Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos quatrocentos e vinte anos de fundação da cidade de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos quatrocentos e vinte anos de fundação da cidade de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba.
Publicação
Publicação no DSF de 05/08/2005 - Página 26585
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, JOÃO PESSOA (PB), ESTADO DA PARAIBA (PB), COMENTARIO, HISTORIA, MEMORIA NACIONAL, ELOGIO, DESENVOLVIMENTO URBANO, PRESERVAÇÃO, ECOSSISTEMA, PATRIMONIO CULTURAL, CRESCIMENTO, TURISMO.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, autor, juntamente com o Senador José Maranhão e outros Srs. Senadores, do requerimento para a realização de sessão especial, não posso negar o muito de emoção e encantamento que me tomam aqui e agora.

Porque falar da capital da minha Paraíba, Sr. Presidente, e especialmente dos 420 anos de sua existência é missão das mais honrosas e das mais gratificantes.

João Pessoa, sabemos todos os paraibanos - e disso nos orgulhamos -, é a terceira mais antiga cidade do Brasil. Acontece, Srªs e Srs. Senadores, que tal condição, que poderia emprestar à capital de nosso Estado um semblante passivo, quase acomodado, das velhas matronas, não lhe tira o vigor e a pujança típicos da juventude.

Pelo contrário! Se tivéssemos de associar a nossa querida Cidade das Acácias e a sua gente uma característica essencial, essa seria configurada pelo dinamismo, pela inquietude, pela ebulição dos atos e das idéias, elementos que buscam origem, provavelmente, no fato de tantos povos se terem encontrado e tantas peripécias se terem desenvolvido, ao longo da História, naquele pedaço de terra desprendido da Capitania de Itamaracá.

Ali, às beiras do São Domingos, nome dado pelos primeiros visitantes portugueses ao rio Paraíba, viveram inicialmente os caetés, famosos pela ferocidade.

Isso não impediu, porém, que fossem expulsos pelos potiguares e tabajaras, aliando-se os primeiros logo aos franceses para dominar a região. Tal aliança trazia empecilhos à colonização portuguesa, e foi esse o motivo que levou à criação da Capitania Real da Parahyba, em 1574.

Pois foi na esteira desse esforço de reação à hegemonia francesa que o Capitão João Tavares chegou à Paraíba, em 1585, para firmar um pacto de amizade com os tabajaras e erguer, em 5 de agosto daquele ano, numa colina à margem direita do rio Sanhauá, afluente do Paraíba, o Forte de São Felipe.

Em torno do forte, nasce a cidade de Nossa Senhora das Neves, que, logo a seguir, quando Portugal cai sob o jugo espanhol, passa a ser chamada de Felipéia de Nossa Senhora das Neves, em homenagem ao rei de Espanha.

Em 1634, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a cidade é ocupada pelos holandeses e toma o nome de Friederstadt. Monta-se o cenário onde bravos da estirpe de André Vidal de Negreiros virão simbolizar o espírito de coragem e resistência da gente paraibana. Expulsos os invasores, a cidade recebe o nome de Parahyba e em 1684 se torna a capital da província.

Passam os séculos, o tempo vai ditando suas pautas, consolida-se a urbe que vai desempenhar papel ainda mais decisivo na história do País, na primeira metade do século XX. É a época do Nego, Sr. Presidente, a época de João Pessoa, a época da população permanentemente nas ruas, a época das cartas de amor violadas, a época de João Dantas, de João Suassuna e Anaíde, noiva de João Dantas, a época de um assassinato. Eu diria que é a época de dois assassinatos, pois morreu João Dantas e morreu João Suassuna. Morreu também João Pessoa. É a época da Revolução de 30. A época de acontecimentos que deram nova feição ao Brasil. A época, enfim, em que o Município da Paraíba se transforma em João Pessoa.

E é esta João Pessoa, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, a cidade que reverenciamos em seus 420 anos: a João Pessoa em que se encontraram tabajaras e potiguares, franceses, holandeses e portugueses para forjar essa gente tipicamente brasileira, o povo paraibano, a João Pessoa digna da condição de capital da “pequenina e heróica” Paraíba, a João Pessoa cuja história nos envaidece.

Seria injusto, Srªs e Srs. Senadores, se assentássemos nosso orgulho tão-somente nos aspectos históricos. Afinal, João Pessoa é muito mais. É o coração, por exemplo, de um aglomerado urbano que, com seu milhão de habitantes, assume as feições de região metropolitana. Ainda assim, é cidade sempre preocupada com a qualidade de vida de seus moradores.

