Discurso durante a 128ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas aos comentários do Presidente da República sobre a atual crise política. Relato sobre as declarações do Sr. César Benjamin a respeito do Partido dos Trabalhadores.

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Críticas aos comentários do Presidente da República sobre a atual crise política. Relato sobre as declarações do Sr. César Benjamin a respeito do Partido dos Trabalhadores.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2005 - Página 26837
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, ESCLARECIMENTOS, CRISE, POLITICA NACIONAL, OPINIÃO, ORADOR, RESPONSABILIDADE, CHEFE DE ESTADO, CONHECIMENTO, CORRUPÇÃO.
  • ACUSAÇÃO, ANTERIORIDADE, CORRUPÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ELEIÇÃO MUNICIPAL, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, FUNDADOR, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, IRREGULARIDADE, PROJETO, MANUTENÇÃO, PODER.
  • IMPORTANCIA, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, RECUPERAÇÃO, CONFIANÇA, INSTITUIÇÃO DEMOCRATICA, ANUNCIO, DEPOIMENTO, ASSESSOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, confesso que é com pesar que acompanhamos a sucessão de declarações desconectadas e desconjuntadas do Presidente da República a respeito da presente crise.

Sua Excelência alterna comportamentos despropositados. Ora fala em elites golpista, ora invoca para si o monopólio da virtude, virtude que não transparece nos atos do seu Governo, e ora garante que não sabe nem nunca soube de nada. Por fim, tenta descolar-se de sua principal criatura: o PT.

Nenhum desses atos favorece a posição do Presidente da República, nem do ponto de vista logístico nem do ponto de vista ético. Quando fala em golpistas imaginários, mostra má-fé ou desconexão com a realidade, ou ambas. Quando se diz o mais virtuoso cidadão brasileiro, mostra ter perdido o senso do ridículo. Quando diz que não sabia de nada, ou mente ou se confessa inepto para o exercício do poder.

Por fim, quando busca desvincular-se do PT, mostra-se desleal para com os seus companheiros, companheiros de longa jornada, como Delúbio Soares, que o acompanhou em viagens internacionais e desfrutava da sua privacidade!

Independentemente das coreografias escapistas do Presidente da República, sabemos - e cada vez menos gente duvida - que sempre soube de tudo.

A configuração do PT, que seu ex-presidente, José Genoino, classifica como um projeto coletivo de poder, não permitiria que atos como os empréstimos milionários em nome de Marcos Valério se dessem sem o consentimento e a supervisão de sua cúpula política comandada pelo Presidente Lula e pelo triunvirato palaciano, apelidado por V. Exª, Senador Mão Santa, de “Núcleo duro”: José Dirceu, Luiz Gushiken e Luiz Dulci.

Desentendimentos nessa cúpula palaciana, sobretudo entre José Dirceu e Luiz Gushiken, deram origem a desarranjos na base parlamentar que desembocaram nas denúncias do Deputado Roberto Jefferson.

Bendita desavença! Bendita desavença! Sem ela, não estaríamos desmontando essa engrenagem perversa que vinha sangrando os cofres públicos, numa hemorragia de intensidade nunca vista antes.

Mas o instinto predatório do PT não se formou agora, vem de bem antes. Não exagero se disser que o PT exercitou essa rapina sistêmica nas experiências municipais que precederam sua vitória federal. Sirvo-me, para afirmá-lo, de uma fonte insuspeita: um dos fundadores do PT, César Benjamim. Em artigo para a Folha de S.Paulo deste último domingo, ele afirma com todas as letras:

Os malfeitos que têm vindo à luz não começaram agora, nem decorrem de um equívoco individual. Representam apenas a transferência para a esfera do Governo Federal de práticas iniciadas com certeza nos primeiros anos da década de 1990, talvez antes, e nunca descontinuadas.

E prossegue César Benjamin, um dos fundadores do PT:

As impressões digitais do mesmo grupo [e ele se refere a Lula, José Dirceu, José Genoino, Luiz Gushiken, entre outros] aparecem no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), na organização das finanças da campanha presidencial de 1994, na gestão de algumas prefeituras, como a de Santo André, na busca de controle de fundos de pensão, para citar apenas as situações mais notórias.

Esclareço mais uma vez, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que não se trata de afirmações de um pefelista ou de um tucano, mas de um petista de primeira hora, o Sr. César Benjamin, que estava presente quando do nascimento do partido e o acompanhou por anos a fio, conhecendo-lhes as entranhas.

Ele fala, portanto, com autoridade e isenção - em especial quando diz: “Lula sempre compartilhou da intimidade de grupo e foi o principal beneficiário de suas ações. Garante, porém, que nada sabia”.

E ironiza: “Respeito quem acredita nisso, assim como respeito quem acredita em duendes”.

Eu também, Sr. Presidente. Eu também.

