Discurso durante a 125ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio ao ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, diante das denúncias de que o seu ex-secretário-executivo, Márcio Lacerda, teria sido destinatário de recursos financeiros originários das contas das empresas de Marcos Valério. Análise do comportamento do Presidente Lula em decorrência da crise política.

Autor
Tasso Jereissati (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Tasso Ribeiro Jereissati
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Apoio ao ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, diante das denúncias de que o seu ex-secretário-executivo, Márcio Lacerda, teria sido destinatário de recursos financeiros originários das contas das empresas de Marcos Valério. Análise do comportamento do Presidente Lula em decorrência da crise política.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Eduardo Suplicy, Heráclito Fortes, José Agripino, Patrícia Saboya.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2005 - Página 26414
Assunto
Outros > HOMENAGEM. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, PRONUNCIAMENTO, ALOIZIO MERCADANTE, SENADOR, DEFESA, ETICA, MORAL, ATUAÇÃO, CIRO GOMES, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL.
  • REGISTRO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, PAIS, CRITICA, ALEGAÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCONHECIMENTO, CRISE, CORRUPÇÃO, GOVERNO.
  • COMENTARIO, PREJUIZO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, DIALOGO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), QUESTIONAMENTO, SITUAÇÃO, EDUARDO SUPLICY, SENADOR.
  • NECESSIDADE, EMPENHO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLUÇÃO, CRISE, CORRUPÇÃO, PAIS.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria primeiramente de ratificar aquilo que já foi dito pelo Senador, meu Líder, Arthur Virgílio, da nossa crença e confiança na nota, lida aqui pelo Senador Aloizio Mercadante, do Ministro Ciro Gomes, homem sério, homem de conduta e de história irretocáveis na política e na administração pública brasileira. No aspecto ético e moral, não pairam quaisquer dúvidas sobre o seu procedimento durante toda a sua vida pública. Com certeza, a sua atitude de afastar imediatamente o seu assessor, apesar da crença na sua inocência, mais uma vez corrobora a sua história. Temos a convicção de que, brevemente, isso tudo ficará esclarecido como mais um equívoco cometido no meio desse mar de lama que está acontecendo no Brasil.

Mas gostaria de falar, principalmente hoje, sobre a seqüência de discursos que têm sido proferidos pelo Presidente Lula. Hoje, mais uma vez, Sua Excelência usou da palavra em Pernambuco, no Município de Garanhuns, se não me engano. Nós, da Oposição, temos feito o possível e o impossível para preservar a figura do Presidente da República, preservar a figura de um homem cuja história política merece o respeito de todos os brasileiros, mas o Presidente, em seus pronunciamentos, tem passado dos limites que podemos aturar.

Parece, Sr. Presidente, que o Presidente da República ainda não percebeu os acontecimentos, ainda não entendeu a gravidade dos fatos envolvendo o seu Governo, que têm levado a um estado de perplexidade e estupefação nacional e internacional.

O Presidente Lula é um homem em quem a grande maioria da população brasileira, e até mesmo a comunidade internacional, depositou confiança e esperança de que promoveria uma mudança radical de atitudes e de hábitos políticos, que traria à Nação brasileira um novo momento de convivência entre políticos, população, Executivo e parlamentares. Em vez do anunciado espetáculo do crescimento, o que vemos é o espetáculo da corrupção.

E, apesar do respeito que todos nós, brasileiros, inclusive da oposição, temos pelo Presidente, não se pode dissociar tudo o que está acontecendo da figura de Sua Excelência.

Um homem que pretenda exercer um cargo do Executivo em qualquer parte do mundo, um homem que pretenda exercer um cargo de chefia e de liderança no Brasil, seja de Prefeito, seja de Governador, mas especialmente de Presidente da República, não pode abrir mão das suas responsabilidades e da sua liderança. No momento em que o Presidente da República abre mão da sua liderança e das suas responsabilidades e sistematicamente vem a público para se revelar absolutamente inconformado e alienado com os fatos atuais, não tem condições de ser o grande líder da população e da sociedade brasileira.

Ninguém pode, Senador Heráclito Fortes, ser Presidente da República, Governador do Estado do Piauí, Prefeito de Teresina, sem ser o responsável por tudo o que acontece na sua administração. Isso não é possível. Não seria um líder, não seria um estadista, não seria um chefe, não seria um comandante.

