Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários a respeito de entrevista do Sr. Valdemar Costa Neto à revista Época. Expectativa sobre o pronunciamento do Presidente Lula à nação.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentários a respeito de entrevista do Sr. Valdemar Costa Neto à revista Época. Expectativa sobre o pronunciamento do Presidente Lula à nação.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2005 - Página 27370
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ENTREVISTA, EX-DEPUTADO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO LIBERAL (PL), DENUNCIA, IRREGULARIDADE, NEGOCIAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, PARTICIPAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • QUESTIONAMENTO, CONTAS, EXTERIOR, BANCO ESTRANGEIRO, PAGAMENTO, DESPESA, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • EXPECTATIVA, PRONUNCIAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RECONHECIMENTO, ERRO, CORRUPÇÃO, GOVERNO, COBRANÇA, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Temos aqui, antes de mais nada, a íntegra da entrevista do ex-Deputado Valdemar Costa Neto à revista Época e aos jornalistas Thomas Traumann e Gustavo Krieger.

Entre outras coisas, pela leitura que acabo de fazer da maneira mais dinâmica que consegui, S. Exª disse que fechou o apoio a Lula em 2002, e Lula tinha como alternativa Patrus Ananias se não desse certo a conversa com o PL, em torno de R$10 milhões, e a conversa se deu num quarto. O dinheiro terminou não sendo por dentro, mas o Vice-Presidente José Alencar pedia que fosse por dentro e sabia também das negociações, sabia do preço, sabia de tudo. E aí vêm os detalhes, que são detalhes que acrescentam mais angústia a quem está vivendo este momento com responsabilidade para com o País.

Peço a V. Exª, Sr. Presidente, a inserção nos Anais da Casa desta matéria cheia de detalhes, que só os que participaram deste momento triste poderiam saber com tanta precisão.

Muito bem, Sr. Presidente. Tenho uma outra colocação a fazer, que é a seguinte: o Sr. Duda Mendonça recebeu depósito no exterior, depois de lhe terem recomendado que abrisse conta num paraíso fiscal. Sabe-se, também, que teria sido Marcos Valério a efetuar esse depósito. A pergunta que se faz é a seguinte: de onde veio esse dinheiro? Onde estava depositado esse dinheiro? Em que conta? Quais eram os responsáveis?

Como o Deputado Jose Mentor, aquele Relator que enterrou a CPMI do Banestado, apresentou projeto de lei permitindo a internalização de recursos de brasileiros depositados no exterior, para beneficiar doleiros, começo a duvidar se não existe no exterior uma grande conta, não sei de quem, se de partido político, uma grande conta, Senador José Agripino, com um grande volume de recursos financeiros saídos do Brasil de forma irregular ou depositadas nessa conta por organizações estrangeiras.

A dúvida está posta, a indagação está feita. A quem interessaria - vamos agora analisar com critério - esse projeto do Deputado José Mentor? Seria ou não essa uma boa linha de investigação pela CPMI? - pergunto eu.

Mais uma vez, confirma-se a fala do Deputado Roberto Jefferson, na qual ele atribui a seguinte frase a José Dirceu: “Roberto, a Polícia Federal é meio tucana. Meteu em cana 62 doleiros agora, véspera de eleição. A turma que ajuda não está podendo internar dinheiro no Brasil”.

Peço que isso vá para os Anais do Senado Federal também, junto com as matérias referentes ao projeto que precisa ser esclarecido do ainda Deputado José Mentor.

Sr. Presidente, eu gostaria de registrar com alegria, reconfortado como Parlamentar, a decisão de V. Exª, como Presidente desta sessão, de nos manter aqui em vigília cívica - e é momento para isso. Os Senadores estavam falando aqui desta tribuna, e eu estava com o Senador José Agripino no café. Estávamos aguardando, junto com a imprensa acreditada no Senado Federal, o momento que para nós já deveria ter vindo e ter sido concluído: a fala do Presidente da República. E eu estava ouvindo os jornalistas e os funcionários dizerem: “Ah, ele não vai falar. O Presidente não vai falar”. Outro dizia assim: “Ah, o Presidente ia falar, mas, com a matéria do Valdemar Costa Neto, na Época, ele se deteve. Outro dizia: o Presidente...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ...não vai se pronunciar, a não ser através de uma gravação, que será distribuída depois.

