das reuniões que teriam levado uma comitiva multipartidária a Lisboa para tratar da compra e venda de ações que iriam produzir uma propina capaz de financiar o déficit de dois Partidos políticos. Aí, é o fim.

Sr. Presidente, quero trazer a minha preocupação e a declaração do meu Partido. Vamos em frente na investigação, chegue ela onde chegar. Se ela chegar ao dinheiro do narcotráfico, vamos investigar. Se ela chegar ao dinheiro das máfias, vamos investigar. Se ela chegar aos gabinetes do Palácio do Planalto, vamos investigar. Isso porque, se não investigarmos, vamos ser cassados. E, antes que seja tarde, vamos passar este País a limpo.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2005 - Página 26380