Imagine se um general, durante uma guerra, perde uma batalha e diz que não tem nada a ver com isso e que a responsabilidade é apenas dos soldados e da imprensa, que noticiou a batalha perdida! É isto que está ocorrendo e que não podemos mais aceitar: que o Presidente da República venha sistematicamente falar ao povo brasileiro como se nada tivesse a ver com o seu Governo, como se nada tivesse a ver com os seus Ministros, como se nada tivesse a ver com o seu Partido, criado e fundado por Sua Excelência, como se nada tivesse a ver com os atuais acontecimentos neste País.

Ora, este homem não é um Presidente da República, este homem não é o líder da Nação brasileira, este homem não é o chefe da sociedade brasileira e por ela não pode falar.

Senador Antonio Carlos Magalhães, infelizmente não tenho a habilidade de tribuno que tem, por exemplo, o Senador Arthur Virgílio, e por isso seria pretensioso da minha parte, mas, como é muito propícia a ocasião, vou repetir a palavra de um grande orador romano, que dizia: “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?” Até quando, Presidente Lula, abusarás da paciência da Oposição e da população brasileira, em fingir que acreditamos que Vossa Excelência não sabe, não conhece completamente nada do que está acontecendo no Brasil, e tudo isso que está aí, todo esse conjunto de fatos que se provam e se comprovam a cada dia é apenas uma ilusão criada por uma Oposição ressentida ou pela imprensa brasileira mal-intencionada que, em conjunto, formam o grande complô das elites para afastar e deixar o Presidente da República em má situação? Não é possível!

Nós, da Oposição, não queremos e, com certeza, ninguém da política e da sociedade brasileira quer impedir, fazer qualquer gesto ou tomar qualquer iniciativa que seja de violência e que não seja totalmente democrática, mas exigimos que o Presidente da República assuma as suas responsabilidades como Presidente que é. Fazemos questão de exigir, sob pena de o Presidente da República não representar mais o povo brasileiro, que assuma todos os atos que o seu Governo cometeu, que o seu Partido cometeu, porque isso é papel do chefe, é papel do líder, é papel do homem que prometeu ao povo brasileiro que iria mudar o Brasil.

Ora, se foi eleito pelo povo brasileiro para mudar o Brasil e para representar, principalmente, a população brasileira mais carente e não tem condições sequer de responder pelos atos dos seus Ministros, dos seus aliados e dos seus colaboradores mais próximos, por quem irá falar, por quem tem condições de responder?

E tentar, como está sendo feito hoje, jogar a culpa por todos os males, por toda a roubalheira, pela corrupção existente em todos os setores - sistêmica e sistemática - da vida pública nacional na imprensa, na Oposição, no Parlamento e até no povo brasileiro, porque não levanta o traseiro da cadeira para fazer alguma coisa, é simplesmente um ato de covardia e de irresponsabilidade de um homem público, que não pode ser covarde nem muito menos irresponsável.

Fica aqui, portanto...

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Com certeza, Senador Eduardo Suplicy, vou lhe conceder um aparte.

Fica aqui, portanto, uma palavra: chega! Chega, Presidente Lula, de fingir que não tem nada com isso! O senhor é o nosso Presidente. O senhor é o Presidente de todos nós. Chega de fingir, de agir com uma farsa enorme, dizendo que o Presidente não tem nada com isso, que os Ministros não sabiam de nada, que ninguém sabia de nada e que apenas dois ajudantes, dirigentes partidários de segunda categoria, fizeram esse enorme esquema de corrupção e tomaram parte dele, envolvendo Ministros, presidentes e diretores de estatais, Deputados, Senadores, etc. Não é possível considerar toda a população brasileira como um grupo gigantesco de idiotas que nada percebe, nada vê e que não tem condições de fazer nenhum tipo de discernimento.

Até hoje, estávamos e estamos tentando preservar o Presidente da República, Senador Eduardo Suplicy - a quem vou conceder um aparte -, mas basta. Chega! Chega de abusar da nossa paciência.