Ou seja, está me cheirando muito a maquiagem essa história de preparar o Presidente para dizer coisas convenientes, quando ele tem que saber se é ou não ainda capaz de dizer coisas simples para a Nação: primeiro, admitir que errou, admitir que existe corrupção no Governo dele; segundo, dar o nome de quem corrompeu no Governo dele; terceiro, dar o nome de quem corrompeu no partido dele; quarto, demitir uns e se distanciar claramente de outros; quinto, propor à Nação um pacto que leve este Governo até 31 de dezembro de 2006, com muita clareza, com muita nitidez. Sua Excelência não pode tergiversar, não adianta maquiagem: saber se o paletó está combinando, se é melhor azul marinho com fundo amarelo ou se é melhor amarelo com fundo roxo. Isso não é relevante agora. Não é hora de Duda Mendonça. A hora de Duda Mendonça foi ontem, denunciando paraíso fiscal e as contas corruptas no exterior. É hora de a CPMI contratar a Kroll ou algo parecido, para rastrear esse dinheiro sujo no exterior. Não é hora de outra coisa, é hora disso. Então, Sua Excelência já deveria ter falado à Nação. Não me agrada a idéia de um Presidente acovardado porque teria saído uma matéria na revista Época, da lavra do Sr. Valdemar Costa Neto. Não me agrada a idéia de um Presidente vacilante que não sabe o que dizer à Nação, quando só tem uma coisa a fazer: se redimir, se purgar, pedir desculpas e dizer o que pretende fazer para manter o País governável.

Ele, Sr. Presidente, peço a atenção de V. Exª para o que vou dizer neste momento: o Presidente perdeu a condição de se manter no Governo. Ao mesmo tempo, ele tem o dever de se manter no Governo. Ou seja, ele precisa recriar as condições de se manter no Governo e ele não fará isso pela tergiversação, não fará isso pela mentira, não fará isso pelo engodo, não fará isso pela maquiagem marquetológica, mercadológica, marqueteira. Ele fará isso se dirigir-se à Nação com sinceridade e se conseguir convencê-la de que deve ser dada a ele uma oportunidade de concluir o seu Governo, servindo este Governo, para...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio, seu assessor - não é o Senador - quer dar uma colaboração

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - O estadista José Sarney, que passou os momentos mais difíceis, viu o Presidente Vargas se suicidar, fez a transição, escreve às sextas-feiras para a Folha de S.Paulo. Vamos falar de flores? Atentai bem ao que disse o estadista José Sarney: “De repente, como numa viagem fantástica, mudou tudo, a esperança e o medo. Entramos num labirinto sem desvendar a saída”.

O SR. ARTUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - É verdade, Senador Mão Santa.

Eu concluo, Senador Cristovam Buarque, dizendo que a Nação está na expectativa da declaração do Senhor Presidente. Será terrivelmente frustrante se nós sairmos daqui hoje sem ouvirmos o Presidente da República. Não é hora de dizer: é porque ele vai preferir...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ele tem que estar, agoniadamente, desejoso de dar suas explicações. Homem de bem, queremos acreditar que seja, Sua Excelência tem que estar pronto para dar as respostas na ponta da língua. Não precisa de nenhum metteur em scène, não precisa de nenhum diretor de cena. Ele não é ator, não tem que ser dirigido por ninguém, não precisa de gravação nenhuma. Ele poderia falar ao vivo, como estou fazendo neste momento. Ele não precisa de nada. Precisa de autenticidade e vontade de reparar o dano que, no mínimo, por omissão, causou a este País.

Eu formo a convicção de que há uma grande conta no exterior. Essa conta, que se mistura com essa sujeirada toda de Banco Rural e de Valério, com essa promiscuidade toda, é que para mim abasteceu a Düsseldorf do Sr. Duda Mendonça.

Portanto, Sr. Presidente, estamos aqui, nós, poucos moicanos, mas representando, acredito, o grosso, a maioria esmagadora dos Srs. Senadores e das Srªs Senadoras. Estamos aqui nós em vigília, exigindo que o Presidente venha prestar satisfações à Nação. Não é hora de se esconder em palácio nenhum, porque neste País as coisas não são mais escondíveis.

            Presidente, venha frontalmente prestar contas aos seus eleitores e aos seus adversários. Nós queremos ajudá-lo a concluir o seu mandato. Mereça isso, Presidente! A covardia não faz parte da crônica histórica. O que faz parte da crônica histórica é a definição. E a definição que lhe cabe é conseguir as condições de concluir esse seu mandato infeliz. Venha pela sinceridade! Venha pela coragem! Venha pela frontalidade! Não venha pela omissão, não venha pela tergiversação, não venha mais pela mentira e, sobretudo, Presidente, venha! Não deixe de vir! É um desafio que o seu passado recebe pela história brasileira. É um desafio ao qual não pode fugir o seu presente. É um desafio que Vossa Excelência tem que enfrentar, se é que almeja ter algum futuro.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ...se é que almeja ter um registro minimamente positivo do seu Governo na história deste País.

Estamos todos ainda confiantes e esperançosos de que o Presidente Lula sabe o que significa comandar um país, chefiar um Estado; de que Sua Excelência sabe que o bravo líder sindical de outrora não vai dar vez a um governante acoelhado num palácio qualquer de uma república indigitada, de uma república infeliz.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Reportagem de capa - Lula sabia, revista Época;

“Projeto de Mentor ‘blindaria’ doleiros”; Folha de S.Paulo;

“Juiz e procurador fazem críticas a projeto de lei”, Folha de S.Paulo;

“Projeto de Lei de Mentor”, Folha de S.Paulo;

“Frase atribuída a Dirceu agora faz mais sentido”, O Estado de S.Paulo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2005 - Página 27370