E prossigo com o Sr. César Benjamim, fundador do PT. Ele define assim o Governo Lula:

Uma rede sistêmica, planejada, coletivamente organizada. Dos Correios à Petrobras, das empreiteiras com créditos a receber às verbas de publicidade, do Banco do Brasil aos fundos de pensão, nada estava, em princípio, fora de seu raio de ação. Um esquema desse tipo sempre precisa de forte apoio em altos escalões do governo, que ordenam os pagamentos e fazem as nomeações. Sílvio Pereira, Delúbio Soares, Waldomiro Diniz e outros “operadores” nunca tiveram cargos que lhes permitissem agir sozinhos de forma eficaz.

Considero esse depoimento, publicado no Caderno Mais da Folha de S.Paulo deste último domingo, sob o título sugestivo de “O Mito do Paraíso Perdido”, como uma eloqüente e autorizada denúncia, já que formulada por alguém que acompanhou de perto a gênese desse processo - e dele se apartou quando percebeu indomável.

Está aqui, Sr. Presidente, o artigo publicado na Folha de S.Paulo , sob o título “O Mito do Paraíso Perdido”. E, mais na frente, num formato interessante - caindo as letras do Partido -, diz: “Era uma vez um PT”, que não sei se já morreu até agora, mas se encontra muito doente, com uma doença sem cura.

Sr. Presidente, o projeto petista, tenho insistido sempre em dizer, era um projeto de poder, não um projeto de governo. O poder pelo poder é uma perversão. Era um projeto de poder, sim. O poder pelo poder - repito - é uma perversão, de essência aética, que não dá margem a esquemas criminosos como os que estão hoje sob investigação de nada menos três CPIs, além do Conselho de Ética da Câmara.

Creiam que não alegra a nós, da Oposição, ver o naufrágio petista. Torcemos pelo sucesso do Presidente Lula, pelas esperanças e expectativas que gerou na sociedade brasileira. Dissemos, desde sua posse, que faríamos oposição responsável, oposição patriótica, que fiscaliza o Governo, mas não conspira contra o País.

Por isso, votamos as reformas - reformas que o PT não nos deixara votar no Governo passado e que, neste, decidiu patrocinar. Relevamos a incoerência e votamos as propostas em nome do interesse nacional.

Fomos sensíveis ao entusiasmo que a eleição de Lula provocou em amplos setores da população. Foi um sonho vendido à sociedade brasileira - mais um sonho que termina em pesadelo. Para a maioria da sociedade, o sonho termina agora.

Para quem viveu do lado de dentro a epopéia petista, como César Benjamin, o sonho acabou há muito tempo. Acompanhem, mais uma vez, as palavras dele à Folha de S.Paulo. Disse um dos fundadores do PT:

Há mais de dez anos o PT está morrendo, mas esse processo não podia completar-se antes de o “Lula-lá” se realizar. A agonia se prolongou e o Partido apodreceu. Tornou-se uma experiência efêmera e fundamentalmente equivocada na vida brasileira. Pretendendo ser o novo absoluto, rompeu a memória das lutas populares. Recusou a teoria. Fechou os olhos para a diversidade do Brasil. Afrouxou os princípios, exacerbou a arrogância. Aceitou a disseminação de um enorme conjunto de antivalores, formando a mais desqualificada geração de quadros e líderes de toda a nossa história.

Sr. Presidente, dispenso-me de alinhavar mais argumentos para constatar o triste ocaso deste Governo. Iniciamos mais uma semana de crise, em que o Congresso Nacional, em ritmo de CPI, corta na própria carne, em busca de depurar-se e de depurar a política brasileira.

Precisamos devolver credibilidade às instituições republicanas. Sem credibilidade, nenhum regime se sustenta, sobretudo o democrático, fundado na transparência e na prestação de contas à sociedade.

Cabe-me, neste doloroso e necessário processo, presidir uma das CPIs em pauta, a dos Bingos, que nesta semana, na próxima quinta-feira, ouve, enfim, o depoimento de Waldomiro Diniz, de cujos atos lesivos o ex-Ministro José Dirceu busca, sem êxito, desvincular-se.

Sem dúvida, Sr. Presidente, será um momento de grande importância na elucidação das denúncias em pauta. A CPI dos Bingos, a propósito, tem apurado, estarrecida, conexões escabrosas entre a jogatina e todo um mundo subterrâneo, fronteiriço ao do crime organizado, com campanhas eleitorais do Partido do Governo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Vou concluir, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Quero informar que concedi a V. Exª mais cinco minutos.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Eu agradeço a tolerância de V. Exª, mas serei breve, Sr. Presidente, na conclusão do meu pronunciamento.

Encerro, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, voltando ao ponto inicial da minha fala: ao comportamento desequilibrado e insensato do Presidente da República, que resolveu enfrentar a crise com bravatas e atos eleitoreiros. O que lhe posso dizer é simples: desça do palanque, Senhor Presidente! A eleição está longe. Caia na real, ou corre o risco de comprometer o seu mandato. A paciência do povo brasileiro está se esgotando.

O SR PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Efraim Morais, a bandeira do grandioso Estado da Paraíba tem a palavra “nego”. A intenção era a de negar o comunismo. Agora V. Exª nega a corrupção, e eu não lhe poderia negar o tempo.

O SR EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2005 - Página 26837