Concedo um aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Tasso Jereissati, prestei muito atenção às palavras de V. Exª. Eu gostaria de, a partir das suas reflexões, fazer uma recomendação ao Presidente Lula, reiterando o que disse há poucos dias. Tenho observado que o Presidente Lula escolheu reagir aos fatos que estão ocorrendo mais em pronunciamentos que tem feito nas diversas cerimônias em que tem tido a oportunidade de interagir: ora com os metalúrgicos, ora com os cegonheiros, ora com os taxistas; e hoje, na sua terra natal, em Garanhuns - a cidade de Caetés, onde nasceu, era parte de Garanhuns e foi visitada por Sua Excelência. É claro que em todas essas ocasiões, o Presidente tem expressado opiniões que, por vezes, causam reações como a que V. Exª manifesta. Creio que o Presidente Lula prestará um serviço à Nação em breve. Devemos levar em conta que sua última entrevista coletiva foi concedida no dia 26 de abril, na França, quando os principais órgãos de imprensa enviaram à França os seus jornalistas para cobrirem a visita do Presidente e dialogar com Sua Excelência. No entanto, o diálogo foi muito rápido. Respondendo a uma das questões, naquele dia, o Presidente disse: “Prefiro falar sobre a crise brasileira no Brasil”. Sua Excelência concedeu uma entrevista, que saiu no Fantástico, para o Canal França 2 e respondeu a algumas perguntas sobre o Brasil. No entanto, muitos jornalistas disseram: “Aquela jornalista fez algumas perguntas, mas não fez todas as que faríamos; nós, que estamos acompanhando os fatos do Brasil de maneira aprofundada”. Creio que contribuirá para uma análise mais adequada, inclusive por parte da Oposição - por isso, faço essa recomendação ao Presidente diante da reflexão de V. Exª e de outros que também o fizeram hoje, do PSDB e do PFL -, creio que o Presidente prestará um bom serviço à Nação, ao seu próprio propósito de ser sempre tão sincero, espontâneo, se puder organizar, para os próximos dias, uma entrevista coletiva. Noto que esse é o desejo que V. Exª traz a esta Casa como um legítimo representante do povo. V. Exª está solicitando isso. Eu gostaria que o Presidente esclarecesse melhor tais e quais os aspectos daquilo que está vindo à tona. Percebo que esse é um desejo importante. Ainda outro dia, em entrevista concedida pelo eminente jornalista Clóvis Rossi, no Programa do Jô, notei o sentimento de frustração do jornalista, porque ele foi um dos que acompanharam o Presidente na França. Ele ali observou: “Puxa, eu que tinha perguntas a fazer, não pude fazê-las”. Obviamente, lemos e acompanhamos o noticiário da televisão e do rádio e percebemos o interesse das pessoas por uma palavra do Presidente. Quero inclusive lhe transmitir, Senador Tasso Jereissati, que, na última sexta-feira, por ocasião da posse no Ministro da Educação, Fernando Haddad, tive a oportunidade de dialogar brevemente com o assessor de imprensa do Presidente, André Singer. Fiz essa recomendação ao próprio André Singer. Não encontrei ainda o Presidente, mas aqui faço abertamente essa solicitação. É uma sugestão, na condição de amigo e de Senador do PT, que encaminho ao meu Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Muito obrigado.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Suplicy.

V. Exª faz aqui uma afirmação que me deixa ainda mais perplexo: V. Exª diz que tentou transmitir essa sugestão ao Presidente, mas faz muito tempo que não consegue falar com ele.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Cumprimentei o Presidente na cerimônia da posse do Ministro Fernando Haddad.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Sim, entendi.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Mas foi breve o meu diálogo com ele.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - V. Exª não consegue ter uma conversa mais demorada com o Presidente, trocar idéias. Isso me deixa realmente preocupado. Com quem conversa o Presidente?

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Com o Marcos Valério!

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Parece-me uma sensação total de isolamento do Presidente, de quem não está ligado com a realidade.

V. Exª é a história do PT. Se não me engano, durante muitos anos, V. Exª foi o único Senador do PT ou um dos únicos.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Durante quatro anos.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Durante quatro anos. Talvez tenha sido o primeiro Senador do PT.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - O primeiro eleito.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - E V. Exª não consegue dialogar com o Presidente para trocar idéias. Isso nos passa a sensação, Senador Antonio Carlos Magalhães, de que o Presidente está isolado. Junto com o discurso que o Presidente fez hoje, há a sensação de que, além de isolado, o Presidente está vivendo em outro mundo. Não está percebendo e não está conectado, Senador Mestrinho, com a realidade.

