Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise da atual crise. Percepção de que o Presidente da República deva se pronunciar perante a nação. Sugestão de que seja assegurada a palavra aos Senadores para que possam se manifestar após o pronunciamento do Presidente Lula. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Análise da atual crise. Percepção de que o Presidente da República deva se pronunciar perante a nação. Sugestão de que seja assegurada a palavra aos Senadores para que possam se manifestar após o pronunciamento do Presidente Lula. (como Líder)
Aparteantes
Mão Santa, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2005 - Página 27353
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL, ANALISE, POSSIBILIDADE, IMPEACHMENT, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXPECTATIVA, PRONUNCIAMENTO, CHEFE DE ESTADO, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO, RECONHECIMENTO, ERRO, CORRUPÇÃO, GOVERNO, AUSENCIA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA.
  • REGISTRO, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), EXPECTATIVA, CONCLUSÃO, MANDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REPUDIO, IMPUNIDADE.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil vive uma de suas crises mais graves. Ainda menos grave do que aquela que levou ao suicídio de Getúlio Vargas; mais grave do que aquela da tentativa militar de se impedir a posse de João Goulart, em 1961; felizmente, menos grave ainda, embora a crise de João Goulart não fosse ética, do que a crise que levou à implantação de uma ditadura de 21 anos neste País; muito mais grave talvez do que o próprio momento da administração do Presidente Fernando Collor de Mello.

Digo isso, Sr. Presidente, porque, se o Presidente Lula tiver ou tivesse que sofrer o impeachment por razões de vício no financiamento de sua campanha eleitoral, esse impeachment atingiria necessariamente, Senador Geraldo Mesquita, o Vice-Presidente José Alencar e, na linha de sucessão, estaria alguém que a Nação não espera que assuma a Presidência e alguém que, tenho certeza, pelo seu bom-senso, tampouco deseja assumir a Presidência da República, que é o Presidente da Câmara Severino Cavalcanti.

É com essa responsabilidade que a Liderança do PSDB vem à tribuna para dizer que é esgotado o tempo de o Presidente da República poder mentir para o povo brasileiro. É esgotado o tempo de o Presidente da República repetir chavões do tipo “nunca se investigou tanto quanto no meu Governo, eu prendi a grã-fina da Daslu, eu fiz...”

Presidente, pare de mentir de uma vez por todas, para a Nação! Daqui a minutos começa o seu pronunciamento, que é definitivo quanto ao senhor poder ou não se manter no poder. Vossa Excelência, Presidente Lula, precisa dar nome aos bois. Vossa Excelência precisa assumir que, embora seu Governo apresente um relativo êxito macroeconômico - ele, que é um fracasso microeconômico -, fracassou no campo político, fracassou no campo administrativo e, sobretudo e lamentavelmente, o seu Governo e Vossa Excelência, Presidente Lula, fracassaram no foro ético.

É preciso que Vossa Excelência faça claramente uma autocrítica e admita perante a Nação, a partir da transmissão do seu discurso, que o seu Governo, infelizmente, passou a abrigar a convivência com a corrupção, com todos os vícios apontados pelo Sr. Duda Mendonça, admitidos por aquela figura melíflua do Sr. Valério, por todos os vícios denunciados hoje pelo Deputado renunciante - está na revista Época já circulando nas bancas - Valdemar Costa Neto, dizendo que Vossa Excelência, Presidente Lula, sabia de tudo, sim, e que foi negociado dinheiro em troca da adesão do PL ao seu projeto de poder.

Se Vossa Excelência, Presidente Lula - aí eu faço coro com o Senador José Agripino, com os demais oradores, com o Senador Pedro Simon -, hoje imaginar que existe uma Nação a ser engambelada, existe uma crise a ser empurrada com a barriga, existe algo parecido com a possibilidade de sair sem nenhum arranhão e, ainda por cima, deixando intocada a máquina corrupta que se montou dentro do seu Partido e dentro do seu Governo, Vossa Excelência, Presidente Lula, perderá a condição mínima de dirigir este País.

Alguém pergunta: o PSDB quer o impeachment? Não. O PSDB quer o Presidente Lula governando até o final. Alguém pergunta: o PSDB, por outro lado, acobertará equívocos do Presidente Lula? Não, não acobertará. O PSDB admite que o impeachment é algo que está na Constituição e que pode ser aplicado, sim, embora seja indesejável porque nós preferimos Presidente passando a faixa para outro Presidente, na tradição e na cultura de uma democracia consolidada, ao invés de impeachment de doze em doze anos? O PSDB prefere não usar esse remédio mas sabe que esse remédio existe na Constituição e, em caso extremo, pode ser usado. O PSDB vai propor impeachment? Não quer, não pensa em propô-lo. O PSDB admite que pode algum outro partido ou alguma instituição tipo Ordem dos Advogados do Brasil propor impeachment? Admite que pode alguém, a esta altura, estar até redigindo uma petição visando a impedir o Presidente da República.

