Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Condena a atitude do deputado Paulo Pimenta, Vice-Presidente da CPMI do Mensalão, pela divulgação de lista apócrifa com nome de deputados que teriam recebido o mensalão incluindo a tentativa de incriminar o Senador Eduardo Azeredo. (como Líder)

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.:
  • Condena a atitude do deputado Paulo Pimenta, Vice-Presidente da CPMI do Mensalão, pela divulgação de lista apócrifa com nome de deputados que teriam recebido o mensalão incluindo a tentativa de incriminar o Senador Eduardo Azeredo. (como Líder)
Aparteantes
Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/2005 - Página 27189
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.
Indexação
  • CRITICA, UTILIZAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EXIBIÇÃO, CONGRESSISTA, FALTA, ETICA, REPUDIO, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, EDUARDO AZEREDO, SENADOR, IRREGULARIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, DESVIO, ATENÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, TENTATIVA, PROTEÇÃO, RESPONSAVEL, CRIME.
  • DEFESA, REPUTAÇÃO, EDUARDO AZEREDO, SENADOR.
  • SUSPEIÇÃO, ATUAÇÃO, VICE-PRESIDENTE, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA, ENCONTRO, CARATER PESSOAL, PUBLICITARIO, ACUSADO, CORRUPÇÃO, EXISTENCIA, VIDEO, SENADO, SUGESTÃO, AFASTAMENTO, FUNÇÃO, PERIODO, INVESTIGAÇÃO, ASSUNTO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, falarei pela Liderança do PFL.

Sr. Presidente, se não houver bom senso - e é bom que esteja V. Exª ao lado do Presidente da CPI dos Correios, que tem tido um comportamento perfeito e admirável pela população brasileira -, se não houver bom senso nessa questão de CPIs em série não sei onde vamos parar.

            Lembro-me que, ao final da Segunda Guerra, fez-se um filme que foi sucesso no mundo inteiro, que era “A noite dos desesperados”, em que se mostrava exatamente que algumas pessoas lutavam pela sobrevivência e para isso eram capazes de tudo; para conseguir esse objetivo se submetiam a qualquer das tarefas, principalmente a de se exibir em público.

O que nós vimos hoje e ontem, Senador Arthur Virgílio, é alguma coisa parecida. Estão perdendo a cerimônia e a ética. Digo isso, Sr. Presidente, com autoridade de quem está aqui há mais de duas décadas e não saberia nem se sobreviveria sem este Parlamento funcionando plenamente. Se há uma coisa com que tenho afinidade desde que me entendo por gente é com a política e, há mais de duas décadas, com este Parlamento. Às vezes me enoja, me envergonha quando se tenta usar de estratégias pouco éticas, de estratégias que envergonham qualquer cidadão, quando não se respeita a dignidade do companheiro.

Essa tentativa de massacre que se procura fazer contra Eduardo Azeredo é uma das provas do que estou dizendo. Tenta-se confundir, potencializa-se um fato isolado que, pela legislação - e nós somos a Casa das leis - já estaria prescrito, se crime tivesse; não houve. Mas tenta-se jogar no lugar comum, como se tivesse acontecido nos dias de hoje e fosse fato recente. A não ser que o PT, àquela época, já tivesse acertos que nós não sabemos com o Sr. Marcos Valério. A aparição desse senhor é mais recente. Mas aí eu abro aspas. O Governo procura focar o Sr. Marcos Valério para que a Nação não vá atrás dos verdadeiros culpados por esse roubo.

Senador Arthur Virgílio, Marcos Valério é um laranja, é o que vai pagar o maior preço por todos esses fatos; é o que está exposto na mídia; é o que, se tiver dinheiro estocado no exterior, vai ter dificuldade de reinterná-lo no Brasil, tal a sua exposição. Os verdadeiros responsáveis por esses desmandos que estarrecem a Nação estão protegidos.

Senador Mão Santa, agredir Eduardo Azeredo é agredir a história de Minas Gerais. Acusar Eduardo Azeredo é acusar uma tradição que foi começada pelo seu pai, Sr. Renato, que foi professor e orientador de várias gerações nesta Casa pelo seu comportamento ético e, acima de tudo, por sua habilidade política. Pontificou nesta Casa durante muitos anos, sendo amigo de todos, independentemente de partido ou de ideologia. Nos momentos mais difíceis da República, sempre foi um conselheiro. Não há notícia, na sua biografia, de nenhuma ofensa, de nenhuma acusação, de nenhuma leviandade aqui praticada por Renato.

Eduardo Azeredo é exatamente o seguidor dos caminhos do pai. Foi Prefeito de Belo Horizonte, Governador de Minas Gerais. É um homem testado e aprovado que Minas conhece demais. De repente, talvez, pelo seu próprio estilo, resolveram escolhê-lo como alvo fácil para contrapor a fatos verídicos que a Nação toda conhece.

Senador Eduardo Azeredo, há pouco, o nosso companheiro Arthur Virgílio lhe pediu que levantasse a cabeça. Vou lhe dizer de maneira diferente: continue com ela erguida. Nada disso irá abatê-lo. O Brasil conhece a sua história e conhece a transparência de seus atos. Espero que o Rio Grande do Sul esteja hoje com o mesmo sentimento com relação ao seu Deputado que participou desse engodo na madrugada de ontem como Minas Gerais está com V. Exª.

Lamento, Sr. Presidente, que esses fatos tenham ocorrido no território geográfico do Senado Federal, na garagem do Senado da República. Queria recomendar, se fosse o caso - perdoe-me a ousadia, Presidente Renan Callheiros -, que V. Exª tome uma providência: mande requisitar a fita, que deve ficar sob a custódia de V. Exª ou do Corregedor, Senador Romeu Tuma. A referida fita mostra o embarque do Parlamentar com o Sr. Marcos Valério.