Queremos chamar o Presidente à realidade. Conversas com seus amigos de longas datas são importantes; homens honestos e sérios como o Senador Eduardo Suplicy são peças fundamentais para que o Presidente da República não perca o seu eixo com a realidade nacional.

Concedo um aparte ao Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Tasso Jereissati, eu dizia à Senadora Patrícia Saboya Gomes que V. Exª fala como um dos principais Líderes do seu Partido: é ex-Governador de um Estado importante como o Ceará, ex-Presidente Nacional do PSDB, alguém que sempre tem o nome lembrado nas listas de presidenciáveis do PSDB e que já esteve a pique de ver essa situação configurada na eleição de 2002. V. Exª fala com muita autoridade, fala como um Líder importante da sociedade civil brasileira e faz uma advertência de homem público vivido, de empresário responsável e de Parlamentar respeitável. O sentimento que V. Exª passa é o que a todos nós assalta - está complicado falar em assalto neste País hoje; evidentemente, quero dizer isso em sentido figurado. O Presidente da República, toda vez que fala, piora a sua própria situação. Dou-lhe alguns exemplos históricos de outros homens públicos que passaram por situações semelhantes - história recente, mas já é história: Reagan, Caso Irã-Contras. Tudo contra. Tudo significava revés aparente para o Presidente Reagan. Ele vai ao Congresso e, no discurso State of Union, fala para os parlamentares. Sai de lá respeitado por democratas e é aplaudido de perto por republicanos. Virou o jogo com a sua capacidade de enfrentar a crise, de diminuí-la. Com o Presidente Clinton, no episódio Monica Lewinsky, ocorreu o mesmo. Estava tudo contra. Durante o mesmo evento, o State of Union, ele vai ao Congresso norte-americano e sai de lá ovacionado por democratas e respeitado por republicanos, na sua hora mais difícil - e vejam que não estavam falando em corrupção nem em um caso, nem no outro. Agora, estamos falando de corrupção - e da grossa - no Governo do Presidente Lula. Eu poderia dar outros exemplos, mas não vou fazê-lo. O Presidente Lula fala vulgarmente todos os dias, vulgariza a palavra presidencial, liquida a liturgia do cargo e banaliza o exercício da Presidência da República. Nessa coisa de ziguezague, ora ele se refere de maneira desairosa às oposições, ora se refere de maneira desairosa à imprensa, ora inventa uma tal elite que não sabemos precisar qual é, como se Delúbio não fosse elite, como se Silvinho não fosse elite, como se José Dirceu não fosse elite, como se não fosse elite Marcos Valério, como se não fosse elite, enfim, o BMG, como se não fosse elite o Banco Rural; mistura tudo e cria uma situação que, a meu ver, faz com que, a cada pronunciamento, menos esperanças tenham os brasileiros nas palavras que diz. Ou seja, o Brasil perdeu já aquele encanto: o Presidente vai falar. Imaginamos uma fala vetusta, sóbria, que vai esclarecer, dar respostas e aclarar. Não! Fala para se defender, quase que assumindo uma certa conivência com o código de corrupção que está aí, até porque se defende atacando os outros, se defende com coisas vagas. Não pediu desculpas à Nação. Podia usar uma cadeia de televisão, não para trabalhar mediocremente uma possível reeleição, que não está interessando a ninguém discutir agora, mas para falar claramente da sua consternação com o quadro de corrupção e das medidas concretas que estaria disponibilizando ao Congresso e ao Judiciário para limparmos o seu Governo e o seu Partido de uma vez por todas. O que faz, marqueteiramente? Finge que não tem nada com o PT, finge que não tem nada com o Governo, Sr. Presidente Teotônio Vilela. Daqui a pouco, ele usurpará o nosso lugar. É tanta desfaçatez que, daqui a pouco, ele vai aparecer como líder de oposição a ele mesmo. Ele vai ser governo que não governa e oposição ativa, porque isso ele sabe ser. É tão oposicionista que sabe ser oposição ao próprio governo. Parece