Discurso durante a 127ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Transcurso dos 60 anos de lançamento da bomba atômica nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Reflexão sobre o regime de governo parlamentarista.

Autor
João Batista Motta (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: João Baptista da Motta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. SISTEMA DE GOVERNO.:
  • Transcurso dos 60 anos de lançamento da bomba atômica nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Reflexão sobre o regime de governo parlamentarista.
Publicação
Publicação no DSF de 06/08/2005 - Página 26700
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. SISTEMA DE GOVERNO.
Indexação
  • REGISTRO, ANIVERSARIO, LANÇAMENTO, BOMBA, ARMA NUCLEAR, VITIMA, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, ANALISE, AUTORITARISMO, CHEFE DE ESTADO, POLITICA INTERNACIONAL.
  • ANALISE, CRISE, GOVERNO FEDERAL, DEFESA, REPUTAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGISTRO, APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, SOLICITAÇÃO, QUEBRA, SIGILO BANCARIO, CONGRESSISTA.
  • DEFESA, IMPLANTAÇÃO, PARLAMENTARISMO, BRASIL, ATENDIMENTO, NECESSIDADE, POPULAÇÃO, REDUÇÃO, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há sessenta anos, no mês de agosto, o mundo ficou aterrorizado com o lançamento de duas bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Quase trezentas mil pessoas foram, em poucos segundos, ou precisamente em vinte segundos, eliminadas da face da Terra sem deixar nenhum vestígio. E o pior: um terço desses mortos eram crianças.

Eu queria falar ao povo brasileiro que neste momento assiste à TV Senado que, hoje, o mundo detém um estoque de 45 mil bombas atômicas. Essas bombas são sessenta vezes mais potentes do que as lançadas em 1945. Isso equivale a dizer que, se forem jogadas as 45 mil bombas, num só momento, destruiremos trinta planetas iguais à Terra de uma só vez, em alguns segundos.

Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a minha preocupação não é somente com esse ângulo. Vamos estudar a origem, o motivo por que o lançamento dessas bombas aconteceu. Havia naquela época, como há hoje ainda, governos tiranos, fruto de regimes equivocados. O mundo atual, países atuais não podem ser governados apenas por uma cabeça.

A Segunda Guerra Mundial, que deu origem ao lançamento dessas bombas, começou com um tirano cuja história todos conhecem, o governante alemão Hitler, que colocava mulheres e crianças em câmaras de gás, eliminava de uma só vez a todos e depois os enterrava em covas rasas.

E aí nos perguntamos: por que ainda há países governados por uma só cabeça? E essa só cabeça, e esse só governante é fruto de quê? É fruto de um regime presidencialista. E quem exporta esse regime presidencialista para o mundo, não adotado nos países mais avançados, mas que ainda persiste em países que não alcançaram o avanço desejado, como é o caso do nosso Brasil?

Gostaria de lembrar aqui ao povo brasileiro que o Iraque só foi bombardeado pelos Estados Unidos por determinação de uma só cabeça, a cabeça do Bush. Só ele quis bombardear o Iraque, só ele dizia que o Iraque tinha armas químicas. E aí o mundo viu mais essa catástrofe que perdura até hoje, porque os iraquianos não concordam com a intervenção em seu país e continuam lá perdendo suas vidas a cada dia.

Chego agora ao nosso País. Sou fundador do PSDB. Muitas vezes nós, que éramos quarenta Parlamentares aqui - Fernando Henrique, Mário Covas, José Serra, Aécio Neves, Paulo Hartung e tantos outros nomes ilustres -, íamos ao Ceará, onde tínhamos um Governador do PSDB, o Ciro Gomes, e lá discutíamos o que poderíamos fazer pelo Brasil caso chegássemos ao governo. E, naquela oportunidade, a primeira meta que tínhamos era o Parlamentarismo. Todos tínhamos convicção de que um país com a dimensão do nosso, com a beleza do nosso, com as riquezas do nosso, não poderia ser governado por uma só cabeça. Infelizmente, chegamos ao poder, e o Presidente eleito não se deteve ao assunto Parlamentarismo; pelo contrário, concentrou mais poderes na mão do governo central, e continuamos na mesma até hoje.

