Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Estupefação ante os depoimentos de Duda Mendonça e Zilmar Fernandes da Silveira na CPMI dos Correios.

Autor
César Borges (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Estupefação ante os depoimentos de Duda Mendonça e Zilmar Fernandes da Silveira na CPMI dos Correios.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2005 - Página 27273
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • ANALISE, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), PUBLICITARIO, AUTORIA, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELEIÇÃO MUNICIPAL, COMPROVAÇÃO, IRREGULARIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REGISTRO, DADOS, SUPERIORIDADE, CUSTO, CONTRATO, CRIME, SONEGAÇÃO FISCAL, EVASÃO DE DIVISAS, QUESTIONAMENTO, CONHECIMENTO, AUTORIDADE.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acabo de chegar de uma reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios. Lá tomamos conhecimento do depoimento, nesta madrugada, da Srª Zilmar Fernandes da Silveira e do Sr. Duda Mendonça. Lendo o depoimento deles antes do início da reunião da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito, fiquei estupefato, Sr. Presidente, com o que estava ali declarado. Logo em seguida - porque esse depoimento chegou às nossas mãos por volta das 11 horas da manhã, 11h15min -, quando iniciou a reunião, ouvimos a Srª Zilmar, que pouco disse, apenas se apresentou, e depois tivemos a oportunidade de ouvir o Sr. Duda Mendonça, que, apesar de não estar convocado, disponibilizou-se a vir prestar o depoimento.

Foi um depoimento emocionado, Sr. Presidente, em que esse publicitário baiano, um homem de renome nacional, eu diria até internacional, declarou que estava ali para dizer a verdade, que ele não tinha como enfrentar a sua família, os seus filhos e a sua esposa se não abrisse o coração e dissesse toda a verdade. Essa verdade, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, já estava expressa no depoimento feito pela Srª Zilmar e pelo Duda à Polícia Federal. Ele não trouxe novidades em relação a esse depoimento. Ele está agora no processo de oitiva, em que as perguntas se sucedem pelos Srs. Senadores e Deputados.

Mas vejam bem o que ele revelou! Revelou, Sr. Presidente, um acordo com o Partido dos Trabalhadores para o financiamento da campanha publicitária que foi feita para o Partido e para as campanhas eleitorais do Partido no ano de 2002 e também no de 2004. E o que se observa, nesses depoimentos, é que, em 2001, o contrato dele com o Partido dos Trabalhadores era de R$595 mil, Sr. Presidente! Em 2002, para a campanha do Presidente, o orçamento fechado, o contrato feito entre a empresa do Sr. Duda Mendonça e o Partido dos Trabalhadores alcançou o volume de R$25 milhões. Foram gastos R$25 milhões em 2004! Esse pacote incluía as seguintes campanhas políticas: do Presidente Lula, do Senador Aloizio Mercadante, do ex-Presidente José Genoíno a Governador de São Paulo e da Benedita da Silva ao Governo do Rio de Janeiro.

O contrato seguinte aconteceu em 2003. Foram R$7,3 milhões, em um ano que não era eleitoral, correspondentes a serviços prestados pela empresa política do Sr. Duda Mendonça ao PT. Em 2004, Srs. Senadores, novamente um pacote de R$24,7 milhões. Vejam os volumes envolvidos; chega-se a aproximadamente R$60 milhões, de 2002 até 2004.

Mas, Srªs e Srs. Senadores, em 2001 eram R$595 mil, que foram integralmente pagos pelo PT, com faturas e cheques emitidos pelo Partido. Em 2002, do pacote de R$25 milhões só foram pagos R$13,5 milhões; ficou o débito de R$11,5 milhões, cujo pagamento o Sr. Duda Mendonça e a Srª Zilmar reiteradas vezes cobraram do PT. Esses recursos foram gastos em quê? Foram gastos, de forma clara e insofismável, nas campanhas que faziam parte do pacote, essencialmente na campanha presidencial - que é a grande campanha, em que são montados estúdios, ilhas de edição, em que se prepara toda a equipe. É claro que as outras campanhas - do Senador Aloizio Mercadante, de José Genoíno ao Governo do Estado e da Benedita da Silva - entraram nesse pacote de forma subsidiária e que, essencialmente, os recursos estavam investidos na campanha do Presidente.

Ficou o débito de R$11,5 milhões do segundo contrato. Como foram pagos esses recursos? Hoje está o País todo estupefato: foram pagos por meio do esquema Marcos Valério. Esse pagamento se deu, inicialmente, com saques de R$900 mil em três parcelas de R$300 mil. Dizem o Sr. Duda e a Srª Zilmar que receberam constrangidos esse dinheiro e que não era comum sua empresa fazer isso, mas o Sr. Delúbio indicou o Sr. Marcos Valério, que começou a pagar. Como o Sr. Duda não tinha mais força no PT, porque estava eleito o Presidente Lula, a única maneira que tinha era aceitar essa fórmula - que não é usual, nem correta -, senão não receberia, para pagar seus fornecedores, seus compromissos.

