Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise do desenrolar dos acontecimentos após o depoimento do publicitário Duda Mendonça e de sua sócia, D. Zilmar.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Análise do desenrolar dos acontecimentos após o depoimento do publicitário Duda Mendonça e de sua sócia, D. Zilmar.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2005 - Página 27303
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL, DEPOIMENTO, PUBLICITARIO, AUTOR, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), ACUSAÇÃO, IRREGULARIDADE, PAGAMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CRIME, SONEGAÇÃO FISCAL, EVASÃO DE DIVISAS.
  • OPOSIÇÃO, PEDIDO, PUBLICITARIO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ACAREAÇÃO, AUTOR, CAMPANHA, NECESSIDADE, ANTERIORIDADE, INVESTIGAÇÃO, ORIGEM, CORRUPÇÃO, DEFESA, SOBERANIA, CONGRESSISTA, DEFINIÇÃO, PAUTA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
  • ELOGIO, ESCRITOR, AUTOR, PROGRAMA, ENTREVISTA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DEBATE, CRISE, POLITICA SOCIAL, LEITURA, CARTA, AUTORIA, EDUARDO JORGE, EX-CHEFE, SECRETARIA GERAL, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REJEIÇÃO, RETRATAÇÃO, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meu caro Senador Cristovam Buarque, imagino se um fenômeno permitisse a volta à terra de Ulysses, de Tancredo, do velho Alckmin - pensem, fiquem à vontade para pensar nesses homens públicos que pontilharam a história do Brasil e que honraram esta Casa do Congresso -, para que presenciassem o que está ocorrendo hoje.

Estou nesta Casa há mais de duas décadas, Senador Cristovam Buarque, e não lhe digo que estou com depressão, porque não sei o que é isso, mas estou triste. Estou triste com o rumo que as coisas estão tomando. O descontrole, a falta de comando, de autoridade e, acima de tudo, de respeito estão fazendo com que se deteriore, de maneira muito rápida, toda uma estrutura de poder montada, fundamentada em sólidas bases parlamentares e populares, acima de tudo.

O que estamos vendo hoje, Senador Mão Santa, é triste e é grave. O depoimento de uma publicitária, D. Zilmar, foi marcado com antecedência. No horário previsto, vêm a publicitária e o seu sócio, publicitário de renome nacional, Duda Mendonça, que não estava convocado nem convidado para depoimento. Oferece a sua participação para depor. Ato contínuo, em caráter emergencial, o Sr. Marcos Valério se oferece para depor na outra CPMI, a do Mensalão - o mesmo publicitário Marcos Valério que já esteve, por duas ou três vezes, no Congresso Nacional para prestar esclarecimentos sobre os fatos recentes.

O mais grave, Senador José Maranhão, é que o Sr. Marcos Valério está pedindo acareação com o Sr. Duda Mendonça. Do jeito que as coisas estão acontecendo, o meu temor é de que isso ocorra e que os Presidentes das duas Comissões, numa demonstração de perda de controle da crise, não imponham a sua autoridade, porque quem faz a pauta do Congresso é Congressista.

Seria uma precipitação, no dia de hoje, cairmos na armadilha da acareação, porque estamos diante de fatos já conhecidos e de fatos novos, hoje mostrados e relatados pelo Sr. Duda Mendonça.

Aceitar essa acareação é correr o risco de ouvir, sem base alguma, o que os dois estão dizendo. É preciso, Senador Marcelo Crivella, que investiguemos e apuremos as afirmações prestadas pelo Sr. Duda Mendonça, que são graves. A gravidade para mim é maior quando se percebe que elas são sinceras e partem de um homem que prestou serviços para que o Partido dos Trabalhadores chegasse à vitória e que não suportou mais a pressão que recebeu nos últimos dias. O que me parece, pelo seu semblante, é que, movido pela solidão, pelo abandono, resolveu, como dizia o Gonzaguinha, não agüentando mais, “deixar explodir o coração”.

Mas é preciso que reflitamos sobre o que foi dito pelo Sr. Duda Mendonça. E há um fato, Senador Cristovam Buarque, que é muito grave. Quando ele confessa à Comissão do Senado e à Nação brasileira que recebeu dinheiro de caixa dois, não seria novidade. Mas disse que, para recebê-lo, teve de abrir contas em paraíso fiscal. E o grave, ele diz: “Meditei muito esses últimos dias, virei noites sem dormir. Consultei meus advogados, calculei os riscos que estou correndo. Mas vi que não dava mais para agüentar e estou aqui para prestar contas à Nação brasileira”.

Portanto, não é um ato emocional, irrefletido e impensado. Muito pelo contrário, é um ato praticado por um homem que conhece bem a legislação brasileira e, se não a conhece, foi orientado pelos seus advogados. Preferiu correr o risco a se ver submetido à execração popular. Disse que fez isso para poder olhar de frente para os seus sete filhos e porque sentiu que o prestígio e o nome que ele criou durante tantos anos, prestígio reconhecido nacional e internacionalmente, começavam a ser arranhados pelos fatos que vêm a público há mais de dois meses.

