Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas sobre o teor da carta enviada pelo presidente da República ao Cardeal Geraldo Majella Agnelo, presidente da CNBB.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA DE EMPREGO.:
  • Críticas sobre o teor da carta enviada pelo presidente da República ao Cardeal Geraldo Majella Agnelo, presidente da CNBB.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2005 - Página 27308
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA DE EMPREGO.
Indexação
  • COMENTARIO, CARGA, AUTORIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESTINATARIO, CARDEAL, PRESIDENTE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), TENTATIVA, REDUÇÃO, CRITICA, ASSEMBLEIA GERAL, BISPO, ALEGAÇÕES, AUSENCIA, ANTECIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, REELEIÇÃO.
  • INEXATIDÃO, DADOS, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EVOLUÇÃO, MERCADO DE TRABALHO, AVALIAÇÃO, ORADOR, AUMENTO, DESEMPREGO, REDUÇÃO, RENDA, OCORRENCIA, ROTATIVIDADE, EMPREGO, PERDA, TRABALHADOR, CRITICA, COMPARAÇÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente Lula admitiu ontem, em carta enviada à presidência da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - ter "plena noção da gravidade" da crise política pela qual passa o País, motivada por uma série de acusações de corrupção que atingem o governo e parte de sua base de apoio.

            Os termos da carta enviada ao presidente da CNBB, Cardeal Geraldo Majella Agnelo, é uma tentativa de amortecer as possíveis críticas ao governo, ao longo da 43ª Assembléia Geral da CNBB, que reúne cerca de 300 bispos desde a manhã de ontem em Indaiatuba, São Paulo.

            É inacreditável que, mesmo ao se dirigir ao órgão colegiado máximo da Igreja, Sua Excelência cometa heresias. Numa demonstração de que subestima a capacidade dos Bispos e Cardeais brasileiros, o Presidente Lula lançou mão de uma afirmação falaciosa afirmando:

            "Tenho envidado todos os esforços para que a crise política não paralise nosso governo e nosso país. O que tem sido interpretado, muitas vezes maldosamente, como antecipação de campanha eleitoral é justamente um empenho do governo."

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nem a santa Madre Tereza de Calcutá, se aqui estivesse, seria capaz de considerar crível esse trecho da carta presidencial.

            O Presidente Lula conclui a carta com uma crítica ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sem citá-lo nominalmente, afirmando ter criado 13 vezes mais postos de trabalho do que "no governo passado".

            Em nome da verdade, na “república da mentira”, título do oportuno artigo da competente colunista Eliane Cantanhêde na edição de hoje da Folha de São Paulo, ou na “república do rabo preso”, segundo a grande escritora Lya Luft, é preciso mostrar o que o governo do presidente Lula promove no mercado de trabalho do País.

            É mais do que justo reafirmar que o estelionato eleitoral sem precedentes na história republicana se consubstanciou quando os pilares éticos e as promessas de campanha e compromissos históricos da legenda petista se desmoronaram por completo, na eclosão dos escândalos que exibiram a verdadeira face do governo Lula.

            Vejamos os números do mercado de trabalho: em 2003, o ano do espetáculo do crescimento (taxa negativa de - 0,2%), ocorreu um recorde da taxa de desemprego, cuja média ficou em 12,3%, acompanhada de uma queda da renda média dos brasileiros de 12,9%. Em 2002, por exemplo, a média de desemprego foi de 10,5%.

            O resultado desastroso foi ancorado na adoção de políticas altamente restritivas nas áreas fiscal e monetária, principalmente na radicalização do ajuste fiscal, elevando a meta de superávit primário de 3,75% para 4,25% do Produto Interno Bruto e superando, no fim de 2003, a meta fixada, qual seja, 4,32%.

            O Presidente Lula e o seu Governo não primam pela verdade ao apresentarem seus “feitos e glórias”. Recordo-me que no primeiro semestre (início de maio) foi divulgado um balanço dos valores gastos no setor social, entre os anos de 2001 e 2004, comparando os dois primeiros anos de Lula com os dois últimos do governo Fernando Henrique Cardoso, para demonstrar a superioridade dos investimentos atuais. O referido “balanço”, além de computar os investimentos de quatro anos atrás sem correção, listava despesas que não tinham efetiva relação com a área social.

            A pretensa “multiplicação dos postos de trabalho” oculta uma faceta cruel revelada por um estudo da Universidade de Campinas, ao qual já me referi desta tribuna no primeiro semestre.

            O trabalho da Unicamp mostrou que o que está havendo é uma rotatividade de emprego: os trabalhadores demitidos são readmitidos com salários inferiores.

De acordo com os dados da Unicamp, o salário médio dos demitidos foi da ordem de R$2.443,00 e o salário médio dos contratados gira em torno de R$388,00.

Se o ritmo da rotatividade for mantido até dezembro, teremos uma taxa anual de quase 48% de rotatividade, o que equivale a dizer que um em cada dois brasileiros com carteira assinada vai trocar de emprego em 2005.

A missiva do presidente Lula à CNBB pode ser censurada pelo plenário da 43ª Assembléia Geral da CNBB. A gestão Lula conseguiu imprimir feições de Sodoma e Gomorra à Brasília sonhada por Dom Bosco.

O atual presidente, que em passado recente anunciava que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso estava no poder somente para satisfazer os desejos dos bancos e órgãos como o Fundo Monetário Internacional, presencia o Bradesco anunciar o maior lucro bancário da história, mais que o dobro do ano anterior, e abriga no seio de sua equipe um “Fundo Monetário Doméstico”, bem mais ortodoxo que a matriz.

Era o que eu tinha dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2005 - Página 27308