Discurso durante a 129ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos oitenta anos do jornal O Globo.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos oitenta anos do jornal O Globo.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2005 - Página 26924
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELOGIO, HISTORIA, DEFESA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DEMOCRACIA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é para mim uma honra usar hoje esta importante tribuna para homenagear os 80 anos do jornal O Globo, um dos principais jornais do continente.

Não há como desempenhar essa função sem lembrar a histórica data de 29 de julho de 1925, quando a coragem e o pioneirismo do jornalista Irineu Marinho deu início a uma verdadeira saga no mundo da comunicação. Era um momento histórico difícil, com o Brasil vivendo sob intensa censura e o mundo passando por forte instabilidade, que culminaria com a crise econômica mundial de 1929.

Mas Irineu Marinho tinha um sonho que não podia esperar tempos melhores. Enfrentou as dificuldades e fundou O Globo. Não era sua primeira empreitada no jornalismo, mas foi a mais importante, porque marcou uma nova era na comunicação do país.

O jornalista Irineu Marinho começou a trabalhar aos 15 anos, como revisor do antigo Diário da Noite. Passou pelos jornais A Tribuna e Gazeta de Notícias, onde foi repórter e diretor, e chegou a fundar o jornal A Noite. Mas seu grande projeto tomou forma em 1925 com O Globo.

            Irineu Marinho deveria estar antevendo o destino quando enfrentou tantas dificuldades para levar seu projeto adiante. Seria naquele momento ou não seria jamais. No dia 21 de agosto, menos de um mês após a fundação do jornal, ele morreu, mas deixou iniciado o projeto que construíra com entusiasmo.

            O início da operação de O Globo foi como uma odisséia. O jornal começou a circular sem máquinas próprias e sem sede própria. Mas desde os primeiros números surgia um jornal preocupado com o desenvolvimento do país. A questão da borracha, de fundamental importância para o Brasil naquela época, dominou as primeiras semanas do noticiário econômico.

Ainda em seus primórdios, O Globo deu grande cobertura aos eventos relacionados à Coluna Prestes e à revolução de 1932. A primeira cobertura internacional foi na área esportiva: uma vitória do Brasil sobre a seleção do Uruguai na Copa Rio Branco.

Com a morte de Irineu Marinho, coube à sua família e aos amigos continuar seu projeto. Seu filho, o jornalista Roberto Marinho tinha apenas 21 anos quando o pai morreu. Delegou a missão de administrar o jornal a Eurycles de Matos enquanto ganhava experiência trabalhando na redação.

Eurycles de Matos era um baiano com larga experiência. Havia trabalhado em diversos jornais e revistas. Ele conheceu Irineu Marinho ainda na redação de "A Noite". Sua passagem pela direção de O Globo também não durou muito. Em maio de 1931, faleceu com apenas 45 anos.

Com a morte de Eurycles, Roberto Marinho assumiu o controle do jornal fundado pelo pai. Foi o início de uma gestão que resultaria no maior conglomerado de comunicação do Brasil e um dos maiores do mundo. A visão de Roberto Marinho até hoje nos surpreende. O negócio que começou com O Globo rapidamente se expandiu. Em 1944 veio Rádio Globo. Em 1965, a TV Globo, hoje uma das cinco maiores redes do mundo.

            A expansão dos negócios, no entanto, nunca fez com que O Globo fosse esquecido ou ficasse em segundo plano. Pelo contrário. Era no jornal, com uma opinião sempre forte, que Roberto Marinho influenciava na história do Brasil. Sempre com muita coragem, com ousadia e, acima de tudo, colocando como prioridade os interesses do povo brasileiro.

Tecnicamente, o jornal também cresceu. O Globo, que começou a ser impresso em uma rotativa alugada, inaugurou em 1999 o maior parque gráfico da América Latina, com uma área de 175 mil metros quadrados em Duque de Caxias, no Rio. Sua construção consumiu 150 milhões de dólares e o trabalho de 16 mil pessoas durante 20 meses.

Há dois anos, em agosto de 2003, o jornalista Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo, morreu no Rio, aos 98 anos, em conseqüência de um edema pulmonar. Morreu como um dos maiores homens de seu tempo e um dos maiores empresários de comunicação de todo o mundo.

Roberto Marinho deixou não apenas um verdadeiro império de comunicação, que começou com o sonho de seu pai há 80 anos. Morreu deixando um legado de trabalho, de honestidade e de amor inquebrantável pelo seu país.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os 80 anos de O Globo são uma prova inequívoca da força das instituições e da democracia brasileira. Se fosse diferente, um jornal dessa magnitude não conseguiria atuar com tamanha independência, denunciando, cobrando, tomando posições firmes, muitas vezes contrárias aos interesses do poder, mas sempre em favor do povo brasileiro.

Eu nome dos goianos e do povo brasileiro, manifesto a homenagem sincera e o reconhecimento pelo trabalho que o jornal O Globo desenvolve em favor da imprensa, da liberdade de expressão, da democracia e do desenvolvimento do Brasil.

Ao presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho; aos vice-presidentes, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, os nossos cumprimentos.

Que Deus possa iluminá-los diante do desafio de tamanha responsabilidade que possuem diante de si. O desafio de não apenas de levar adiante o legado de sua família, mas, sobretudo, de fazer com que as Organizações Globo continuem contribuindo com a construção de um futuro melhor e mais justo neste país.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2005 - Página 26924