O Presidente da República, ao longo do seu governo, foi mentiroso, irresponsável, incapaz, incompetente, não administrou, não cuidou de estudar os assuntos das Pastas que dirige. O Presidente da República montou um projeto de marketing, ele que não tinha projeto de governo, apenas projeto de poder, isso tudo estribado em dinheiro, agora, visto como dinheiro ilegal e no exterior, capaz até de levar à extinção do Partido dos Trabalhadores. Ali eu vi lavagem de dinheiro, com muita certeza quase. Eu vi, com toda certeza, abertura ilegal de conta no exterior, sonegação fiscal, evasão de divisa.

Presidente Lula, o seu tempo esgotou, o seu tempo está finito, o seu tempo está findo, para qualquer coisa que não seja o diálogo sincero com a Nação. Se Vossa Excelência emerge do discurso de hoje sem críticas cretinas à Oposição, sem inventar falsas elites, se Vossa Excelência emerge desse discurso com a grandeza de alguém que pede apoio à Nação, para completar um período infeliz de Governo, nós não negaremos, enquanto Nação, apoio a Vossa Excelência, para que conduza este País pelos mares tormentosos que nós hoje estamos vivendo.

Ouço o aparte do Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - É muito importante o pronunciamento de V. Exª, porque V. Exª está deixando claro perante à Nação que não está acontecendo aqui o que aconteceu em 1954, o que aconteceu em 1964, em que havia um golpe para derrubar o Presidente. Era um golpe que queria derrubar, queria derrubar. Era o Exército, era a UDN, era o Lacerda. V. Exª é Líder de um grande Partido e está dizendo com todas as letras: “Fale Presidente! Convoque-nos! Queremos ajudar, desde que Vossa Excelência aponte um caminho, aponte um rumo e nos indique o que fazer”. A palavra de V. Exª, perante a Nação, é da maior importância, e o Presidente Lula tem a obrigação de ouvi-la e de atendê-la. Meus cumprimentos a V. Exª!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Pedro Simon. E eu concluo de maneira muito clara....

O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco/PT - DF) - V. Exª tem mais dois minutos, Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Sr. Presidente Cristovam Buarque.

Concluo de maneira muito clara, dizendo que o Presidente está mesmo diante dessa bifurcação: a mentira hoje será fatal, a inverdade será letal; a verdade poderá ser a sua sobrevida até 31 de dezembro de 2006.

O Presidente da República, Senador Pedro Simon - e vou falar algo que pode parecer paradoxal -, hoje, perdeu o direito de governar até o final do seu Governo; ele que tem o dever de governar até o final do seu Governo; ele tem o dever de chegar ao final do seu Governo; ele que, talvez, esteja perdendo o direito de exercitar esse dever. Mas ele tem que reconquistar esse direito, a partir da relegitimação do Poder, dando nome aos corruptos, assumindo a sua parte e parando com essa inocência de que não sabia de nada nunca, de que não tomou conhecimento de coisa alguma, quando nós sabemos como se processam as campanhas políticas e sabemos que Sua Excelência tinha, sim, a consciência plena de que coisas irregulares se passavam.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª cumpriu e cumpre a sua missão da Oposição, que tem salvado a democracia. Mas eu queria dar uma esperança. A esperança é a última que morre. Como está no livro de Dom Quixote, só não tem jeito para morte, mas eu acho que ainda há. A história mostra, por exemplo, que Luiz XV era fraco e foi buscar um Richelieu, e ele governou por 18 anos. Depois veio o cardeal Mazzarino e foram mais 17 anos. Então, o Lula tem que buscar um Richelieu. E o Richelieu no momento, para salvar esta Nação, deve ser um homem que tenha um currículo de virtude e moral política pelos cargos que exerceu, como Pedro Simon. Eu não vejo esse Richelieu no time do PT.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, concluo...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) -...dizendo que o Presidente da República falará dentro de poucos minutos. Sei que há outros oradores inscritos e faço uma sugestão a V. Exª que submeta ao Plenário: ainda que porventura ao longo dessa fala da fase do Presidente possam os oradores esgotar os seus tempos, a minha idéia era que V. Exª mantivesse a sessão aberta para voltarmos aqui e comentarmos a fala do Senhor Presidente da República, para que pudéssemos assistir ao que o Presidente da República vai dizer, ouvir o que Sua Excelência vai dizer e voltarmos, nós que estamos aqui em vigília cívica, para comentar a fala do Senhor Presidente da República.

Digo que o Sr. Presidente da República tem enfrentado a mais democrática oposição que já se montou neste País de 1946 para cá. Digo mais, que nunca um governo tergiversou tanto em relação à verdade e nunca se montou uma teia de corrupção tão ampla, tão tentacular como essa dirigida por Sua Excelência. Não que seja Sua Excelência corrupto, mas o seu Governo dirige um esquema de corrupção sistêmico e tentacular.

É hora, portanto, de silenciarmos, a meu ver, e ouvirmos o Presidente da República e, depois, voltarmos para cá...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - …dizendo ao Presidente que ele tem dois caminhos: um caminho de assumir as suas culpas e se credenciar moralmente perante a Nação e o caminho de manter as suas mentiras, que será a sua perdição e será um momento de trevas para um País chamado Brasil, Sr. Presidente.

Muito obrigado. Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2005 - Página 27353