Estamos passando agora por essa crise terrível, que muita gente diz que é crise política, mas discordo dessa idéia, pois acho que seja uma crise policial. Não acredito que o Congresso esteja todo sendo atingido pelos escândalos que vemos todos os dias nos jornais e na televisão. Não! Tenho mais a impressão de que se trata de um grupo que resolveu ganhar dinheiro, apoderou-se da periferia do poder e fez um plano, e esse plano não está dando certo. Não acredito que o Presidente Lula tenha se envolvido nisso, como não acredito que 95% do Parlamento tenha se envolvido nisso. No entanto, todo o nosso Parlamento hoje vive enlameado com essas denúncias e essas apurações que estão acontecendo.

Acabei de apresentar um requerimento onde peço a quebra do sigilo fiscal e bancário de todos os Parlamentares federais e de todos os seus gabinetes. Gostaria que ficasse apurado, de uma vez por todas, quem foi que pegou dinheiro para votar em projeto do Presidente. Repito o que eu falei outras vezes: não acredito que o Presidente tenha dado dinheiro para pagar nenhum deputado federal ou senador, porque o Presidente Lula nunca mandou para aqui nenhum projeto que fosse desabonador, nenhum projeto de interesse pessoal dele ou de amigos. Os projetos grandes que aqui discutimos foram projetos das reformas, reformas tímidas que não resolveram em nada os problemas do Brasil. Nós, na época, defendíamos que os projetos fossem elaborados com mais profundidade e as reformas fossem mais bem feitas. Mas isso, infelizmente, não aconteceu, e continuamos na mesma.

Presidente Lula queria fazer um apelo a Vossa Excelência, um apelo ao Presidente desta Casa, Senador Renan Calheiros, para que pensássemos, agora, na reforma política, em implantar no País um regime parlamentarista. Lula seria um grande Chefe de Estado. O Fernando Henrique Cardoso teria sido um outro grande Chefe de Estado.

Mas o administrador, aquele que ia pôr em prática as políticas de que o povo brasileiro necessita seria talvez um empresário, um político, um médico, um advogado ou engenheiro. Seria um primeiro-ministro que poderia cair a qualquer momento, um primeiro ministro nomeado pelo Parlamento e que não saísse da algibeira desse ou daquele cidadão. Seria um primeiro ministro que, no momento que cometesse um erro, fosse demitido. E o País continuaria do mesmo jeito sem que houvesse esses escândalos. Sem que houvesse a necessidade de parar, deixando o povo morrer de fome lá na ponta. Nós não podemos permanecer nisso.

Presidente Lula, vamos acordar, vamos fazer deste País um país gerenciado por um primeiro-ministro, por um gerente, como acontece em todas as empresas. Um cidadão monta uma grande ou pequena empresa, mas contrata um gerente, uma pessoa para comandá-la. E se essa pessoa cometer um erro, o que acontece? O proprietário demite. E o proprietário desse primeiro-ministro seria o povo, seria o Congresso Nacional. E não demite só por ter cometido um erro, não. Por exemplo, demite por ter perdido a credibilidade. E pode ter perdido a credibilidade até por um engano do Congresso, por um engano do povo, até por uma denúncia infundada. Mas no momento em que perdeu a credibilidade, tem que dar o lugar para outro. E o Brasil não pode viver nesse programa de solução de continuidade. O nosso povo não suporta mais. O homem da ponta, o homem do campo, trabalhador, não tem mais como resistir.

Não adianta pensar que vamos resolver o problema com uma reforma política sem que o parlamentarismo seja implantado, porque não vamos resolver. Vamos para as eleições, vamos novamente ver um presidente no poder, fruto de suas bravatas, fruto de suas mentiras divulgadas pelos órgãos de comunicação.