Senador José Maranhão, os fatos estão agravando-se em velocidade supersônica, tornando qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito incapaz de ter controle sobre eles. Não podemos entrar nessa jogada de permitir que o depoente, a seu bel-prazer, venha aqui quando quiser, diga se quiser ou se cale porque está protegido. No fundo, trata-se de uma disputa de agência de publicidade movida e marcada por inveja ou por ciúme. Não podemos permitir que a CPMI dê guarida a disputas dessa natureza. Temos que ter um objetivo, e, a cada dia que permitimos que esses fatos aconteçam, os verdadeiros culpados pelos desvios de recursos estão protegidos.

O Sr. Duda Mendonça foi beneficiado, o Sr. Valério foi arrecadador ou laranja ou seja lá o que quiser, mas é preciso que a Nação saiba - é isso que ela quer - quem deu ordem, claramente quem mandou, quem tinha o prestígio e a força para alavancar dinheiro.

Agora sabemos que está justificado o pânico de alguns setores do Governo para que a D. Zilmar não fosse ouvida. Senador José Maranhão, já se sabe qual é o pânico dessa gente em não querer que se apure o caso envolvendo os fundos de pensão: já se sabe, até mesmo por analogia, que isso vai bater num lodaçal, num lamaçal sem limite.

É muito grave o que estamos vivendo.

Millôr Fernandes disse, Senador Marcelo Crivella, carioca como V. Exª - a frase original é do Neném Prancha, aquele filósofo do futebol carioca -, que, em política, fundo de poço tem mola. O diabo dessa crise é que ninguém chega ao fundo desse poço. Cada dia, novos casos. Cada dia, novos fatos. Cada dia, mais decepção para o brasileiro.

Imagino qual não seja hoje o clima nos corredores do Palácio do Planalto.

Louvada a hora, Senador Cristovam Buarque, em que V. Exª, de Lisboa, foi dispensado do Governo, ficando livre de passar pela história vergonhosa que vive hoje este Governo, que não tem apego a amigos, que não tem apego a compromissos. Governo de corriola. Governo de corriola, em que as virtudes são postas de lado por interesses que a Nação brasileira não sabe ainda claramente quais são, mas quer saber.

É preocupante. Como parlamentar da oposição, venho carregando ao longo desses dois anos e meio, quase três, Senador Marcelo Crivella, a frustração de não termos nós, oposicionistas, gerado nenhuma crise para o governo. O governo criou todas. Essa crise de Duda com Marcos Valério, de quem quer que seja, é uma briga genuinamente do governo. A oposição apenas assiste. Amanhã, a história haverá de julgar. Será que fomos prudentes ou incompetentes? Porque nada contribuímos para isso.

Quero finalizar este pronunciamento - com a compreensão do Senador Mão Santa -, elogiando o apresentador Jô Soares, que, aproveitando o momento político com sua inteligência, levou para a noite brasileira a repercussão da crise vivida pelo País, entrevistando políticos, senadores, deputados, e propiciando debates envolvendo jornalistas que fazem a cobertura política do País.

Ontem, Senador Cristovam, ele encerrou o programa lendo uma carta do Sr. Eduardo Jorge Caldas. E o fez de tal maneira que emocionou qualquer um que viveu os episódios. Na carta feita ao Brasil, o Sr. Eduardo Jorge Caldas dizia que não aceitava o pedido de desculpas feito pelo Deputado José Dirceu e se justificava. E o Jô Soares leu a carta na íntegra, fazendo um reparo, não definitivo, mas pelo menos um reparo, ao que o Eduardo Jorge sofreu nas mãos do PT. O Partido o acusou, criou-lhe problemas, até que ele, não suportando mais, deixou o governo espontaneamente. E hoje, fora de tempo, fazem a ele um pedido de desculpa, que ele, com muita razão, não aceita.

Parabenizo Jô Soares pela coragem de ter lido a carta de um homem que hoje está apeado do poder e traz marcas e feridas no corpo e no coração pelas calúnias e denúncias sofridas ao longo da vida.

Mas o meu caro Carreiro, que acompanha a história do Brasil nos bastidores, sabe que ele não está isolado nessas calúnias. Um dos homens públicos mais decentes deste País, que conhecemos e com quem convivemos, Paulo Affonso Martins de Oliveira, morreu há poucos dias e não conseguiu se livrar de uma denúncia que lhe fez o PT em 1993. O processo correu nos tribunais e está no Supremo, hoje sem mais objeto. Inocente, limpo como foi a vida inteira - e esse relato me foi feito por um filho dele esta semana -, Paulo Affonso morreu com essa dor e essa tristeza.

Portanto, o que alguns petistas estão sofrendo hoje é nada mais nada menos o que plantaram ao longo da vida. Senador Marcelo Crivella, jogaram um cesto de pedras para cima e se esqueceram de sair de baixo. Elas estão caindo, uma a uma, na cabeça dos responsáveis.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2005 - Página 27303