Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio ao deputado Paulo Pimenta, vice-presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Mensalão, que disse ter recebido ontem uma nova lista de Marcos Valério, acusado de operar o esquema do mensalão. Defesa do Senador Eduardo Azeredo.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Repúdio ao deputado Paulo Pimenta, vice-presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Mensalão, que disse ter recebido ontem uma nova lista de Marcos Valério, acusado de operar o esquema do mensalão. Defesa do Senador Eduardo Azeredo.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/2005 - Página 27186
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REPUDIO, CONDUTA, VICE-PRESIDENTE, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, APOIO, GOVERNO, TENTATIVA, FRAUDE, LEGITIMIDADE, APRESENTAÇÃO, RELAÇÃO, NOME, DEPUTADOS, ACUSADO, RECEBIMENTO, PROPINA.
  • SOLIDARIEDADE, EDUARDO AZEREDO, SENADOR, VITIMA, ACUSAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, IRREGULARIDADE, CAMPANHA ELEITORAL.
  • CRITICA, TENTATIVA, REPRESENTANTE, PARTIDO POLITICO, IMPUTAÇÃO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO, CRIAÇÃO, OBSTACULO, IMPEDIMENTO, EFICACIA, INVESTIGAÇÃO.
  • DEFESA, NECESSIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEMONSTRAÇÃO, ETICA, CORREÇÃO, ERRO, EMPENHO, SOLUÇÃO, CRISE, NATUREZA POLITICA, PAIS.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, embora esse fato da ponta do iceberg seja de deputado e V. Exª seja um digno representante do Congresso Nacional, temos esta questão: é uma CPMI - portanto, mista -, e o Deputado está lá. Está aqui o Presidente da CPMI dos Correios, o Senador Delcídio Amaral.

O PSDB se recusa a ser presidido, em qualquer momento da reunião, por esse rapaz. Não queremos mais ser presididos por ele. Não aceitamos ser presididos por ele. Nós, ao contrário, pensamos em medidas disciplinares rígidas que podem levar à cassação do seu mandato por absoluta falta de decoro. Uma pessoa séria não tem nada que se reunir em carro nenhum, com quem quer que seja que esteja sendo acusado nesta CPMI. Acaba a impessoalidade, acaba a figura da seriedade, acaba a figura da isenção.

O Senador Delcídio Amaral, que está fazendo o seu trabalho com boa vontade, não é lá o Senador do PT procura ser o Senador da Comissão. O Deputado Pimenta teria que ter aprendido a ser o Vice-Presidente da Comissão como um todo, e não alguém de uma facção, alguém pequeno, minúsculo, de uma facção. Portanto, percebemos que aquele ditado das nossas avós está mais atual do que nunca: “a mentira tem pernas mais curtas do que as pernas do coxo.”

Desde o começo eu tenho dito, Sr. Presidente, eu tenho dito a todos, eu tenho dito aos Líderes do Governo, eu tenho dito aos meus companheiros de um Partido que é composto por pessoas, na sua maioria esmagadora, sérias, infelizmente, infelicitado este País por uma minoria que lhe estragou a história, eu tenho dito: defendam-se. Defendam-se com garra, procurem punir os culpados, não obstaculizem as investigações, defendam-se com coragem, defendam-se com garra, mas não se defendam com esse expediente que eu considero tolo, estúpido, de inventar coisas de outros ou de tentar nivelar desiguais porque isso não vai dar certo, isso não é comprado pela imprensa, isso não é vendável para a opinião pública, isso não é justo.

Eu sou testemunha da angústia por que tem passado o Senador Eduardo Azeredo. Engraçado, não há ninguém neste País que diga que o Senador Eduardo Azeredo não é uma pessoa séria, ninguém. No entanto, no Governo poucos se têm negado a fazer o papel de algozes do Senador Eduardo Azeredo. Poucos. A maioria tem feito papel de algoz, um atrás do outro. Uma lengalenga, um “nhem-nhem-nhem”, uma historinha. Todos, um atrás do outro. Algumas pessoas assumiam feições até alvares, aquele olhar perdido, aquela boca meio esquisita, sem saber bem o que está dizendo, cumprindo uma tarefa. Tarefa de onde? Que Governo é esse que dá como tarefa para os seus tarefeiros fazer esse tipo de papel e não consegue reunir voto para aprovar uma matéria do seu interesse? E levou uma surra na questão do salário mínimo aqui.