que não tem nada a ver. Olha, Senador Tasso Jereissati, o seu discurso é oportuno, espero que seja ouvido, mas o Presidente Lula, para mim, está mostrando, com clareza, que é mesmo despreparado para o exercício da Presidência. Eu perguntaria ao Presidente da República, se pudesse fazê-lo: “Presidente, o senhor acha que ainda há razão para as pessoas, neste País, ridicularizarem a Regina Duarte, que foi à televisão e disse que tinha medo? Presidente, o senhor não deixou mal aquela jovem idealista, a atriz Paloma Duarte, que criticou Regina acreditando piamente que o senhor seria segurança e salvação para este País? Será que o senhor acredita que, hoje em dia, uma pesquisa séria não daria razão clara a Regina Duarte?” Hoje, ninguém mais tem coragem de ridicularizá-la, uma democrata que lutou por Diretas, lutou pela eleição de Tancredo Neves, lutou por um País melhor durante a sua vida inteira e, quando ousou tocar nessa catedral petista, desabou o mundo intelectual sobre ela. No entanto, hoje não se fala mais nisso, até porque o Brasil está mesmo com medo do Presidente Lula, sim, do seu ziguezague, das suas incertezas, da sua incompetência, da sua indisposição para enfrentar para valer o esquema de corrupção sistêmico que está montado no seu Governo. O Brasil está com medo, sim. Neste momento, eu me sinto uma Regina Duarte: estou com medo. Tenho filhos e estou com medo do que possa acontecer a este País. Não vejo, em nenhum momento, diminuir o ímpeto da crise, e temos um Presidente que não colabora para sequer podermos delineá-la, que é incapaz de se dirigir, de maneira altiva, às oposições. Só o faz pela via da cooptação, que acabou resultando nesse mensalão absurdo que aí está. Não se dirige às oposições com um projeto mínimo para o País transitar até 31 de dezembro de 2006. O tempo inteiro, não pensa em governar porque pensa em se reeleger. Eu pergunto: “Presidente, se reeleger pra quê, se seu Partido está acabando? O senhor não vai ter Bancada. O senhor não tem mais como se dirigir a esses Partidos aliados dos mensalões. O senhor quer se reeleger para quê, Presidente? Por que o senhor não governa? Se o senhor governar direito, quem sabe até possa readquirir as condições de reelegibilidade. Como está, o senhor se submeterá a um vexame eleitoral amanhã, se é que tem amanhã para o senhor, porque o que resta acontecer mais?” E essa história do Ministro Mexia, publicada no Jornal Expresso, de Lisboa - aliás, V. Exª me fez esse alerta -, de que o Sr. Marcos Valério foi a Portugal como representante do Presidente Lula? Não está falando nenhum irresponsável daquele País, mas o Ministro Mexia. O Presidente Lula teria mandado o Sr. Valério como seu representante e ele foi recebido pelo Ministro Mexia a pedido do Sr. Horta, Presidente da PT, ou seja, representando o PT e a pedido da PT. Vamos ver se conseguimos entender isso: a PT é a Portugal Telecom; o PT é o chamado Partido dos Trabalhadores. Isso foi denunciado, ontem, pelo Sr. Roberto Jefferson e começa a se confirmar hoje. Ora, os apocalípticos juravam que em 2000 o mundo ia acabar e acredito que isso está acontecendo com certo atraso. Isso é o fim do mundo, mesmo. Isso é fim do mundo. Isso é apocalipse, mesmo. É apocalipse now. Isso é apocalipse, sim, porque é o fim do mundo termos o Sr. Marcos Valério como representante do Presidente Lula para contatos com autoridades de um país como Portugal e ao lado de interesses privados claros como os da PT - Portugal Telecom. V. Exª faz um pronunciamento da maior relevância, com a autoridade de que é possuidor. Eu espero que ele sirva para meditação, porque a situação é extremamente grave. Só não se apercebe disso precisamente o Presidente Lula, que idealizou uma república para si próprio, porque a República real era governada, ou desgovernada, pelo Sr. José Dirceu, que também não sabe de nada, não viu nada, nega tudo. Até a sua coragem eu provei que era falsa, porque ele