Nada importaria se, em tempos outros, os dois saíssem de carro a passear por Brasília, já que são amigos íntimos e participaram de eleições. O que não é possível é o vice-presidente da Comissão sair, após um depoimento polêmico e cheio de dúvidas, com um depoente suspeito de ter participado de um esquema que beneficiou exatamente o seu Partido. O que não é possível eticamente é a circunstância em que aconteceu esse fato.

A peça mais importante, Senador Romeu Tuma, que conhece esse processo, é exatamente essa fita que mostra o embarque e não deixa nenhuma dúvida de que entraram naquele carro sabendo o que queriam e para onde iam. Não há convite, não há dúvida, não há rejeição.

Acompanhei o secretário da Casa hoje pela manhã quando o fato foi noticiado e fomos até as dependências da Segurança para verificar, já que as partes negavam. E é transparente e cristalino o embarque do Parlamentar com o depoente. É um fato grave, mais grave ainda porque três versões sobre o episódio foram apresentadas na CPI. O mais grave ainda é uma lista apócrifa, em que se envolvem mais nomes, se retiram nomes ligados ao Partido dos Trabalhadores e se faz uma montagem usando documentos do Supremo Tribunal Federal.

É preciso que se apure. Não quero acusar o Deputado Pimenta de antemão, mas acho que ele está sob suspeita, infelizmente está sob suspeita. E o mais prudente seria o seu afastamento da vice-presidência da Comissão, até que esses fatos fossem esclarecidos e clareados. Lamento, pode tudo ter sido um equívoco, o pneu do seu carro furado, ou seja lá o que for, seja uma inocente carona. Mas até que tudo isso seja provado, somando-se ao que vimos hoje, no ambiente da CPI, é preciso que se apure. E quem deve ser o mais interessado na apuração desses fatos é exatamente o Partido dos Trabalhadores.

Sr. Senador Delcídio Amaral, vai aqui para V. Exª um pedido e um apelo. Não permita nunca mais que as comissões atuem conjuntamente. Foi a experiência mais desastrada que vi em termos de CPI. Porque uma guerra de vaidades. Uma disputa por spot-light e por espaço em televisão foi o que se verificou. Não sei o que aconteceu com a base do governo. Chegou lá tensa, nervosa, colocando os agitadores de plantão, que sabem muito bem fazer isso, e o fizeram, pois têm uma longa história, quando foram oposição, para tumultuar o início dos trabalhos. Procurei por V. Exª, Senador Delcídio, pelo apreço que lhe tenho, e fiquei feliz quando me disseram que V. Exª já tinha saído, não estava ali. Não faria bem para a sua biografia e para o respeito que a Nação lhe dedica, pelo seu comportamento na CPMI dos Correios, estar ali a presidir! Lamentei que um companheiro como Amir Lando, por dever de ofício, estivesse na Presidência naquele momento. Tudo isso é muito lamentável! Tudo isso é muito triste! É preciso que o Partido dos Trabalhadores acabe com esta história de, quando recebe lama, querer jogar lama nos outros.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Heráclito Fortes, V. Exª me concede um aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Concedo um aparte ao Senador Romeu Tuma, com o maior prazer!

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Só para comunicar a V. Exª e ao Sr. Presidente que já requisitei a fita, inclusive os agentes de segurança que acompanharam o Marcos Valério até o seu embarque como testemunhas de todos os fatos.

E gostaria de relembrar que, ontem, durante o depoimento, na CPI do Mensalão, anterior à minha vez, o Deputado Paulo Pimenta pegou a lista e só perguntou ao Marcos Valério sobre o PSDB, insistindo que ele fizesse qualquer tipo de acusação ao Senador Eduardo Azeredo. Para mim, foi constrangedora a forma com que ele interpelou, durante todo o seu tempo o Marcos Valério, já me parecendo qualquer coisa combinada. Desculpe a intervenção, mas é para dizer a V. Exª e ao Presidente que já requisitei a fita e também os agentes que acompanharam Marcos Valério até o embarque, para testemunhar que o rapaz estava junto.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Romeu Tuma, a interferência de V. Exª nessa hora é fundamental, pela sua experiência, pela sua isenção e pela sua autoridade.

Este é um fato novo, de que estou tomando conhecimento agora, mas que corrobora tudo o que eu disse, Sr. Presidente. E quero dar uma sugestão a V. Exª, Senador Delcídio. Sei que é duro, é um companheiro de partido, mas V. Exª nesse momento é Presidente de uma comissão, está sob a responsabilidade de V. Exª a Presidência, repito, e V. Exª está também com a responsabilidade de mostrar os destinos do Brasil. Esta CPMI é fundamental para o destino, para o futuro deste País. Inspirado no que disse o Senador Romeu Tuma e Senador, Arthur Virgílio, vou dar uma sugestão: que requisite a fita de chegada do Sr. Marcos Valério no hotel onde está hospedado ou se hospedou na noite de ontem, para saber se ele chegou só ou acompanhado; e, se ele chegou acompanhado, de quem; se o acompanhante o deixou na porta ou demorou-se no hotel. É fundamental que se apure isso, até mesmo para que, no caso de o Sr. Pimenta ser inocente, acabe-se com essa dúvida sobre o Parlamentar - jovem, pode ter cometido um arroubo, uma leviandade, uma imprudência e não pode ser crucificado, mas, enquanto esses fatos não forem esclarecidos, é suspeito. O melhor caminho seria o afastamento dele da presidência da Comissão.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/08/2005 - Página 27189