E as coisas foram piorando, Srªs e Srs. Senadores. O pior, Sr. Presidente, foi depois o pagamento de R$10,5 milhões, que restavam dos R$11,5, por meio de depósito no exterior. Solicitaram ao Sr. Duda Mendonça, segundo seu depoimento, que abrisse uma conta no exterior. Ele, como cliente do BankBoston, solicitou assessoria ao banco, que o indicou, abriu uma conta no exterior e montou a operação, que ele desconhecia. Foi criada, por meio do BankBoston, uma offshore de nome Düsseldof, lá nas Bahamas. E, por intermédio de quatro bancos internacionais pequenos, os recursos de R$10,5 milhões chegaram das contas do Düsseldof, criadas pelo Sr. Duda Mendonça.

Vejam bem, Srªs e Srs. Senadores, a gravidade desse fato. E de nada disso tínhamos conhecimento. Toda essa história começou com R$3 mil. E desejavam o PT e o Presidente que ficasse por aí; não desejavam que fosse aberta qualquer CPI. Quantas coisas estão sendo reveladas a este País! A quanto o País está assistindo estupefato, preocupado, angustiado com a pergunta “aonde vamos chegar?”.

Mas não paramos aí. Sabem como foi pago o contrato do ano de 2003, de R$7,3 milhões? Foram sacados R$500 mil das empresas de Marcos Valério, no Banco Rural, e pagos R$3,6 milhões em dinheiro pelo PT. Não sabe o Sr. Duda Mendonça se esses R$3,6 milhões pagos em dinheiro vivo vieram do PT ou do Sr. Marcos Valério. Disse o Sr. Marcos Valério que vieram dos seus recursos. Se somarmos esses valores, chegaremos a R$15,5 milhões, o que bate e dá credibilidade, lamentavelmente, neste caso, ao Sr. Marcos Valério. Estão explicados os R$15,5 milhões.

E no ano de 2004? Foram R$24,7 milhões, dos quais o PT, um pouco mais rico, pagou R$10 milhões, mas continua devendo...

(Interrupção do som.)

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - O PT continua devendo ao Sr. Duda Mendonça R$14,7 milhões.

Vejam o volume de recursos envolvidos. Como um Partido político pode fazer pagamentos no exterior, por uma campanha presidencial? Com certeza, nada disso é legal. Não há faturas de prestação de serviços, nem emissão de cheques. Nada bate. Tudo é ilegal. E a nossa lei eleitoral é muito clara, quando preceitua que qualquer Partido político que usar, em campanha, recursos provenientes de contas no exterior perderá seu registro.

Veja onde o PT foi meter-se, Sr. Presidente. Veja a que tipo de Partido e de ações estamos condenados. Não se pode é imaginar que vai ser o Sr. Delúbio Soares o único responsável por todo esse esquema e que ninguém mais sabia desse esquema. O Presidente do Partido, José Genoíno, não sabia; o Senador Aloizio Mercadante já disse que desconhecia inteiramente; o Presidente Lula também desconhecia; acredito que o Senador Sibá Machado também não conhecia e deve dizer isso com clareza aqui. Então, ninguém sabia. Basta que o Sr. Delúbio Soares assuma a culpa, e está tudo resolvido. Tudo foi uma operação montada pelo gênio financeiro-político, pelo Rasputim* da República, Delúbio Soares. E Delúbio Soares estava lá, como tesoureiro, indicado por quem?

(Interrupção do som.)

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Só para encerrar, Sr. Presidente, ele era intimo amigo de quem? Sequer Delúbio era responsabilidade do Sr. José Dirceu. Ponha-se toda a culpa em José Dirceu, mas não a de que tenha escolhido o Sr. Delúbio Soares. Foi uma escolha pessoal do Presidente Lula. Portanto, para uma inteligência mediana ou até para os poucos inteligentes, é muito difícil acreditar que o Presidente não sabia de nada, Senadores, de nada; que tudo isso foi uma obra maquiavélica das elites brasileiras, comandadas pelo Sr. Delúbio Soares, para colocar o Presidente da República nessa situação vexatória.

Espero que possamos chegar aos verdadeiros culpados, para que tenhamos a oportunidade de limpar a Nação dessa nódoa, inocentando os que não têm culpa, culpando os que merecem ser culpados.

Muito obrigado, Sr. Presidente


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2005 - Página 27273