Fala da Presidência durante a 129ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos oitenta anos do jornal O Globo.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos oitenta anos do jornal O Globo.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2005 - Página 26917
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMENTARIO, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, ELOGIO, ROBERTO MARINHO, EMPRESARIO, JORNALISTA, HISTORIA, PROFISSIONALISMO.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Declaro aberta a sessão especial do Senado Federal, que, em atendimento a Requerimento nº 807, de 2005, do nobre Senador Renan Calheiros e de outros Srs. Senadores, destina-se a comemorar os 80 anos do jornal O Globo.

Tenho a honra de convidar para compor a Mesa o Dr. José Roberto Marinho, Vice-Presidente das Organizações Globo. (Pausa.)

Convido para compor a Mesa o Exmº Sr. Ministro Edson Vidigal, Presidente do Superior Tribunal de Justiça. (Pausa.)

Convido para compor a Mesa o Exmº Sr. Ministro General de Exército Max Hoertel, Presidente do Superior Tribunal Militar.

Srªs e Srs. Senadores, convidados aqui presentes, a família do saudoso jornalista Roberto Marinho tem motivos de sobra para comemorar os 80 anos do jornal O Globo, completados no último dia 29.

A história desse diário é rica em conquistas de toda ordem: jornalísticas, técnicas e mercadológicas. Entretanto, como Presidente do Senado Federal, gostaria de iniciar esta homenagem falando dos motivos que o Brasil tem para comemorar a saga de O Globo. É que, ao longo desses 80 anos, o jornal acompanhou, refletiu e contribuiu enormemente para as transformações que o País sofreu em busca da modernidade e do desenvolvimento.

Tudo o que ocorreu de realmente importante para a formação do Brasil contemporâneo pode ser situado nesses 80 anos, a começar da Revolução de 30. E todos os passos e descompassos foram acompanhados pelo O Globo.

Não esqueçamos que O Globo foi sempre um órgão de imprensa inovador e sintonizado com a sociedade, desde a escolha do próprio nome, feita por meio de consulta popular.

Para os leitores de hoje, habituados aos jornais matutinos, às transmissões de TV e à Internet, pode parecer estranho que as duas primeiras edições do jornal carioca, do dia 29 de julho de 1925, tenham ido às bancas, às 18h e às 20h, com vendagem conjunta de 33.435 exemplares.

Eram tempos heróicos, em que o jornalista Irineu Marinho, pai de Roberto Marinho, empreendia o ousado gesto de começar um jornal vespertino, 14 anos depois da fundação de A Noite.

O Globo começou nas instalações improvisadas da esquina da Rua Bittencourt da Silva com o Largo da Carioca, sem maquinário próprio e com a atenção direcionada aos interesses do Brasil: “Voltam-se as vistas para a nossa borracha!”. Foi a primeira manchete do jornal, que tratava de discussões sobre o preço da borracha no mercado internacional.

Nem a morte repentina de Irineu Marinho, aos 49 anos, menos de um mês após o lançamento de O Globo, foi capaz de impedir o projeto de seguir em frente.

Demonstrando a sensatez que sempre lhe foi característica, Roberto Marinho, o filho mais velho, evitou um encargo para o qual ainda não se sentia preparado e passou a chefia de redação a um jornalista mais experiente, vindo a assumir o jornal, somente em 1931, aos 26 anos.

Era um período de vicissitudes não só para a família e para a empresa, mas também para o Brasil.

Em 11 de outubro de 1936, por exemplo, é registrado o célebre episódio da apreensão de exemplares do jornal pela polícia de Getúlio Vargas em razão de entrevista exclusiva com o General Agildo Barata, preso por tentar um levante comunista.

Em 80 anos, episódios como esses serviram para mostrar o compromisso do jornal e de Roberto Marinho com o País. Foi com o mesmo grau de apego à liberdade de imprensa que O Globo noticiou fatos cruciais, como a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, em 1942; a queda de Getúlio Vargas, em 1945; seu retorno ao poder, em 1950, assim como o suicídio de Getúlio, em 1954. Além destes, registro o movimento militar de março de 1964, a redemocratização, em 1985, e as primeiras eleições diretas depois de 30 anos de regime militar, em 1989.

É do período dos governos militares um dos episódios mais notáveis da história de Roberto Marinho, e que contribuiu para elevá-lo ao pódio em que se situam grandes homens da nossa História.

Em 1965, ao instituir o Ato nº 2, o Governo pressionou os proprietários de jornal e televisão a demitirem profissionais supostamente adversários do novo regime. A pretensão foi imediatamente rechaçada por Roberto Marinho, o que lhe vale até hoje o respeito dos setores de esquerda da nossa política.

Ao morrer, com 98 anos, o presidente das Organizações Globo partiu com a consciência de ter contribuído decisivamente para colocar o País nos trilhos da modernidade, justificando-se plenamente os três dias de luto oficial decretados pela Presidência da República e as homenagens que lhe foram prestadas pelo Congresso Nacional.

No comando de O Globo e da Rede Globo de Televisão, Roberto Marinho criou um modelo de homem público da esfera privada, sempre atento à necessidade da informação e da disseminação da cultura e do conhecimento. Nesse sentido, atuou jornalisticamente ou patrocinando atividades e prêmios culturais e esportivos, inclusive por meio da fundação que leva o seu nome.

Apesar do poder de sua rede e de suas excelentes relações com todas as áreas, Roberto Marinho nunca se interessou por cargos públicos. Sua obstinação era o ofício de jornalista, que exerceu com enorme paixão e talento.

E, na sua paixão pelo jornalismo, abrigou, em O Globo, um elenco dos mais ricos em profissionais também comprometidos com a informação e apaixonados por seu ofício, como Mário Filho e Evandro de Andrade.

E foram produtos de O Globo algumas das mais importantes referências da imprensa nacional, como a coluna de Ibrahim Sued, considerada por todos como um divisor de águas no jornalismo brasileiro, ao alargar os limites do colunismo social e divulgar notas sobre a política e sobre a economia.

Foi também no jornal O Globo que escreveram, durante muitos anos, o dramaturgo Nelson Rodrigues e os escritores Otto Lara Rezende e Fernando Sabino, além do colunista Rubem Braga.

Como podemos ver, é uma longa história de luta e conquistas extraordinárias repartidas com o Brasil e que, em nome do Congresso Nacional, homenageio.

Faço, neste momento, os meus votos de que a família Marinho prossiga nessa trajetória de excelência e patriotismo, que marcaram os 80 anos de atividade de O Globo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2005 - Página 26917