Que Governo é esse que tem tempo para fazer mal à honra dos outros e não consegue defender a sua própria honra, não consegue explicar com clareza o que deve de explicações à Nação, a começar pelo Presidente da República que já deveria ter feito isso muito antes de anteontem, traz anteontem e depois do traz anteontem?

Descobrimos agora, Senador Renan Calheiros, que a mentira tem pernas curtas. Então o rapaz vai encontrar com o Sr. Valério para quê? Para montar esse Plano Cohen, para montar essa conspiração, esse plano fraudulento de tentar dizer: “Olha, já que está havendo a maior podridão à minha volta, eu vou mostrar que no PSDB teria também. E tendo também a gente divide o noticiário da imprensa.” Está enganado o Sr. Pimenta. Está enganando quem pensar assim. Isso ganha uma nesguinha do espaço, uma nesguinha da imprensa e da televisão. Isso não tem importância nenhuma.

Importante mesmo é desvendarmos os caminhos da corrupção sistêmica que tomou conta deste País. É isso que pode ser a salvação do Presidente Lula. É essa que pode ser a solução para o seu Governo, é ele se justificar, pedir desculpas à Nação e se dispor a conosco investigar tudo até o final, sem passar a mão na cabeça de ninguém, sem ficar com essa história de dizer que quer apuração, de fazer o discurso da apuração, mas, na prática, vemos os senhores Pimentas fazendo essas histórias todas, procurando não deixar a investigação avançar.

Que lição, Sr. Presidente! Que lição dura, que lição necessária, que lição exigente e rápida! Como esta sociedade evoluiu! Como a democracia brasileira cresceu! A democracia brasileira hoje não dá nem mais 24 horas a quem mente, a quem frauda, a quem inventa falsas verdades.

Como tem sido bom esse conhecimento que tenho tido deste Brasil, que efetivamente mudou muito nos últimos dez anos. Um Brasil de economia organizada, um Brasil de sociedade democrática sólida, um Brasil de instituições que funcionam. Portanto, considero, Senador Eduardo Azeredo, que este foi um resgate de V. Exª. Considero mais: que temos mesmo de tomar atitudes.

Outro dia - e já encerro, não quero me alongar - eu fui lá. Estava presidente o Senador Amir Lando, esse homem de bem, que acabou de disser isso que eu disse agora. Esse homem do bem e de bem que é o Senador Amir Lando. Eu estava lá, tinha direito a 10 minutos segundo convencionaram que os Líderes teriam no final da sessão, em uma das poucas vezes em que falei em CPI - daqui para a frente vou falar muito - e aí o Deputado Pimenta interrompe: “V. Exª está falando a mais de 10 minutos”. E eu disse: E quem é V. Exª para dizer quanto tempo eu falo? V. Exª é presidente de que aqui? Está aqui presidindo a reunião o Senador Amir Lando. V. Exª é a terceira pessoa depois de ninguém. Não está representando absolutamente nada. Quem diz quando eu falo e quando eu não falo aqui é o Senador Amir Lando, dentro do Regimento e respeitando os meus direitos. V. Exª não está gostando é do que eu estou dizendo, não está gostando do que estou aqui afirmando, não está gostando do que estou aqui propondo, não está gostando do que estou aqui denunciando. Está para nascer quem vai castrar o meu direito de dizer... Ao lado de homens como V. Exª, Senador Renan Calheiros, se enfrentou nas ruas foi o General Médici, foi General Fulano de Tal, aquela Junta Militar escabrosa, que infelicitou o País com aquele famigerado AI-5, que cassou meu pai, que cassou Mário Covas e que cassou tantas pessoas de bem para acobertarem esquema que levava a assassinatos nos porões da ditadura.