A Organização das Nações Unidas, Sr. Presidente, destaca João Pessoa como a segunda cidade mais verde do mundo, atrás apenas de Paris, um status que é conseqüência, principalmente, da preservação de três bolsões verdes de grande porte: a Mata do Buraquinho - o Jardim Botânico -, a Mata do Amém e o Parque Arruda Câmara - a Bica.

Em João Pessoa, mantiveram-se e mantêm-se intocados manguezais, cerrados e aquela que é, segundo o Ibama, a maior reserva urbana de Mata Atlântica nativa do País - 515 hectares.

Temos orgulho, Srªs e Srs. Senadores, da exuberância de nossa natureza, uma natureza que, há mais de 360 anos, foi capaz de inspirar o primeiro paisagista europeu que registrou cenários da América.

Em 1638, o pintor holandês Frans Post, protegido de Maurício de Nassau, produziu um óleo sobre tela a que deu o nome de “Vista da Cidade Frederica na Paraíba a partir da torre de uma residência”, quadro vendido em 1997, num leilão realizado em Nova Iorque pela Sotheby’s, por US$4,1 milhões.

Temos orgulho, também, da pujança de nossa cultura, uma cultura que pode ser sintetizada no magnífico conjunto arquitetônico conhecido como Complexo Franciscano, formado pela Igreja e Convento de Santo Antônio e pela Capela da Ordem Terceira de São Francisco, um conjunto reconhecido, unanimemente, como dos mais importantes patrimônios de nosso País.

No somatório de tantos fatores, Sr. Presidente - a história plena de eventos, a natureza privilegiada, o cuidado com o meio ambiente, a preocupação com a qualidade de vida, a arquitetura soberba, a cultura palpitante -, vamos encontrar as razões do impulso cada vez maior que toma o setor turístico em nossa capital.

Entre 2003 e 2004, por exemplo, a maior operadora de turismo do Brasil registrou um aumento de 52% nas vendas de pacotes para João Pessoa. E o movimento em nosso aeroporto, entre janeiro de 2004 e janeiro de 2005, cresceu 12%.

São pessoas, Srªs e Srs. Senadores, que se entregam aos encantos da cidade mais oriental da América, da segunda cidade mais verde do mundo, da terceira cidade mais antiga do Brasil, pessoas que se deixam magnetizar pela praia do Cabo Branco, pela acácia amarela, pelo Centro Cultural de São Francisco e que podem testemunhar o esforço de nosso povo no sentido de construir uma João Pessoa cada vez mais progressista, cada vez mais pujante, cada vez mais desenvolvida econômica e socialmente.

É evidente - até porque estamos num País ainda em busca da plena realização - que problemas remanescem, problemas, Sr. Presidente, comuns às cidades brasileiras: problemas vinculados à saúde, à educação, ao emprego, à segurança, ao uso do solo, ao transporte urbano.

Tenho certeza, porém, de que a nossa gente saberá, como sempre soube, transformar cada um desses problemas num desafio a ser vencido.

O nosso Prefeito está fazendo tudo o que pode para melhorar João Pessoa. Amanhã é feriado lá. Amanhã haverá inúmeras inaugurações; amanhã os ônibus estarão cobrando só um real para transportar para qualquer parte; amanhã os cinemas estarão cobrando também um preço simbólico. Amanhã é dia de festa em João Pessoa. Apesar dos problemas que estamos vivendo, sonhamos com as novas alças de entrada da cidade, no caminho de Pernambuco, sonhamos com os nossos portais, que estão para ser edificados.

Estamos lutando, eu, o Senador José Maranhão e o Senador Efraim Morais - aliás, o Senador Efraim Morais não está presente porque hoje está em Santa Catarina e pediu-me, inclusive, que eu registrasse a sua ausência.

Não nos faltarão, Srªs e Srs. Senadores, como nunca nos faltaram a fibra, a determinação, o vigor necessário à superação das dificuldades. Esse é o espírito que nos impõe à junção de tantos povos, de tantas raças. Essa é a herança que nos deixaram 420 anos de história.

Que o Brasil, como um todo, especialmente a brava Paraíba e a brava João Pessoa, possam comemorar a passagem desse tempo com renovado orgulho, com renovada alegria e com renovada esperança.

Peço aos meus Pares que votem favoravelmente a este requerimento para uma sessão solene em comemoração aos 420 anos dessa cidade tão bonita, dessa cidade tão querida.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/08/2005 - Página 26585