Então, Sr. Presidente, faço agora, como já disse, um paralelo entre aquilo que o mundo sofreu pelas guerras, pelas cabeças malucas que ocupam o poder por este mundo afora. Não é caso do Brasil, mas podemos, no ritmo em que estamos crescendo, ocupar o primeiro, o segundo, o terceiro lugar no ranking mundial - não tenho dúvida disso, confio neste País.

Agora, por que chegar a esse ponto sendo governado por uma só cabeça? Hoje, se vê a todo momento na televisão dizer-se que o Brasil vive um parlamentarismo. O Presidente Lula é um Chefe de Estado: ora está dançando, dando entrevistas em Paris, representando o País pelo mundo afora; daqui a pouco, está com as criancinhas pobres do Nordeste; daqui a pouco, está recebendo alguns empresários no Palácio Alvorada. E quem está gerenciando este País? Até há poucos dias, sabíamos que o Ministro José Dirceu era o homem forte. Hoje, quem está comandando o Brasil? Não se sabe.

Os ministérios, com a crise, estão cada vez mais enfraquecidos. O Ministro Ciro Gomes, hoje, está enfraquecido; o Ministro da Agricultura, um homem com estatura de ser o Presidente deste País, pela sua competência, pela sua determinação, por ser um homem do campo, um homem que conhece os problemas do Brasil, está aí desgastado no Ministério da Agricultura, sem poder praticar nenhuma política que venha ao encontro dos interesses dos produtores deste país; está de mãos atadas. Eu, se fosse o Ministro Roberto Rodrigues, pediria demissão; ele não merece passar pelo que está passando. A mesma coisa com o Ministro Ciro Gomes; a mesma coisa vimos agora com o companheiro Romero Jucá, no Ministério da Previdência, desgastado.

Por que, Presidente Lula, não damos um murro na mesa? Por que, Presidente Renan Calheiros, não fazemos com que este País tome juízo de uma vez por todas? Esta é a oportunidade de todos sairmos consagrados daqui, nós, parlamentares, e o Presidente Lula, dando ao povo brasileiro um regime que possa nos trazer tranqüilidade, felicidade, garantia de trabalho, garantia de distribuição de riqueza para os nossos filhos e netos. Este País não pode mais ficar formando cidadãos e mandando-os depois lavar pratos nos Estados Unidos ou em outros países. Não há mais lugar para esse tipo de política. Não há mais lugar para as políticas de bravata. Não há mais lugar para aventureiros. O País hoje merece, precisa, necessita de alguém que olhe para o futuro.

Ontem, por exemplo, eu denunciei aqui que estamos entregando toda a nossa riqueza para o restante do mundo, entregando de graça: 218 milhões de toneladas de ferro exportadas por quanto? Por R$4 bilhões! Só de madeira - ninguém fala nisso - foram exportados R$3 bilhões; de aço laminado foram exportadas apenas 6 milhões de toneladas e isso produziu na balança de pagamentos R$4 bilhões. Por que exportar pedras ornamentais, granito, ouro in natura? Por que não exigimos que essas matérias-primas sejam beneficiadas no Brasil?

Com a minha proposta, não quero resolver o problema, mas apenas acender uma luz no coração dos brasileiros que pensam no futuro deste País. Nosso minério, nosso ferro acabará em trinta anos. Não podemos correr o risco de amanhã deixar os nossos ...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PMDB - ES) - Agradeço, Sr. Presidente, por me conceder mais um minuto.

Encerro, dizendo que não podemos comprometer o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos pela irresponsabilidade que a nossa geração está nos impingindo.

Por último, quero dizer ao Presidente Lula: Presidente, pense. Vamos ajudar este País. Presidente, ajude as crianças, ajude aqueles que amanhã farão a história.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/08/2005 - Página 26700