não sofre ameaça alguma de cassação. “Não vou renunciar porque tenho a minha vida”. Mentira! Ele não renuncia porque não precisa fazer isso. Ele não está em nada acima do Sr. Costa Neto. Não sei se não renunciaria se estivesse na posição e com a pressa do Sr. Costa Neto para fugir da cassação. Ele não precisa renunciar porque os malfeitos teriam sido praticados quando era Ministro. Obtive, hoje, a resposta do Presidente Renan Calheiros, que me disse: “Não há como cassar o Sr. José Dirceu”. Se não há como cassar o Sr. José Dirceu, ele seria, primeiro, processado por crime de responsabilidade e, após o julgamento do Supremo, poderia vir para cá, onde depois, num outro futuro, quem sabe com este mandato já extinto, seria julgado pelos seus Pares. Aí, ele diz: “Não renuncio!” E algumas pessoas dizem: “Puxa! Olha, pelo menos ele está tendo o brio de não renunciar”. Meu Deus, por que não falam a verdade de uma vez? Por que não falam de uma vez por todas a verdade? Por que massacrar este País com tanta mentira, com esse enredo, esse filme mentiroso, com esse engodo que está fazendo com que a esperança desapareça das cabeças e dos corações das pessoas jovens? Por que esse martírio? Por que essa complicação? Por que essa confusão toda a nos açoitar, a nos desmoralizar, a nos enxovalhar? V. Exª faz um pronunciamento que me estimulou, mesmo, a dar este aparte, que vem do coração, porque V. Exª sabe que, o tempo todo, eu nunca me fechei. V. Exª é testemunha disso, clara. Até, às vezes, em contradita a figuras muito relevantes do nosso Partido, nunca me fechei para a idéia de que deveríamos apurar tudo e, ao mesmo tempo, de que precisávamos estabelecer uma agenda mínima para o País seguir governável. Nunca me fechei a isso, mas as respostas de lá sempre foram ou distanciamento da realidade, ou tentativas como o fato que envolveu o Sr. Eduardo Azeredo. E olhem como nós somos capazes de manter a nossa coerência. Se fôssemos outros, diriam talvez: “Não fale mais em Eduardo Azeredo”. Eu falo com orgulho. Ninguém falou nele, eu é que estou falando de novo. Essa coisa estúpida, cretina, que tentaram fazer com Eduardo Azeredo foi para quê? Para dividir culpas, uns tendo e outros não tendo. Para que essa coisa, ao invés de se procurarem saídas para a crise, deixando sangrar quem tivesse que sangrar e procurando regenerar os tecidos que pudessem ser regenerados, pensando no País? Parece-me que está faltando coragem cívica a muita gente. Está faltando disposição para se enfrentarem os percalços. O discurso de V. Exª é da lavra de um homem que sabe enfrentar as dificuldades e sabe vencê-las. Portanto, que o Presidente ouça com algum espírito construtivo o que estamos dizendo, V. Exª e os que o aparteiam, porque eu, francamente, digo-lhe: “Presidente, não ouça os seus áulicos. Não ouça quem o bajula no Palácio. Do jeito que a coisa vai, daqui a pouco V. Exª não terá nem áulico, não terá alguém a bajulá-lo e, quem sabe, depois não terá nem Palácio para instalar algum áulico para bajulá-lo. Está falando, com altivez, quem tem a obrigação política e ética de enfrentar V. Exª para que melhore. Melhore, Presidente! O meu papel não é bajulá-lo. O meu papel é, sem dúvida alguma, o de apontar, como os que V. Exª está fazendo, equívocos no Governo, e cabe ao Presidente pesar os dois lados”. Portanto, Senador Tasso Jereissati, só posso me regozijar com o seu pronunciamento, dizendo que é um orgulho renovado tê-lo como uma das figuras mais eminentes da vida pública brasileira, com filiação no meu Partido, o PSDB. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Teotônio Vilela Filho. PSDB - AL) - Prorrogo a sessão por mais 30 minutos para que o Senador Tasso Jereissati possa concluir o seu pronunciamento e possamos ouvir o Senador Antonio Carlos Magalhães.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Antes de encerrar, Sr. Presidente, ouço com satisfação a Senadora Patrícia Saboya Gomes.