Depois enfrentamos juntos Geisel, enfrentamos Figueiredo, lutamos por anistia, lutamos por Constituinte, lutamos por democracia, lutamos por diretas já. Imagine a essa altura da vida, vir o seu Pimenta para dizer quanto tempo eu tenho para falar. O seu Pimenta! Seu “Pimenta malagueta”, seu “Pimenta do reino, seu “Pimenta de Cheiro”! O seu Pimenta vai dizer se eu vou falar?!

Presidente Renan Calheiros, onde é que nós estamos? Que autoridade tinha o seu Pimenta para vir falar, porque está sendo desmentido e desmontado moralmente pelo Presidente Amir Lando, aprendendo que se deve dar ao rei tudo, menos a honra. Como dizia Djalma Marinho - negando apoio à cassação do Deputado Márcio Moreira Alves, quando esta lhe foi solicitada pelo Presidente Costa e Silva: “Ao meu rei tudo eu concedo, menos a honra.” E votou contra a cassação do Deputado Márcio Moreira Alves. Depois, o Brasil entrou num período de treva ditatorial no qual iria entrar mesmo, porque estava na hora do choque entre a democracia que nascia e a ditadura que não queria entregar os pontos.

Muito bem. Era para ter dito: eu não faço isso! Era para ter feito funcionar o seu bom caráter, se tem. O que ganha um cidadão desses estabelecendo falsas verdades? Que lucro teria este Governo se porventura conseguisse algo parecido com a desmoralização, por alguns anos, martirizando o Senador Eduardo Azeredo? Que lucro teria um Governo desses? Isso diminuiria a desconfiança do País, da imprensa e da sociedade com relação ao que acontece hoje nos bastidores do Governo Lula? Não! Não resolveria em nada a vida deles.

Eu tenho dito ao Líder do Governo e a todos: caiam na real e na verdade! Procurem culpas verdadeiras. Limpem o que tem de sujo neste Governo de V. Exªs. Eu confio na limpeza pessoal de V. Exªs. Limpem o que tem de sujo neste Governo.

Agora, não. A preocupação era: temos que afundar, mas levaremos alguém do PSDB junto. Uma obsessão quase sexual, Sr. Presidente. Algo grave, que choca! Quase sexual! E olhe lá! Eu digo isso porque sou tucano, casado muito bem pela primeira e pela segunda vez. Comigo não adianta, não tem. Não adianta evoluir por aí, porque eu sou de outro ramo mesmo. É algo definido na minha vida, enfim. Mas é quase sexual essa obsessão. Quase sexual! É doentia, enferma.

Sabe por que atacaram tanto o PSDB? Eu não entendia por quê. Porque não tinham preocupação com governabilidade. Eles viam as pesquisas e diziam assim: “Depois da gente, vem o PSDB. Então, se aceitarmos a boa-vontade que nos lançam, vamos ter governabilidade agora, mas podem-nos ganhar a eleição depois. Temos que bater neles que é para perderem a eleição”.

Portanto, não queriam governabilidade nenhuma. Queriam era a reeleição. E, quando não querem governabilidade, só querem a reeleição, perdem a eleição, porque perdem as condições de reelegibilidade, até por falta de legitimidade. Governo que recorre a fraude pretende governar o meu Partido mais quatro anos?!

Presidente Lula, eu estava ao seu lado quando V. Exª foi processado por Lei de Segurança Nacional, no Estado do Amazonas, em face de um discurso que fez durante o período militar. Eu estava ao seu lado nas duas sessões, o tempo todo.

Presidente Lula, sei do seu passado e posso lhe pedir, em tom de cobrança ainda fraterna: dê uma guinada nisso, não recorra a esses expedientes, limpe o seu governo. Procure mostrar a sua lisura. Não passe como cúmplice de tantos crimes, porque, quando V. Exª tergiversa, os brasileiros começam a pensar que Vossa Excelência é cúmplice. Não passe! Mostre a capacidade de voltar a se encontrar com a verdade, Presidente. Volte a ser aquele Lula que foi tão altivo quando respondia a processo na Auditoria Militar de Manaus, por Lei de Segurança Nacional. Volte a sê-lo, Presidente! Volta a sê-lo!