A Srª Patrícia Saboya Gomes (Sem Partido - CE) - Senador Tasso Jereissati, eu estava desde o início prestando muita atenção ao pronunciamento de V. Exª e, a princípio, o que me fez pedir o aparte foi justamente a defesa que V. Exª fez aqui do Ministro Ciro Gomes, pela sua atuação, pela sua vida pública, pela honestidade, pela seriedade, pela competência, pela forma como tem se comportado ao longo de sua vida política e pessoal. Sinto-me na obrigação, pela convivência que tenho com Ciro, pelo conhecimento que tenho de sua vida e de sua trajetória, de defendê-lo e de repudiar esse tipo de atitude que acontece hoje em nosso País. Nós vivemos, sim, uma crise grave, que, como V. Exª relata com muita indignação neste momento, faz com que a população que assiste perplexa a tudo isso acabe, muitas vezes sem querer, juntando aqueles que prestam com aqueles que não prestam. Penso que é muito importante que o Brasil inteiro possa acompanhar essas investigações, que os culpados sejam punidos severamente para que possamos começar - quem sabe! - um novo tempo, uma nova era. Um novo tempo em que as pessoas possam ter a credibilidade, possam acreditar nos políticos que elegem, possam ter a certeza de que aqueles políticos que estão sendo eleitos são pessoas sérias e irão cumprir os seus mandatos. Certamente, a colocação feita a respeito do Sr. Marcio Lacerda foi uma tentativa de colocar o Ministro Ciro Gomes no meio desse lamaçal de denúncias que acontece hoje em nosso País. Mas eu acredito que a população brasileira conhece o Ministro Ciro Gomes. Os fatos estão todos esclarecidos em uma nota, que inclusive foi lida pelo Líder do Governo, Senador Aloizio Mercadante, em que o Ministro Ciro Gomes expõe com detalhes o que aconteceu. O Sr. Marcio Lacerda foi afastado imediatamente a pedido dele próprio, por ser também um homem digno e sério e que tem dado uma ajuda de grande relevância ao Ministério da Integração Nacional. Portanto, quero aqui também falar como é importante a palavra de V. Exª, um homem que todos conhecemos e respeitamos. Mas V. Exª hoje faz parte da Oposição e vem a público defender o Ministro Ciro Gomes, que hoje está no Governo. Penso que essa é uma atitude muito nobre de V. Exª, como tem sido toda a sua vida. Quero dizer - apesar de não querer entrar em detalhes; sou Vice-Líder do Governo - que tenho assistido a todos esses fatos e acompanhado toda essa crise, e há um certo clamor e desânimo das pessoas, em todos os lugares por que passamos. As pessoas estão desanimadas e um pouco desacreditadas. O Presidente Lula tem procurado reunir algumas pessoas. Mas acredito, como V. Exª, que um Líder, um Presidente de país, o Líder do nosso País precisa unir o nosso povo. É nesta hora que o povo precisa estar unido. Não existem duas classes sociais: a elite e o povo. Todos votamos no Presidente Lula - portanto, 55 milhões de brasileiros votaram no Presidente Lula -, entre os quais, evidentemente, estão a elite, os intelectuais, o povo mais pobre, mais sofrido. O Brasil é isso, o Brasil é tudo isso. Então, aproveito o pronunciamento de V. Exª, se me permite, para também fazer este apelo ao Presidente Lula. Que Sua Excelência use a sua liderança, a sua força para unir o nosso povo, para buscar realmente as investigações de todos os fatos, como ele mesmo já disse, doa a quem doer, mas que tudo seja esclarecido, que a população brasileira também seja esclarecida e possa acompanhar tudo isso e que possamos, sim, separar aqueles que são do bem e aqueles que são do mal; aqueles que se elegem para se apropriar de recursos públicos e aqueles que têm colocado a sua vida à disposição da população brasileira; aqueles que têm dedicado a sua vida dando o melhor de si, como é o caso do Ministro Ciro Gomes, à causa do Brasil, lutando por um País mais justo, por um País melhor. Muito obrigada pelo aparte, Senador.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senadora Patrícia Gomes.

Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Tasso, V. Exª faz um pronunciamento...

O SR. PRESIDENTE (Teotonio Vilela Filho. PSDB - AL) - Pedimos que os apartes se atenham ao tempo regimental, porque o Senador Antonio Carlos Magalhães está inscrito para falar nesta sessão. Obrigado.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Tasso, V. Exª faz um pronunciamento da maior oportunidade. Duro, mas sereno, seguro, e acho que o Governo deve entendê-lo como um pronunciamento pedagógico. Se bem que não espero que muita coisa mais entre na cabeça dos que estão no Governo neste momento. Perderam completamente o controle da Administração e a noção das coisas, o senso, inclusive, do ridículo. Este momento que o Governo vive hoje foi criado por ele próprio. Sempre digo aqui - e penso que sou compreendido quando falo dessa maneira - que a maior frustração que tenho, sendo oposicionista nesta Casa, é que até o dia de hoje não consegui criar nenhuma crise e nem vi nenhum companheiro criar nenhuma crise para o Governo. O Governo cria todas. Todas as crises que o PT vive nesses três anos foram crises genuinamente petistas. E a Nação estarrecida fica a ver, por exemplo, aquele Partido que combatia a imoralidade administrativa, com seriedade fundamentalista, de repente, mergulhar no mais profundo mar de corrupção de que já se teve notícia na história do Brasil. Millôr Fernandes sempre diz que para político fundo de poço tem mola. Só que, nesse caso, o poço não tem fundo. A cada dia, Senador Tasso, novos fatos vão surgindo. E parece até que nós aqui, no Senado, estamos anestesiados, porque já não nos impressionamos mais com o depoimento da D. Simone Vasconcelos, nem com outros pequenos furtos que são denunciados. Estamos à procura da apoteose, do grande furto, que, com certeza, ainda está por vir. É lamentável que a Nação brasileira esteja vivendo tudo isso. O País não merece isso. Portanto, quero parabenizar V. Exª pelo pronunciamento e dizer que o Presidente Lula já saiu de solo pernambucano, já chegou em Teresina. E espero que lá, naquela minha acolhedora capital, Sua Excelência seja mais feliz nas suas frases do que o foi em Garanhuns. Afinal de contas, Teresina aguarda com grande expectativa que Sua Excelência anuncie fatos reais, não apenas promessas, porque de promessa todos nós estamos fartos. Muito obrigado.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Heráclito.

Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Tasso Jereissati, vou procurar ser muito breve, mas quero cumprimentar V. Exª e dizer que V. Exª estava devendo este pronunciamento a esta Casa. V. Exª estava meio silente por uns tempos aqui, mas estava na hora de V. Exª voltar com os argumentos e com a veemência com que costuma se manifestar sobre questões nevrálgicas do País. E o faz em muito boa hora e com muita propriedade. V. Exª sabe, como eu sei, que o Presidente tem-se comportado como se fosse um altista, como se não conhecesse José Dirceu, nem Delúbio, nem Silvinho Pereira, nem Marcelo Sereno. São pessoas com quem ele conviveu en passant; não são pessoas com quem ele conviveu 30 anos e que estão no olho do furacão. Estou vendo aqui, na Internet: “Terão que me engolir, diz Lula sobre reeleição. Se eu for candidato, com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir outra vez, porque o povo brasileiro vai querer”. Eu tenho a impressão, Senador Tasso Jereissati, de que o Presidente Lula está completamente ausente do sentimento do povo brasileiro. Sua Excelência não está percebendo o sentimento do ascensorista, do porteiro do prédio, do cidadão que me aborda no meio da rua, no aeroporto de Brasília ou em Cuiabá, que cobra de mim, como de V. Exª, daqueles que são Oposição e que são Parlamentares, a investigação. Aí, sim, o povo quer: doa em quem doer. É uma cobrança permanente. Parece que o Presidente da República acha que está acima do bem e do mal e que o povo brasileiro é absolutamente encantado por ele. Pode até ser, mas o encantamento topa. Topa em quê? Na falta de explicações. Falta de explicação sobre o quê? Sobre Brasil, relação com Portugal Telecom, sobre compra por R$5 milhões de uma empresa do filho de Sua Excelência, sobre um empréstimo tomado ao Partido dos Trabalhadores e cujo pagamento nunca foi explicado - são coisas que agridem - e, evidentemente, sobre as vinculações de S. Exª com as pessoas que estão no olho do furacão. São os cinco, o quinteto de ouro do Presidente, a razão e o motivo da crise: José Dirceu, Marcelo Sereno, Delúbio Soares, Marcos Valério e Silvinho Pereira. Não são pessoas quaisquer, mas da profunda intimidade de Sua Excelência, que também está dentro das investigações e que tem a obrigação de dar explicações àqueles a quem se refere: ao povo brasileiro, que gosta dele, mas que, se ele não se explicar, vai começar a deixar de gostar.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado por sua sempre importante contribuição, Senador José Agripino.

Para encerrar, infelizmente é necessário que se diga que, na linha final, no ponto final no sistema presidencialista só há um responsável, que é o Presidente da República. E o Presidente da República precisa mostrar ao Brasil, claramente e com transparência, o que está acontecendo neste País.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2005 - Página 26414