Digo a isso, Sr. Presidente, porque estamos estupefatos. Hoje houve a votação do salário mínimo. Se alguém me perguntar: “Era o que você queria?” Não era o que eu desejava. Vou falar com toda a sinceridade. Era o melhor para o País? Não foi o melhor para o País. Consultei meus companheiros e vou confessar algo aqui. Eu disse: “Companheiros, alguns dos senhores podem sair de plenário. A gente dá um jeito de esse negócio não ser aprovado”. Nenhum companheiro meu quis sair do plenário; no PFL, pouquíssimos quiseram ou alguns não estavam aqui. Todos estão profundamente magoados com o rumo dessas coisas, todos estão profundamente feridos com o rumo dessas coisas, todos estão profundamente solidários com o Senador Eduardo Azeredo. Diziam para nós: “Ah, o Eduardo Azeredo não vai renunciar?” Renunciar a quê? Querem “delubizar” o Eduardo, querem “silvizar” o Eduardo, querem fazer o quê com o Eduardo? Querem então que coloquemos o Eduardo na cronologia da crise sem ter merecimento, sem ter feito nada de mais? Hoje li uma lista de pessoas que se beneficiaram de caixa dois do PT a começar do Presidente do PT, Sr. Tarso Genro! Li o nome de gregos e troianos ali do PT. Eles não querem discutir isso. Mas queriam pegar como contraponto para fazer verdadeira a versão falsa, mentirosa, de que era tudo igual, de que era uma coisa inventada no Governo do Eduardo Azeredo e que, portanto, foi apenas aumentada no Governo do Lula. Não é verdade que seja igual. Lá havia nada; talvez o oportunismo do Sr. Valério, que conheceu o Sr. Clésio, que não tinha nada a ver com o Sr. Eduardo Azeredo, e tinha a responsabilidade do Sr. Cláudio Mourão. Isso é uma coisa localizada, nada a ver com o PSDB nacional. Eu estou falando de sistema, eu estou falando de ataque sistemático aos cofres públicos, eu estou falando de ataque organizado aos cofres públicos, eu estou falando de algo que ameaça a democracia brasileira se esse tumor não for removido de maneira drástica, de maneira categórica, de maneira firme, por pessoas de vontade do Governo e da Oposição que estão representando a Nação brasileira.

Portanto, se eu lamento o jovem Deputado ter caído nessa esparrela, lamento por ele, que vai pagar um preço alto, um preço caro; não sei se está lá; se estiver, não está de cabeça erguida; não sei se está lá; se estiver, não está bem, deve estar sentado. Se tiver vontade de fazer “pipi”, não se levantará porque está com vergonha de levantar. Só vai ser o último a sair da CPI, se estiver lá.

Eduardo Azeredo, levante a sua cabeça; levante a sua porque o Brasil não pode mais confundir respostas efetivas ao drama maligno da corrupção com tentativas de impedir investigações efetivas sobre a corrupção, causando danos à imagem de pessoas sérias, das quais suas famílias só podem se orgulhar - como é o caso da família Azeredo - e das quais o Senado, a que ele pertence, só pode se orgulhar.

Portanto, Sr. Presidente, nós não vamos deixar isso barato. Temos muita pena do destino que o Deputado está traçando para ele próprio, mas o PSDB não vai deixar isso barato. O PSDB não vai tolerar que façam uma fraude em uma Comissão Parlamentar de Inquérito que tanto custou. E temos de encontrar verdades ali. E não teve mentira maior do que encontro dentro de carro com aquele que é visto hoje em dia como o maior parceiro da corrupção que foi montada pela direção do PT e por setores relevantes do Governo Lula. Eu me refiro ao Sr. Marcos Valério. O Sr. Marcos Valério não poderia se encontrar comigo nem com ninguém nem no Maracanã, no Maracanã cheio, num Fla x Flu. Eu não quero me encontrar com ele. O Deputado se encontrou com ele em um carro. Isso é terrível. Ele precisa meditar porque jovem como é, precisa meditar e voltar, se puder, ao bom caminho que certamente o levou para a política. Esse era o de causar mal a algumas pessoas intencionalmente. Causar mal. E causou mal a si próprio porque causou mal ao decoro que ele jurou respeitar, quando se elegeu Deputado Federal.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/08/2005 - Página 27186